30/10/2009

BD para ver - Amadora BD 2009, fim-de-semana 2

Como os ecos que chegam sobre o Amadora BD são contraditórios, não há como passar por lá – até dia 8 de Novembro! – para ver com os próprios olhos e formar uma opinião pessoal.
Amanhã, sábado, e domingo, é possível encontrar por lá Maurício de Sousa, Giorgio Fratini, autor do surpreendente e muito interessante – Sonno Elefante – As paredes têm ouvidos (Campo de Letras), sobre o edifício que serviu de sede à PIDE, Achdé – actual desenhador de Lucky Luke, François Boucq, a mangaka luso-sueca Natália Batista, o cartoonista albanês Agim Sulaj, Korky Paul, do Zimbabwe, Yosh, da Suécia, Kei Suyiama e Nonaka Toshiki.
E, claro, os portugueses Rui Lacas (autor da prancha aqui mostrada), José Garcês, Hugo Teixeira, Osvaldo Medina, Nuno Duarte, Mário Freitas, Filipe Pina, Filipe Andrade, Ricardo Cabral, Rui Ricardo, Hugo Jesus, Rita Marques, Cristina Dias, Manuela Cardoso, Gisela Martins e Jorge Miguel, António Jorge Gonçalves e Jorge Miguel.
Motivos bem mais do que suficientes para ir ao Fórum Luís de Camões…

29/10/2009

Astérix 50 anos – Entrevista com Albert Uderzo
















Chama-se Albert Uderzo e nasceu em Fismes, na França, a 25 de Abril de 1927. Os 50 anos de Astérix, que se cumprem hoje, foram o pretexto para uma conversa por mail, com a preciosa intermediação da Drª Maria José, das Edições ASA, na qual evocou com saudade o seu amigo René Goscinny, bem como o passado e o futuro do herói que juntos criaram.

27/10/2009

Almanaque Tex #30

O preço da honra/A força do destino
Claudio Nizzi (argumento) 
Venturi (desenho) 
Mythos Editora (Brasil, Setembro de 2006) 
135 x 178 mm, 228 p., pb, brochado 

Resumo Santos, um jovem apache que trabalhava para o exército como batedor, comete um brutal assassinato à vista de todos. Para descobrir o porquê daquele crime inexplicável, Tex tem que mergulhar no seu passado em busca da resposta, contando ao seu filho Kit e a Kit Carson a história do pai de Santos, o terrível guerreiro conhecido como Lobo Raivoso. 

Desenvolvimento Numa série como Tex, com produção regular mensal (com tudo o que de bom e de mau este conceito acarreta), e uma qualidade média bastante razoável, as histórias mais interessantes, a nível de argumento, para mim, acabam por ser aquelas que fogem mais aos estereótipos normalmente associados ao herói. Ou pela abordagem de temáticas distintas ou por se atreverem a um tratamento diferente do (tão imutável) protagonista (que é assim, porque é assim que os leitores gostam, por muito que alguns "críticos" gostassem de ver outras temáticas/situações/personagens nas suas histórias). Um desses casos é o diptíco publicado neste número do Almanaque Tex, colecção que publica histórias inéditas de Tex originalmente publicadas na série italiana "Almanacco del West" ou histórias que ficaram por publicar quando era a Editora Vecchi a responsável pela edição brasileira de Tex (porque o herói Bonelli, no Brasil, já passou pelas mãos das editoras Vecchi, Rio Gráfica, Globo e Mythos, embora mantendo sempre a numeração aquando das mudanças de editora). Numa história recente, de 2006, como habitualmente bem narrada e estruturada, funcionando à base de constantes flash-backs, aparentemente dentro dos códigos que regem um dos mais famosos e populares westerns europeus, há uma diferença fundamental: Tex, geralmente dono e senhor da situação, infalível e (quase) omnipotente, falha estrondosamente. E logo por três vezes. Primeiro, quando não consegue evitar o fim trágico de Natay, o índio rebelde que quase lhe rouba o protagonismo da narrativa. Depois, quando não consegue que o verdadeiro criminoso, o oficial do exército corrupto, seja levado à justiça. Finalmente, quando não consegue evitar ou pelo menos atenuar o castigo (apesar de tudo justo) do seu assassino. Motivos suficientes - mas há mais, que deixo aos leitores descobrir - para mergulhar na leitura destas mais de 200 páginas. 

