#11 – O Segredo do Licorne
#12 – O Tesouro de Rackham, o terrível
Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 64 p., cor, cartonado, 8,90 €
Entre as muitas leituras aos quadradinhos que faço, confesso que Tintin tem (continua a ter) um lugar especial. Não por nostalgia de infância porque, se é verdade que o li – parcialmente - em criança, a minha relação – voluntária e consciente - com Tintin surgiu bem mais tarde e tem, por isso, mais contornos de relação estável e duradoura do que de paixão avassaladora mas passageira. Até porque, cada nova leitura, me leva a (re)descobrir novos motivos para admirar a obra-prima de Hergé.
Entre os diversos álbuns com as suas aventuras, “O Segredo do Licorne”, não sendo o meu preferido – esse destaque vai sem dúvida para “Tintin no Tibete” e “As Jóias da Castafiore” – será o que mais memórias me evoca. Curiosamente, em contradição com o que atrás escrevi. Porque o descobri – incompleto – em páginas de velhos exemplares de O Papagaio existentes em casa da minha avó e nelas, muitas vezes, o reli – incompleto, reforço – sem saber se e como Tintin chegaria a encontrar o famoso tesouro de Rackham, o Terrível.
Se este facto é determinante para o peso ”sentimental” que ele tem para mim, a verdade é que este álbum, melhor, o díptico “O Segredo do Licorne”/”O Tesouro de Rackham, o Terrível”, tem tudo para seduzir e conquistar qualquer leitor que a ele chegue sem preconceitos.
Desde logo, porque é, sem dúvida, um dos argumentos mais sólidos de Hergé, baseado na sempre motivadora busca de um tesouro, feita através de um inquérito, longo e recheado de percalços em que humor e mistério se combinam com perfeição.
Depois, porque é nele que se solidifica a relação do repórter com Haddock e é nele que se estreia Girassol. Também porque nele os Dupond/t têm um papel fundamental, não tanto como heróis, mas ainda como co-protagonistas com o papel – mais importante do que por vezes se pensa - de atenuar o clima de mistério, graças aos sucessivos disparates que dizem e fazem. E não deixa de ser curioso analisar como todos eles vieram, de alguma forma, ocupar um espaço que até agora (praticamente só) Milu preenchia, enquanto companhia, elemento de salvação e/ou de introdução de humor.
Voltando à questão do argumento, na construção da (longa) narrativa, veja-se como, em especial no primeiro álbum, ela funciona em blocos, de alguma forma autónomos, mas perfeitamente interligados e contribuintes imprescindíveis para o todo: a Feira da Ladra, a insistência pela caravela, a (fabulosa) recriação da história do Cavaleiro de Hadoque (com os paralelos entre o passado e o empolgado Haddock no presente), o carteirista, o rapto e prisão de Tintin, o confronto com os irmãos Pardal, a sua libertação.
E como, no segundo tomo, a tensão cresce, a expectativa aumenta, a curiosidade do leitor é incontrolável num relato em que, na verdade… se pode mesmo dizer que nada acontece! Porque se há uma busca a decorrer, sucedem-se os equívocos, os falhanços, as desilusões.
Tudo narrado com mestria, com uma técnica gráfica e narrativa inigualável, apurada, de uma enorme legibilidade, atraente e expressiva, aqui com um recurso pouco comum a vinhetas grandes. E com um perfeito controle do desenrolar das cenas, das atitudes das personagens, dos diálogos estabelecidos, com os momentos de tensão, de dúvida, de suspense a multiplicarem-se no final de cada prancha (a isso obrigava a publicação semanal em revista), sem uma quebra, um erro…
Tudo motivos para o leitor chegar ao final da leitura satisfeito, recompensado pelo tempo empregue. Tenha sido a primeira ou a vigésima vez que a fez.
E com a certeza que, depois deste díptico, nada ficou como dantes. Tintin, encontrou uma casa – o Castelo de Moulinsart – e uma família estável – Milu, Haddock, Girassol, os Dupond/t. As bases para o melhor período do herói – menos espontâneo, mais genial… - sobre o qual, possivelmente, virei a escrever (algumas vezes mais) aqui.
