21/06/2012

Entrevista com José Ruy


José Ruy (foto do Blog do Centro Artístico e Cultural Artur Bual)
"Não fico à espera de convites.
Faço."







O álbum “Leonardo Coimbra e os Livros Infinitos”, de José Ruy, é hoje apresentado na Casa da Cultura Leonardo Coimbra, na Lixa, às 17 horas, com a presença do autor, num evento integrado nas comemorações do 17º aniversário da elevação a cidade daquela localidade.
A obra, teve o apoio da Câmara Municipal de Felgueiras, terra natal do filósofo, que adquiriu uma parte da edição de modo a garantir que todas as Escolas e Bibliotecas do Concelho tenham exemplares.

Este foi o pretexto para uma conversa à distância (por mail) com José Ruy, centrada especialmente na sua relação com as autarquias e o seu método de trabalho. Nesta conversa também foram abordados o álbum agora apresentado e o que se vai seguir - “Carolina Beatriz Ângelo, Pioneira na Cirurgia e no Voto” - do qual As Leituras do Pedro apresentam a capa e algumas pranchas, em estreia absoluta, o que constitui mais um motivo de agradecimento a José Ruy. 



As Leituras do Pedro - Há muito que o José Ruy trabalha com o apoio de autarquias portuguesas. Sem querer entrar no “segredo do negócio”, como funcionam normalmente essas parcerias? De quem costuma partir a iniciativa, de si ou da autarquia?
José Ruy – Praticamente comecei a fazer histórias relacionadas com Autarquias, com a “História de Macau”, depois de regressado desse território chinês sob administração portuguesa, e por sugestão da delegada em Lisboa, Dr.ª Amélia Dias. Mas não teve qualquer comparticipação da Autarquia; As Edições ASA colocaram os livros directamente à venda no território em livrarias previamente indicadas. As iniciativas para realizar estas obras têm partido de mim, de professores, de autarcas e de editores. Mas nunca realizei Histórias em Quadrinhos directamente para nenhuma Autarquia, como tem acontecido com colegas meus.
Só trabalho com editores, e são estes que por sua vez contactam e contratam com algum promotor, que pode ser realmente uma Autarquia, um instituto, um museu ou uma fundação.


ALP - É fácil chegar a acordo com essas instituições em termos de valores envolvidos, prazos, condições de impressão/distribuição, liberdade criativa, etc.?
JR - Esta sua pergunta está em parte já respondida, mas explicarei melhor: Quando o editor decide publicar a obra, (apresentada sempre por mim), devido ao meu processo de trabalho, não se levantam os problemas a que faz alusão. A importância dos apoios para o editor, é de ter à partida a garantia (de palavra) de uma quantidade de livros a serem adquiridos depois de impressos, e só depois dessa altura pagos. Naturalmente que faz diferença uma edição ser projectada para cinco mil exemplares, se puder atingir os dez mil. Quanto mais elevada é a tiragem mais embaratece o preço unitário. Assim o promotor adquirirá um produto mais em conta, e o editor também beneficiará disso.
Nunca tive intromissão de qualquer espécie no que faço, pois o método que uso e que todos sabem, é o seguinte:
Logo a seguir a criar o argumento, elaboro toda uma planificação desenhada da história, embora em rascunho, incluindo as legendas; depois apresento ao editor e ao promotor, para análise. Sobre esse esboço são trocadas impressões, acrescentes ou modificações, como um trabalho de equipa; mas uma vez aprovada essa fase, não haverá qualquer modificação de última hora. Foi assim que trabalhei na ASA, e apesar de fazer parte dos quadros efectivos, consegui disciplinar os dirigentes quanto a um velho hábito de “põe e tira” já quase com o livro em máquina. Quando me convidaram para a empresa, sabiam já que só aceitaria nessas condições. Portanto a liberdade criativa é total, pois o que se discute por vezes são pequenos pormenores pontuais.

Leonardo Coimbra e os Livros Infinitos

ALP - Chega a ter diversas propostas pendentes, ou trabalha um tema de cada vez?
JR - Por norma trabalho sempre com vários projectos encadeados, uns sugeridos, outros de minha iniciativa; durante a arte final de uma obra, estou já a trabalhar no argumento e a reunir material para uma outra, enquanto faço a pesquisa para uma terceira ou quarta HQ.
A pesquisa ocupa muitas vezes muito mais tempo do que a realização do livro. Só “arranco” em definitivo quando tenho todos esses elementos na mão.


