Na História, na História de qualquer país, há apenas uma
verdade absoluta ou cada uma das partes, cada um dos intervenientes, os seus
apoiantes ou detractores, podem contar a História de forma diferente?
Leo, chileno de nascença, exilado com a família na África do
Sul na sequência da ascensão ao poder de Salvador Allende, cresceu a admirar o
general Augusto Pinochet e o golpe que ele conduziu para pôr fim ao caos introduzido
pelo comunismo.
O encontro com Victoria, uma jornalista francesa, as
conversas com exilados chilenos e a posterior ida ao Chile com ela – num
regresso à pátria três décadas depois - vai obrigá-lo a questionar tudo o que
lhe foi ensinado pela família e a olhar, sob um ponto de vista diferente,
Allende e Pinochet, já não salteador e herói nem as faces opostas de uma mesma
moeda, mas intervenientes – complementares? – de uma realidade complexa e mais
vasta.
No assumir de um novo equilíbrio e de um novo posicionamento
face à História do seu país – e contra as verdades dogmáticas que lhe tinham
sido inculcadas - Leo vai descobrir que não existem verdades absolutas da mesma
forma que não existe mal nem bem absolutos.
É através do seu olhar, melhor através do olhar que lhe
conferem Olivier Bras, jornalista francês especialista na América Latina, e
Jorge González, ilustrador argentino a viver em Espanha, que percorremos quase
um século da História de um país sobre o qual – menos ainda que Leo – pouco
mais sabemos, certamente, do que uns poucos estereótipos.
Vamos, por isso, acompanhar o crescimento e a evolução de
dois homens que ajudaram a defini-lo – ambos convencidos que estavam a fazer o
melhor pelo Chile - assistir às sucessivas campanhas de Allende pelo Partido de
Unidade Popular que acabarão por o levar – efemeramente - ao poder em 1970, assistir
à deterioração das condições de vida, acompanhar a visita de Fidel – a quem
Pinochet seguirá passo a passo como representante do exército chileno! - contemplar
a lenta progressão da revolução, compreender a aproximação a Cuba e a
ingerência do poder e dos interesses norte-americanos que apoiarão o golpe de
estado de 11 de Setembro de 1973, conduzido por Pinochet (influenciado pela
esposa), em que Allende morrerá (suicídio? assassínio?), observar o regresso à
(ainda mais dura) ditadura, tremer com a duríssima repressão, ver, anos mais
tarde, as manifestações contra Pinochet e a sua prisão em Londres…
Tudo num livro de leitura acessível mas bem construído, como
um documentário, com diversas citações, que utiliza cor plena apenas na
realidade de Leo, em contraste com os tons sombrios dos factos históricos,
acentuado pelo ‘grão’ do desenho realista mas esbatido de González, numa
narrativa com constantes saltos temporais e muitas páginas duplas, que nos vai
transmitindo toda a informação - sob uma falsa (?) capa de objectividade, algo
que, afinal, como Leo acabaremos (?) por perceber que não existe…
Maudit Allende
Olivier Bras (argumento)
Jorge González (desenho)
Futuropolis
França, Novembro de 2015
214 x 290 mm, 128 p., cor, capa dura
EAN: 978-2-7548-1114-9
20,00 €
Sem comentários:
Enviar um comentário