08/03/2011
07/03/2011
Portugueses na Marvel
Lançados em meados de Fevereiro nos Estados Unidos, chegam no início desta semana, às lojas nacionais especializadas em banda desenhada importada, dois comics de super-heróis com participação portuguesa na sua autoria.
Um deles é o primeiro dos quatro números previstos de “Onslaught Unleashed”, que fica como a primeira mini-série desenhada por um artista português, no caso Filipe Andrade. Esta narrativa de Sean McKeever, um argumentista de primeira linha, que reúne o Capitão América, a Mulher-Aranha e alguns dos X-Men em novo confronto com o vilão Onslaught, conta com outro português na sua ficha técnica, Ricardo Tércio, como responsável pelas cores da publicação. Como é normal em projectos de alguma relevância da Marvel, foram feitas tiragens com capas alternativas, desenhadas por dois grandes autores da Casa das Ideias, Humberto Ramos e Rob Liefeld.
Ao mesmo tempo, chegará também “Marvel Girl #1”, uma história completa de Josh Fialkov, desenhada e colorida por Nuno Plati Alves, que narra como os poderes psíquicos da mutante Jean Grey se manifestaram após o seu namorado falecer num acidente automóvel, sendo necessária a intervenção do professor Xavier, dos X-Men, para a ajudar a controlá-los.
Entretanto, Nuno Plati Alves que, tal como Filipe Andrade, tem multiplicado as suas colaborações com a Marvel, terminou recentemente uma história curta do Homem-Aranha, estando agora a trabalhar num one-shot com o mesmo herói. A BD, de 8 páginas, será incluída na revista “Amazing Spider-Man” #657, em que, na sequência do recente desaparecimento do Tocha Humana e a sua substituição pelo Homem-Aranha, várias personagens evocam episódios que partilharam com aquele membro fundador do Quarteto Fantástico.
A participação de autores portugueses em revistas Marvel, que tem vindo a crescer nos últimos anos, geralmente leva a uma maior procura desses títulos nas lojas portuguesas, como aconteceu na Mundo Fantasma, no Porto, com “Onslaught Unleashed” e Marvel Girl #1, revelou ao JN Vasco Carmo.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 27 de Fevereiro de 2011)
Um deles é o primeiro dos quatro números previstos de “Onslaught Unleashed”, que fica como a primeira mini-série desenhada por um artista português, no caso Filipe Andrade. Esta narrativa de Sean McKeever, um argumentista de primeira linha, que reúne o Capitão América, a Mulher-Aranha e alguns dos X-Men em novo confronto com o vilão Onslaught, conta com outro português na sua ficha técnica, Ricardo Tércio, como responsável pelas cores da publicação. Como é normal em projectos de alguma relevância da Marvel, foram feitas tiragens com capas alternativas, desenhadas por dois grandes autores da Casa das Ideias, Humberto Ramos e Rob Liefeld.
Ao mesmo tempo, chegará também “Marvel Girl #1”, uma história completa de Josh Fialkov, desenhada e colorida por Nuno Plati Alves, que narra como os poderes psíquicos da mutante Jean Grey se manifestaram após o seu namorado falecer num acidente automóvel, sendo necessária a intervenção do professor Xavier, dos X-Men, para a ajudar a controlá-los.
Entretanto, Nuno Plati Alves que, tal como Filipe Andrade, tem multiplicado as suas colaborações com a Marvel, terminou recentemente uma história curta do Homem-Aranha, estando agora a trabalhar num one-shot com o mesmo herói. A BD, de 8 páginas, será incluída na revista “Amazing Spider-Man” #657, em que, na sequência do recente desaparecimento do Tocha Humana e a sua substituição pelo Homem-Aranha, várias personagens evocam episódios que partilharam com aquele membro fundador do Quarteto Fantástico.