Curiosidade Se o desenho de Venturi é profissional q.b., eficiente, expressivo e dinâmico, não deixa de ser interessante reparar como o Tex das situações em flash-back é igualzinho ao Tex das cenas passadas na actualidade. Isto, apesar dos cerca de 20 anos que medeiam entre as duas. Mais uma prova da imutabilidade de Tex e de que os grandes heróis são mesmo eternos! (versão revista e actualizada do texto originalmente publicado no BDJornal #22 de Junho/Julho de 2007)

23/10/2009

Efeméride – Terry and the pirates

A 22 de Outubro de 1934, fez ontem exactamente 75 anos, o Chicago Tribune estreava nas suas páginas uma das mais elogiadas bandas desenhadas de aventuras de todos os tempos: “Terry and the Pirates”.
Nela, Terry Lee, um jovem americano, inteligente e dinâmico, chega à China em companhia de Pat Ryan, em busca de uma mina legada por um tio. Era o início de uma longa viagem, por um país que na época era sinónimo de mistério, exotismo e desconhecido, no qual conheceram a graciosa Dale Scott e o “telível” e “tlapalhão” chinês Connie, e enfrentaram sanguinários piratas e belas e sensuais mulheres fatais, entre as quais a enigmática vilã Dragon Lady, inspirada em Marlene Dietrich, a sofisticada Normandie Drake ou a intrigante Burma, que ficaram como imagens marcantes da série, uma das primeiras a fazer alusão ao sexo na imprensa norte-americana.
O seu autor era Milton Caniff, citado como referência por Pratt, Eisner ou Kirby, pelo seu traço realista rigoroso, expressivo e dinâmico, e pelo magistral uso do pincel para definir os contrastes de luz e sombra, com os quais deu corpo a intrigas palpitantes, plenas de mistério, acção, algum humor e, progressivamente, com uma consistente base documental.
Com a invasão de Pearl Harbour pelos japoneses, Caniff colou-se à realidade e alistou Terry no exército americano para os combater mas, no início de 1946, deixaria os seus heróis a George Wunder, que, sem grande brilho, fez de Terry soldado profissional, envolvido na guerra fria contra chineses, comunistas e vietnamitas, num longo declínio que se prolongaria até ao seu final, em Fevereiro de 1973. Uma curta ressurreição, entre 1995 e 1997, não deixou saudades.
Há dois anos, assinalando o centenário de Caniff (1907-1988), autor também da pin-up “Male Call” e do aviador “Steve Canyon”, as tiras e pranchas dominicais de “Terry and the Pirates” de sua autoria foram reunidas pela IDW Publishing, em seis luxuosos volumes.
Em Portugal, as aventuras de Terry foram publicadas (pelo menos…) no “Mundo de Aventuras”.

(Versão revista do artigo publicado no Jornal de Notícias de 22 de Outubro de 2009)

Lançamento – TX Comics

Cameron Stewart
Kark Kerschl
Ramón Pérez
Kingpin Books (Portugal, Outubro de 2009)
72 p., cor

Também amanhã, dia 24, e também no 20º Amadora BD 2009, mas às 16 horas, a Kingpin Books apresenta a sua primeira tradução, o álbum colectivo TX Comics, que apresenta assim no seu blog:
“Outrora conhecido como Transmission-X, TX COMICS é o colectivo online canadiano de ilustradores profissionais, do qual fazem parte, entre outros, Cameron Stewart, Karl Kerschl e Ramón Pérez. Reconhecendo a internet como fonte principal de arte e entretenimento, e movidos pela ambição de produzir obras pessoais e inovadoras, livres de restrições comerciais ou editoriais, os multi-premiados artistas têm produzido alguns dos melhores webcomics produzidos em exclusivo para a net”.
Os autores estarão presentes no lançamento.

Lançamento – Mucha

David Soares (Argumento)
Mário Freitas (Desenho
Osvaldo Medina (Desenho)
Kingpin Books (Portugal, Outubro de 2009)
36 p. pb

