31/03/2016

Saga: volume 3










E sem que perceba muito bem como, embora estranhando, continuo a deixar que Saga se entranhe em mim.

Já escrevi aqui, ficção-científica – para mais explorando conceitos de forma tão vasta e alargada como Brian K. Vaughan faz em Saga – não é a minha leitura prioritária.
No entanto, com Saga, sinto-me obrigado – errado – sinto-me cativado a ler com prazer e sem parar uma história de amor de um humano e uma mulher com asas, que tem por cenários mundos esquisitos e assombrosos, povoados de seres bizarros, entre os quais aranhas humanóides, seres com cabeça de televisão, fantasmas etéreos, ciclopes, chifrudos, esqueletos vivos e um sem número de outras anormalidades - ou maravilhas?
Amor proibido pelas regras bélicas vigentes – os protagonistas, Alana e Marko, pertencem a povos diferentes, raças diferentes e, pior que isso, a nações em conflito – gerou uma bebé, Hazel, que é quem nos narra a história dos seus progenitores.
Essa história, de paixão fortíssima, desejo sexual e entrega mútua, cruza-se com a fuga contínua dos respectivos povos e dos assassinos a soldo contratados para os eliminar, para que a sua semente de sedição – e a subsequente mensagem de paz e entendimento - não se espalhe e contamine os seus conterrâneos e todas as outras nações tão necessárias para manter em aberto os conflitos eternos em que assenta o equilíbrio dos mundos e de que se alimenta a omnipotente e omnipresente indústria bélica.
Releio o que escrevi e não encontro ainda – completamente? – as razões para me ter rendido a Saga.
Estarão, certamente, na forma como Vaughan conduz a narrativa, combinando conceitos futuristas, capacidades paranormais, os mundos estranhos e os estranhos seres que os habitam, com as nossas realidades (mais) quotidianas: desemprego (ou a necessidade de trabalhar), jogos de tabuleiro, jornalismo tablóide, amores proibidos (ou a relutância em aceitá-los), jogos políticos, predominância da guerra sobre todas as outras actividades (humanas), as difíceis relações com os sogros, a importância da leitura e da escrita…
Ideias, conceitos, valores, provocações, concepções díspares - nalguns casos opostos? – que Vaughan consegue compor para construírem um todo que faz sentido e é coerente e, mais ainda, funciona em termos de leitura fluída, deixando, mesmo assim, que o predomínio esteja entregue à mais antiga história recorrentemente contada: o amor entre dois seres diferentes, que encontram na relação mútua a razão para anularem o que os separa e deixarem sobressair o que têm em comum.

Saga Volume 3
Brian K. Vaughan (argumento)
Fiona Staples (desenho)
G. Floy
Portugal, Outubro de 2015
175 x 265 mm, 152 p, cor, capa dura
ISBN 978-84-16510-02-3
10,99€

1 comentário:

  1. Eu estou a adorar Saga mas tal como tu ainda não estou rendido.
    Engraçado que dos 3 títulos da g floy o que gosto mais é o Chew! De seguida Saga e por último Fatale.
    Southern Bastards ainda não li. Mas tenciono fazê-lo.

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