Se
hoje em dia é quase impossível pegar num livro de BD ignorando o
seu 'passado' - a sua carreira, as impressões que causou no país de
origem ou noutros - isso por vezes acarreta o perigo de criar
expectativas demasiado elevadas - sendo que elas próprias,
condicionadas ou não por razões diversas, poderão produzir
desilusão no (novo) leitor.
Vem
isto a propósito da edição de A
Incrível Adele pela
Bertrand Editora, que constituiu uma dupla surpresa.
Primeiro, porque a Bertrand - em tempos sinónimo de banda desenhada - pouco tem editado nesta área;
Depois, porque esta é 'só' uma das séries que mais tem vendido e sido premiada em França nos últimos anos, junto das gerações mais novas.
'Empurrado' por estes rótulos, avancei para a leitura do primeiro volume e confesso alguma desilusão. Ainda à procura do tom certo, com muitas piadas previsíveis, não consegui encontrar na portuguesa Incrível Adele, a 'mortalidade' certeira que esperava da sua homónima francesa - Mortelle Adèle. E, reflectindo, pareceu-me que essa falta de afinidade ia bem mais longe do que o facto de a série se destinar a miúdoe e miúdas 8 anos ou mais. Não sendo - há muitos, muitos anos! - a minha faixa etária, creio que sou um leitor suficientemente heterogéneo e de gostos alargados para ser capaz de apreciar esta série. Como o prova a minha recente leitura de Olívia.
[Ou não, porque entre as duas, para além da faixa etária, do pequeno formato dos livros, mais indicado para a pequena dimensão física dos seus leitores, e do protagonismo entregue a meninas da idade destes, nada mais as parece unir...]
Aproveito esta paragem no raciocínio geral para dizer que Adele é uma pequenita associal, revoltada com o mundo, com vontade de despachar os pais e o gato e que tem por amigo imaginário... um fantasma de uma das vítimas da revolução francesa. Assim a modos de mal comparada - muito mal na verdade, mas como forma de a explicar a leitores mais maduros - será uma espécie de lado malvado de Calvin (o do Hobbes) sem a ternura (e o génio...) que este ostenta.
Felizmente - para o leitor ávido que sou - no segundo volume, as coisas começaram a compor-se. O sentido de humor, tornou-se mais negro e assertivo, apurou-se, o recurso a anedotas reconhecíveis quase desapareceu e Adele começou a assumir por inteiro a personalidade que possivelmente fez dela o que hoje é e convenceu-me!
Graficamente, não tendo um traço de deslumbrar nem páginas plasticamente relevantes, Adele assenta num traço simples, baseado especialmente na grande expressividade dos rostos, numa planificação básica e num uso comedido da cor, sendo que o conjunto revela grande legibilidade, conduzindo o leitor ao essencial.
A
Incrível Adele #1 Vai ser de perder a cabeça!
A
Incrível Adele #2 O inferno são os outros
Mr.
Tan (argumento)
Miss
Prickly (desenho)
Bertrand
Editora
Portugal,
Maio e Junho de 2022
159
x 201 mm, 96 p., cor, capa cartão com badanas e brinde(s)
10,90€
(imagens fornecidas pela Bertrand Editora; clicar nesta ligação para apreciar mais ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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