01/06/2011

Guerra Colonial

Na Banda Desenhada Portuguesa

Apesar da História pátria ter sido sempre uma temática importante na banda desenhada portuguesa, a guerra colonial (tal como o período revolucionário que se seguiu ao 25 de Abril), embora tematicamente muito rica, a vários níveis, teve uma passagem mais ou menos discreta pelos quadradinhos nacionais, reflexo sem dúvida da forma complicada como a própria sociedade lidou com o tema.
Na maior parte dos casos, as referências à guerra colonial - as suas origens, as suas consequências – limitam-se a apontamentos mais ou menos breve nas abordagens históricas à época contemporânea.
É o que acontece, com algumas nuances, na “História de Portugal em B.D.” (ASA, 1989), de José Garcês e Carmo Reis, “25 de Abril – O renascer da Esperança” (SporPress, 1999), de Manuel de Sousa e Ernesto Neves, “A Revolução desenhada” (Afrontamento, 2000), de José Carlos Fernandes, João Miguel Lameiras e João Ramalho Santos, “Memória” (Má Criação, 2004), de Cristina Sampaio e Rui Cardoso Martins ou “Salazar – Agora, na hora da sua morte” (Parceria A.M. Pereira, 2006), de Miguel Rocha e João Paulo Cotrim. Ou ainda, num registo satírico, em “O País dos Cágados” (edição de autor, 1989), de Artur Correia e António Gomes de Almeida.
O (quase) endeusamento das figuras nacionais, que caracteriza muita da BD histórica nacional, está presente nas obras anteriores ao 25 de Abril, como acontece com “O Ericeira”, a biografia de um soldado com várias comissões em África onde acaba por morrer vítima de uma explosão, da autoria de Baptista Mendes, publicada (sem surpresa) na Revista da Armada, em 1972.
Casos reais, mas de sentido oposto, bem mais humanos e pacifistas, estiveram também na origem de “7 72” (Azul BD3 #2, Jogo de Imagens, 1994), de Diniz Conefrey, que conta a morte de “um soldado que nunca disparou um tiro e ia a cantar”, e de “Angola 1971” (Visão #7, Edibanda, 1975), de Pedro Massano, que narra o abate, por engano, de uma negra e do seu filho de colo, por um soldado português.
A mesma revista “Visão” publicaria “Matei-o a 24”, logo a partir do seu primeiro número, uma das abordagens mais marcantes ao tema, apesar de ser uma história que ficou incompleta. Desenhada por Victor Mesquita, a partir de um argumento de Machado da Graça, num estilo realista, a cores, com uma planificação muito dinâmica, esta BD, é narrada na primeira pessoa por Eduardo, recém-regressado à vida civil após cumprir a sua comissão em Moçambique, com evidentes sintomas daquilo que hoje se designa por Síndroma de Guerra.

Nela, descreve como, após ter sido dado como morto na sequência de um ataque, se vê frente a frente com um guerrilheiro negro – um “turra”, como eles eram chamados em África pelos portugueses - e como conseguiram ultrapassar a rivalidade inicial para se ajudarem mutuamente. Esta BD teria apenas 12 pranchas publicadas até ao quinto número da publicação. Depois, desentendimentos internos levaram à saída do seu autor, ficando os leitores sem saber o destino de Eduardo e do parceiro, embora o título o deixasse adivinhar...
A mesma revista “Visão”, criada para divulgar de forma digna “Uma nova banda desenhada portuguesa”, claramente marcada por ideias de esquerda e pela sede de liberdade que atravessava o país, voltaria de alguma forma ao tema, ao publicar uma biografia aos quadradinhos de Amílcar Cabral, embora de origem cubana.
Publicada directamente em álbum, “Operação Óscar” (Meribérica/Líber, 2000), de José Ruy, narra a relação amorosa entre um oficial português e uma negra, abarcando o período desde 1962 até à revolução de Abril, cruzando a ficção com personagens reais como Salgueiro Maia e Otelo Saraiva de Carvalho.
“Quem vem e atravessa o rio” (Quadrado #3, 2ª série, ASIBDP, 1996) de Arlindo Fagundes e Pedro Sousa Dias, mostra em tom mordaz os efeitos da guerra a longo prazo, quando o herói, Pitanga, encontra um ex-PIDE prestes a suicidar-se na ponte Luiz I, dividido entre uma atitude racista e os remorsos do que fez em África.
E se a maior parte das abordagens da BD nacional à guerra colonial se limita à simples referência histórica ou opta pela sua condenação, “Mamassuma – Comandos ao ataque” é a excepção à regra.
Lançado em 1977, num formato entre a revista e o mini-álbum, com uma tiragem anunciada de 30 mil exemplares, é uma criação de Vassalo Miranda que surpreende pelo tom assumido, se tivermos em conta o contexto, tendo sido por muitos apodada de “fascista” e “reaccionária”

