03/08/2011

O Diabo dos Sete Mares

Partes 1 e 2
Yves H. (argumento)
Hermann (desenho)
Vitamina BD (Portugal, Agosto de 2008 e Março de 2009)
240 x 320 mm, 48 p., cor, cartonado

Após 40 anos de carreira, Hermann estreia-se numa história de piratas. Aos 70 anos, "O diabo dos sete mares", é (mais) uma confirmação de Hermann como um dos melhores desenhadores realistas da BD franco-belga.
E revela a sua mestria na planificação contida mas variada e dinâmica e, principalmente, no desenho traçado com soberbas cores directas, das múltiplas gamas de cinzentos das cenas nocturnas aos tons luxuriantes dos pântanos da Carolina do Sul.
Isto, depois de incursões por quase todos os géneros: aventura em estado puro (em "Bernard Prince"), western ("Comanche"), Idade Média (revisitada n'"As Torres de Bois-Maury"), futuro pós-apocalíptico ("Jeremiah"), ficção histórica ("Jugurtha") ou humor e fantasia ("Nic, o sonhador").
Agora, tudo se inicia com o casamento em segredo da filha de um rico fazendeiro com um aventureiro de passado duvidoso. Só que o seu acto despoleta um sem número de consequências, do deserdar da jovem ao incêndio da plantação do seu pai, da fuga do casal às sucessivas alianças, lutas e traições pela posse do tesouro do mítico e terrível pirata conhecido como "Diabo dos Sete Mares", em torno de quem tudo gira apesar de uma aparição pouco mais do que fugaz.
Tudo narrado em cadência acelerada, com os aconte-cimentos e as revelações a sucederem-se, obrigando o leitor a parar por vezes para considerar as diversas pistas que o argumentista Yves H., como é habitual nele, vai fornecendo, fazendo de uma intriga aparentemente simples e directa, uma trama elíptica e elaborada.
Só que – e isto tem acontecido pouco na carreira de Hermann – a passagem do primeiro tomo para o segundo revela-se – para mim, pelo menos, foi – uma desilusão. Porque, apesar da explicação de algumas pontas deixadas soltas, a opção narrativa tomada não convence e desvirtua aquilo que o primeiro tomo prometia, uma vez que este volume marca também a estreia de Hermann num outro género – o das histórias de mortos-vivos.
Sobra, no entanto, não sendo pouco, a excelência do seu trabalho gráfico.

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 8 de Dezembro de 2008)

PS – Bongop: obrigado pelo empréstimo (involuntário) das pranchas incluídas neste post, pirateadas das tuas Leituras de BD

5 comentários:

  1. Acho que este díptico vale sobretudo pela arte de Hermann (ao mais alto nível), pois como dizes, a narrativa do 2º volume foi um pouco a atirar para a desilusão...
    :(

    Abraço

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  2. Olá Bongop,
    Sim, o trabalho gráfico do Hermann é mais uma vez soberbo! Parece que melhora de obra para obra!
    Boas leituras!

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  3. Anónimo4/8/11 02:22

    Desperdicio de papel.

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  4. Anónimo4/8/11 02:56

    Quase não há palavras para classificar um artista como Hermann, que, já com 73 anos, continua a dar lições a muitos jovens... pelo menos de persistência, talento e amor à Arte. Embora eu ache que às vezes se dispersa por obras demasiado genéricas, pondo de lado criações tão carismáticas como "As Torres de Bois-Maury" ou mesmo "Comanche" (como eu gostaria que ele voltasse a pegar nesta série!), tem mantido, de facto, um nível de produção e de qualidade bastante assinalável, conseguindo sempre surpreender-nos com o toque que dá a cada um dos seus álbuns, seja no tratamento da cor, na planificação ou na criação do ambiente e das personagens.
    Quanto aos piratas, lembro que já tinha feito algumas abordagens a este tema, embora em histórias curtas para a revista "Tintin". Uma delas foi cá publicada no "Mundo de Aventuras" nº 373, da 2ª série: "O fim de um pirata", com a curiosidade de a sua acção nos transportar à antiga ilha portuguesa do Príncipe; e a outra, no M.A. nº 388, da mesma série, e, se não estou em erro, no "Tintin" do Dinis Machado e do Vasco Granja. Intitulava-se "Alerta aos Piratas" e estes eram de um género um pouco diferente dos piratas das Caraíbas, pois combatiam as galeras de Júlio César, no tempo dos romanos.
    Apesar de muito antigas, com um estilo gráfico que nada tem a ver com o do Hermann actual, vale a pena dar-lhes uma olhadela. E são histórias de pirataria, sem dúvida.
    Um abraço do
    Jorge Magalhães

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  5. Caro Anónimo,
    Imprimir arte como a que o hermann apresenta neste díptico nunca será desperdício de papel!

    Caro Jorge Magalhães,
    Obrigado por mais uma visita e por mais uma vez partilhar os seus (muitos) conhecimentos connosco.
    Quando assinalei a estreia de Hermann no género, referia-me em termos de obras de fôlego - em álbum. Quanto às histórias que cita, lembro-me de ter lido pelo menos uma delas no Mundo de Aventuras, revista com que cresci no que à BD diz respeito.

    Boas leituras para os dois!

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