O lançamento deste conto de terror é amanhã, sábado, 24 de Outubro, às 15h, no Fórum Luís de Camões, onde está a decorrer o 20º Amadora BD 2009.
O press da editora reza assim:
“O horror está a chegar à aldeia e as coisas não voltarão a ser como dantes.
6 anos depois de A Última Grande Sala de Cinema, “Mucha” marca o tão aguardado regresso à BD do romancista David Soares (Lisboa Triunfante, A Conspiração dos Antepassados), numa história de horror intimista, subversiva e inteligente, bem reveladora da voz autoral ímpar que define a obra do erudito autor.
Baseada na premissa da peça surrealista Rhinocéros, de Eugène Ionesco, “Mucha” é uma extravagância visceral sobre a ameaça de desumanização que pende sobre a cabeça de Rusalka, uma camponesa que se vê, de um dia para o outro, imergida num mundo que insiste em ser uniforme, perigoso e destituído de qualidades.
Ilustrado por Osvaldo Medina (A Fórmula da Felicidade) e Mário Freitas (Super Pig) num estilo negro singular que recupera o expressionismo gótico das bandas desenhadas clássicas de horror, “Mucha” apresenta cenas de cortar a respiração, pautadas por um ritmo frenético que não deixará nenhum leitor indiferente; ou doravante tranquilo perante uma simples mosca.
“Contundente como uma pá que tanto serve de arma de defesa como de abertura do último descanso.” (Pedro Vieira de Moura, da Introdução)”.

Os autores estarão presentes no lançamento.

BD para ver – Amadora BD 2009

Começa hoje e prolonga-se até 9 de Novembro, o Amadora BD 2009, nova designação do (agora ex-) FIBDA – Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.
A cumprir 20 anos, o evento aposta na efeméride que se reflecte em boa parte da sua programação, embora eu, pessoalmente, considere que a data e a sua importância mereciam um programa mais recheado, mais festivo.
As propostas do Amadora BD 2009 são muitas, mas, de qualquer forma, permito-me salientar as cinco (justas e merecidas) homenagens que promove: Adolfo Simões Muller, Astérix, Hector Oesterheld, Maurício de Sousa e Vasco Granja. Eis a lista completa de exposições:
FÓRUM LUÍS DE CAMÕES
-Exposição Central - Consequências e Heranças do FIBDA: Almanaque; Contemporaneidade Portuguesa; Colecção CNBDI; 20 anos de Concursos
- 50 anos de Astérix
- Maurício de Sousa – 50 anos de carreira
- José Garcês – História do Jardim Zoológico de Lisboa
-Giorgio Fratini - Sonno Elefante – As paredes têm ouvidos
- Prémios Nacionais de BD 2008: Rui Lacas – retrospectiva da obra; António Jorge Gonçalves – Rei; Madalena Matoso e Isabel Minhós Martins – ilustração infantil; Emmanuel Lepage – Muchacho
- F.E.V.E.R. – novela gráfica, adereços e fotografias
-Osvaldo Medina – Fórmula da Felicidade e Mucha
- Colectiva de autores da Polónia
- Colectiva de autores do Canadá – Cameron Stewart, Karl Kerschl e Ramón Pérez
-Mangá e Anime – Ncreatures – Yosh, Natália Batista, Rita Marques, Cristina Dias, Manuela Cardoso e Shoot to Kill
- 20º Concurso de BD

GALERIA MUNICIPAL ARTUR BUAL
- Homenagem a Vasco Granja
CASA ROQUE GAMEIRO
- Centenário de Adolfo Simões Muller
RECREIOS DA AMADORA
- Cartoon
CNBDI
- Exposição retrospectiva/biográfica de Héctor Germán Oesterheld
ESCOLA SUPERIOR DE TEATRO E CINEMA
- Riscos do Natural, de José Ruy
CENTRO COMERCIAL DOLCE VITA TEJO - KIDZANIA
- Em Traços Miúdos, Ricardo Ferrand, Pedro Leitão e José Abrantes

Sem que se compreenda o porquê dos portugueses continuarem esquecidos nas listas de autores presentes, fica a relação dos convidados estrangeiros que será possível encontrar por lá amanhã, sábado, e domingo: Cameron Stewart (Canadá), Karl Kerschl (Canadá), Ramón Pérez (Canadá), Miguel Angel Martin (Espanha), Emmanuel Lepage (França), Carlos Sampayo (Argentina), Oscar Zarate (Argentina) e C.B. Cebulski (EUA).
A programação integral bem como todas as informações adicionais podem ser consultadas no site do Festival.