A participação de autores portugueses em revistas Marvel, que tem vindo a crescer nos últimos anos, geralmente leva a uma maior procura desses títulos nas lojas portuguesas, como aconteceu na Mundo Fantasma, no Porto, com “Onslaught Unleashed” e Marvel Girl #1, revelou ao JN Vasco Carmo.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 27 de Fevereiro de 2011)
Leituras relacionadas
Filipe Andrade,
Marvel,
Nuno Plati Alves,
Ricardo Tércio
06/03/2011
Selos & Quadradinhos (29)
Leituras relacionadas
2003,
Bélgica,
Schuiten,
Selos e Quadradinhos
05/03/2011
Bedeteca de Beja - Programação
Março de 2011
Exposições
MECÂNICA POPULAR
Exposição da obra gráfica de José Feitor
De 26 de Março a 30 de Abril
Visita à exposição, com o autor, dia 26 às 18h00.
Galeria Principal – 1º andar.
TINTIN
Uma revista dos 7 aos 77
De 26 de Março a 30 de Abril
Exposição bibliográfica.
Galeria da Ala esquerda – 1º andar.
COR
15 Ilustradores Portugueses
Até 10 de Março
Exposição de serigrafia com André Letria, Alex Gozblau, André Carrilho, Bernardo Carvalho, Daniel Lima, Filipe Abranches, João Fazenda, Miguel Rocha, Maria João Worm, Nuno Saraiva, José Manuel Saraiva, Pedro Burgos, Tiago Albuquerque, Tiago Manuel e Susa Monteiro.
Uma exposição do Ar.Co. e da Casa da Cerca, com o Centro Português de Serigrafia.
Galeria da entrada – R/C.
NO REINO DO TERROR
Até 11Março
Exposição bibliográfica de revistas de terror.
Galeria da Ala esquerda – 1º andar
CARLOS PÁSCOA
Até 19 de Março
Exposição de banda desenhada e ilustração.
Galeria Principal – 1º andar.
Exposições
MECÂNICA POPULAR
Exposição da obra gráfica de José Feitor
De 26 de Março a 30 de Abril
Visita à exposição, com o autor, dia 26 às 18h00.
Galeria Principal – 1º andar.
TINTIN
Uma revista dos 7 aos 77
De 26 de Março a 30 de Abril
Exposição bibliográfica.
Galeria da Ala esquerda – 1º andar.
COR
15 Ilustradores Portugueses
Até 10 de Março
Exposição de serigrafia com André Letria, Alex Gozblau, André Carrilho, Bernardo Carvalho, Daniel Lima, Filipe Abranches, João Fazenda, Miguel Rocha, Maria João Worm, Nuno Saraiva, José Manuel Saraiva, Pedro Burgos, Tiago Albuquerque, Tiago Manuel e Susa Monteiro.
Uma exposição do Ar.Co. e da Casa da Cerca, com o Centro Português de Serigrafia.
Galeria da entrada – R/C.
NO REINO DO TERROR
Até 11Março
Exposição bibliográfica de revistas de terror.
Galeria da Ala esquerda – 1º andar
CARLOS PÁSCOA
Até 19 de Março
Exposição de banda desenhada e ilustração.
Galeria Principal – 1º andar.
Montra de Março
Fanzine Funzip
De 1 a 31 de Março
O Funzip é um fanzine eclético, que junta várias sensibilidades, estilos e influências (dos comics americanos à mangá japonesa). Uma diversidade de estilos e influências que também se reflecte nas temáticas abordadas, que vão da crítica social à ficção científica, ao fantástico ou à aventura pura. É publicado sem interrupção desde 2004. Até ao momento saíram 5 números e uma edição especial. Editado pelo Grupo Entropia, tem como mentores e principais impulsionadores Paulo Marques e Ana Saúde. Pelas suas páginas já passaram autores como Álvaro, Andreia Rechena, André Oliveira, Bruno Silva, Carla Rodrigues, Daniela Varela, Filipe Duarte, Gastão Travado, Guilherme Mendes, J. B. Martins, Joana Lafuente, João Mascarenhas, João Sá-Chaves, Jorge Massuça, J. Veiga, Lara Santos, Melanie Romão, Miguel Martins, Nuno Nobre, Paula Carichas, Pedro Rito, Rui Mourão, Vanessa Nobre e XPeTO (além dos próprios Paulo Marques e Ana Saúde). O projecto foi apresentado em Beja, na última edição do Festival…
Bedeteca – 1º andar.
