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22/02/2013

J. Kendall #96





  


Aventuras de uma criminóloga
Uma maleta de neve
Giancarlo Berardi e Maurizio Mantero (argumento)
Antonio Marinetti (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Novembro de 2012)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
R$ 8,90 / 4,00 €


Três jovens sem esperança – sem futuro? com que futuro? – decidem interceptar a venda de uma grande quantidade de droga para tentar, dessa forma, ficar bem na vida. No entanto, nem tudo corre bem durante a operação que descamba num tiroteio com várias vítimas mortais.
A monte, com a tensão a testar as relações entre eles, o trio tem no encalço os dois bandos que negociavam a droga e também a polícia de Garden City – com a habitual colaboração de Julia – que tenta evitar que o banho de sangue atinja maiores proporções.
É mais uma bela narrativa policial escrita por Berardi de forma consistente e aliciante, com uma bem conseguida surpresa final que ata pontas que pareciam perdidas e tem por pano de fundo – como base e motivo - fracturas sociais cada vez mais comuns nos nossos dias.
É uma abordagem – que não defende, não condena, apenas expõe – de tom humano que faz repensar escolhas e desejos, (re)lembra como muitas vezes está à nossa beira o que buscamos (tão) longe e permite, talvez, acalentar alguma esperança no ser humano…

16/01/2013

J. Kendall #89





  

Um mundo de violência
Giancarlo Berardi e Lorenzo Calza (argumento)
Marco Soldi e Luigi Pittaluga (desenho)
Mythos Editora
(Brasil, Abril de 2012)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
R$ 8,90 / 4,00 €


“Reencontro” poderia ser o título desta crónica.
Reencontro com Julia Kendall, depois de meses de ausência devido à decisão da VASP de não distribuir este título da Mythos em Portugal.
Reencontro possível porque mãos (muito) amigas me fizeram chegar um bom lote de números de “J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga” e agora o difícil é resistir a lê-los todos de enfiada e voltar a enfrentar (longos) meses de privação.
Em “Um mundo de violência”, após a morte de um atleta no ringue, a pedido do detective Leo Baxter – que desempenhará um papel crucial na história - a Julia envolve-se com o lado mais negro do (baixo) mundo do boxe, dos combates vendidos, dos atletas comprados e explorados e das apostas ilegais.
Retrato duro e incisivo de um submundo que todos fingem não existir, esta é uma nova oportunidade para Berardi e Calza traçarem um retrato assertivo das piores facetas da sociedade de Garden City – da sociedade norte-americana, da nossa sociedade ocidental – em que uns quantos controlam, exploram, violentam, condenam à morte ou descartam quando já não têm mais serventia um grande número de infelizes que da vida não conseguem mais do que sonhar pequenos sonhos, que quem os domina torna inatingíveis.
De forma contrastante com aquele universo violento, as habituais inseguranças e vulnerabilidades de Julia – que fazem dela um caso tão especial nos quadradinhos dos nossos dias – levam-na a expor-se mais do que é vulgar e a quase terminar a sua carreira de forma violenta e definitiva, como mais alguém desfeito pelo mundo do boxe, em mais um relato desenhado, de final trágico em que ainda há tempo para redenção, numa prova de crença no melhor do ser humano.


23/08/2012

J. Kendall #86

A sangue quente








Giancarlo Berardi e Murizio Mantero (argumento)
Laura Zuccheri (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Janeiro de 2012)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
4,00 €

  

1.       Se é normal na banda desenhada – nos comics de super-heróis e na maior parte das séries franco-belgas a existência de um “vilão de serviço” recorrente, sempre pronto a opor-se aos desígnios dos heróis, de forma algo surpreendente isso é pouco habitual nos heróis Bonelli, pese todo o potencial para que tal acontecesse.

2.      E se surgem alguns inimigos que se destacam – Mefisto em Tex, Hellinger em Zagor, de forma mais evidente, Hogan em Mágico Vento – na maior parte dos casos as suas aparições são quase residuais se considerado o elevado número de histórias de cada um daqueles heróis.

3.      Por maioria de razões – desde logo pelo realismo do relato e pelo evidente privilegiar das componentes emocionais e psicológicas – isso também não acontece em Julia Kendall.

4.      O que - apesar da evidente contradição – não impede que “A sangue quente” apresente o terceiro confronto entre a criminóloga de Garden City e a serial killer Myrna, que foi, recorde-se, o centro da sua primeira investigação nos três números iniciais desta colecção.

