E sem que perceba muito bem como, embora estranhando,
continuo a deixar que Saga se
entranhe em mim.
Já escrevi aqui, ficção-científica – para mais explorando
conceitos de forma tão vasta e alargada como Brian K. Vaughan faz em Saga – não é a minha leitura
prioritária.
No entanto, com Saga,
sinto-me obrigado – errado – sinto-me cativado a ler com prazer e sem parar uma
história de amor de um humano e uma mulher com asas, que tem por cenários
mundos esquisitos e assombrosos, povoados de seres bizarros, entre os quais
aranhas humanóides, seres com cabeça de televisão, fantasmas etéreos, ciclopes,
chifrudos, esqueletos vivos e um sem número de outras anormalidades - ou
maravilhas?
Amor proibido pelas regras bélicas vigentes – os
protagonistas, Alana e Marko, pertencem a povos diferentes, raças diferentes e,
pior que isso, a nações em conflito – gerou uma bebé, Hazel, que é quem nos
narra a história dos seus progenitores.
Essa história, de paixão fortíssima, desejo sexual e entrega
mútua, cruza-se com a fuga contínua dos respectivos povos e dos assassinos a
soldo contratados para os eliminar, para que a sua semente de sedição – e a
subsequente mensagem de paz e entendimento - não se espalhe e contamine os seus
conterrâneos e todas as outras nações tão necessárias para manter em aberto os
conflitos eternos em que assenta o equilíbrio dos mundos e de que se alimenta a
omnipotente e omnipresente indústria bélica.
Releio o que escrevi e não encontro ainda – completamente? –
as razões para me ter rendido a Saga.
Estarão, certamente, na forma como Vaughan conduz a
narrativa, combinando conceitos futuristas, capacidades paranormais, os mundos
estranhos e os estranhos seres que os habitam, com as nossas realidades (mais)
quotidianas: desemprego (ou a necessidade de trabalhar), jogos de tabuleiro,
jornalismo tablóide, amores proibidos (ou a relutância em aceitá-los), jogos
políticos, predominância da guerra sobre todas as outras actividades (humanas),
as difíceis relações com os sogros, a importância da leitura e da escrita…
Ideias, conceitos, valores, provocações, concepções díspares
- nalguns casos opostos? – que Vaughan consegue compor para construírem um todo
que faz sentido e é coerente e, mais ainda, funciona em termos de leitura
fluída, deixando, mesmo assim, que o predomínio esteja entregue à mais antiga
história recorrentemente contada: o amor entre dois seres diferentes, que
encontram na relação mútua a razão para anularem o que os separa e deixarem
sobressair o que têm em comum.
Saga Volume 3
Brian K. Vaughan
(argumento)
Fiona Staples (desenho)
G. Floy
Portugal, Outubro de 2015
175 x 265 mm, 152 p, cor, capa dura
ISBN 978-84-16510-02-3
10,99€
Eu estou a adorar Saga mas tal como tu ainda não estou rendido.
ResponderEliminarEngraçado que dos 3 títulos da g floy o que gosto mais é o Chew! De seguida Saga e por último Fatale.
Southern Bastards ainda não li. Mas tenciono fazê-lo.