Fazendo dos comandos heróis, nos moldes tradicionais da banda desenhada clássica de aventuras, Miranda usa a sua BD para criticar abertamente a descolonização levada a efeito por “alguns traidores”, supostamente aliciados pelas “grandes potências anti-europeias” – Rússia, China, Estados Unidos – “inspiradas por monstruosa ambição”, após o terrorismo nos territórios coloniais portugueses ter sido “completamente derrotado pela resistência das populações do Ultramar e pelo Exército Português”.
A acção, ainda segundo o autor, decorre em “Angola, um país luso-africano (…) onde todos viviam em paz e segurança” pois “as arestas étnicas e sociais estavam a ser limadas”. Este paraíso idílico, no entanto, em 1961 seria “atacado por grupos terroristas (…) de marginais e paranóicos, tanto africanos como europeus – que a traição não distingue raças”.
Ao longo das seis dezenas de páginas do livro, com uma linguagem viva e bem realista os comandos têm que libertar um aviador feito prisioneiro pelos “estúpidos e drogados terroristas do M.P.L.A.”, enfrentando-os sem piedade bem como os “comunistas de m…” que constituíam a tripulação de um cargueiro russo infiltrado em território angolano.
Vassalo Miranda, ele próprio ex-comando na Guiné, voltaria ao tema com “Operação Gata Brava” e “Operação Trovão” (ed. Intermal, 1994 e 1995) a partir de argumentos de Alpoim Calvão.
Não sendo muitos, estes exemplos revelam no entanto a abordagem diversificada que a banda desenhada permite, ao nível de temáticas, técnicas narrativas e estilos gráficos.


Nota 1: Por motivos evidentes, não foram referidas neste texto as histórias publicadas ao longo de 1999 no jornal Público, no projecto “25 de Abril, 25 Anos, 25 Bandas Desenhadas”. Pelo menos duas delas, “Memória”, de Cristina Sampaio e Rui Cardoso Martins, e “Pipu” de Daniel Lima, (ambas publicadas no mini-álbum “25 de Abril Sempre!”, da Má Criação, 2004) contêm breves referências à guerra colonial, tema a que Diniz Conefrey dedicou integralmente “A Serpente”.
Fica o registo para lamentar mais uma vez que esse projecto tenha ficado inédito em livro.


Nota 2: para aprofundar o tema, sugiro a leitura do catálogo “Uma Revolução Desenhada – O 25 de Abril e a BD” (Afrontamento/Centro de Documentação 25 de Abril, 1999), da autoria de João Miguel Lameiras, João Paulo Paiva Boléo e João Ramalho Santos, que serviu de ponto de partida para este texto.








(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 31 de Maio de 2011, integrado numa série de artigos sobre a Guerra Colonial)

31/05/2011

Melhores Leituras

Maio 2011


Batman 95 (Panini Brasil), vvaa

Ele foi mau para ela (Libri Impressi), de Milt Gross

Le désespoir du singe #1 – La nuit des lucioles (Delcourt), de Peyraud (argumento) e Alfred (desenho)


Le masque du fantôme #1 – Le château des ombres (Delcourt), de Fabien Grolleau


Mezek (Le Lombard), de Yann (argumento) e Juillard (desenho)


Os Incontornáveis da BD #7 – Murena (ASA + Público), de Dufaux (argumento) e Delaby (desenho)


Os Incontornáveis da BD #8 - Max Fridman (ASA + Público), de Giardino


Os Incontornáveis da BD #12 – O Assassino (ASA + Público), de Jacamon (argumento) e Matz (desenho)


Théodore Poussin – L’Intégrale #1 (Dupuis), de Yann (argumento) e Frank Le Gall (argumento e desenho)


Tintin #13 – As 7 bolas de cristal, #14 – O Templo do Sol e #15 – No país do ouro negro (ASA), de Hergé


Universo Marvel #3 (Panini), vvaa

30/05/2011

Turma da Mônica Jovem #34

Estúdios Maurício de Sousa
Panini Comics (Brasil, Maio de 2011)
160 x 210 mm, mensal, 128 p., preto e branco, brochada, 2,35 €