5.      Fugida da cadeia, há longo tempo desaparecida, Myrna “ressuscita” aqui para se vingar como não podia deixar de ser, mais engenhosa e inteligente, também mais perigosa e, sem dúvida, mais desequilibrada, demonstrando uma obsessiva – e até quase incómoda para o leitor – relação de amor/ódio por Julia, na qual paixão e vingança se confundem (e atrapalham?), numa espiral de sexo e sangue apresentada num crescendo ao longo deste tomo - onde a violência e a sensualidade atingem níveis invulgares no contexto da série - mesmo que o(re)encontro final entre ambas se revele breve e defraude mesmo – mas apenas sob certo ponto de vista - as perspectivas criadas ao longo de uma centena de pranchas repletas de grande tensão emocional.

6.      Embora – por isso – deixe em aberto nova confrontação, num futuro que se adivinha mais ou menos distante, que se espera tenha (pelo menos) a mesma qualidade, força e emoção deste.

7.      Este regresso de Myrna, se evoca duas das mais fortes narrativas de Berardi nesta série – que mais uma vez confirma a elevada qualidade da sua escrita pela forma como desenvolve o relato aproximando pouco a pouco Julia e Myrna - evidencia também as mudanças que a “sósia” de Audrey Hepburn sofreu ao longo destes mais de sete anos de investigações.

8.     Porque Julia tem mudado. Mudou. Como qualquer leitor atento facilmente percebeu. Sem perder a sua feminilidade e a sua fragilidade, tem agora uma maior auto-confiança, uma forma diferente de se abrir, de se relacionar (e de se dar), uma outra capacidade de enfrentar as situações limites que as suas escolhas tantas vezes provocam, a exemplo do que acontece neste número quando – finalmente – se vê de novo frente a frente com Myrna.






28/05/2012

J. Kendall #84

Drama em Alto Mar








Giancarlo Berardi, Giuseppe De Nardo e Lorenzo Calza (argumento)
Mario Janni (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Novembro de 2011)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
4,00 €

Resumo
Durante um cruzeiro de má memória, transformado num auxílio a Leo Baxter numa investigação, Julia Kendall acaba por se ver envolvida num sequestro.

Desenvolvimento
Menina-bonita deste blog, após uma (demasiado longa?) ausência, Julia Kendall está de volta, curiosamente não devido à história que Berardi (com De Nardo e Calza) conta na revista este mês disponível nos quiosques portugueses – e na qual, como é habitual, há vários motivos de interesse, a começar pela “deslocalização” da criminóloga para “águas” que não costumam ser as suas e pela forma como a (aparente) base inicial da narrativa muda (por duas vezes) surpreendendo sucessivamente o leitor – mas para meditar um pouco acerca da importância da capa numa edição de banda desenhada.
Arte narrativa fundamentalmente gráfica, a banda desenhada tem na imagem a sua principal arma, pelo menos no primeiro impacto – e essa seria uma outra discussão, que me levaria longe do tema que hoje trago aqui.
Por isso, tanto se louva a importância do desenho, embora geralmente fazendo-o para lá da capa. Que, no entanto, é a primeira imagem que o leitor vê.
Por isso, também, se compreende que em meios aos quadradinhos “mais industriais”, frequentemente o autor da capa seja diverso do que desenha a BD propriamente dita, como acontece na Marvel e na DC Comics, que tantas vezes recorrem a nomes de peso ou ao truque de capas alternativas, para valorizar as obras, ou, como no caso presente, na Bonelli. Nesta última, aliás, as capas de cada série – igualmente por uma questão de uniformização - estão geralmente entregues a um artista específico – Claudio Villa para Tex, Gallieno Ferri para Zagor ou Marco Soldi para Julia, são alguns dos exemplos possíveis.
Regressando à temática genérica “capa”, se é fundamental que ela seja chamativa para atrair o leitor, introduzindo-lhe a história, também não pode cair no erro crasso de desvendar o enredo ou de vender “lebre por gato”.
E é nesta sequência de ideias que entra esta capa de J. Kendall. Mas, antes de entrar na sua análise e adiantar demasiado sobre o argumento – algo que será inevitável – deixo o aviso a quem quiser parar por aqui e ler este “Drama em alto mar” antes de continuar a leitura das ideias que aqui alinhavo.

