Horror com humor
O
modelo é conhecido e está testado: histórias curtas, a preto e
branco (e às vezes cinza), pinceladas aqui e ali com o vermelho vivo
do sangue que espicha, jorra, brota, salpica, corre a rodos,
descontroladamente...
Depois
de três livros - Wolverine,
Carnificina
e, agora, Deadpool
- a conclusão óbvia é que, dos três, é este último que funciona
melhor neste registo.
A razão, parece-me fácil de explicar - e entender - e está intimamente ligada ao modelo em causa: a história curta. Mais difícil de praticar do que muitos imaginam, a história curta tem de ser completa em si mesmo, sem necessidade de outras explicações ou extensões e também não pode parecer um episódio solto de uma narrativa mais longa. Por isso, dar princípio, meio e fim a relatos de 8, 10 páginas, é muitas vezes uma tarefa aturada e trabalhosa - e quantas vezes gorada.
No caso de Deadpool - em relação aos seus colegas sanguinários e violentos - este super-herói inqualificável tem a vantagem do humor desbragado e nonsense, que indiscutivelmente ajuda a compor - e tantas vezes a resolver - os curtos relatos e até a atenuar algumas debilidades que o riso apaga. Só neste contexto faz sentido - ou não faz... - um ataque de zebras-zombies, a criação de (mais) uma república socialista soviética, um argumentista em crise de ideias, um ataque a um convento com freiras e... pinguins, o dialogar recorrente com o leitor ou viagens no tempo para conhecer a origem das espadas do Deadpool... Não serão para todos, acredito - mas as suas histórias longas também não são.
Curiosamente, é também neste volume - dos três que a G. Floy já editou em português - que o desenho apresenta estilos mais variados - e até fora do habitual nos comics de super-heróis - o que contribui igualmente para a maior adequação ao modelo.
Como em todos os livros deste género - de histórias curtas... - para evitar cansaço e uma sensação de déjà vu, mesmo que as abordagens até sejam bastante variadas, aconselha-se a leitura em doses recorrentes mas limitadas, para melhor fruição daquilo que o Mercenário Desbocado tem de melhor: piadas infames e fazer jorrar sangue, mesmo que seja o seu.
Deadpool:
Preto, branco & sangue
Inclui Deadpool: Black, White &
Blood #1-#4 (EUA, 2021)
Vvaa
G.
Floy
Portugal,
Maio de 2022
190
x 280
mm, 152
p., cor, capa dura
19,00
€
(imagens disponibilizadas pela G. Floy; clicar nesta ligação para apreciar mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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