1960: nasce no Brasil, nas tiras diárias de jornal protagonizadas pelo Bidú, Cebolinha, um menino com meia dúzia de anos, cinco fios de cabelo na cabeça e dificuldade em pronunciar os “rr” que sistematicamente troca por “ll”.
1963: no mesmo suporte, aparece pela primeira vez Mônica, uma menina da mesma idade, dois dentes salientes, muita força e a companhia constante de um coelhinho de peluche chamado Sansão.
2008: Mônica e Cebolinha, depois de anos de um imenso sucesso, muita amizade e ainda mais rivalidade, marcados pelo falhanço de planos infalíveis e grandes tareias com o coelhinho, (finalmente) cresceram. Vantagem do tempo passado nos quadradinhos, mais de quarenta anos depois são apenas adolescentes. Ela está bonita e continua decidida; ele, agora chamado Cebola, só troca os “rr” pelos “ll” quando está nervoso. A estreia, a preto e branco e em estilo próximo do manga (BD japonesa) acontece na revista Turma da Mônica Jovem, que de imediato se torna um enorme sucesso de vendas no Brasil, com presenças sucessivas nos tops de vendas de bancas e livrarias.
2011, Maio, 24: Chega às bancas brasileiras o nº34 da Turma da Mônica Jovem, alguns dias mais cedo do que o anunciado, na sequência de uma intensa campanha de marketing, essencialmente desenvolvida online. Inicialmente assente numa imagem que mostrava Sansão, o tal coelhinho de peluche abandonado, ganhou (mais) força mediática quando foi revelada a capa que mostra um intenso beijo entre Mônica e Cebola.
Não que fosse o primeiro. Esse, mais casto e rápido, aconteceu na TMJ #4, no calor do final de uma aventura emocionante, que fez da revista recordista com quase meio milhão de exemplares vendidos!
Depois, já houve mais alguns, leves e rápidos. Mas agora, numa história intitulada “Quer namorar comigo?”, Cebola finalmente ganhou coragem e faz o pedido, para não perder a amiga para um rival, revelou Maurício de Sousa, remetendo para a leitura da revista a descoberta da resposta da Mônica.
Sendo positiva, como a capa parece indicar, implicará um reajuste na estrutura da série – em parte assente na rivalidade/atracção – entre os dois jovens. O que poderá servir de mote para Maurício, que lança algumas pistas – mais dúvidas do que certezas - sobre o futuro do “casal” no editorial da revista, que pode ser lido abaixo, explorar outras temáticas mais sensíveis relacionadas com as relações na adolescência, pois esse era, afinal, um dos objectivos da publicação quando foi criada.
Mas se os brasileiros já estão a descobrir a resposta da Mônica (um sim intenso ou uma forte coelhada?), numa edição com tiragem base de 500 mil exemplares, os portugueses terão que esperar até Outubro, quando chegará às bancas e quiosques nacionais este número da Turma da Mônica Jovem.
(Versão revista e modificada do texto publicado no Jornal de Notícias de 30 de Maio de 2011)

29/05/2011

Selos & Quadradinhos (48)

Stamps & Comics / Timbres & BD (48)
Tema/subject/sujet: Homenaje a Toño Salvador
País/country/pays: El Salvador
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1999

28/05/2011

VII Festival de BD de Beja (II)

Tem inicio hoje o VII Festival Internacional de Beja, mais uma vez com um programa aliciante, vasto e diversificado, assente nos três vectores que têm balizado o seu crescimento sustentado que faz dele o segundo mais importante do país e, em termos de conteúdos, possivelmente o mais interessante.
O primeiro, é a grande aposta na produção nacional. Das 17 exposições patentes, 11 mostram os quadradinhos portugueses. Entre elas está a monográfica dedicada a Fernando Relvas, um dos grandes nomes da BD nacional dos anos 80 e 90 (publicado especialmente no semanário Se7e), que interrompe o seu “exílio” voluntário na Croácia para vir a Beja lançar a novela gráfica Li Moonface (pela pedranocharco).
Outro grande destaque é a apresentação dos originais das histórias que o “quarteto fantástico” português, Filipe Andrade, Nuno Plati, João Lemos e Ricardo Tércio, tem produzido para a Marvel. Para além destes, a BD nacional está também representada por Bernardo Carvalho, Carlos Rico, Rui Lacas, Inês Freitas, João Mascarenhas e Ricardo Cabral.

O segundo vector diz respeito à selecção de convidados estrangeiros, consagrados embora à margem do mainstream. Este ano, a escolha recaiu em Ivo Milazzo, desenhador de Ken Parker, um notável western humanista, Liam Sharp, argumentista e desenhador de super-heróis como Judge Dredd, Spider-Man, X-Men, Hulk ou Batman, ou Jacques Loustal, um dos pintores da BD francófona.
Quanto ao terceiro vector, é transversal aos outros dois e passa pela combinação equilibrada da aposta em nomes consagrados e a proposta de descoberta de novos criadores e estilos narrativos.
Espraiando-se por diversos locais de Beja até 12 de Junho, embora tenha por principal pólo a Casa da Cultura, o festival, cujo programa completo convém consultar, fica igualmente marcado, mais uma vez, pelo lançamento de diversas edições nacionais, entre as quais Futuro Primitivo, Zona Gráfica, Venham+5 ou BDJornal, que mostram que os quadradinhos nacionais continuam a mexer e justificam a aposta de Beja neles.
“No total”, refere a organização, “são 17, as exposições de banda desenhada patentes ao público, mais de 60 autores de países como a Espanha, a França, a Itália, o Reino Unido e a Sérvia (além de Portugal, naturalmente), cerca de 70 editores representados no Mercado do Livro, e 15 dias de Programação Paralela a pensar em todos os gostos, com apresentação de projectos, cinema, conferências, cosplay, desenho ao vivo, lançamentos, maratona de desenho, oficinas, portfolio reviews, sessões de autógrafos, visitas guiadas, workshops, etc.
Como já é habitual o Festival estende-se por todo o centro histórico, partindo da Casa da Cultura (o núcleo central), para se estender até à Biblioteca Municipal, à Galeria do Desassossego, ao Museu Jorge Vieira - Casa das Artes, ao Museu Regional de Beja, e ao Pax Julia - Teatro Municipal.
15 dias de Festival, 15 dias sem descansar…”


