O desenhador argentino Francisco Solano López faleceu em Buenos Aires no passado dia 12, vítima de um derrame cerebral. Nascido há 83 anos, tinha tido um AVC no início deste ano, que o deixara bastante debilitado. No passado dia 7 deu uma queda e bateu com a cabeça, tendo ficado em coma até este desenlace fatal.Desenhador de BD desde 1953, Solano López foi um dos grandes nomes da chamada “escola argentina” – que inclui nomes como Hugo Pratt, José Muñoz ou Alberto Breccia – tendo criado, juntamente com o argumentista Hector Germán Oesterheld, “El Eternauta”.
Publicada entre 1957 e 1959, na revista Hora Cero, “El Eternauta” narra uma invasão extraterrestre em Buenos Aires, em 1963, iniciada com a queda de uma neve fluorescente que mata por simples contacto. O relato é feito por um sobrevivente, Juan Salvo, que acidentalmente entra numa máquina dos invasores, sendo transportado para outras dimensões, tornando-se “um peregrino através dos séculos, viajando pela eternidade, um Eternauta”. Acabará por chegar a Buenos Aires em 1959, narrando a sua história para avisar do perigo que em breve ameaçará o seu país. Os pontos fortes da narrativa são o rigor fotográfico dos cenários bem conhecidos dos leitores, o facto de o protagonismo pertencer a um colectivo heterogéneo e não a um herói isolado, sendo fácil para os leitores identificarem-se com algum dos seus elementos, e a hábil combinação de ficção científica e crítica política, facilitada pelo facto de o protagonista se deslocar facilmente entre épocas e locais.
A politização da série trouxe vários dissabores aos autores, o que levou Solano López, a exilar-se no início dos anos 60, primeiro em Espanha, depois em Inglaterra, onde desenhou relatos de guerra para a Fleetway.
Regressado à Argentina, retomou “El Eternauta”, na revista Skorpio, mais uma vez em colaboração com Oesterheld, até este desaparecer, em 1976, como mais uma vítima da ditadura militar argentina. O desenhador regressou então à Europa, tendo desenhado “Slot Barr” (com texto de Ricardo Barreiro), “Águilla negra” (Ray Collins) e “Evaristo” (Carlos Sampayo) e histórias de ficção e eróticas para o mercado norte-americano, a par de diversos regressos a “El Eternauta”, o último dos quais datado de 2006.
Distinguido ao longo dos anos com numerosos prémios, Solano López, depois de Carlos Trillo, falecido em Maio, é o segundo grande autor argentino a desaparecer este ano.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 15 de Agosto de 2011)
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