Porque – e até hoje nunca o tinha sentido de forma tão evidente – esta capa de Julia tem um spoiler evidente: a protagonista, sumariamente vestida – despida? – está numa cabine de um barco, deitada numa cama, com as mãos amarradas atrás das costas, de olhar receoso e perdido face ao homem musculoso e mal encarado que entra na cabine e cujas intenções lascivas não deixam dúvidas.
A sua visualização, enquanto imagem forte, provocou desde logo em mim dois efeitos: por um lado levou-me a perceber que a estadia de Julia no iate, apercebido pela primeira vez apenas por volta da prancha 40, seria tudo menos pacífica – ficando assim desvendada parte da trama; por outro, criou a expectativa sobre quando teria lugar a tal cena – e o desenvolvimento da narrativa possibilitou-a mais do que uma vez antes que realmente se concretizasse. E, finalmente, quando tal aconteceu, ela mostrou-se ainda mais denunciadora, pois a cena que intui é fundamental para o desfecho e resolução do caso – ao mesmo tempo que revela uma Julia desconhecida para o leitor, empurrada (?) para perigosos limites pela situação extrema que vivia.
Ou seja, esta capa, se cumpriu o propósito primário de estimular o interesse pela história, também desvendou parte do argumento e antecipou mesmo o seu momento capital.
Sei, sem sombra de dúvida, que – como sempre neste blog - esta é apenas a minha leitura e que cada leitor, após a sua leitura personalizada, terá (poderá ter) sobre ela uma opinião díspar, e o que para mim pode ser defeito, para outros será virtude.
Fica o desafio para leituras (mais) atentas… das capas!


23/12/2011

J. Kendall #79

Sangue do meu sangue
Giancarlo Berardi e Maurizio Mantero (argumento)
Federico Antinori (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Junho de 2011)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
4,00 €
 

Resumo
O assalto a uma clínica de fertilidade e o “rapto” de alguns embriões congelados, pertencentes a pessoas influentes, leva a polícia de Garden City a recorrer uma vez mais à assessoria da criminóloga Julia Kendall, numa história que coloca questões incómodas sobre temas actuais.

Desenvolvimento
Esta é mais uma história de Julia na qual o factor humano se sobrepõe largamente à intriga base policial.
Para começar, atente-se no modo como a trama esta construída, a dois tempos, e como os seus protagonistas – os criminosos, por um lado, e as autoridades policiais e Júlia, por outro – só se cruzam, tangencialmente, uma única vez ao longo de todo o relato, para além do desfecho a posteriori. E sem que isso, em momento algum, ponha em causa a identidade do culpado primordial ou retire consistência ou interesse à narrativa, bem pelo contrário.
Depois, a forma como o seu desenrolar serve para Berardi e Mantero colocarem várias questões actuais, prementes, de resposta difícil - não única nem absoluta - relativas às escolhas que a vida obriga a fazer – porque não escolher já é optar – sobre profissão, carreira, casamento, filhos, amizades, religião, relações, métodos de fertilidade, momento de início da vida… E como cada uma dessas escolhas, implica novas opções, quase sempre igualmente difíceis e fundamentais.
A história, mais uma vez, é muito bem narrada, com os diferentes momentos dos dois níveis de acção a decorrerem a ritmos diferenciados mas apropriados, maioritariamente de forma lenta, para que o leitor possa absorver as pistas que os autores propõem – sem tomar partido ou fazer campanha - e fazer a sua própria reflexão. E a temática em causa, actual, incómoda, sensível, tem, sem dúvida, muito sobre que reflectir. 

A reter
- Mais uma vez em J. Kendall, a forma original e consistente como a narrativa é construída e desenvolvida.
- A actualidade e relevância das questões - éticas, pessoais… - que a trama base permite aos argumentistas colocar.
- A maior consistência física da edição, devido à utilização de um papel de gramagem superior.

26/10/2011

J. Kendall #77

Ameaça em domicílio
Giancarlo Berardi e Lorenzo Calza (argumento)
Enio (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Abril de 2011)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
4,00 €


Resumo
Um assalto falhado a um banco, transforma-se num sequestro que a polícia de Garden City, encabeçada pelo procurador Robson e o tenente Webb, com a ajuda da criminóloga Julia Kendall, vai tentar resolver da melhor forma.