ALP - Depois de estabelecido o acordo, qual o seu método de trabalho?
JR - Acontece que não dependo de qualquer “acordo económico” para iniciar o trabalho. Ninguém irá apostar em adquirir livros para colocar em escolas ou bibliotecas, se não ler e ver primeiro a história. Naturalmente que o acabamento final, já pode ser antevisto pelo exemplo das obras por mim realizadas. O autor tem de investir para ver resultados, não pode estar à espera de saber quanto vai receber, para depois meter mãos à obra. É esta a minha filosofia.

Carolina Beatriz Ângelo

ALP - Uma vez o trabalho finalizado, costuma receber críticas das entidades envolvidas ou mesmo pedidos de alterações? Como reage?
JR - Devido ao processo de trabalho que descrevi, esta situação nunca se põe.


ALP - Sem estas parcerias com as câmaras, o José Ruy ainda era autor de BD?
JR - Claro que não dependo de apoios externos para editar as minhas HQs. Pode o editor apostar numa tiragem mais reduzida, mas edita sempre. Dou-lhe um exemplo: o livro “Aristides de Sousa Mendes, Herói do Holocausto”, não teve apoios, e no entanto está em segunda edição. A editora do Museu Yad Vashem de Jerusalém fez um contrato comigo para a edição em hebraico que está à venda em Israel.
Não fico à espera de convites. Faço.


ALP - Estes acordos com as autarquias ou outras instituições significam a compra de que parte da edição?
JR - Essa proporção das tiragens depende. No caso de “A Jóia no Vale!” foi de quatro para a Autarquia e dois para a editora, pois nestes casos o livro é distribuído pelas escolas e bibliotecas e o tema é trabalhado nas aulas, onde vou algumas vezes colaborar. Mas em Os Lusíadas em HQ, já no adiantado da publicação em muitas edições, a Câmara de Almada adquiriu uma proporção de 1 para 8, portanto uma pequena parte da edição da altura.
Carolina Beatriz Ângelo
Em Sintra, a Autarquia adquiriu um terço da tiragem em português, e quase a totalidade das edições em espanhol, francês e inglês, pois estava mais direccionada para a colocação destas versões nos postos de turismo da Vila. Em “O Juiz do Soajo” uma parceria da Junta de Freguesia do Soajo, a Câmara de Arcos de Valdevez e o Parque Nacional da Peneda Geres adquiriram dois terços, e também quase a totalidade das versões em francês e inglês.
O “Pêro da Covilhã”, de que na primeira edição a Região de Turismo da Serra da Estrela adquirira metade, na segunda edição já só a Câmara da Covilhã adquiriu uma pequena parte. “Amarante e a Heroica Defesa da Ponte” foi meio por meio.
Neste caso recente do “Leonardo Coimbra”, a Autarquia adquiriu 4000 exemplares de seis mil da tiragem.
A Âncora (que tenho acompanhado mais de perto nos últimos anos) nas suas edições de HQ não se limita a editar livros para fornecer a promotores; tem editado, obras minhas e de colegas como o José Pires, o João Amaral e o Baptista Mendes (que tem um livro a sair muito brevemente nessa editora), os que nos temos mantido mais activos na editora, com mais ou menos tiragem, mas nunca deixando de o fazer quando não há apoios. Há sempre o apoio do público. Mas se aparecer alguma aquisição extra, tanto melhor, engrossa a tiragem.


Carolina Beatriz Ângelo
ALP - No caso da biografia do Leonardo de Coimbra, de quem partiu a iniciativa?
JR - A sugestão para o livro “Leonardo Coimbra e os Livros Infinitos”, nasceu numa reunião com a presença do meu actual editor, em Felgueiras, aquando de uma das minhas intervenções na Biblioteca Municipal, pela então Presidente da Câmara Dr.ª Fátima Felgueiras. Foi um desafio a que apliquei todo o meu empenho, pois cada novo livro representa para mim uma importância especial pelo respeito e consideração que tenho pelo público a que se destina.


