15/01/2012

Iznogoud, 50 anos de ambição política

Há meio século, os leitores da revista francesa Record, descobriam Iznogoud, o grão-vizir que queria “ser califa no lugar do califa”. Era o início de uma carreira política repleta de ambição mas também de fracassos.
Nascido num tempo e num local – Bagdade, a magnífica - em que a democracia era uma miragem e o acesso ao poder se fazia de forma hereditária, ao pérfido Iznogoud (trocadilho com o inglês “he’s no good”, “ele não presta”, como todos sabemos perfeitamente aplicável a (quase todos )os políticos) nada mais restava do que procurar por todos os meios fazer com que o bom (mas também ocioso e preguiçoso – como (quase?) todos os políticos…) califa Haroun El Poussah desaparecesse.
Curiosamente, mudados os tempos, permanecem as vontades, pois escrito assim, até parece o relato daquilo a que assistimos na actualidade, com os políticos a quererem sempre um lugar ou o lugar de alguém. Claro que poucos (mesmo assim demasiados…), hoje em dia, optam por métodos tão drásticos como os utilizados pelo grão-vizir, que do vudu à invisibilidade, da feitiçaria aos dissolventes, do toque de Midas ao olhar de Medusa, tentou de tudo para “se tornar califa no lugar do califa”, com a ajuda contrariada do seu criado, Dillah Larath. Mas, apesar da sua grande inventividade, perfídia e imaginação, Iznogoud acaba sempre vítima das suas manigâncias, restando-lhe o consolo de ter retirado ao califa o protagonismo das histórias de BD, contrariando a ideia inicial dos autores.
Criação do grande René Goscinny (1926-1977), as desventuras de Iznogoud – pelo seu lado metafórico? – mantêm, décadas depois, a mesma frescura, a mesma actualidade, a mesma capacidade de dispor bem, o mesmo tom irónico e a mesma fina ironia que sempre caracterizou a obra do criador de Astérix, que, ao longo das páginas de Iznogpoud se divertiu muitas vezes a satirizar a actualidade e a subverter os códigos e regras da própria BD.
Jean Tabary (1930-2011), que assumiu integralmente a série após o desaparecimento de Goscinny, com o seu traço vivo, dinâmico e expressivo, conferiu a Iznogoud um ar determinado e malévolo que contribuiu para o sucesso da série, maioritariamente composta por episódios curtos de 8 páginas, distribuídos por 27 álbuns, e adaptada em jogos de computador, cinema de animação e, em 2004, no grande ecrã, numa película dirigida por Patrick Braoudé e protagonizada por Michaël Youn e Jacques Villeret.
Em Portugal, a primeira tribuna daquele político foi a revista Pisca-Pisca #3, de Março de 1968, tendo passado igualmente pela Flecha 2000 e pelo Jornal da BD, e sido editado em álbum pela Meribérica (3 títulos), ASA (5 títulos) e Público/ASA (1 título).



 (Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 15 de Janeiro de 2012)

14/01/2012

Neymar, herói de BD?


Na sequência do prémio Puskas para o melhor golo de 2011, atribuído a Neymar, jogador do Santos, os estúdios Maurício de Sousa reproduziram o lance num desenho que correu a imprensa brasileira e as redes sociais.
Entretanto, uma fonte dos estúdios do criador de Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão, confirmou ao Blog dos Quadrinhos que o jogador se vai tornar herói de banda desenhada, devendo protagonizar uma nova revista ainda durante o corrente ano.
Às Leituras do Pedro, Maurício de Sousa afirmou que ainda está a conversar com o pai de Neymar mas que "gostaria muito de cuidar dessa empreitada", acrescentando que "essas negociações "são muito demoradas e meticulosas" por isso para já não pode adiantar muito sobre o assunto.
Resta saber se o alter-ego do jogador, cuja popularidade não pára de crescer, se chamará Neymarzinho, da mesma forma que Pelé se tornou Pelezinho na década de 1970, ou se protagonizará uma versão adolescente na linha da Turma da Mônica Jovem.
Maurício de Sousa tem desde 2006 uma outra revista estrelada por um futebolista, Ronaldinho Gaúcho, que é distribuída mensalmente nas bancas portuguesas. Diego Maradona e o brasileiro Ronaldo, foram outros dois futebolistas que estiveram para se tornar heróis dos quadradinhos, mas esses projectos nunca se concretizaram.

