Se muitas – das muitas! – leituras que faço são leituras
‘seguras’, ‘garantidas pelo currículo dos autores ou por serem recomendadas por
pessoas em cujos gostos confio, outras surgem quase por caso e, assim, continuo
a ser recorrentemente surpreendido, muitas vezes por aquelas que menos
apelativas eram.
Preconceitos? Alguns, possivelmente, embora tente ser o mais
aberto possível em relação às diversificadas propostas que chegam até mim.
Neste contexto, confesso que o manga não é a minha praia.
Fiquei deslumbrado, claro está, com Akira,
pelo grafismo diferente, pelo dinamismo dos seus movimentos, pelo ritmo
narrativo, pela diferença, em suma, que se abria então perante os meus olhos,
descobri, depois grandes autores – Taniguci, Tezuka – e obras – Mother Sarah, Death Note – de cuja leitura desfrutei intensamente mas, a verdade
é que globalmente – se tal se pode escrever… – não me tornei fã de manga nem
sequer leitor regular do género… Mesmo se, durante alguns anos, procurei ler o
mais possível, propostas variadas, temáticas díspares, autores diversificados…
Percebo, no entanto, a atracção que exerce sobre gerações
mais jovens - porque cresceram a ver animés na televisão? – enquanto género
narrativo de eleição.
Por tudo isto – preconceitos, reitero – não tinha grandes
expectativas em relação a este Júpiter,
do português Ricardo Lopes.
A sua leitura, no entanto, mostrou-me – mais uma vez - como
estava enganado. Não pelo desenho com desequilíbrios evidentes e demasiado
incipiente ainda na representação da figura humana. Mas, fundamentalmente, pelo
ritmo narrativo de que este segundo tomo – desconheço o primeiro - está dotado,
pela boa planificação, solta e diversificada, e pelo bom uso dos diálogos, certeiros,
suficientes, sem excessos.
Desta forma, a história de Miguel, que descobriu ser descendente
dos magos de Fulgur e partiu para o Templo do Fogo para desenvolver os seus
poderes, onde é atacado por um mago misterioso, não sendo propriamente original
– segue os cânones do género… - recebe uma roupagem consistente e o ritmo narrativo
certos, conseguindo a atenção do leitor e cumprir o seu propósito de diversão,
enquanto sinaliza um autor com potencial que – conseguindo crescer graficamente ou arranjando
um desenhador à altura - pode vir a tornar-se interessante.
Júpiter #2
Ricardo Lopes
Escorpião Azul
Portugal, Outubro de 2015
155 x 230 mm, 96 p., pb+cinza
capa mole com badanas
10,00 €
(Imagens recolhidas no site OtakuPt)
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