Concluída – dia 29 de Junho – a
colecção Jonathan, da ASA com o jornal Público – parece-me razoável
complementar a informação
que disponibilizei aquando do seu início, até para de alguma forma
preencher os vazios que ela deixou – leia-se ‘álbuns por editar’.
A colecção em causa foi o pretexto para eu descobrir (/relembrar
alguns episódios d)a série e, uma vez feita essa leitura, sinto que posso
dividi-la em três grupos, que correspondem, grosso modo, a três Jonathan
diferentes.
O primeiro, o ‘original’ e mais interessante, é intimista e
introvertido, em busca de si mesmo e da harmonia com a natureza nos Himalaias e,
não buscando a companhia de outros, consegue criar laços com eles. É o Jonathan
presente nos álbuns 1 a 7 da série original e também da colecção ASA/Público,
que os portugueses podem ainda comprar e que explorei um pouco mais a propósito
dos álbuns Lembra-te Jonathan, E a montanha cantará para ti e Kate.
O segundo Jonathan apresenta-se como um ser errante, atípico
em relação ao seu passado (descrito atrás), desenraizado dos ‘seus’ Himalaias e
muitas vezes pouco mais do que pretexto ou figurante para que Cosey conte
outras histórias. É o Jonathan que vislumbramos nesta colecção em Neal & Silvester, Atsuko e Aquela que foi, mas que também está presente nos álbuns 8 a 11
originais.
O terceiro Jonathan, surge politicamente comprometido com a
causa tibetana e em oposição efectiva ao invasor chinês. O caso mais evidente é
Celui qui mène les fleuves à la mer,
mas O Sabor do Songrong ou Ela ou Dez Mil Pirilampos, compilados num
volume da colecção Clássicos da Revista
Tintin (ASA/Público), também seguem a mesma linha temática, e têm como
principal – único? – objectivo denunciar (mais) uma situação injusta no xadrez
mundial e chamar a atenção para uma causa querida ao autor, o que por vezes
interfere com o ritmo narrativo.
Aceite o pressuposto anterior, constata-se que a colecção ASA/Público
de 10 álbuns que foram traduzidos para português contempla - de forma desigual
– apenas as duas primeras daquelas facetas de Jonathan. Isso não invalida, no
entanto, que numa lógica cronológica, evolutiva e até de uma eventual
continuidade editorial - que, inexplicavelmente, parece completamente fora dos
horizontes da ASA a cada nova colecção – não fizesse mais sentido terem sido
editados os primeiros 11 tomos originais.
E se alguns poderão defender, com alguma verdade, que Le Privilège du serpent soa um pouco a
anedota, com o protagonismo entregue a um amigo de Jonathan com o corpo de
Derib (o autor de Yakari e Buddy Longway), já a edição do díptico Oncle Howard est de retour/Greyshore Island faria todo o sentido,
pois inclui o reencontro de Jonathan e Kate, mesmo concedendo que ele surge a
coberto de um relato policial, no qual o titular da série surge claramente
deslocado, quer tematicamente, quer geograficamente, pois tem por cenário os
Estados Unidos.
O que não foi impeditivo da publicação de Atsuko (centrado no Japão) ou de Aquela que foi, que tem por cenário a
Índia e por época – em grande parte da narrativa – a infância/adolescência do
protagonista…
Pena que nesta série, como na de Bernard Price e até XIII, tenham ficado alguns álbums de fora. No caso de XIII foi apenas um álbum que não interfere muito na história, mas ajudaria a completá-la mais, aproveitando para publicar mais um ou três álbums dedicados aos personagens da série.
ResponderEliminarBernard Price era uma série que desconhecia e conquistou-me completamente, tanto que já mandei vir os restantes títulos em Francês (os que consegui).
De qualquer modo fica sempre os meus agradecimentos pela iniciativa que a ASA e o público vai tendo.
Fico a aguardar por mais novidades com esta parceria...desejando muito ver um dia Largo Winch publicado na sua totalidade :)
Sim, Jony, é pena terem ficado de fora álbuns em todas estas colecções e, mais ainda, que elas não sirvam para a editora depois as completar em livraria, pois há 'normas' na relação com o Público que nem sempre se conseguem contornar...
EliminarQuanto a ver Largo Winch completo um dia, parece-me muito difícil. Seria com certeza outra colecção para publicar aos retalhos... ;(
Boas leituras!
Pedro, teria sido interessante que tivesses feito uma análise crítica da evolução da série nos seus 3 "ciclos". Vê-se que preferes o primeiro, mas o que achas da evolução dos outros dois? Isso interessa-me particularmente, tenho a releitura a meio...e descobri que nunca li os 5 últimos :-(
ResponderEliminarCaro RC,
EliminarPrefiro o primeiro, sem dúvida... Os outros dois não me despertaram especialmente, talvez por isso a inexistência da análise crítica que referes.
Acho que se nota o Cosey mais à deriva - o tempo entretanto decorrido e os outros projectos (mais interessantes) que entretanto abraçou também podem ter contribuído para isso - e há histórias que funcionariam melhor sem Jonathan...
Mas ambos sabemos que o imperativo comercial continua a ter muita força e o regresso dele a Jonathan teve mais influência da editora do que vontade da parte dele...
Aconselho-te a leitura das introduções dos volumes integrais de Jonathan, para perceberes melhor a génese da séerie e de cada um dos álbuns...
Boas leituras!