E quando podíamos pensar que o western era um género tematicamente encerrado, do velho Oeste puro e duro ao tom humanista, do humor caricatural ao relato centrado no índio, do histórico à miscelânea com outros géneros... eis que surge Deadwood Dick.
Ou
nem tanto porque, as suas aventuras desenhadas não são mais do que
a adaptação
aos quadradinhos das novelas originais de Joe
R. Lansdale.
Lansdale que, curiosamente, também é argumentista de comics, tendo bebido neles desde a infância muita da inspiração que o tornou escritor, como revela na entrevista que encerra o presente volume - ou que abre o dossier final... - onde também encontramos muitos estudos e ilustrações de Pasquale Frisenda.
Lansdale que, curiosamente, também é argumentista de comics, tendo bebido neles desde a infância muita da inspiração que o tornou escritor, como revela na entrevista que encerra o presente volume - ou que abre o dossier final... - onde também encontramos muitos estudos e ilustrações de Pasquale Frisenda.
Resumo
puro e duro
O
encontro com um negro,
ferido a tiro e preso debaixo de um cavalo, que acabará por morrer,
levará Deadwood Dick a Hide & Horns, um povoado miserável onde
a cor (também) da sua pele - 'negro como carvão', dirá alguém - e
o desejo de enterrar (outr)o negro no cemitério local desencadeará
a ira dos seus habitantes e provocará um quase massacre num festival
de tiros como há muito não via.
E desfrutava!
Um
western
puro
e duro, portanto, que questiona a introdução feita acima a este
texto. Mas....
Um
resumo mais colorido
O
sub-título acima não é nada politicamente correcto - é assumido e
adoro que não o seja - mas Deadwood Dick também está longe de o
ser. Negro, perseguido por isso desde a infância, tendo sofrido na
pele - literalmente - pela cor desta, o protagonista enfrenta a
situação com um humor requintadamente...negro! E, na prática, é
ele que vai fazer a diferença numa história que poderia ser banal -
pese embora toda a adrenalina envolvida - se o protagonista fosse um
outro qualquer cowboy
- e neste 'qualquer' poderiam até caber Tex, Bluberry ou outros que
(nos) vêm à memória.
Ao
colorido acima referido, reforçando a cor de
Entre
Texas y el inferno,
podemos
acrescentar o vermelho vivo do sangue que corre a jorros e o amarelo
desmaiado de um chinês prepotente e de umas quantas prostitutas
(forçadas) ao seu serviço.
Ou
ainda, sem colorido especial, o mau hábito de ajudar vítimas
desconhecidas no deserto, uma prostituta feita zarolha e um cadáver
que teima em passear-se - literalmente mas sem nada
de fantástico ou de
sobrenatural...
- de um lado para o outro.
Um
conjunto invulgar de protagonistas, figurantes e situações, que
contribuem, afinal, para a tal diferença frisada de início e para
fazer de Deadwood
Dick,
uma daquelas obras a ler - e que encaixaria muito bem na colecção
Aleph
de A Seita.
[Fica o recado.]
Mas a preto e branco
Escrito
sobre o signo das cores - parcas e pouco vistosas, na verdade - este
texto não podia encerrar-se sem que destacasse o preto e branco em
que o livro foi impresso. Se na anterior abordagem a Deadwood
Dick
a Panini espanhola tinha optado pela versão colorida - desperdiçando
na altura o magnífico trabalho original do grande Corrado
Mastantuono,
agora,
felizmente, a opção foi manter imaculado o preto e branco de
Pasquale Frisenda que assina mais um magnífico trabalho,
afirmando-se como um dos melhores desenhadores actuais da Sergio
Bonelli Editore.
A
força das expressões, a expressividade do traço, a naturalidade
dos movimentos - tão importantes num western
em que sobressai a acção, a par de uma violência desbragada e
mostrada às claras - a definição de volumes e perspectivas, até a
variedade de soluções que a planificação ostenta - apesar dos
limites naturais por se tratar de uma edição Bonelli - justificam
plenamente um regresso ao livro, para apreciar atentamente a sua
arte, depois da leitura sôfrega para que nos arrasta o argumento
sólido e irresistível de Maurizio Colombo.
Deadwood
Dick: Entre
Texas y el inferno
Baseado na novela Hide
& Horns,
de Joe R. Lansdale
Maurizio
Colombo
(argumento)
Pasquale
Frisenda
(desenho)
Panini Comics
Espanha, 27
de Agosto
de 2020
195 x 259 mm, 144 p., cor, capa
dura
ISBN:
9788413345222
18,00
€
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