Exposições Individuais
ALEKSANDAR ZOGRAF – Sérvia
ANDREA BRUNO – Itália
BERNARDO CARVALHO (Ilustração) – Portugal
CARLOS RICO – Portugal
FERNANDO RELVAS – Portugal
INÊS FREITAS - Portugal
IVO MILAZZO – Itália
JOÃO MASCARENHAS – Portugal
LIAM SHARP - Reino Unido
LOUSTAL – França
PABLO AULADELL – Espanha
RICARDO CABRAL – Portugal
RUI LACAS – Portugal


Exposições Colectivas
À VOLTA DO MUNDO – Portugal
Com trabalhos os alunos das escolas de Albernoa, Baleizão, Beja, Beringel, Cabeça Gorda, Mombeja, Nossa Senhora das Neves, Quintos, Salvada, Santa Clara de Louredo, Santa Vitória, São Brissos, São Matias, Trigaches e Trindade


FUTURO PRIMITIVO – Portugal
Com Afonso Ferreira, Ana Menezes, Ana Ribeiro, André Coelho, André Lemos, André Ruivo, Andreia Rechena, Bráulio Amado, Bruno Borges, Cláudia Guerreiro, Daniel Lopes, David Campos, Filipe Quaresma, Inês Silva, Jarno Latva-Nikkola, Joana Pires, João Chambel, João Maio Pinto, João Ortega, João Paulo Nóbrega, John P-Cabasa, José Feitor, Jucifer / Pedro Brito, Lucas Almeida, Manuel Pereira, Marco Moreira, Marcos Farrajota, Margarida Borges, Mattias Elftorp / Sofia Lindh, Natália Andrade / Christina Casnellie, Nevada Hill, Ondina Pires, Pedro Sousa, Pedro Zamith, Pepedelrey, Rafael Gouveia, Ricardo Martins, Rita Braga, Rudolfo, Silas, Sílvia Rodrigues, Stealing Orchestra, Susa Monteiro, Uganda Lebre e Valério Bindi / MP5


PORTUGUESES NA MARVEL – PortugalCom Filipe Andrade, João Lemos, Nuno Plati e Ricardo Tércio

VENHAM + 5 – Portugal
Com Agonia Sampaio, André Lima Araújo, António Pedro, Carlos Apolo Martins, Carlos Páscoa, Diniz Conefrey / Maria João Worm, Fil / Rui Alex, Inês Freitas, Luís Lourenço Lopes, Marco Silva,Sérgio Chaves / Kari Murakami, Sónia Oliveira, Teresa Câmara Pestana e Véte

(A primeira parte deste texto foi publicada no Jornal de Notícias de 28 de Maio de 2011)









27/05/2011

Leituras Novas

Maio 2011 (2)