Cinema e BD
Conversas sobre Cinema e Banda Desenhada, por Véte, com exibição do filme VILÕES DA BANDA DESENHADA, de James Dale Robinson.
Dia 10, quinta-feira, às 21h30
Bedeteca – 1º andar.
Entrada livre.
Cinema de Animação
Traços do Japão – Sessões de Anime da NCreatures
PADRINHOS DE TÓQUIO, de Satoshi Kon e Shôgo Furuya, apresentado por Paulo Monteiro.
Dia 17, quinta-feira, às 21h30
Bedeteca – 1º andar.
Entrada livre.
Noite de Western
Conversa sobre o célebre Blueberry, de Charlier e Giraud, por Paulo Monteiro, e exibição do filme OS SETE MAGNÍFICOS, de John Sturges, com Yul Brynner e Steve McQueen, apresentado por Hélder Castilho.
Dia 24, quinta-feira, às 21h30
Bedeteca – 1º andar.
Entrada livre.
Apresentações
Apresentação do livro Educação Estética Visual Eco-Necessária na Adolescência (MinervaCoimbra), de Elisabete Silva Oliveira. Diálogo com a autora sobre o tema.
29 de Março, terça-feira, das 17h30 às 19h00
Bedeteca – 1º andar.
Oficinas
Ouriço-do-Mar – Oficina de Banda Desenhada
Todas as terças-feiras, das 19h30 às 20h30
Para autores entre os 8 e os 12…
Bedeteca – 1º andar.
Entrada livre.
Toupeira – Oficina de Banda Desenhada
Todas as quintas-feiras, das 19h30 às 20h30
Para autores a partir dos 13 anos…
Bedeteca – 1º andar.
Entrada livre.
Clubes
Lemon Studio – Clube de Mangá
Todas as quintas-feiras, das 16h00 às 18h30
Bedeteca – 1º andar.
Entrada livre.
Magic The Gatering – Clube de Magic
Todos os Sábados das 15h00 às 20h00
Bedeteca – 1º andar.
Entrada livre.
Livro do Mês
A Trágica Comédia ou a Cómica Tragédia de Mr. Punch (Vitamina BD), de Neil Gaiman (argumento) e Dave McKean (desenho).
Donos de uma obra absolutamente singular, quer do ponto de vista da escrita, quer do ponto de vista da narrativa e do grafismo, Neil Gaiman e Dave McKean são dois dos mais excitantes e surpreendes autores de banda desenhada europeus.
A Trágica Comédia ou a Cómica Tragédia de Mr. Punch, uma obra-prima dos 2 autores britânicos, gira à volta do encontro entre um rapaz e um obscuro bonecreiro de passado misterioso. À medida que o bonecreiro revela as suas histórias, o rapaz confronta-se com terríveis segredos de família, pontuados pela violência, pela traição e pelo abuso. Uma fábula negra e desencantada sobre a inocência da infância e a dor da idade adulta.
Dave McKean esteve em Beja em 2008, por ocasião da exposição realizada com o seu trabalho, durante o IV Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja.
A Trágica Comédia ou a Cómica Tragédia de Mr. Punch (104 páginas), foi publicada pela Vitamina BD em 2006 (a Bedeteca também dispõe da versão original, em língua inglesa). Neil Gaiman e Dave McKean são também os autores das obras O Dia em que troquei o meu pai por 2 peixinhos vermelhos e Os Lobos nas Paredes, igualmente disponíveis na Bedeteca.