ALP - Quais foram as maiores dificuldades com que se deparou para criar esta obra?
JR - A grande dificuldade inicial que enfrentei nesta obra, foi tornar apelativo aos escalões etários alvos, o argumento. Como sabe, em todas as minhas HQ não me limito a alinhar os documentos históricos ilustrando-os a seco. Concebo um pequeno enredo romanceado, através do qual o leitor se vai apercebendo, às vezes sem dar por isso, da parte histórica que precisamos de contar. Neste caso, como tratar este assunto tão fechado para uma grande parte do nosso público das HQs, tornando-o acessível, e conseguindo que as páginas fossem viradas uma a uma até à final, sem saltarem por cima? E no entanto tinha de ser compreensível tanto para as crianças e jovens, como para o leitor adulto e já conhecedor da personagem. E segundo parece, pela própria opinião do Pedro Cleto, consegui. Haverá sempre um anão desconhecido que discorde e deite abaixo. Quem não se quer expor a franco atiradores, não pode sair da linha defensiva da trincheira. Eu arrisco.


ALP - Está satisfeito com o resultado?
JR - Para lhe ser franco, nunca estou satisfeito, pois no final penso que poderia ter feito melhor, ou diferente; mas terei de tentar no trabalho seguinte, porque o terminado já pertence ao editor e terá de seguir os seus trâmites. No fundo, quem importa que fique realmente satisfeito é o público. É ele que permite que possamos fazer um próximo livro.


ALP - Sei que já tem um novo álbum pronto para sair em Setembro. Qual o seu título e tema?
JR - O livro que tenho pronto desde finais de 2011, chama-se: “Carolina Beatriz Ângelo, Pioneira na Cirurgia e no Voto”. É quanto a mim, um contraponto ao Leonardo Coimbra. Trata-se de uma notável figura da mesma época, que se cruzou com Leonardo numa outra luta, bem mais difícil, pela sua condição feminina. Uma vencedora. Tenho a obra pronta em DVD e no entanto não temos nenhum apoio definido.
A sua publicação depende neste momento de se conseguir uma tiragem mais confortável, de resto como a figura merece, e que o editor está a ponderar atentamente.


José Ruy (foto do Blog do Centro Artístico e Cultural Artur Bual)

20/06/2012

en Silence













Audrey Spiry
Casterman/KSTR (França, Junho de 2012)
190 x 277 mm, 140 p., cor, cartonado
16,00 €




Resumo
Verão, sul de França. Um grupo de amigos – dois casais, um deles com duas filhas – e um guia vão passar o dia a fazer canyoning (um desporto que consiste em explorar e descer um rio, a pé ou a nado, transpondo os diversos obstáculos físicos – rochas, quedas, rápidos – que vão surgindo).
Aquilo que parece vir a ser um dia diferente e bem passado, servirá a Juliette para repensar a sua vida e a sua relação com Luis, muito próxima do ponto de ruptura.

Desenvolvimento
O tema não é novo – é cada vez mais recorrente em muitas obras de BD (dita de autor) recentes – mas vale sobretudo pela abordagem extremamente original utilizada por Audrey Spiry, que aqui  se estreia de forma surpreendente em banda desenhada (e onde se adivinha a sua origem no mundo da animação, onde desenvolve a sua actividade profissional).
Antes de desenvolver aquela ideia, quero dizer apenas que entre Luis e Juliette, mais do que qualquer outra coisa, foi a vida que se interpôs entre eles. A diferença de idades e a vida profissional – ela é recém-formada, em busca de emprego; ele trabalha há alguns anos no cinema e cada novo projecto ocupa-o de forma total durante meses – as ambições e os desejos – a ternura, os filhos, o conceito de família…
Isto é o que vamos apreendendo ao longo do relato – longo e bem mais denso do que a significativa ausência de texto deixa prever e que reforça o silêncio (o isolamento, a solidão) que Juliette experimenta – durante o qual vai havendo um contraponto entre o relacionamento dos dois casais e nos vamos embrenhando nos pensamentos de Juliette, da mesma forma que ela se embrenha nos labirintos do rio.
Porque, toda a narrativa é uma imensa metáfora da vida, com os seus momentos calmos e os de maior pressão e ansiedade, os diferentes caminhos que podemos escolher – ou que nos escolhem – os obstáculos e desafios que surgem, os êxitos (sempre passageiros?), as quedas (bruscas) que damos, os buracos sem fundo, o solo instável no qual nos sentimos a afundar, tudo o que nos puxa para baixo, nos oprime e nos parece tirar o ar.
Uma metáfora acentuada – assente mesmo - no desenho fluído e dinâmico da autora (feito em cor directa), que parece ter vida própria e (se) molda às situações e aos momentos, mas também às emoções e aos sentimentos, ultrapassando os limites físicos do espaço e das personagens, que distorce, molda e dilui, tornando-as esguias ou pequenas, omnipresentes ou poderosas, um ponto no espaço ou uma mancha que tudo cobre, consoante o que pensam, sentem, recordam, experimentam no rio (a vida) em que estão à superfície ou submersas.

