Diferenças ou semelhanças?
No actual panorama editorial português para os mais novos, nas séries protagonizadas por crianças, podemos distinguir três ‘modelos de base’, se assim os posso designar. A combinação de realidade com fantasia e magia em Olívia; a imprevisibilidade das crianças terroristas, de que a Incrível Adele é um feliz protótipo e, finalmente, as histórias ancoradas no quotidiano, como espelha este Ariol.
E Ariol espelha igualmente uma realidade incontornável: a importância da BD tout court em França e, particularizando, a importância da BD infantil. Doutra forma, seria impossível encontrar um vencedor do Grand Prix de Angoulème, a escrever para os mais novos, como acontece nesta série, que tem como argumentista Emmanuel Guibert.
Nela, há ainda outra particularidade: os protagonistas são animais antropomórficos: Ariol é um burro; Ramono, o seu melhor amigo, um porco, tal como Pétula, a sua paixão secreta; Bisbilha, uma das colegas de escola é uma mosca; e, entre outros, andam por lá também um pato, um carneiro, um cão...
Esta opção narrativa, que, ao contrário do que seria fácil imaginar, não utiliza as características que associámos a cada espécie para definir as personagens, tem o efeito de provocar um certo afastamento do realismo que a série exala, embora a espaços proporcione momentos bem-dispostos, provocados especialmente pelos diálogos.
O realismo referido, assenta no quotidiano destes figurantes, em tudo semelhante ao das crianças que conhecemos, centrado na escola, na família e nas relações entre amigos, cerne dos curtos episódios que destilam simplicidade, ingenuidade e um apropriado sentido de humor.
E mesmo sendo animais, as crianças que percorrem as pranchas de Ariol metem-se nas mesmas confusões que as nossas, têm as mesmas dúvidas e sonhos e os mesmos medos quando passam dos limites na escola ou os pais não se entendem, armam igualmente sarilhos e brincam, sonham e fazem asneiras como as outras todas, enquanto vão à escola, fazem os deveres, jogam futebol, lêem BD, jogam no computador ou vão de férias de verão...
Sei que já não tenho filhos nesta idade e que ‘a criança que há em mim’ pede outros relatos - hoje desadequados…? - mas devo dizer que li com agrado as deambulações de Ariol, esbocei alguns sorrisos e desfrutei de uma leitura, que não se limita hermeticamente ao seu público-alvo, as crianças dos 7 aos 9 anos.
Mas é a elas, também, que se dirige a planificação, simples e legível e o traço dinâmico e divertido de Marc Boutavant, servido por um bom colorido, com os tons vivos a chamarem a atenção para os protagonistas e as questões mais marcantes, em contraste com os tons suaves dos fundos.
Nota final
E foi igualmente a pensar na(quela)s crianças, que foi escolhido o formato pequeno - similar ao Bonelli, para ser mais específico para quem lê outras bandas desenhadas - a capa com badanas que a torna mais resistente, numa edição generosa no número de páginas e de assinalável consistência enquanto livro.
Ariol
#1 Um
pequeno burro como tu e eu
Ariol
#2 O
cavaleiro cavalo
Emmanuel
Guibert (argumento)
Marc
Boutavant (desenho)
Portugal
Janeiro
e Fevereiro de 2023
150
x 200
mm, 128/136
p., cor, capa cartão com
badanas
10,90€ cada
(imagens disponibilizadas pela Jacarandá; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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