22/10/2009

Trois éclats blancs + Une après-midi d'été

Bruno Le Floc'h (argumento e desenho)
Delcourt (França, Outubro de 2004 e Maio de 2006)
203 x 262 mm, 96 p., cor, cartonado com sobrecapa


Princípio do século XX. Um jovem engenheiro é enviado para a (então) longínqua costa bretã para construir um farol. Tarefa aparentemente fácil, que um pormenor natural vai complicar e quase tornar impossível: o rochedo sobre o qual o farol deve ser construído, só está emerso uns trinta dias por ano. Por isso uma estadia previsivelmente curta, vê as semanas passarem a meses e estes a anos, o que obriga o engenheiro a integrar-se na pequena vila onde está a residir. Para isso, deve primeiro ultrapassar a natural desconfiança inicial dos autóctones, rudes e solitários, mas também humanos e solidários, depois impor-se para finalmente conseguir que o aceitem, fazendo mesmo algumas amizades, graças à sua perseverança em levar a bom porto a missão que lhe foi confiada. Isto, apesar de algumas tragédias – umas humanas, outras causadas pela natureza que parece rir da impotência humana - que vão suceder e de um ou dois desentendimentos, que, se de alguma forma põem em causa o projecto, ajudam o engenheiro a descobrir-se e, também, a revelar-se.
É isto que conta Trois éclats blancs (Delcourt), uma narrativa serena, impressiva, pincelada de nostalgia, que discorre sobre as relações humanas, aflorando sentimentos, revelando paixões, realçando traços de carácter, dando a primazia à amizade. Nele, o autor, Bruno Le Floc'h, vai desenvolvendo com um traço sensível e relaxante, voluntariamente impreciso, para nos conduzir até a um final inesperado, que, não fugindo ao previsível "acabar bem", deriva dele, deixando-o em aberto.
Alguns anos depois, reencontramos duas das personagens: um homem e uma mulher; Nonna e Perdrix. Duas personagens que se amaram, mas entre as quais um homem passou - o tal engenheiro do primeiro álbum - duas personagens entre as quais um grande fosso se cavou. Um fosso, ou melhor, uma trincheira. As trincheiras (e as suas consequências) da tristemente célebre guerra das trincheiras, a Primeira Guerra Mundial, que passou pelos dois, mantendo-os fiéis no seu amor, esperando-se reciprocamente. Mas cujos efeitos psicológicos destroçaram Nonna, mantendo-o prisioneiro das experiências que viveu, tornando-o incapaz de se dar, de se relacionar, de se entregar a Perdrix.
O traço é o mesmo, impressivo, expressivo, muitas vezes suficiente só por si para nos contar horrores de uma realidade que muitos viveram; onde muitos deixaram de viver. Literalmente, acabando com as suas dores neste mundo, ou em sentido figurado, como Nonna, continuando prisioneiro das suas dores interiores.

(Versão revista e actualizada do texto originalmente publicado no BDJornal #22 de Junho/Julho de 2007)

Quand j'étais star

Colecção écritures
Marc Villard (argumento)
Jean-Phylippe Peyraud (desenho)
Casterman (França, Janeiro de 2008)
170 x 234 mm, 240 p., cor, pb e sépia, brochado com badanas


Não vem na linha da actual onda de adaptações de obras literárias a banda desenhada, que tantas dezenas de novos títulos tem rendido à BD francófona, já que ela tem seguido quase exclusivamente os clássicos, mas a verdade é que "Quand j'étais une star" parte de contos curtos do escritor Marc Villard, que surge aqui como argumentista e também como protagonista de quase todas as histórias.
Peyraud, com o seu traço habitual, linha clara, sóbria, muitas vezes próxima do esboço, em que o preto e branco surge tintado de um castanho pálido, constrói os ambientes citadinos a que já nos habituou, ajudando-nos a entrar no espírito do volume, de controlada unidade, apesar de reunir mais de duas dezenas de narrativas.
A temática, trabalhada com energia, clareza e ironia, discorre sobre as ambições, desejos, esperanças, recordações, medos e fraquezas de um escritor-aspirante-a-grande-escritor, que dão corpo a uma sólida comédia de costumes, desconstruindo algumas das obsessões quotidianas dos nossos dias.

(Versão revista e actualizada do texto originalmente publicado no BDJornal #22 de Janeiro/Fevereiro de 2008)

Astérix 50 anos - O aniversário de Astérix e Obélix – O livro de ouro

René Goscinny e Albert Uderzo (texto) 
Albert Uderzo (desenhos) 
ASA (Portugal, Outubro de 2009) 
221 x 293 mm, 56 p., cor, cartonado 

 






Resumo A propósito do aniversário de Astérix e Obélix, o chefe Matasétix convida para virem à aldeia todos aqueles que se cruzaram com os dois gauleses ao longo das suas aventuras, para se associarem à efeméride e trazerem-lhes um presente. Uns acedem ao convite e aparecem; outros, por razões diversas, apenas podem enviar um postal. E as prendas, opiniões, recordações ou premonições, vão-se multiplicando, com a participação de gauleses, romanos e outros. 