A reter
- Confesso já ter lido muitos romances desenhados – muitos deles notáveis e marcantes - mas poucas vezes o termo “romance gráfico” fez tanto sentido para mim como no caso deste “en Silence”, no qual o grafismo tem um papel narrativo fundamental e transcendente.
- Pois, neste álbum, cada imagem ou sequência tem pelo menos duas leituras: a imediata, relacionada com a descida física do rio, e uma outra, mais profunda, que nos mostra retratados de forma visível conceitos abstractos como impressões, sensações, emoções, momentos, amor, solidão, ternura, medo, desejo, ansiedade...
- A cor (que é ao mesmo tempo traço) de Spiry, feita de tons fortes e aguados, com uma imensa paleta de tons e matizes, que dilata o autêntico convite aos sentidos que cada prancha já é.


19/06/2012

Leituras de banca

Junho 2012
Revistas periódicas de banda desenhada este mês disponíveis nas bancas portuguesas.



Marvel (Panini Comics)

Homem-Aranha #118
Os Novos Vingadores #93
Wolverine #82
Universo Marvel #16
X-Men #118



Manga (Panini Comics)

Vampire Knight #9



Turma da Mónica (Panini Comics)

Almanaque da Magali #30
Almanaque do Chico Bento #30
Almanaque temático Mônica #20 – Amigos especiais
Cascão #60
Cebolinha #60
Chico Bento #60
Magali #60
Mônica #60
Mónica Joven en español #2
Monica Teen in english #2
Mónica y su Pandilla - Turma da Mónica em Espanhol #9
Monica’s Gang - Turma da Mónica em Inglês #9
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #60
Turma da Mônica – Clássicos do Cinema #29 – Tô na História
Turma da Mónica – Saiba mais #51 – Meios de Transporte
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #60
Turma da Mônica Jovem #42



DC Comics (Panini Comics)

Batman #108
Liga da Justiça #107
Superman #108
Universo DC #17



Bonelli (Mythos Editora)

Almanaque Tex #40
Mágico Vento 114
J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga 85

Tex 480
Tex Colecção #272
Tex Edição de Ouro #50
Zagor #128
Zagor Extra 93


18/06/2012

El Arte de Volar










António Altarriba (argumento)
Kim (desenho)
Ediciones del Ponent (Espanha, 14 de Maio de 2009)
170 x 240 mm, 208 p., pb, brochado com badanas
22,00 €




“El Arte de Volar” é um livro sobre voar. Voar nas asas do sonho, voar pelas ambições que temos. Ou, vendo melhor, é um livro sobre sonhos por realizar, falhanços e frustrações.
“El Arte de Volar” é um livro que traça um retrato – duro, realista, factual - da sociedade espanhola do século XX. Um período de 100 anos que abarcou duas guerras mundiais e uma civil e uma ditadura, com as inevitáveis consequências sociais: a pobreza, a falta de bens essenciais, o choque inevitável entre amigos, vizinhos e conhecidos, a repressão, a perseguição política, a delação, a emigração…
 “El Arte de Volar” é uma história de ilusões: a ilusão da cidade para quem vive (na miséria) no campo. A ilusão da técnica e da tecnologia para quem trabalha com as mãos. A ilusão dos ideais para quem vive em ditadura. A ilusão do estrangeiro onde se busca o que o país não dá. A ilusão do regresso ao país natal, quando o estrangeiro nos trata igualmente mal. A ilusão do conhecimento A ilusão da religião. A ilusão da amizade. A ilusão do casamento. A ilusão…
“El Arte de Volar” é uma obra adulta, que mostra a maioridade de um género narrativo: as histórias em quadradinhos.
“El Arte de Volar” é uma história universal, pois retrata uma realidade que foi de muitos (espanhóis) ao longo de décadas.
“El Arte de Volar” é uma história particular, a de António Altarriba Lope, pai do argumentista, que se suicidou a 4 de Maio de 2001. Voando – literalmente – pela primeira e última vez, num voo picado de uma janela de um 4º andar até ao pavimento da rua que o recebeu de braços abertos. Voando – metaforicamente – pela primeira e última vez, rumo à felicidade que nunca gozou – ou pelo menos liberto desse anseio que nunca concretizou, liberto de todas as (muitas) correntes com que (um)a vida (de frustrações e desencantos) o agrilhoou.