Pedranocharco Publicações
Li Moonface
Uma Novela Gráfica de Fernando Relvas
«Esta Papalina tem uma história complicada. De início não era chinesa e era apenas a personagem que narrava o seu encontro com a misteriosa figura de Adass Polo, que é o nome duma espécie de arroz de lentilhas na culinária persa, a figura central dum conto que se chamava, tal como a versão em português desta história, O Agente de Cambises. Estava o conto em banho maria, quando decidi criar a figura de miss Li, para lançar um webcomic semanal. Mas também não foi esse o princípio da figura que tem as características de Li, chinesa alta e atlética, discreta mas teimosa. Ela é a Ken de O Urso Vai a Espanha, e antes disso já fazia parte dos meus cadernos de apontamentos. Como vinha fresquinho de ler And the Rain My Drink, de Han Suyin, deixei-me levar pelo ambiente do livro e atribui a Li o segundo nome de Moonface. Depois decidi espessar ainda mais a personagem e dei-lhe também a alcunha de Papalina. Aí, o destino do agente de Cambises ficou traçado, seria a história seguinte de miss Li. Como era uma história com longas tiradas filosóficas do agente, teve que levar cortes bárbaros no texto para este caber numa banda desenhada, contudo ainda sobrou muito do texto original.
Papaline, singular papalina, são aqueles peixinhos fritos que se podem ver ao longo da segunda história. Muito apreciados em Zagreb, onde se vendem em casas de comida barata. Sentado numa dessas tascas, acompanhando papaline com um copo de tinto, ouvindo o tilintar dos elétricos na rua, e usando de alguma imaginação, quase me podia sentir em Lisboa. Foi talvez por isso que fiz duma dessas casas o cenário da segunda história. Pouco tempo depois disso, a casa que se pode ver aí, com peixes em stencil sobre os espelhos e clientes tão residentes que por vezes parecia que lá iam dormir a sesta, fechou.
O agente, ou embaixador, de Cambises, o velho Cambises da história persa, apresentava-se, na história original, a Papalina como um caixeiro viajante, com passaporte etíope, mestre de tráficos diversos e, entre outras coisas, como tendo liderado uma embaixada que infelizmente não aparecerá no WikiLeaks, pois teria tido lugar na Antiguidade. E mais não conto, para não estragar a história. Basta apenas dizer que a ideia original fui buscá-la diretamente a Heródoto.
As duas histórias foram sendo publicadas semanalmente, ao longo de 2008, entre Fevereiro e Dezembro, com o início a coincidir com o ano novo chinês. A primeira foi posta em livro na Lulu.com em 2009, mais tarde retirada e, em conjunto com a segunda história, posta em livro em Maio de 2010».
Fernando Relvas em entrevista no Bdjornal #27


BDJornal #27
CAPA: Ilustração de Fernando Relvas – Pormenor de uma vinheta da novela gráfica Li Moonface.
4 – TINTA NOS NERVOS – UMA EXPOSIÇÃO ÚNICA DE BD PORTUGUESA, J. Machado-Dias
7 – FERNANDO RELVAS, O REGRESSO DO FILHO PRÓDIGO, João Miguel Lameiras
12 – FERNANDO RELVAS – PARA UMA BIO-BIBLIOGRAFIA, J. Machado-Dias
16 – O REGRESSO DO URSO – ENTREVISTA COM FERNANDO RELVAS, (a mais completa bio-bibliografia do autor feita até hoje), J. Machado-Dias
24 – BD – KRIKS, Fernando Relvas e Nina Govedarica
30 – TRANSFORME – AS METAMORFOSES DE MOEBIUS NA FUNDAÇÃO CARTIER, João Miguel Lameiras
32 – CRÓNICA DO MAU PASTOR, Diniz Conefrey
34 – AS AVENTURAS DE TINTIN NOS JORNAIS PORtugueses, Leonardo De Sá
37 – DOSSIER FANZINE CONVIDADO: TERMINAL, Vários Autores
57 – BD – JAMAICAN, Wilson Vieira (Arg.) e Angelo Roncalle (Des.)
67 – BD – SAMIRA 2 (+arte 1 de 2), Selma Pimentel
77 – SYNCOPATED – AN ANTHOLOGY OF NONFICTION PICTO-ESSAYS, Sara Figueiredo Costa
78 – O AMOR INFINITO QUE TE TENHO, Pedro Vieira Moura
79 – DESTRUIÇÃO!, Pedro Vieira Moura
80 – VOYAGE – AUX ÎLES DE LA DÉSOLATION, Pedro Cleto
81 – FAR AWAY, Pedro Cleto
82 – O OESTE SEGUNDO CIVITELLI, Pedro Cleto
83 – SEISCENTAS EDIÇÕES DE TEX, José Carlos Francisco
84 – TEX EM NÚMEROS, Saverio Ceri
86 – TEX WILLER – A HISTÓRIA DA MINHA VIDA, José Carlos Francisco
87 – PROJECTO ZONA – ENTREVISTAS COM FIL E ANDRÉ OLIVEIRA, J. Machado-Dias
92 – ENTREVISTA COM WAGNER MACEDO, J. Machado-Dias
95 – ENTREVISTAS COM WILDE PORTELA E PAULO JOSÉ “Don Pajo”, Wagner Macedo
97 – GUERRA, MORTE E REENCARNAÇÃO NOS QUADRINHO BRASILEIROS, Edgar Indalécio Smaniotto
100 – VIAJANTES DE PAPEL NA LUSOGONIA GRÁFICA 1, Osvaldo Macedo de Sousa
108 – AMADORA BD 2010 – UM FESTIVAL DE ATRASOS, Diogo Campos
110 – JAPAN WEEKEND LISBOA 2010, Pedro Trabuco
111 – ANIGAMIX 2011 – ENTREVISTA COM HUGO JESUS, J. Machado-Dias
112 – XVII O REGRESSO DO MOURA BD, J. Machado-Dias
COLABORAÇÕES: Clara Botelho, Dâmaso Afonso, Diniz Conefrey, Diogo Campos, Edgar Indalécio Smaniotto, João Miguel Lameiras, José Carlos Francisco, Leonardo De Sá, Osvaldo Macedo de Sousa, Pedro Cleto, Pedro Trabuco, Pedro Vieira Moura, Phermad, Sara Figueiredo Costa, Saverio Ceri, Wagner Macedo.
AUTORES DE BANDAS DESENHADAS E ILUSTRAÇÕES: Angelo Roncalle, Fernando Relvas, Maria João Worm, Nina Govedarica, Selma Pimentel, Wilson Vieira.