Notícias
O Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja aproxima-se a passo largos… Este mês, entre os estrangeiros, destacamos a presença de Aleksandar Zograf e Melinda Gebbie (a célebre autora de Lost Girls fará uma conferência sobre banda desenhada e censura. Um tema muito actual, por uma autora que tem a sua obra interditada neste momento). Entre os portugueses, que são muitos, destacamos a presença de Fernando Relvas, regressado da Croácia há pouco tempo…
O acervo da Bedeteca inclui muitas centenas de publicações - d’O Mosquito, ao Jornal do Cuto, passando pela revista Tintin… O acervo está praticamente inventariado e em breve todas estas centenas de publicações estarão disponíveis para consulta. Uma bela notícia, para quem gosta de sentir o cheiro do papel das velhas edições…
Nas escolas
Este mês vamos estar em Castro Verde, a fazer uma acção de formação para professores de vários concelhos do Alentejo. Uma acção de formação com uma forte componente prática, já que o que se pretende é que sejam os próprios professores a realizar a sua primeira banda desenhada…
(Texto da responsabilidade da Bedeteca de Beja)
Leituras relacionadas
2011,
BD para ver,
Beja,
Março
04/03/2011
O Grupo do Leão
Rui Zink (argumento)
António Jorge Gonçalves (desenho)
Museu Nacional de Arte Contemporânea (Dezembro de 2010)
250 x 340 mm, 32 p., cor, cartonado, 16 €
Resumo
O desaparecimento de três pintores – José Malhoa, Silva Porto e Moura Girão - do quadro “O Grupo do Leão”, de Columbano, exposto no Museu do Chiado, leva um dos seus responsáveis a chamar a polícia, na pessoa do Inspector Columbano, para proceder à respectiva investigação.
Desenvolvimento
Nascido como um (falso?) policial, esta nova colaboração entre Rui Zink e António Jorge Gonçalves - depois de “A Arte Suprema”, “Rei” e “VIH, o vírus da sida” – nascida de um convite do Museu do Chiado para dar a conhecer os contornos daquele que foi talvez o mais influente movimento da arte portuguesa de finais século XIX, rapidamente se transforma num passeio em tom de divagação pelo mundo da arte, da pintura (e mesmo da banda desenhada). Por isso, ao longo das páginas são mostradas diversas pinturas e esculturas, nalguns casos inseridas num contexto actual, de forma bem curiosa.
No seu epicentro está “O Grupo do Leão”, um quadro pintado por Columbano Bordalo Pinheiro, em 1885, no qual imortalizou a tertúlia de artistas e intelectuais que se costumava reunir na cervejaria Leão. Partindo dos seus inte-grantes, Zink leva-nos a acom-panhar o trajecto – não isento de percalços - do quadro ao longo das décadas, numa história que, sendo didáctica, está longe de excessos que a tornem aborrecida, ressaltando da sua leitura a fluidez com que o leitor é guiado através das páginas, cuja planificação raramente é convencional, mesmo apesar da multiplicidade de personagens, enquadramentos e soluções gráficas adoptadas. Nalguns casos, estratégias aparentemente simples, mas bem conseguidas, como o passeio pelo “interior” de alguns dos quadros abordados, cujas molduras servem de (falsas) vinhetas, ou o percurso dos protagonistas ao longo de vários locais numa mesma prancha, que também contribuem para tornar a leitura mais dinâmica.
Tal como o passeio pela arte, também a inves-tigação é levada a bom termo – longe no entanto daquilo que se esperaria se se tratasse de um policial tradicional - num todo que destaca a importância não das obras mas dos autores e das pessoas reais que as inspiram e elas retratam. No final, fechado o álbum, pode o leitor concluir que os criminosos foram afinal os autores do livro, apostados em mostrar um novo “grupo”, não do Leão, mas deste país que temos. Mais actual sem dúvida; mais genuíno, possivelmente; mas também mais pobre intelectualmente. Por isso, fica a (incómoda e triste) sensação de que Portugal, o actual, em que vivemos, fica bem pior no novo retrato…
Curiosidade
- No quadro O Grupo do Leão, abaixo reproduzido, Columbano retratou, sentados, da esquerda para a direita: Henrique Pinto, José Malhoa, João Vaz, Silva Porto, António Ramalho, Moura Girão, Rafael Bordalo Pinheiro e Rodriges Vieira; e de pé, da esquerda para a direita: Ribeiro Cristino, Alberto d'Oliveira, o empregado de mesa Manuel Fidalgo, Columbano Bordalo Pinheiro, outro criado (Dias) ou o dono da Cervejaria, António Monteiro e Cipriano Martins.