A reter
- O tom profundamente humano - e adulto - deste relato desenhado, um fresco magnífico de um século de vida(s) do país aqui ao lado que poucas vezes conhecemos como poderíamos (deveríamos?) conhecer.
- A forma como Altarriba - o argumentista - se identifica com Altarriba - o protagonista e seu pai - fazendo suas as suas dores, as suas mágoas, as suas chagas, as suas frustrações, o seu desencanto, mas sem nunca cair na lamechice, na autocomiseração ou no lamento fácil, optando, apesar de toda a carga emocional – que viveu e partilha com o leitor - por um relato factual e com algum distanciamento, que torna mais pungente e doloroso o que através dele transmite.

Menos conseguido
- De férias em Madrid, no Verão passado, tinha este livro referenciado e estive com ele na mão. Mas, devido ao desenho, acabei por não o trazer. Perdi – não tudo graças ao empréstimo que entretanto me fizeram (obrigado Petracchi!) – a oportunidade de o ler mais cedo. E de reconhecer que o traço de Kim, se não é especialmente vistoso, é de uma extrema legibilidade e soube despir-se das suas características mais caricaturais para transmitir o tom realista adoptado pela narrativa, dando a primazia a esta, sendo apenas o veículo que sustenta uma grande banda desenhada. Uma grande história tout-court, independentemente do género narrativo utilizado para a narrar.

Curiosidade
- Entre muitas outras distinções, “El arte de Volar” recebeu o Prémio Nacional de Comic 20120, atribuído pelo Ministério da Cultura espanhol. Justamente, em meu entender, independentemente das outras obras a concurso.




17/06/2012

As Estantes do Pedro (V)












Esta é a última série de fotos com as estantes em que tenho álbuns de BD – o que não significa que não tenha mais estantes para mostrar!
Para o fim ficaram as edições - nacionais e estrangeiras de autores portugueses - como habitualmente ordenadas por desenhador. Como noutras estantes, existe também uma divisãoentre pequenos formatos (até 24 cm)/outros formatos, para aproveitamento do espaço de prateleira. As obras colectivas estão ordenadas por título.

16/06/2012

Sobrevida na Mundo Fantasma

Data: 16 a 28 de Junho de 2012
Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 509/510, Centro Comercial Brasília, Avenida da Boavista, 267, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingos e feriados, das 15h às 19h









A Exposição
Abrirá ao público hoje, dia 16 de Junho de 2012, pelas 17H00, com a presença dos autores, a exposição, ao mesmo tempo que será lançado o livro, “Sobrevida” de Carlos Pinheiro e Nuno Sousa.
Dizem que a Sobrevida é a existência – ou coisa parecida – de quem já não vive neste mundo, mas ainda não encontrou o seu rumo. Da vida real apenas conserva a semelhança. Alimenta-se das suas imagens (venera-as, são o seu amuleto), ronda-as em círculos a cada volta mais distantes do centro.
A Sobrevida, diz-se, é uma espécie de revivescência – sensação de vida.
Espíritos, espectros, almas penadas perseguem aquilo que já foram, podiam ter sido ou virão a ser (para sempre, nunca mais).
Diz-se que da Sobrevida apenas podemos conhecer aquilo que se conta. Diz-se muita coisa e tudo é insuficiente (ainda).
De qualquer forma, já cá não está quem falou. 

Os autores
Nuno Sousa e Carlos Pinheiro
Licenciados em Escultura pela FBAUP. Membros fundadores do colectivo artístico «Senhorio» desde 2004, produziram e publicaram vários fanzines ligados à área do desenho, bd e ilustração: «Barba», «Pingue», «Busto», «Mister», «Não me contes o fim – Eles morrem todos!», «A fome faz sair o lobo do mato», «Golden Retriever» e «Formigueiro». 
Nuno Sousa integra como compositor, letrista e intérprete os projectos musicais Stowaways, Sr. Doutor e ainda João Peludo e a Orquestra Sonâmbula. Docente da disciplina de Desenho na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e de Projecto I na Licenciatura de BD/Ilustração na ESAP Guimarães. 
Carlos Pinheiro trabalha actualmente com a galeria MCO – Arte Contemporânea, Porto, e Galeria Magda Bellotti, Madrid. Realizou capas para os álbuns «Huntclub» dos Stowaways e «We're metal and fire in the players of time» dos Alla Polacca. Lecciona a disciplina de Desenho na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo. 