Associação Tentáculo
Zona Gráfica #2
Pedro Carvalho, Ricardo Reis, Carlos Páscoa, João Amaral, Fil, Vinicius Posteraro, Ricardo Sousa,Carla Rodrigues, JB Martins, Xico Santos, Marcelo Saravá, Igor Shin, Alexandre Manoel Matheus Moura, Abel, Luís Lourenço Lopes, Tiago Pimentel, André Araújo, André Oliveira, Cari Shrine
A Zona Gráfica 2 surge um ano após o lançamento da sua antecessora: a Zona Gráfica que foi lançada em dois volumes, um a cores e outro a preto e branco, no ano passado.
Este novo número será apresentado no Festival de BD de Beja, evento que está ligado ao “pontapé de saída” do projecto Zona em 2009, com a chegada da Zona Zero.
São, desta vez, 68 páginas a preto e branco sem um tema específico mas com várias técnicas e abordagens gráficas.
A capa é de Pedro Carvalho, assim como a entrevista desta edição, e além de autores já habituais conta ainda com outros que fazem a sua estreia, muitos deles brasileiros.


MMMNNNRRRG

Futuros PrimitivosLucas Almeida, Ana Ribeiro, Manuel Pereira, João Ortega, Inês Cóias, Daniel Seabra Lopes, Marco Moreira, João Chambel, Ana Menezes, André Coelho, João Maio Pinto, Andreia Rechena, Bruno Borges, Rafael Gouveia, David Campos, Sílvia Rodrigues, Pepedelrey, José Feitor, Natália Andrade com Christina Casnellie, Uganda Lebre, André Lemos, Bráulio Amado, Gonçalo Duarte, Jucifer, Ana Menezes, Afonso Ferreira, Marcos Farrajota, Rudolfo, Ricardo Martins e Pedro Brito e ainda participações CADÁVERES-ESQUISITOS com Mattias Elftorp+ Sofia Lindh (SUÉCIA), Cláudia Guerreiro, Filipe Quaresma, Nevada Hill (EUA), Pedro Zamith, Margarida Borges, Jarno Latva-Nikkola (FINLÂNDIA), Silas, André Ruivo, Rita Braga, Susa Monteiro (BEJA!) e Valério Bindi + MP5 (ITÁLIA)...
Lançamento e Exposição dos originais no Festival de BD de Beja (28 Maio a 12 de Junho)
Foi feita uma banda sonora (inicialmente para a exposição entretanto extensível ao livro) que é gratis e pode ser descarregada em You Are Not Stealing Records