13/01/2012

Steve Canyon, 65 anos

Os leitores portugueses que a 18 de Agosto de 1949 viram na capa de estreia do Mundo de Aventuras uma prancha de um certo Luís Ciclón (assim mesmo, com sotaque hispânico), estavam certamente longe de imaginar que se tratava de uma criação norte-americana, na origem intitulada Steve Canyon.
E também que apanhavam a meio uma aventura de um herói que tinha nascido cerca de dois anos antes, a 13 de Janeiro de 1947, há precisamente 65 anos.
Canyon era um veterano da Força Aérea norte-americana, que dirigia a sua própria companhia de aviação, o que o fez visitar destinos exóticos em África, na Ásia ou na América Latina.
Aventureiro sensível ao sofrimento dos menos bafejados pela sorte e à beleza feminina – embora as mulheres com quem se cruzou e por quem se apaixonou tivessem geralmente tanto de belo como de malvado e inacessível - voltaria ao activo no início da década de 1950, para participar na Guerra da Coreia (e depois na do Vietname), assumindo aí a série um tom que alguns classificam como imperialista e de cariz propagandístico da política dos EUA, mas que deve ser interpretado á luz da Guerra Fria que então se vivia. O seu casamento com Summer Smith, uma das suas antigas paixões, em 1970, retirou interesse à série, que assumiu então um tom mais próximo do melodrama.



A estreia de Steve Canyon, no formato de tira diária de imprensa, aconteceu em simultâneo em 168 jornais, muito por força da fama granjeada pelo seu autor Milton Caniff, igualmente criador de Terry e os Piratas, série que abandonara em 1946, desagradado pelo facto de os direitos não lhe pertencerem.
Caniff, um dos maiores desenhadores de sempre a preto e branco, assistido por Dick Rockwell (sobrinho do famoso Norman Rockwell), dedicou-se ao novo herói até à data da sua morte, a 3 de Maio de 1988, tendo a última tira sido publicada a 4 de Junho desse mesmo ano.


 

Em Portugal, “Luís Ciclón” (ou Ciclone), marcou presença no Mundo de Aventuras, embora de forma irregular, até ao final da década de 1980, tendo surgido igualmente em publicações como Ciclone, Condor ou Condor Popular.



(Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 13 de Janeiro de 2012)

12/01/2012

Au Nom du Fils (Ciudad Perdida)








Séconde Partie
Serge Perrotin (argumento)
Clément Belin (desenho)
Futuropolis (França, 5 de Janeiro de 2012)
215 x 290 mm, 48 p., cor, cartonado
15,00 € 


Resumo
Depois do rapto do filho, Étienne, no primeiro tomo, por uma das organizações terroristas colombianas, face à pouca disponibilidade das autoridades, Michel Garandeau, um operário metalúrgico que nunca viajou, decide partir para a Colômbia, seguindo os traços que o seu filho deixou.

Desenvolvimento
E é na Colômbia que o encontramos, no início do segundo e último tomo desta história. Uma história humana e sensível, protagonizada por um homem comum, amigo do seu amigo, amante do sossego do lar e da sua cidadezinha, mas disposto a mover – a percorrer - meio mundo para encontrar o filho.
Uma Colômbia verdejante, exótica e diferente, sim, mas sem os atractivos turísticos, as estereotipadas imagens de cartão-postal ou as cores vivas que seriam expectáveis (substituídas por amarelos desmaiados, ocres e verdes acinzentados), pois é assim que Garandeau a vê – é assim que Belin a traça, num desenho mais eficiente que chamativo - fixado apenas no propósito que o levou lá: encontrar o filho.
N(ess)a Colômbia, despojada - não hostil mas também não acolhedora - Michel continua na pista de Étienne, juntando indícios, conhecendo quem ele conheceu, pisando o solo que ele pisou, vendo os mesmos sítios que ele viu – embora com outro olhar… - partilhando – de certa forma – os seus conhecimentos, as suas amizades e as suas relações.
E, através de tudo isso, numa viagem iniciática, a um tempo dura, dolorosa e maravilhosa, descobre um filho que cresceu e que o tempo afastou. Dessa forma – surpreendido – Michel descobre-se também a si mesmo, como nunca se tinha visto, em muitos casos desconhecendo-se capaz do que está a fazer. Sentindo cólera, revolta, perplexidade, culpa, um caleidoscópio de emoções e sentimentos que se sucedem, se sobrepõem, o assaltam e o extravasam. Oscilando entre a esperança e o desalento, entre a crença e o desespero, entre a convicção e a dúvida, entre a transcendência e a renúncia. Sempre humano, profundamente humano.
Como a história que Perrotin narra de forma contida – muitas vezes sob a forma do diário que Michel mantém para a esposa - cujo final, mais uma vez à sombra tutelar de “Tintin no Templo do Sol”, não vou desvendar, mas que, na sua simplicidade, na sua sensibilidade, apenas reforça esse factor (tão) humano. 