Desenvolvimento
Eu sei que Julia tem marcado presença regular (quase mensal) aqui, mas garanto que não tenho qualquer tipo de comissão por parte da Mythos. Isso deve-se apenas à qualidade das histórias, geralmente bem acima da média, às quais não tenho conseguido resistir e cuja leitura me tem inspirado estas reflexões. Não sei se com os meus textos já consegui seduzir algum leitor, mas acredito que quem aceitar o desafio de se embrenhar nos casos de polícia que vão surgindo em Garden City não dará o seu tempo por mal empregue.
Partindo de um universo credível e bem estruturado, que em cada episódio vai sendo desenvolvido e aprofundado, Berardi faz de Julia, mais do que uma série policial, uma crónica sobre o quotidiano das grandes cidades, através da introspecção e das reacções de cada um dos seus protagonistas regulares e daqueles que, geralmente criminosos, marcam individualmente cada edição, mas também dos figurantes anónimos que dão corpo e consistência a todas elas.
Este número, ia a escrever “não é uma excepção”, mas na verdade é bem mais do que isso. È um exemplo perfeito do que atrás afirmei, pela forma como o quotidiano de cada um dos intervenientes que foi/vai ser afectado pelo roubo e pelo sequestro, se enquadra na narrativa e é afectado pelo acontecimento central que serve de base à história. De base, sim, embora surja quase como menor, porque o enriquecedor do argumento de Berardi e Calza são os pequenos dramas – e alegrias – das várias pessoas – bem reais - que vamos conhecendo – e com as quais encontramos pontos de contacto. Mesmo que nalguns casos a sua participação seja apenas acessória ou passageira, deixando no leitor a vontade de conhecer mais acerca da sua vida ou do momento concreto que a história abordou.
O que não retira mérito ou interesse à trama central, de forma alguma, bem narrada e explanada, a dois tempos.
Por um lado a acção das autoridades a tentarem gerir da melhor forma o acontecimento, por outro a acção em si, na relação entre o assaltante/sequestrador e as suas vítimas, com vários momentos de suspense em que o frágil equilíbrio criado parece prestes a ser rompido, o que contribui para acentuar a tensão e prender o leitor. Que, no final, uma vez tudo resolvido (?...) ainda tem direito a um surpreendente revelação…

A reter
- A elevada qualidade média dos argumentos de Julia Kendall.
- A forma como a trama central se esbate para dar lugar à crónica do quotidiano.

14/07/2011

J. Kendall #74

#74 – Entre quatro paredes





Giancarlo Berardi, Lorenzo Calza e Alberto Ghé (argumento)
Valerio Piccioni (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Janeiro de 2011)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
4,00 €

Resumo
O aparecimento do industrial Norwell Standford morto, no seu escritório, fechado por dentro, e com um tiro na têmpora é o mote para mais uma investigação da criminóloga Julia Kendall.

13/04/2011

J. Kendall #71

#71 – Morrerei à meia-noite




Giancarlo Berardi e Lorenzo Calza (argumento)
Roberto Zaghi (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Outubro de 2010)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
4,00 €


Resumo
Um desconhecido apresenta-se à criminóloga Julia Kendall, dizendo-se perseguido por uma cigana que desde há alguns dias prevê tudo o que lhe vai acontecer, tendo anunciado mesmo a sua morte para daí a alguns dias.

31/01/2011

J. Kendall #69/#70





Giancarlo Berardi, Maurizio Montero (argumento)
Laura Zuccheri (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Agosto e Setembro de 2010) 
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal, 4,00 € 

Resumo Julia Kendall desloca-se à pequena cidade de Wylmeth, no Texas, por motivos que só mais tarde nos serão relatados, sendo recebida com desconfiança e pouca hospitalidade pelos habitantes locais. Começa assim mais uma delicada investigação da criminóloga, que a levará a enfrentar situações limite que nunca viveu.