António Jorge Gonçalves (desenho)
Museu Nacional de Arte Contemporânea (Dezembro de 2010)
250 x 340 mm, 32 p., cor, cartonado, 16 €
Resumo
O desaparecimento de três pintores – José Malhoa, Silva Porto e Moura Girão - do quadro “O Grupo do Leão”, de Columbano, exposto no Museu do Chiado, leva um dos seus responsáveis a chamar a polícia, na pessoa do Inspector Columbano, para proceder à respectiva investigação.
Desenvolvimento
Nascido como um (falso?) policial, esta nova colaboração entre Rui Zink e António Jorge Gonçalves - depois de “A Arte Suprema”, “Rei” e “VIH, o vírus da sida” – nascida de um convite do Museu do Chiado para dar a conhecer os contornos daquele que foi talvez o mais influente movimento da arte portuguesa de finais século XIX, rapidamente se transforma num passeio em tom de divagação pelo mundo da arte, da pintura (e mesmo da banda desenhada). Por isso, ao longo das páginas são mostradas diversas pinturas e esculturas, nalguns casos inseridas num contexto actual, de forma bem curiosa.
No seu epicentro está “O Grupo do Leão”, um quadro pintado por Columbano Bordalo Pinheiro, em 1885, no qual imortalizou a tertúlia de artistas e intelectuais que se costumava reunir na cervejaria Leão. Partindo dos seus inte-grantes, Zink leva-nos a acom-panhar o trajecto – não isento de percalços - do quadro ao longo das décadas, numa história que, sendo didáctica, está longe de excessos que a tornem aborrecida, ressaltando da sua leitura a fluidez com que o leitor é guiado através das páginas, cuja planificação raramente é convencional, mesmo apesar da multiplicidade de personagens, enquadramentos e soluções gráficas adoptadas. Nalguns casos, estratégias aparentemente simples, mas bem conseguidas, como o passeio pelo “interior” de alguns dos quadros abordados, cujas molduras servem de (falsas) vinhetas, ou o percurso dos protagonistas ao longo de vários locais numa mesma prancha, que também contribuem para tornar a leitura mais dinâmica.
Tal como o passeio pela arte, também a inves-tigação é levada a bom termo – longe no entanto daquilo que se esperaria se se tratasse de um policial tradicional - num todo que destaca a importância não das obras mas dos autores e das pessoas reais que as inspiram e elas retratam. No final, fechado o álbum, pode o leitor concluir que os criminosos foram afinal os autores do livro, apostados em mostrar um novo “grupo”, não do Leão, mas deste país que temos. Mais actual sem dúvida; mais genuíno, possivelmente; mas também mais pobre intelectualmente. Por isso, fica a (incómoda e triste) sensação de que Portugal, o actual, em que vivemos, fica bem pior no novo retrato…
Curiosidade
- No quadro O Grupo do Leão, abaixo reproduzido, Columbano retratou, sentados, da esquerda para a direita: Henrique Pinto, José Malhoa, João Vaz, Silva Porto, António Ramalho, Moura Girão, Rafael Bordalo Pinheiro e Rodriges Vieira; e de pé, da esquerda para a direita: Ribeiro Cristino, Alberto d'Oliveira, o empregado de mesa Manuel Fidalgo, Columbano Bordalo Pinheiro, outro criado (Dias) ou o dono da Cervejaria, António Monteiro e Cipriano Martins.
Leituras relacionadas
António Jorge Gonçalves,
Museu do Chiado,
Rui Zink
03/03/2011
Les Nuits Assassines
J.-M. Goum (argumento)
Byun Ki-hyun (desenho)
Casterman (França, 11 de Março de 2009)
170 x 240 mm, 168 p., cor, brochado com badanas, 16 €
Resumo
Na região dos Alpes austríacos, no início dos anos 70, uma pequena povoação é abalada pela morte súbita de Axel Neunhöffer, um homem saudável acabado de completar 36 anos. Precisamente da mesma forma e com a mesma idade com que o seu pai faleceu.
Mas esta é apenas a primeira de uma série de mortes inesperadas na família, cuja razão – doença hereditária? maldição? assassino em série? – as autoridades locais e um jornalista em busca de projecção pessoal vão tentar descobrir.