20/10/2009

Astérix 50 anos - A triplicar

























Astérix Legionário 
Astérix na Córsega 
Obélix e Companhia 
René Goscinny (argumento) 
Albert Uderzo (desenho) Edições 
ASA (Portugal, (Março e Maio de 2007) 
222 x 291 mm, cor, 48 p., cartonados 

Enquanto se agrada pela próxima quinta-feira, dia 22, para conhecer - aqui no blog às 00h01 - "O Aniversário de Astérix e Obélix - O Livro de Ouro", o 34º álbum das aventuras de Astérix e Obélix, fica a evocação de três títulos fundamentais da série.

19/10/2009

Efeméride - E há 50 anos Crumb criou Fritz the Cat

A 15 de Outubro de 1959, Robert Crumb, nascido em 1943, esboçava Fritz the Cat, longe de imaginar o sucesso que lhe traria uma personagem inspirada num gato que teve em criança e na personagem então criada para divertir as suas irmãs e que só seria impresso cinco anos mais tarde.
Marco na história da banda desenhada underground norte-americana, de que muitos consideram Crumb o pai, Fritz é um animal antropomórfico, que serviu ao autor para criticar de forma ácida e mordaz a América dos anos 60 e a sua cultura pop, em narrativas delirantes e politicamente incorrectas, em que tudo é questionado. Nas primeiras histórias o traço de Crumb, onde se reconhecem ainda influências de Disney, é limpo e despojado, rápido e ágil, como se a urgência de narrar a tal obrigasse, mas, com o passar dos anos, emerge o estilo personalizado do autor, mais impressivo e sujo e com os cenários bem preenchidos.
Morador numa grande cidade, preguiçoso, egocêntrico, interesseiro, volúvel, sem princípios éticos ou morais, provocador de conflitos e desejoso de experiências sexuais com qualquer fêmea, independentemente da sua raça, o felino fez de Crumb tudo aquilo que ele não desejava: um autor respeitado e aclamado, com a sua criação transformada num objecto de desejo da sociedade de consumo. A boa aceitação da longa-metragem com o seu nome, dirigida por Ralph Bakshi, em 1972 - que foi o primeiro filme de animação a ser classificado para adultos nos EUA - foi a gota de água, que levou o desenhador a decidir acabar com a ele. Isso sucederia nesse mesmo ano, em “The death of Fritz the Cat”, em que o felino morre às mãos de uma ex-namorada, uma avestruz neurótica e enciumada, armada com um picador de gelo, ainda antes da estreia do segundo filme animado, “The nine lives of Fritz the Cat” (1974).
Publicado inicialmente na revista “Help” e depois em alguns jornais e em publicações underground, “Fritz the cat”, cujas histórias, pin-ups e ilustrações diversas continuam a ser regularmente reeditadas, fez uma breve aparição em Portugal, no jornal “Lobo Mau” (1979).

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 15 de Outubro de 2009)

Lançamento - La Genèse

Robert Crumb (adaptação e desenho)
Denoel Graphic (França, Outubro de 2009)
218 x 314 mm, 220 p., p&b, cartonado


Um dos lançamentos de banda desenhada aguardados com mais curiosidade neste final de ano é esta adaptação do livro bíblico do Génesis, feita pelo pai da BD underground norte-americana, Robert Crumb.
Polémico como sempre, durante uma recente conferência de imprensa em França, Crumb revelou que esta obra o ocupou durante quatro anos; que, ainda segundo ele, a começou a detestar ao fim de uma dezena de pranchas mas que levou o encargo até ao fim porque o editor lhe prometera um bom pagamento. O que entra em contradição com o facto de ter recusado uma oferta de três milhões de dólares pelo conjunto das mais de 200 pranchas que constituem o livro…
O criador de Fritz the cat seguiu fielmente o texto original e acredita que a leitura do seu Génesis vai surpreender muita gente que conhece a narrativa bíblica apenas superficialmente.
Disponível hoje nos EUA e no Reino Unido e dia 22 em França, a versão de Crumb deverá chegar até ao final do ano a diversos outros países. Tanto quanto sei, Portugal não incluído… Fica prometida uma recensão aqui no blog, em breve.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...