16/06/2022

Lonesome #2 e #3

Dupla perseguição

A base de Lonesome é uma longa perseguição - que com uma certa contextualização se poderia até considerar dupla.
Uma delas, foi plenamente atingida com este tomo #3; a outra poderia tê-lo sido igualmente.

Passo a explicar: a primeira perseguição referida - tantas vezes tentada no nosso país e tantas vezes falhada - geralmente por desistência... - é o alcançar da edição original. A Gradiva, com três álbuns em quatro meses, cumpriu-a com distinção. Agora, vem a fase mais difícil (para os leitores): aguardar que Yves Swolfs entregue o volume seguinte. Com a espera de ano e meio a dois anos entre os três volumes iniciais, na melhor das hipóteses teremos um novo álbum para meados de 2023. É o "problema" - entre umas aspas enormes! - de publicar obras recentes, ainda em curso; o preço da actualidade. Vai ser precisa muita paciência...


A outra perseguição - ou a principal, se preferirem - diz respeito aquilo que move o protagonista e que nos é contado nestes dois álbuns, que mergulham um pouco no seu passado.

Feita a leitura, aliás, é evidente que se tivesse sido essa a vontade do autor, este terceiro tomo, com uma ligeira modificação no final poderia ter poderia ter encerrado a série - ao mesmo tempo que o cowboy solitário em que se centra ajustava todas as suas contas.

Mas, a realidade é que a vontade do argumentista e desenhador foi outra e, quando tudo parecia prestes a chegar a um fim, uma fuga inesperada e o aprofundamento de um encontro revelou novas pistas e - aparentemente - alargou o tom fantástico deste western que já apresentava como ponto distintivo a capacidade do protagonista 'ler' a mente daqueles em que toca.

Com as questões do abolicionismo e da escravatura sempre em pano de fundo, o protagonismo solitário e anónimo de Lonesome continua a sua demanda, avançando de forma lenta e determinada, deixando um impressionante rasto de cadáveres, revelador da forma amoral como ele procede, movido apenas pelo desejo de vingança - e de conhecer o seu passado. Passado que passa também pelo estranho símbolo que traz tatuado num ombro - e que irá descobrir não ser exemplar único...

Com um belo desenho realista - a que as capas não fazem justiça - dinâmico quanto baste e bem pormenorizado na representação das paisagens florestais, quanto das cidades de meados do século XIX, sejam elas no desolado Kansas ou a metropolitana Nova Iorque, Yves Swolfs continua a manter os leitores em suspenso, embora sejam evidentes os avanços que o relato vai tendo, com as cenas de perseguição entremeadas com violentos e mortíferos confrontos, no melhor estilo que um western nos pode oferecer, mas tudo condimentado por doses contidas de suspense, mistério e fantástico.


Lonesome #2 Os Ruffians
Lonesome #3 Os laços de sangue
Yves Swolfs
Gradiva
Portugal, Abril/Maio de 2022
233 x 313 mm, 56 p., cor, capa dura
16,50 €

(imagens disponibilizadas pela Gradiva; clicar nesta ligação para ler as primeiras 10 pranchas do tomo #2 ou nesta para ler as primeiras 10pranchas do tomo #3 ou nas aqui reproduzidas para as apreciar em toda a sua extensão)

3 comentários:

  1. E pronto, vamos ficar pendurados (e bem pendurados pois a série é muito boa) até 2023. Porque não aproveitar para lançar o Durango do mesmo autor ?

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  2. Eu assino já por baixo!
    Boas leituras!

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  3. João Reis19/6/22 16:36

    E eu sou o terceiro a assinar! Que alguma editora ou algum jornal publique o magnifico Durango que, em grande parte, fez reviver em imagens o Western Spaguetti, produzido na Europa (sobretudo Itália e Espanha), nos anos 60 e 70.

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