Mundos em segunda mão
Aleksandar Zograf (argumento e desenho)
Bds-crónicas publicadas na revista Vreme, na Sérvia, e depois um pouco por todo o lado.
Aleksandar Zograf (1963, Pancevo) é um autor sérvio de banda desenhada que não deveria ser um nome estranho ao público português porque já cá esteve presente três vezes – uma, no Salão Lisboa 2003, e as outras no Festival de BD da Amadora. Dessas visitas, pelo menos duas incluíam uma exposição de originais seus e para além disso já foi publicado nas revistas Satélite Internacional, Quadrado, Underworld / Entulho Informativo, mais recentemente em antologias da Chili Com Carne: Crack On (2009), Talento Local (colectânea de bd's autobiográficas de Marcos Farrajota, em 2010) e Boring Europa (2011).
Nos últimos anos, têm havido um esforço ou interesse de completar a obra do autor. Nos EUA, foi publicado o volume Regards from Serbia (Top Shelf; 2007) que resume toda a "segunda" fase da carreira de Zograf e que (infelizmente) cruza-se com a auto-estrada monstruosa da História, mais especificamente com o desmembramento da Jugoslávia e dos conflitos dos Balcãs dos anos 90. Esta é a melhor e mais completa edição da vida em guerra do autor, incluído relatos em bd dos primeiros conflitos na ex-Jugoslávia até à queda do regime de Milosevic. Zograf e a sua mulher Gordana Basta vivem em Pancevo, alvo militar dos bombardeamentos da NATO em 1999 por ser uma cidade industrial e suburbana de Belgrado. O livro inclui bds desses períodos bem como ainda e-mails escritos, que Zograf enviava para a sua vasta lista de contactos da comunidade artística internacional atravessando as “linhas inimigas”. Essas bds, bem como os textos dos e-mails, foram editadas em várias antologias ou livros monográficos longe do controlo de ambas partes do conflito - creio até que será das primeiras guerras em que se perdeu o controlo de informação devido ao advento da Internet.
Zograf criou um documento único sobre (um)a Guerra, para além de ter mantido alguma sanidade mental graças ao apoio moral que recebia dos seus amigos e conhecidos estrangeiros. Estes contactos apareceram na "primeira" fase da sua carreira, em que se especializou em fazer bds e desenhos em estado hipnagógico - estado transitório entre o sono e o acordado. O trabalho desta fase é reconhecido pela lógica gráfica de "cartoons" desengonçados e grotescos provavelmente influenciada pelo seu trabalho num estúdio de animação. Publicou em fanzines editados por si (os primeiros na Jugoslávia?) e eles serviram para fazer intercâmbio internacional - afinal de contas não são os zines uma Internet avant la lettre?
A dada altura passou a ser mais publicado fora da Jugoslávia que no seu próprio país de origem, tendo uma projecção global graças aos livros ou aos "comic-books" editados pela Fantagraphics Books nos anos 90. Desde 2003 que Zograf passou a escrever e desenhar duas páginas de bd a cores para o semanário Vreme - uma revista de informação independente que sobreviveu os embargos económicos, as guerras e Milosevic - como o Zograf afirma «se aguentaram isto, aguentam tudo». Esta colaboração têm constituído a sua obra desde então, e curiosamente é o regresso de Zograf à sua língua materna, talvez por isso que é fácil de reparar um certo gosto pelos blocos pesados de escrita nestas bds. Bds que continuam a ser crónicas como o autor nos habituou com Regards from Serbia, mas agora afastada dos conflitos militares e viradas para três vectores de conteúdo. O primeiro, é a adaptação de textos do século XX cheios visões estranhas (ou cómicas para os nossos dias) graças a uma peculiar investigação de campo nos alfarrabistas e Feiras da Ladra do mundo. Segundo, relatos das suas experiências de viagens, a maioria realizadas graças aos convites de festivais de bd pelo mundo inteiro, aproveitando para encontrar detalhes bizarros ou choques culturais. E terceiro, entrevistas a autores, sejam de bd como o mestre Will Eisner (1917-2005) ou músicos Rock como Jonathan Richman (publicada na Underworld). No fundo, há uma espécie de arqueologia cultural “sub-pop” porque quase sempre incide em artefactos encontrados pelas "feiras da ladra" e que voltam à superfície pela mão do autor.

Edições ASA
Tudo sobre Obélix
Inseparável amigo de Astérix, a quem complementa na perfeição, Obélix é uma fonte inesgotável de “gags”. Espécie de criança crescida que manteve reacções infantis, percorre o mundo alegrando-o com os seus disparates e lançando-lhe um olhar ternamente incrédulo.
Pândego e brigão, caçador e excepcional dançarino, romântico inveterado, Obélix marca todas as suas aparições com o seu temperamento inesquecível.
Com ele, tudo é levado para a brincadeira e nunca se preocupa com as consequências, pois são os outros, todos os outros, que são “loucos”... Dir-se-ia que os efeitos da poção mágica lhe conferiram, para sempre, o encanto e a inocência da infância!


Tudo sobre Cleópatra
Rainha pela graça divina e com fúrias assassinas, Cleópatra, a lendária soberana do Egipto, entrou em 1963 para o panteão das mais importantes personagens de BD.
Testemunha do talento da dupla Goscinny/Uderzo, esta colorida figura feminina pode dar-se ao luxo de ser caricaturada sem sacrificar a consistência de uma personalidade rica e complexa. Caprichosa, colérica e impetuosa, Cleópatra é também uma rainha leal e generosa, empenhada acima de tudo em defender a grandeza do seu povo submetido à dependência de Roma. Esta Cleópatra da banda desenhada dá a volta à História, de nariz empinado. Um nariz muito bonito, diga-se de passagem, mas isso é outra história...


Tudo sobre Atrevidix
Uma chegada repentina a bordo de um espampanante carro desportivo, agitadas sessões de dança, um comportamento rebelde, um visual descuidado... A entrada do jovem luteciano Atrevidix na aldeia dos Irredutíveis Gauleses não passa despercebida!
Na época em que o “ié-ié”, os “mods” e outros “betinhos aburguesados” povoam a França de De Gaulle, a juventude oriunda do “baby-boom” usa o confronto de gerações para gracejar com os nossos heróis. Sobrinho do chefe Matasétix, Atrevidix é “despachado” para a Armórica pelo pai, para que se torne um verdadeiro guerreiro gaulês. E isto não vai ser fácil... Obstinados, Astérix e Obélix inventam o “coaching” à moda antiga. Os resultados são diversos e variados, mas as gargalhadas são garantidas!