Desenvolvimento
Na origem deste livro um pressuposto: criar uma obra que fizesse a ponte entre duas culturas (aos quadradinhos): a ocidental (leia-se franco-belga), representada pelo argumentista J.-M. Goum, diplomado em comunicação, com passagens pelo jornalismo e pela organização de espectáculos, e a asiática, na pessoa do desenhador Byun Ki-hyun, pertencente à nova geração coreana.
A existência deste ponto de partida, após a leitura da obra, obriga a uma primeira constatação: mais do que a soma de duas partes, Les Nuits Assassines revela duas formas distintas de narrar graficamente: a estrutura narrativa, o ritmo e a planificação são tipicamente ocidentais; o traço está mais próximo do anime semi-realista, sem recurso a aspectos mais comuns ao manga (e ao manhwa): onomatopeias, linhas de acção e movimento, personagens caricaturais para expressar emoções… Não que daí venha mal ao mundo, até porque o todo é convincente e funciona, mas porque saíram goradas eventuais expectativas de descoberta ou inovação.
A história em si, é um policial típico, com um toque de fantástico, que beneficia bastante pelo facto de se passar numa localidade pequena e isolada, onde abundam as tensões, em especial entre as famílias Neunhöffer e Oefeln, unidas – contra vontade dos seus “patriarcas” – pelo casamento de Axel, a primeira vítima, e Helga. União em que o amor e a cumplicidade rapidamente deu lugar a dúvidas, desconfianças, conturbação e opções mal explicadas, devido às pressões exercidas pelos restantes familiares. As personagens são consistentes e apresentam aspectos interessantes, sendo a base de uma história bem delineada, com alguns momentos de suspense bem conseguidos, ao longo da qual o argumentista vai expondo de forma equilibrada e credível diversas explicações para as sucessivas mortes que assolam a província austríaca do Voralberg.
E que, como não podia deixar de ser, tem um desfecho que vai surpreender os leitores.
Byun Ki-hyun (desenho)
Casterman (França, 11 de Março de 2009)
170 x 240 mm, 168 p., cor, brochado com badanas, 16 €
Resumo
Na região dos Alpes austríacos, no início dos anos 70, uma pequena povoação é abalada pela morte súbita de Axel Neunhöffer, um homem saudável acabado de completar 36 anos. Precisamente da mesma forma e com a mesma idade com que o seu pai faleceu.
Mas esta é apenas a primeira de uma série de mortes inesperadas na família, cuja razão – doença hereditária? maldição? assassino em série? – as autoridades locais e um jornalista em busca de projecção pessoal vão tentar descobrir.
Desenvolvimento
Na origem deste livro um pressuposto: criar uma obra que fizesse a ponte entre duas culturas (aos quadradinhos): a ocidental (leia-se franco-belga), representada pelo argumentista J.-M. Goum, diplomado em comunicação, com passagens pelo jornalismo e pela organização de espectáculos, e a asiática, na pessoa do desenhador Byun Ki-hyun, pertencente à nova geração coreana.
A existência deste ponto de partida, após a leitura da obra, obriga a uma primeira constatação: mais do que a soma de duas partes, Les Nuits Assassines revela duas formas distintas de narrar graficamente: a estrutura narrativa, o ritmo e a planificação são tipicamente ocidentais; o traço está mais próximo do anime semi-realista, sem recurso a aspectos mais comuns ao manga (e ao manhwa): onomatopeias, linhas de acção e movimento, personagens caricaturais para expressar emoções… Não que daí venha mal ao mundo, até porque o todo é convincente e funciona, mas porque saíram goradas eventuais expectativas de descoberta ou inovação.
A história em si, é um policial típico, com um toque de fantástico, que beneficia bastante pelo facto de se passar numa localidade pequena e isolada, onde abundam as tensões, em especial entre as famílias Neunhöffer e Oefeln, unidas – contra vontade dos seus “patriarcas” – pelo casamento de Axel, a primeira vítima, e Helga. União em que o amor e a cumplicidade rapidamente deu lugar a dúvidas, desconfianças, conturbação e opções mal explicadas, devido às pressões exercidas pelos restantes familiares. As personagens são consistentes e apresentam aspectos interessantes, sendo a base de uma história bem delineada, com alguns momentos de suspense bem conseguidos, ao longo da qual o argumentista vai expondo de forma equilibrada e credível diversas explicações para as sucessivas mortes que assolam a província austríaca do Voralberg.