27/12/2010

J. Kendall: Requiem para uma criminóloga?

O título deste post refere-se à notícia, revelada no início de Julho, de que a revista mensal brasileira “J. Kendall – Aventuras de uma criminosa”, editada pelo Mythos Editora desde Novembro de 2004 e presença regular neste blog, podia chegar ao fim no nº 67, “devido às baixas vendas e aos altos custos redaccionais e gráficos”. A onda de pesar levantada, levou a editora a fornecer-lhe um curto balão de oxigénio garantindo a sua publicação até ao nº 71, datado de Outubro de 2010. “Era uma manhã tediosa. Daquelas invadidas por uma subtil inquietação. Uma sensação que eu sabia que ia durar o resto do dia, deixando cinzento até o meu humor. Há tempos eu já havia aprendido que basta pouco para modificar o próprio comportamento. Um acto de vontade pode impor uma lufada de optimismo capaz de iluminar o horizonte mais sombrio. Mas eu também sabia que era muito agradável deixar-se embalar por uma pitada de melancolia. É um modo para se colocar à espera. À espera que chegue alguma coisa ou alguém para movimentar a vida.” (In “Júlia #1”, Mythos Editora, Novembro de 2004, página 20. Não, não há engano no título da revista: intitulada “Julia” em Itália, esta série teve o mesmo título no Brasil, mas apenas durante os primeiros quatro números, tendo depois que ser mudado para o actual “J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga” para não ser confundida com uma outra publicação homónima, dedicada a romances cor-de-rosa.). Esta é a primeira vez que o leitor “ouve” os pensamentos de Julia – ou que os lê no seu diário, se preferirem. Acontece logo na edição de estreia, após uma longa (e dupla) sequência muda bastante violenta (um exemplo da dicotomia realidade/sonho, comum ao longo da série) e um entreacto mais ligeiro/cómico. E desta forma, numa vintena de páginas, Giancarlo Berardi lança as bases do que seria – do que é! – Julia, que apesar de estar em perigo (editorial) no Brasil, mesmo sendo muito louvada pela crítica - o anúncio do fim da revista levou à criação de uma série de iniciativas em sites e blogs para tentar obstar ao seu cancelamento e, já neste início de Outubro, a publicação foi distinguida com o Troféu HQMix (o mais importante do género no Brasil) como melhor Publicação de Aventura/Terror/Ficção publicada no Brasil no último ano. - mantém boa saúde em Itália onde neste mês de Outubro a edição original da Sergio Bonelli Editore atinge a edição #145, com a qual começa o seu 13º ano. Moradora de Garden City, uma cidade relativamente pacata nos arredores de uma grande metrópole, Julia divide o seu tempo entre as aulas de criminologia na universidade e as suas colaborações como consultora junto da procuradoria local. Julia, graficamente (bem) inspirada na bela e frágil Audrey Hepburn, é trintona - A par da série principal, desde 2005 é publicado em Itália (e desde 2006 no Brasil) um especial anual – “Almanacco del Giallo”/”Almanaque Mistério” – que narra as aventuras de Julia quando ainda era estudante da faculdade, com as contradições e hesitações próprias da idade mas já com todas as suas características futuras: a queda para se apaixonar pelo(s) homem(ns) errado(s); a insegurança, embora condimentada com mais ilusões e alguma impetuosidade, próprias da sua juventude; a inteligência e capacidade dedutiva que lhe garantirão o sucesso profissional futuro, embora atenuadas pela sua inexperiência. -, solteira e divide a moradia com a sua pachorrenta gata Toni. Órfã de pai e mãe, falecidos muito cedo, quando Julia tinha apenas três anos, foi educada pela avó, Lillian Osborne, para quem a actriz Jessica Tandy serviu de modelo gráfico, actualmente a viver num lar por opção própria, para dar espaço a Julia para viver a sua vida. Quase sempre fisicamente ausente, devido à exigente carreira de modelo profissional de sucesso (pesem alguns problemas relacionados com toxicodependência), Norma, a irmã mais nova de Julia, está muitas vezes no seu pensamento e é alvo de grande um cuidado protector por parte da criminologista. Durante o dia, Julia vê-se também a braços com Emily Jones (“clone” de Whopi Goldberg), uma espécie de governanta, negra, muito enérgica e opinativa, para quem dois princípios são sagrados: os brancos só servem para tramar os pretos e uma mulher – Julia em especial – só pode realizar-se se tiver um homem. Ela é a responsável pela maior parte dos momentos divertidos ou inesperados, geralmente utilizados para quebrar a