Scooby-Doo, o cão medroso que a animação celebrizou nas
décadas de 70 e 80, vai regressar em Novembro, na forma de banda desenhada. A
surpresa é o parceiro desse regresso: Batman.
“Scooby-Doo Team-Up” é o título dessa nova revista bimestral,
editada pela DC Comics, na qual o cão e os seus amigos Fred, Daphne, Velma e
Shaggy partilharão o protagonismo de cada aventura com outros heróis da BD e da
animação. No número inicial, escrito por Sholly Fish e desenhado por Dario
Brizuela, aliam-se ao Homem-Morcego e a Robin para tentarem capturar um Morcego
Humano.
Criado em 1969 por Joe Ruby e Ken Spears, numa série animada
produzida pela Hanna-Barbera, Scooby-Doo já se tinha cruzado com Batman nos
desenhos animados por três vezes.
Esta parceria improvável, no entanto, não é única nem sequer
a primeira nas páginas dos quadradinhos. O mesmo Batman, numa versão vitoriana,
também já se deparou com o célebre Jack o Estripador, numa aventura soturna
desenhada por Mike Mignola, criador de Hellboy. O Homem-Morcego, entre
parceiros e adversários, entre outros já partilhou páginas desenhadas com Spawn,
Drácula, Spirit ou Tarzan.
Quanto ao senhor da selva, para além de dividir perigos e
emoções com outras criações de Edgar Rice Burroughs, como John Carter de Marte
ou os habitantes de Peluccidar, o mundo pré-histórico existente no centro da Terra,
teve que enfrentar neste último o Predator do filme homónimo.
Essa não foi a única vez que os quadradinhos foram buscar
inspiração e protagonistas ao cinema ou à televisão, para duetos tão inverosímeis
como os que reuniram os X-Men com a tripulação de Star Trek, o Lanterna Verde
com os Aliens, o Joker (adversário de Batman) com a Máscara, Mars Attack com
Popeye (!) os Simpsons com os protagonistas de Futurama ou os agentes de
X-Files frente aos vampiros de 30 Dias de Noite. Ou, como cúmulo do género,
como uma verdadeira epidemia, agrupando num único comic, naturalmente
intitulado “Infestation”, Transformers, Star Trek, GL Joe, Ghostbusters e CVO.
De regresso aos super-heróis, há outros encontros que os
quadradinhos guardaram. Nos anos 80, celebrizaram-se alguns crossovers entre as
editoras rivais Marvel e DC Comics. Datam dessa altura as aventuras conjuntas
entre o Super-Homem e o Homem-Aranha, Batman e Hulk, Demolidor ou Capitão
América, X-Men e Novos Titãs ou Vingadores e Liga da Justiça, ou, no que aos
vilões diz respeito, entre Darkseid e Galactus. De comum a todas, a estrutura
da história que começa por antagonizar os super-heróis envolvidos, para depois
os unir frente a uma ameaça maior.
O Homem de Aço tem também no seu currículo uma série de
encontros inesperados com Astérix, Bugs Bunny, He-Man, Jerry Lewis ou até Muhammad Ali.
Nesta última, os dois protagonistas defrontam-se num combate de boxe
orquestrado por extraterrestres que acabam por ser derrotados quando os dois se
unem. Célebre ficou a capa dupla da edição original, que mostra o ringue com os
dois contendores rodeados de um público entusiasta onde se encontram desenhadas
mais de centena e meia de celebridades do cinema, música, desporto, política,
etc.
Se os europeus neste campo se revelam mais conservadores –
até porque os heróis geralmente pertencem aos seus criadores e não às editoras
– dentro do universo Bonelli Dylan Dog, Martin Mystère, Mister NO e Nathan
Never já protagonizaram algumas aventuras a dois.
Outros casos há, não tão directos mas igualmente evidentes,
que usam artimanhas como a utilização de nomes de som semelhante para contornar
complicados direitos autorais.
Corrado Mastantuono narrou o encontro do Pato Donald e do
Professor Pardal com um certo Denden e o seu cão Piciou, os gémeos Dipent e
Dipend, o Capitão Hadciuk ou o professor Doposole, inspirando-se claramente nos
heróis de Hergé.
Recorrente, também, é a presença de super-heróis “derivados”
da DC Comics e da Marvel em histórias da Turma da Mônica.
Neste âmbito, no ano passado, em “Tesouro verde”, a selva
amazónica assistiu ao encontro entre a versão jovem dos heróis de Maurício de
Sousa e Kimba, o leão branco, AstroBoy, Safiri e outros heróis criados pelo
japonês Osamu Tezuka, concretizando um sonho antigo dos dois criadores, que
acabou por não se concretizar devido à morte prematura do criador japonês.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 24
de Agosto de 2013)