A reter
- O tom (tão) humano da história.
- A forma simples, contida e sensível como ela é narrada e traçada.
- A publicação do segundo tomo, apenas um ano após o primeiro… 

Menos conseguido
- …mas o ideal, numa obra com esta densidade emocional e que nem sequer é especialmente longa, seria “Au nom du fils” ter sido editada num único volume.

11/01/2012

Leituras para 2012


Neste início de ano, As Leituras do Pedro questionaram muitas das editoras que costumam editar banda desenhada em Portugal, sobre o seu plano editorial para 2012, no que aos quadradinhos diz respeito.
Eis, por ordem de chegada, as (poucas) respostas já recebidas.


Libri Impressi
(e a espanhola Libros de Papel, ambas de Manuel Caldas)

O que haverá este ano, com certeza absoluta, será o 4º tomo do Lance, que já está metade restaurado.
Haverá também, em castelhano, mais dois volumes da edição uruguaia do Príncipe Valiente e, se o trabalho correr sem demasiadas dificuldades, o primeiro de Casey Ruggles.


Kingpin Books
Para já, estão previstos dois livros: "O Baile", do Nuno Duarte e da Joana Afonso, para Abril ou Maio, e um novo, ainda a anunciar, do David Soares e do Pedro Serpa, para Outubro.

Pedranocharco

Garantidos, para já, só mesmo os BDjornal #29 (em
             Maio) e #30 (Outubro).

Gradiva

O plano editorial ainda está em esboço mas os títulos já confirmados são Ook and Gluck, de Dav Pilkey, autor do Capitão Cuecas, e Logicomix, de Apostolos Doxiadis, que deverá sair em Outubro. Continuará também a publicação da série Zits.


Associação Tentáculo
A Associação Tentáculo pretende editar em 2012, a Zona i1 (um número em inglês, de forma a estar mais acessível a um publico internacional) que não será impresso, será publicado num site de print on demand.
Pretende igualmente lançar a Zona Manga (talvez se chame Zona Nippon, mas ainda não está decidido). A ideia não é que este número seja manga puro, mas que tenha trabalhos inspirados na cultura asiática em geral e na japonesa em particular, e de preferência, que essa inspiração seja notória no traço.
Por fim vai lançar uma Zona (talvez Zona Desenho) numa trienal de desenho que terá lugar mais para o fim do ano. Os autores nesse número irão fazer uma BD de duas páginas tendo mais 3 páginas para entrevista e imagens do trabalho em progresso e discussão de técnicas.
Talvez possam surgir umas surpresas pelo meio, mas isto é o que está já estabelecido.

10/01/2012

Auto da Barca do Inferno






Gil Vicente (texto original)
Laudo Ferreira (desenho)
Omar Viñole (cor)
Colecção Clássicos em HQ
Editora Peirópolis (Brasil, Agosto de 2011)
200 x 270 mm, 56 p., cor, brochado com badanas
R$ 35,00