O livro
Publicação de natureza híbrida, concilia de forma admirável o desenho com a narrativa sequencial. Carlos Pinheiro trabalhou a sua parte a preto e branco, num desenho texturado e solto, e Nuno Sousa utiliza abundantemente a cor, para criar uma obra intensa em que poesia e metáfora se conciliam para abordar a realidade. 

Quem edita
A Imprensa Canalha é um projecto editorial independente criado em 2006 que se propõe publicar material de natureza essencialmente gráfica. Partindo de uma lógica independente de produção e distribuição, a Imprensa Canalha tem como propósito optimizar gradualmente as suas publicações sem perder de vista as suas premissas enquanto meio alternativo de expressão artística e comunicativa. Sobrevida é a sua 16ª publicação, que conta no seu catálogo com edições muito diversas, desde dvds a fanzines ou livros de serigrafia, com a colaboração de autores como André Lemos, Adolfo Luxúria Canibal, Filipe Abranches, Luís Henriques, Artur Varela e muitos outros. 

(Texto da responsabilidade da organização)

15/06/2012

Lorna - Heaven is here











Brüno
Glénat/[treizeétrange] (França, 30 de Maio de 2012)
170 x 248 mm, 160 p., preto,branco e laranja, cartonado com sobrecapa
17,25 €



Resumo
Depois do imenso sucesso obtido com Priaps, embora ensombrado por alguns efeitos secundários, o seu inventor é contratado pelo governo para desenvolver Monstrula, um projecto bélico sem precedentes.
Ao mesmo tempo, Henri Luxe-Butol, filho do dono da farmacêutica responsável pela comercialização de Priaps, tenta convencer Tamara da sua paixão por ela.
Só que tudo se complica quando surge uma ameaça extraterrestre consubstanciada por um robô gigante que…

Desenvolvimento
Como o resumo atrás deixa intuir, este livro é um a imensa homenagem aos filmes série B de horror e ficção-científica que tiveram o seu auge nos EUA nos anos 50 e 60. Por isso, não surpreende que Brüno preencha as suas páginas com as mais variadas citações, homenagens e piscares de olho – uns mais facilmente identificáveis do que outros – enquanto nos leva através de uma certa América.
Faltou-me – propositadamente – incluir no resumo acima, que Priaps é um extensor de pénis bem mais eficaz que o Viagra – apesar de alguns preocupantes efeitos secundários que provocaram a completa exaurição dos seus utilizadores - que a bela Tamara Teets é a maior estrela porno do seu tempo, que até tem cotação em bolsa (!), e que o robô gigante, de 40 metros de altura, tem a forma de uma deslumbrante loura… nua.
Ou seja, a par do tom folhetinesco, Brüno dota o seu relato com uma (ligeira) componente (de) porno (chachada), assumindo “uma BD de mau gosto reivindicado” como escreveu alguém, mas a que falta no entanto o toque de génio – que, por exemplo, Tarantino manifestou em Pulp Fiction – para transformar Lorna em algo mais que (simplesmente) uma leitura divertida.
Até porque – em parte devido às muitas referências – o ritmo e a sequência narrativa nem sempre funcionam da melhor forma, embora geralmente Brüno acabe por conseguir retomar o fio à meada e conduzir-nos através dos meandros da sua história, onde ressaltam algumas bem conseguidas sequências mudas e uma planificação bastante variada se bem que de matriz tradicional.
História que, apesar de tudo, como qualquer série B que se preze, apresenta alguns bons momentos, um toque de humor negro, paixões não correspondidas, cenas bem quentes, transformações surpreendentes, a busca do transcendente, alguns tiroteios – e respectivas vítimas, teorias conspirativas, combates épicos de robôs e lesmas monstruosas e um final que deixa tudo em aberto – na cabeça do leitor ou na hipótese de um segundo tomo. 
A reter
- A homenagem aos filmes série B.
- O traço de Brüno, simples, plano, depurado de pormenores, dinâmico, legível e que ganha bastante com a aplicação da terceira cor (laranja).

Menos conseguido
- A forma menos eficaz como Brüno geriu o excesso de referências, ressentindo-se disso o ritmo narrativo.



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