tensão das narrativas. Casada e divorciada várias vezes, Emily tem vários filhos, um dos quais, Lutero (Spike Lee), é um hacker que por vezes auxilia Julia quando os meios legais não são suficientes ou suficientemente expeditos. Do ponto de vista profissional, da galeria de personagens fazem parte também o tenente da polícia Alan J. Webb (fisicamente inspirado no actor John Malkovich), que geralmente encabeça os casos que Julia acompanha e que com quem ela partilha uma relação de (quase) amor/ódio, não só pela atracção mútua que sentem mas também pela quase repulsa que as ideias opostas de um e outro provocam em ambos. Enquanto Julia é mais sensível, ponderada e liberal, Webb revela-se mais conservador, inflexível e repentista, o que frequentemente provoca acesas discussões entre os dois. Como mediador surge muitas vezes o “bom” sargento “Big” Ben Irving (cuja base foi o actor John Goodman), amante de boa comida, bonacheirão e bem-disposto, mas também competente na sua tarefa. Entre as personagens recorrentes, embora menores na sua importância, contam-se o médico-legista James Tait, o Capitão Carter, um afro-americano (inspirado em Morgan Freeman), conciso e equilibrado que surge apenas em casos de maior importância, e o Procurador Michael Robson. O lote completa-se com Leo Baxter, robusto detective particular que se assemelha a Nick Nolte, decidido e atlético, capaz de usar métodos menos ortodoxos quando necessário e amante de belas negras. E que de certa forma constitui com Julia e Webb os vértices de um inesperado triângulo amoroso, embora, pouco interessado numa relação duradoura, prefira considerar Julia mais como uma irmã do que uma mulher disponível. Situação que Julia, por vezes, parece desejar que fosse diferente. Série policial realista, esta banda desenhada não tem um “vilão de serviço” como acontece frequentemente a outros níveis. A única adversária recorrente de Julia (se assim a podemos classificar), é a serial killer lésbica Myrna Harrod, atraída e obcecada pela criminóloga, que, depois de protagonizar o tríptico inicial das aventuras de Julia, regressa uma vez por outra a Garden City para espalhar o terror e a morte, sem que até agora tenha havido o confronto decisivo. Estes são os protagonistas principais da série criada pelo italiano Giancarlo Berardi - que nasceu em Génova, na Itália, a 15 de novembro de 1949. Depois de experiências como autor e actor teatral e guitarrista da banda Gli Scorpioni, virou-se para os quadradinhos onde chegou a escrever histórias de Tarzan, Diabolik ou Mickey. Em 1974, criou Ken Parker com Ivo Milazzo, um western humanista muito saudado pela crítica e que lhe proporcionou uma legião de fãs, mesmo fora do meio habitual dos quadradinhos -, cujo primeiro número viu a luz em Itália em Outubro de 1998, como mais uma integrante do (já de si imenso) universo Bonelli. Contando já no seu currículo com uma série de peso (e de culto) como Ken Parker, Berardi não desapontou os seus muitos seguidores e fãs, impregnando de novo com uma forte componente pessoal e intimista um relato que (apenas) de forma ligeira pode ser classificado como policial. Porque, se o crime (passional, informático, político…), o roubo e/ou o assassinato estão sempre presentes, a verdade é que as histórias têm também (e sempre) uma forte componente humana. Porque Julia, geralmente, mais do que desvendar o mistério ou apanhar os criminosos, pretende compreender as suas razões e motivações. Prefere investigar a fundo o que motivou o criminoso, mais do que (ou tanto como) apanhá-lo. Como ela afirma, “Para a polícia, um assassino é somente um culpado. Já para a criminóloga, também interessa o quanto por sua vez é vítima. A violência é sempre fruto de outra violência” (“Júlia #1”, Mythos Editora, Novembro de 2004, página 94). E a forma como ela analisa cada caso, como encara cada culpado (ou inocente), muitas vezes é-nos revelada pela protagonista no seu diário, um artifício recorrente utilizado por Berardi, através do qual vamos também conhecendo os seus sentimentos, desejos, anseios e frustrações. A par disto, a heroína – que só se pode definir assim enquanto protago-nista de uma banda desenhada - vai bem para além das duas dimensões do papel em que as suas aventuras são impressas, revelando-se uma mulher com espessura, com vida própria, com vida para além da criminologia. Ou com falta dela pois, Julia revela-se tão decidida e eficaz profissionalmente, quanto insegura e temerosa no que