1.       Confesso que não sou fã da utilização do texto integral de uma obra original numa adaptação em banda desenhada.
2.      Ou em qualquer outro meio, refira-se.
3.      Porque literatura, teatro, cinema ou banda desenhada são géneros narrativos díspares, com regras e códigos próprios – apesar de alguns pontos de contacto.
4.      Por isso, a transposição do texto integral de uma obra em qualquer daqueles géneros para outro, implica sempre a quebras das tais regras e códigos, provocando – no mínimo – estranheza e prejudicando a sua legibilidade.
5.      No caso do álbum presente, a situação agrava-se pois estamos a falar de um texto – magnífico! - com cerca de 5o0 anos, com todas as diferenças de significado e de grafia que facilmente se imaginam.
6.      Não quero com isto dizer que não entendo o conceito – que até pode ser louvável – que preside a esta opção: chamar a atenção dos leitores actuais para obras clássicas.
7.      Mas, mesmo tendo isso em conta, não me parece que a opção tomada seja a mais indicada. Passo a explicar porquê:
8.     Primeiro, porque o esforço a que obriga a leitura do português antigo, facilmente desencorajará o leitor de hoje. O ganho seria evidente, se a linguagem fosse actualizada e adaptada ao género narrativo escolhido, respeitando o espírito e os princípios do magnífico original de Gil Vcente.
9.      Depois, porque se um leitor comum tiver o desejo de descobrir o original videntino, dificilmente o procurará numa edição aos quadradinhos.
10.  Feito este preâmbulo, que já vai demasiado longo, passemos então à obra em si, a meu ver demasiado penalizada pela opção editorial de base, uma vez que, graficamente, Laudo Ferreira desenvolveu um trabalho que (quase) só merece elogios.
11.   Desde logo pela dinâmica e pela cadência de leitura impostas que – a espaços – conseguem contrariar as limitações de ritmo provocadas pelo português arcaico.
12.  Assente na expressividade física e gráfica das personagens, na planificação diversificada e no bom trabalho de cor de Omar Viñole.
13.  Também - e muito - porque o seu estilo caricatural se adequa às mil maravilhas ao tom mordaz e crítico do original de Gil Vicente, acentuando as características, qualidades e defeitos de cada uma das personagens-tipo – fidalgo, onzeneiro, parvo, sapateiro, padre, Brísida Vaz, judeu, etc. - falecidas que buscam a barca que as conduzirá ao paraíso (ou, na maior parte dos casos) ao inferno.
14.  Na verdade, vale a pena perder – ganhar, sem dúvida – algum tempo a apreciar com mais pormenor cada uma das personagens, com especial destaque para o barqueiro diabólico.
15.   Veja-se o seu olhar trocista e malévolo, o ar com que contesta as razões daqueles que recusam entrar na sua barca, a sua figura imponente, distinta e enganadoramente acolhedora, o ar triunfal após cada embarque no seu navio…
16.  O que no seu conjunto faz dele – bem como de muitos dos outros - uma personagem extremamente conseguida e que encarna na perfeição – acredito eu – o que o mestre português tinha em mente quando escreveu a sua peça teatral.
17.   E esse é outro trunfo desta adaptação, a forma como Laudo Ferreira conseguiu “encenar” no palco que são os quadradinhos da sua história, o texto teatral vicentino…
18.  … conferindo à BD um invulgar mas estimulante tom teatral – no excesso dos gestos, na pose declamatória tantas vezes assumida, na importância dada às expressões, na sua divisão em “actos”...
19.  Por isso, apesar do texto integral original, confesso que foi um prazer recordar desta forma o “Auto da Barca do Inferno”, embora reste a sensação de que, tendo sido outra a opção, esta adaptação poderia ter-se tornado uma obra de referência…
20.  Por isso, acredito que o aplauso à obra expresso por Gil Vicente, no final da “peça encenada” a que assiste ao lado de Laudo Ferreira, tem toda a justificação e teria certamente lugar se ele a tivesse podido ler, assim existissem já histórias aos quadradinhos quando escreveu a sua peça.
21.  A finalizar, fica a estranheza pelo facto de, num tempo em que (supostamente) existe um Acordo Ortográfico que (supostamente) serve para uniformizar a escrita entre os países lusófonos, uma obra baseada num clássico da literatura portuguesa, apoiada pela Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas portuguesa e pelo Ministério da Cultura português, não esteja disponível em Portugal…
22. (A exemplo do que acontece, a outro nível, com outros contornos, com  a ausência, no Brasil, das edições portuguesas de BD (da ASA) do grupo Leya, e na ausência, em Portugal, das edições de BD da filial brasileira da Leya…)


09/01/2012

Leituras de Banca

Janeiro 2012

Títulos que já estão ou estarão em breve disponíveis nas bancas portuguesas.


Marvel (Panini Comics)
Homem-Aranha #113
Os Novos Vingadores #88
Wolverine #77
X-Men #113
Universo Marvel #11 

DC Comics (Panini Comics)
Batman #103
Liga da Justiça #102
Superman #103
Universo DC #12 


Turma da Mónica (Panini Comics)
Almanaque da Mônica #28
Almanaque do Cascão #28
Almanaque do Cebolinha #28
Almanaque do Louco #2
Almanaque Turma do Astronauta #9
Cascão #55
Cebola Jovem #1
Cebolinha #55
Chico Bento #55
Grande Almanaque de Férias da Turma da Mônica #10
Magali #55
Mônica #55
Monica’s Gang (Turma da Mônica em inglês) #4
Mónica y su Pandilla (Turma da Mônica em espanhol) #4
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #55
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #55
Turma da Mónica – Saiba mais #46 – Biodiversidade
Turma da Mônica Jovem #37
Turma da Mônica – Colecção Histórica #24







Bonelli (Mythos Editora)
Almanaque Tex #39
J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #80
Mágico Vento #109
Tex #475
Tex Colecção #267
Tex Edição de Ouro #47
Zagor #123
Zagor Especial #34
Zagor Extra #88

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