Perenidade
Como
medir o sucesso de uma criação (no
caso presente)
em banda desenhada?
Pelos
exemplares vendidos? Pela sua perenidade no tempo?
Sim,
em ambos os casos, mas também pela forma como a obra é inserida e
utilizada (tantas vezes abusivamente) pela cultura popular.
Peanuts
e Mafalda, apesar de tudo de forma diferenciada, são dois
exemplos concretos e incontornáveis,
agora de regresso às livrarias nacionais.
E de regresso - Mafalda já de forma efectiva, os Peanuts a partir de 3 de Março - em edições recentes com a chancela da Iguana. Escrevi recentes e não novas porque - ao contrário do que muitos possam possam eventualmente pensar - num caso e noutro não há nada de novo para publicar, pois Schulz e Quino, autores originais e únicos destas tiras de jornal, encerraram-nas atempadamente: a Mafalda em 1973, por opção do autor; os Peanuts em 2000, também por opção - e infelizmente por morte - do criador.
[Não há nada de novo para publicar, lê-se acima, mas não é bem assim; se no caso da Mafalda, já tivemos em Portugal tudo, exaustivamente, o que Quino escreveu e desenhou, por duas vezes até, no que aos Peanuts diz respeito, serão mais (?) as tiras e pranchas dominicais inéditas no nosso país do que as que já tiveram direito a edição em livro. O sonho de consumo dos apreciadores portugueses de Charles Schulz será mesmo ver concluída a edição integral que a Assírio & Alvim iniciou em 2005 (demasiado cedo para a realidade do nosso mercado?) e abandonou ao fim de meia dúzia de volumes. E, por favor, não me venham falar da colecção da Planeta DeAgostini, de 2021...]
Num caso e noutro, regressam ciclicamente, saltitando de editora em editora, experimentando formatos novos ou apostando nos que já estão consagrados, para manter a personagem nos escaparates das livrarias e, uma e outra vez, chamarem atenção de novos e velhos leitores mesmo quando, como no caso presente da Mafalda, a escolha do título - O que é o amor? - não tenha sido muito feliz, pese embora a explicação (forçada...) que o legitima, presente na nota editorial que abre o livro.
Porque, 30, 40, 60 anos depois, Mafalda continua a ser a Mafalda e nós continuamos a lê-la, a sorrir ou a pensar com as tiras de Quino, o que prova a sua genialidade e que os temas e abordagens continuam maioritariamente actuais, na forma como a pequena contestatária argentina vê este mundo em tão mau estado ou se relaciona com os que lhe são mais próximos.
Quanto
aos Peanuts, o presente volume, Volta, Snoopy!, compila
(algumas) tiras diárias dos anos de 1965 a 1967, do auge da série,
possivelmente, com a visão daquele conjunto de crianças - e do seu
cão, talvez o mais humano de todos - dividida entre um delicioso
absurdo, uma saudável ingenuidade ou uma preocupante noção das
problemáticas da vida adulta, que comprovam como Schulz foi capaz de
ver o seu - e o nosso - mundo com uma mescla de humor e sentido
crítico.
Para o leitor, no final, fechado o livro, fica o sabor a pouco, especialmente porque há apenas duas tiras por página, num espaço em que cabiam claramente o dobro, se publicadas no formato original...
Mafalda
- O que é o amor?
Quino
Iguana
Portugal,
Janeiro
de 2025
200
x 220
mm, 112
p., pb,
capa mole
com badanas
13,95
€
Peanuts
- Volta, Snoopy!
Charles
Schulz
Iguana
Portugal,
3
de Março
de 2025
200
x 220
mm, 136
p., pb,
capa mole
com badanas
14,35
€
(imagens disponibilizadas pela Iguana; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nesta ligação para ler um excerto de Mafalda - O que é o amor? e nesta para ler algumas páginas de Peanuts -Volta, Snoopy!; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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