respeita ao seu relacionamento com o outro sexo. O que não significa que relações com alguns dos homens com quem se vai cruzando não tenham lugar – e sejam muitas vezes consumadas sexualmente – embora terminem sempre ao fim de mais ou (geralmente) menos tempo, quer porque Julia receia avançar demais e perder a sua individualidade e auto-suficiência, quer porque os pontos comuns afinal não eram tantos como pareciam e Julia, embora carente, é sem dúvida exigente. Neste contexto, não surpreende que Julia se envolva algumas vezes com os próprios criminosos quer afectiva (quando entende e de certa forma subscreve as suas motivações) quer mesmo fisicamente. Ao lado de Berardi, na escrita dos guiões surgem por vezes Giuseppe De Nardo, Maurizio Montero e, principalmente, Lorenzo Calza. Este último, também músico de rap, trouxe para a série uma musicalidade – patente no ritmo das histórias em que participa e na utilização de temas musicais em diversas cenas – até aí pouco presente. Isso não retira, longe disso, a cada história tempo para respirar, para os avanços (e recuos) se fazerem ao ritmo das pausas ou da acção, tempo para os componentes da galeria de personagens ganharem consistência criarem (mais) cumplicidades com os leitores, tempo para os (novos) protagonistas em cada relato serem suficientemente desenvolvidos para ganharem credibilidade e sustentarem a(s suas) história(s). Até porque, em muitas das histórias, mesmo que por vezes o leitor já conheça mais da sua base do que os protagonistas, pois normalmente ela é narrada com o(a)(s) criminoso(a)(s) como protagonista(s) nas primeiras páginas de cada revista, há tempo para os investigadores seguirem pistas erradas ou paralelas, formularem teorias diversas, tal como, aliás, acontece com certeza na vida real. Através das suas histórias, Berardi vai traçando retratos lúcidos mas não abonatórios da sociedade actual, da decadência de instituições como a família ou a polícia, questionando métodos e objectivos, para dar sempre o primeiro lugar ao ser humano, com as suas dúvidas e contradições. A nível gráfico, como é normal nas edições Bonelli, Julia passa regularmente pelas mãos de diversos desenhadores - Laura Zuccheri é um dos nomes mais recorrentes, mas pelas suas páginas também já passaram autores como o grande Sergio Toppi (! – no nº11), Steve Boraley ou Giorgio Trevisan, entre diversos outros - , o que obviamente provoca algumas oscilações a nível de traço e acabamento (de uma qualidade média bastante interessante) - aspecto que, que infelizmente, nem sempre é possível aquilatar através das edições da Mythos, no seu habitual pequeno formato (135 x 175 mm), papel fraco e uma impressão (a preto e branco) que muitas vezes deixa a desejar no que às manchas de preto diz respeito. Este é, aliás, um dos motivos (a par da pouca divulgação por parte da editora) que muitos apontam para as fracas vendas da revista no Brasil, onde tem que fazer face a um mercado com uma enorme quantidade de oferta, geralmente com maior qualidade gráfica. A versão original italiana é maior (160 x 210 mm) e tem melhor papel e impressão. Uma nota final para referir que, contrariamente ao que é habitual nas edições Bonelli, cada número da revista conta 132 páginas e não as habituais 100 -, menos notória no que diz respeito à planificação e uso diversificado de planos e pontos de vista, pois aqui os guiões de Berardi devem ter um peso mais específico. Globalmente, pode classificar-se o desenho como realista (ou não sejam tantos os actores utilizados como modelos para os intervenientes), firme, anatomicamente correcto, bem ritmado, de planificação pelo uso e (bom) abuso de pequenos gestos, olhares e da utilização de pormenores aparentemente sem importância mas que, todos juntos, ajudam a definir o ambiente exigido e a conduzir o relato ao ritmo pretendido. Recorrentemente apontado como um dos melhores títulos disponíveis no Brasil, “J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga”, segundo as últimas informações resistirá pelo menos até à edição #79. Em Portugal, este mês de Dezembro, chegou às bancas o #68. Por isso, os leitores portugueses, poderão encontrá-lo ainda durante o próximo ano nos nossos quiosques e bancas. E acreditem que, mesmo que o aspecto da edição não seja convidativo para quem está habituado à cor e qualidade gráfica do franco-belga ou dos comics, vale a pena descobrir Julia e o universo realista que Berardi desenvolveu com mestria ao seu redor.


