Contra TUDO e todos
Ao
contrário da maioria dos leitores, sou mais um seguidor de
argumentistas do que de desenhadores, mas isso não me isenta de uma
ou outra surpresa menos agradável.
Foi
o caso desta abordagem de Jason Aaron ao Justiceiro, partindo de uma
premissa que me fez desde logo arrepiar: a ressurreição da sua
esposa pelo Tentáculo, para fazer de Castle o seu assassino de
serviço, forçando o conceito de que cada homem tem o seu preço.
Em meu entender, esta base narrativa enferma desde logo de uma perspectiva completamente errada: a recuperação da esposa (para uma relação pouco credível, só de cama e pouco mais), mantendo-se os filhos mortos, não seria de todo suficiente para fazer mudar uma das personagens menos super-heróica do universo Marvel; menos super-heróica quer no que toca à ausência de poderes extraordinários, quer no que respeita às suas motivações, a principal das quais dá pelo nome de vingança. Aaron tenta remediar isto, fazendo da futura ressurreição dos filhos a ‘cenoura na ponta da vara que estimula o burro’ e apontando a Castle instintos homicidas desde a adolescência, mas em especial este último aspecto para mim significa já um desvio exagerado em relação ao espírito da personagem.
O arranque da história, que revive o tiroteio original em que Maria, esposa de Castle, e os filhos faleceram, apresenta nas primeiras páginas, a inovação gráfica de assistimos a tudo do ponto de vista do protagonista, baleado, estendido no chão, à beira da morte.
Depois Aaron, no seu melhor, transforma contrabandistas de armas em supostos missionários ao serviço de causas supostamente nobres, chocando-nos com a absurda religiosidade do conceito - recorrentemente explorado, a diferentes níveis, ao longo de toda a narrativa, o que a torna incomodamente mais interessante - e com a extrema violência inerente, como ele tão bem sabe fazer.
É essa violência que vai reinar de forma desabrida, à solta, sem limites, nas páginas seguintes, uma violência tão visível quanto intuída, que surpreende sempre, embora cada vez menos, no âmbito do universo Marvel.
Apesar de tudo, este ‘novo’ Justiceiro, permitiu-me reencontrar Paul Azaceta, o excelente ilustrador de Outcast, responsável pelo desenho dos sucessivos flashbacks em que descobrimos como Castle se tornou um assassino ao serviço do Tentáculo, que realçam a excelência e, ao mesmo tempo, a simplicidade do seu traço impreciso, assumidamente despojado de pormenores e, afinal, bem mais interessante do que o registo mais realista e demasiado fotográfico que Jesus Saiz utiliza na narrativa principal.
Ultrapassadas estas questões, se disso forem capazes, desfrutem então de uma ode à guerra, à violência, ao ódio e à destruição mútua entre humanos como Jason Aaron tão bem que sabe fazer.
...embora eu perceba que nem todos desfrutem deste tipo de relato.
Justiceiro
#1 - O primeiro sacramento de Frank
Inclui
Punhisher
(2022) #1-#3 e Punisher War Journal: Blitz
Jason
Aaron e Torun Grinbeck (argumento)
Jesus
Saiz, Paul Azaceta e Lan Medina (desenho)
Panini
Comics
Brasil,
2023
170
x 260 mm, 144 p., cor, capa cartão
R$
39,90/10,60 €
(capa disponibilizada pela Panini e pranchas pela Marvel; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
Por acaso comprei por impulso, e partilho a opinião do Pedro Cleto, esta premissa é horrível, esta boa é para um arc do Hellblazer mas não para o Punisher, o Jason Aaron, quando se lhe dá para se meter em trabalhos de tarefeiro, de frete, dá nisto.
ResponderEliminarVerdade seja dita, se fosse o Garth Ennis a escrever esta intriga, aparecendo o Tentaculo com esta proposta do tipo de "vender a alma ao Diabo" o Punisher passaria tipo 6 revistas, vá lá, um TPB inteiro, a desintegrar cada um dos membros da seita, com requintes de malvadez e sadismo e deixando aquele aborto de sacerdotiza(?) para o fim para ser exterminada da maneira mais grotesca possível, talvez envolvesse o Barracuda para fornecer um tempero hardcore primeiro escalão.
Marvel destrói mais um,retcon fraco mudanças na caveira no final disto tudo o Castle reforma-se juntamente com o Nick Fury original do universo 616.
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