Plátano Editora
O fado Ilustrado
Jorge Miguel (argumento e desenho)
Estamos no virar do século XIX. A Europa está assolada por uma vaga de atentados reivindicados pelos anarquistas. Em Portugal, a Carbonária uma facção terrorista, já se instalou e pretende derrubar o regime monárquico. Nas Artes, o ambiente também não é famoso. Os «Vencidos da Vida» já não se reúnem no Hotel Bragança e o «Grupo do Leão» perdeu pujança. O povo pressente mudança e a monarquia está inquieta. Ramalho Ortigão e sobretudo Eça de Queirós escrevem obras de uma acuidade perturbadora acerca do que irá acontecer. Entretanto, o pintor José Malhoa procura os modelos que lhe permitirão executar a sua obra-prima.

(Textos da responsabilidade das editoras)

26/05/2011

Às Quintas Falamos de BD (IV)

Novos Caminhos para a BD
Hoje, dia 26 de Maio, pelas 21h00, no CNBDI, realiza-se o Encontro Novos Caminhos para a BD.
Esta iniciativa encerra o programa de encontros Às Quintas Falamos de BD, que o CNBDI organiza desde Fevereiro todas as últimas quintas-feiras de cada mês e conta com a participação de Luís Guerreiro, azulejista artístico, dos autores João Amaral, José Pires e José Ruy e dos divulgadores de BD Nuno Amado e Nuno Neves.
Neste encontro de Maio pretende-se abordar os vários processos de criação artística da banda desenhada, através da exploração das diversas formas de fazer BD e ferramentas disponíveis, apresentando os diferentes suportes que os autores escolheram para as suas narrativas gráficas.
Na próxima 5ª feira convidamo-lo a tomar café connosco.
Apareça, contamos consigo.


(Texto da responsabilidade da organização)

25/05/2011

Max Fridman

Os Incontornáveis da Banda Desenhada #8
Vittorio Giardino (argumento e desenho)
ASA + Público (Portugal, 20 de Abril de 2011)
295 x 220 mm, 96 p., cor, brochado com badanas, 7,40 €


1. Esta foi, para mim, uma das mais gratas surpresas desta colecção, Os Incontornáveis da Banda Desenhada, que a ASA e o Público lançaram ao longo das últimas semanas.
2. Não pela qualidade da obra em si – que não está em questão…
3. Não porque ela me tenha surpreendido – confirmou antes o que eu dela esperava…
4. Mas porque foi um álbum que “cobicei” muitas vezes ao longo dos anos, há já alguns anos…, então (salvo erro) em edição espanhola da Norma Editorial.
5. Por um lado, porque a crítica tratou bem este díptico de Giardino, apesar dos oito anos que mediaram entre a publicação dos seus dois volumes (1982/1989)…
6. Por outro, porque o seu traço – uma linha clara fina, delicada, pormenorizada e agradável – sempre me atraiu.
7. E embora já publicada em Portugal – no Jornal da BD, que, confesso, pouco acompanhei – na verdade nunca a tinha lido.
8. Agora, suprida essa lacuna na minha “cultura aos quadradinhos”, a sua leitura serviu para confirmar as expectativas que tinha.
9. Graficamente, embora sem a desenvoltura de obras posteriores – com Jonas Fink à cabeça – Giardino gere bem o espaço, multiplicando o número de vinhetas por prancha para adensar a narrativa e explorar as suas diversas facetas.
10. A história, que soa algo deslocada hoje em dia – pois assenta num género, o relato de espionagem, algo em desuso – aborda o período imediatamente anterior à II Guerra Mundial.
11. Aliás, um dos seus grandes trunfos – o final inesperado – está directamente relacionado com ela, de uma forma que não vou revelar mas que dá todo o sentido à história.
12. Esta, começa pela entrega de uma missão a Max Fridman, assente numa situação de chantagem, pois ele é um agente “reformado”, obrigado a aceitar a incumbência para não colocar em perigo a filha menor.
13. É assim que parte para a Hungria, onde a acção terá lugar e onde encontrará velhos conhecidos, amigos e aliados (poucos), e também adversários e inimigos (mais) numa complicada missão em que, qual partida de xadrez, as baixas se multiplicam e raramente as coisas são o que parecem. Porque, em ambiente desconhecido e adverso, as traições, o jogo duplo, o choque de interesses das várias potências (de então) e os atentados se sucedem, numa vertigem que Fridman, mais peão do que jogador, tenta atravessar o mais incólume possível.
14. E é com competência que Giardino vai gerindo as situações, surpreendendo repetidamente o leitor, ao mesmo tempo que traço um retrato coerente e credível de uma época e de uma forma de competir pela supremacia mundial que teria o seu expoente anos mais tarde, durante o conturbado período da Guerra Fria.
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