(Versão revista e retocada do texto publicado originalmente no BDJornal #26 de Outubro de 2010; para facilitar a leitura as notas de rodapé da versão original foram inseridas no texto, numa letra menor.)

28/10/2010

J. Kendall #66

Giancarlo Berardi, Giuseppe De Nardo e Lorenzo Calza (argumento) 
Mario Janni (desenho) 
Mythos Editora (Brasil, Maio de 2010) 
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal

Resumo O cadáver de um jovem, encontrado no apartamento que partilhava com um amigo, leva a polícia de Garden City a recorrer mais uma vez aos préstimos da criminóloga Julia Kendall.

06/07/2010

J. Kendall – O Fim?

O comunicado da Mythos Editora surgiu há poucos dias, “curto e directo”: “Comunicamos com muita tristeza que devido às baixas vendas e aos altos custos redacionais e gráficos a revista J. Kendall - Aventuras de uma Criminóloga (Júlia) deixará de ser publicada. A última edição será a nr. 67, Junho de 2010.” A notícia, infelizmente não é surpresa, pois apesar de gozar de boas críticas generalizadas, há muito que este título mensal não atingia o limiar de vendas necessário à sua subsistência. Como, na mesma casa editora, já acontecera com outras séries de qualidade, como Martin Mystère ou Dylan Dog, dois outros títulos provenientes da casa Bonelli. Entretanto, depois deste anúncio, face às reacções surgidas, a Mythos voltou atrás, oferecendo a Júlia, através de uma mensagem do seu editor, Dorival Vítor Lopes, mais um (curto) balão de oxigénio: “Como esperado, o anúncio causou grande clamor entre os leitores e ontem mesmo já recebi umas dez mensagens de desespero e súplicas para que Júlia continue. Como essas manifestações devem continuar e aumentar, resolvemos fazer mais 4 edições e novamente analisar o quadro de vendas. Então, iremos até o nr. 71, pelo menos. Claro que contamos com a divulgação dessas edições de todas as formas possíveis e que os leitores também se manifestem indo à banca de jornal. Muito obrigado por seu constante apoio a Júlia e a todas as publicações Bonelli. Um abraço, Dorival” Sendo verdade que a revista chega às bancas e quiosques portugueses com cerca de 6 meses de atraso – neste momento está disponível a edição #62 -, os portugueses pouco poderão fazer para inverter a situação. Fica, no entanto a informação – até porque J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga tem sido presença recorrente em As Leituras do Pedro – para que, pelo menos, aqueles que nunca se decidiram a experimentar a sua leitura, aproveitem esta última (esperemos que não) dezena de números para conhecer a (duplamente) bela criação de Giancarlo Berardi.

22/04/2010

J. Kendall Almanaque Mistério 2009

Giancarlo Berardi (argumento e guião) 
Maurizio Mantero (guião) 
Steve Boraley (arte) 
Mythos Editora (Brasil, Novembro de 2009)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, anual 

 Resumo Publicação anual, estes Almanaques Mistério narram as aventuras da jovem Júlia Kendall, quando ainda era aluna da universidade, embora já trabalhasse como assistente de um dos seus professores, Cross, que então era consultor da Procuradoria de Garden City. Neste (mini-)álbum, originalmente publicado em Itália, no Almanacco del Giallo 2009 e de momento disponível nas bancas nacionais, investiga o caso de um corpo encontrado dentro de um poço, que a polícia consegue identificar através de uma curiosa tatuagem num braço. No desenvolvimento da investigação, Júlia terá ao seu lado Eldred Herron, amigo da vítima, jovem escritor de sucesso de um único romance, com quem vai estabelecer uma relação de grande proximidade. 

Desenvolvimento O primeiro mérito de Berardi é a forma como traça o retrato da jovem Júlia, com o distanciamento necessário da versão adulta, com as contradições e hesitações próprias da idade mas já com todas as suas características futuras: a queda para se apaixonar pelo(s) homem(ns) errado(s); a insegurança, embora condimentada com mais ilusões e alguma impetuosidade, próprias da sua juventude; a inteligência e capacidade dedutiva que lhe garantirão o sucesso profissional futuro, embora atenuadas pela sua inexperiência. O criador de Júlia, mais uma vez, desenvolve uma bela história, na qual a investigação criminal e a exploração dos sentimentos dos protagonistas andam a par. No que diz respeito à primeira, diverte-se a avançar com diferentes pistas para a resolução do assassínio – um eventual serial killer, apostas clandestinas, ligação a uma organização nazi, crime passional… - sendo que a solução não estará em nenhuma delas, o que acaba por dar mais interesse e uma grande credibilidade ao argumento, pois deve ser isso que muitas vezes acontece na vida real. Mas, mais uma vez, são as relações humanas – e o que tantas vezes está por trás do seu (in)sucesso - que constitui o ponto forte de mais uma narrativa pautada por um tom intimista, desenvolvida em ritmo pausado, para permitir ao leitor digerir cada informação, cada avanço, cada recuo. Veja-se a forma como o interesse inicial de Júlia pelo jovem escritor se vai modificando, progressivamente, até se transformar (quase?) em paixão – que assenta também na forma como o desenhador retrata olhares, pequenos gestos, pormenores aparentemente sem importância - colocando em segundo plano a resolução do crime. 

Curiosidade Como é habitual nestes números especiais, é incluído um dossier que aborda os principais filmes e séries policiais que marcaram 2009 e também o escritor norte-americano James Ellroy. (Texto publicado também no Tex Willer Blog)
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