E que, como não podia deixar de ser, tem um desfecho que vai surpreender os leitores.
02/03/2011
Os incontornáveis da Banda Desenhada
Vários autores (ver a seguir)
ASA+Público (Março de 2010)
220 x 229 mm, cor, 96/144 p., brochada com badanas, 7,40 €
O jornal Público em parceria com as Edições ASA começa hoje a distribuir uma nova colecção de BD, que durará 12 semanas.
Sem prejuízo de voltar posteriormente a alguns deles, pois a qualidade de vários dos volumes justifica-o plenamente, fica já a seguir a data de publicação de cada um dos títulos, sendo de referir que apenas uma (O Sábio Louco) das 24 bandas desenhadas propostas já foi publicada em álbum em Portugal.
Dia 2/03 - Volume 1
VALÉRIAN E LAURELINE, de Christine e Mézières
- Nas Imediações do Grande Nada
- O AbreTempo
Dia 9/03 - Volume 2
O GATO DO RABINO, de Joann Sfar
- O Bar-Mitzvá
- O Malka dos Leões
- O Êxodo
Dia 16/03 - Volume 3
XIII MISTERY, de R. Meyer e X. Dorison e P. Berthet e Corbeyran
- O Mangusto
- Irina
Dia 23/03 - Volume 4
ADÈLE BLANC-SE,C de Tardi
- O Sábio Louco
- Demónio
Dia 30/03 - Volume 5
O BUDA AZUL, de Cosey
- Tomo 1
- Tomo 2
Dia 06/04 - Volume 6
I.R.$., de Vrancken e Desberg
- A Via Fiscal
- A Estratégia Hagen
Dia 13/04 - Volume 7
MURENA, de Dufaux e Delaby
- O Melhor das Mães
- Os que Vão Morrer…
Dia 20/04 - Volume 8
MAX FRIDMAN, de V. Giardino
- Rapsódia Húngara
Dia 27/04 - Volume 9
EM BUSCA DO PÁSSARO DO TEMPO, de Le Tendre e Loisel e Lidwine e Aouamri
- O Meu Amigo Javin
- O Livro dos Deuses Antigos
Dia 04/05 - Volume 10
LARGO WINCH, de Philippe Francq e Jean Van Hamme
- A Fortaleza de Makiling
- A Hora do Tigre
Dia 11/05 - Volume 11
O VAGABUNDO DOS LIMBOS, de Godard e Ribera
- A Fissirmá de Musky
- O Tempo dos Óraculos
Dia 18/05 - Volume 12
O ASSASSINO, de Jacamon e Matz
- A Dívida
- Laços de Sangue
Uma referência ainda para o facto de esta colecção, variada e heterogénea, ser aproveitada (também) para concluir/prosseguir séries que por diversas razões (falência da Meribérica, abandono da BD pela Booktree, dificuldade de conseguir co-edições, …) até agora estavam incompletas. O que, apesar das inevitáveis diferenças de formato em relação aos volumes originais, não deixa de ser uma iniciativa louvável, a que os leitores portugueses de banda desenhada não estão de todo habituados.
ASA+Público (Março de 2010)
220 x 229 mm, cor, 96/144 p., brochada com badanas, 7,40 €
O jornal Público em parceria com as Edições ASA começa hoje a distribuir uma nova colecção de BD, que durará 12 semanas.
Sem prejuízo de voltar posteriormente a alguns deles, pois a qualidade de vários dos volumes justifica-o plenamente, fica já a seguir a data de publicação de cada um dos títulos, sendo de referir que apenas uma (O Sábio Louco) das 24 bandas desenhadas propostas já foi publicada em álbum em Portugal.
Dia 2/03 - Volume 1
VALÉRIAN E LAURELINE, de Christine e Mézières
- Nas Imediações do Grande Nada
- O AbreTempo
Dia 9/03 - Volume 2
O GATO DO RABINO, de Joann Sfar
- O Bar-Mitzvá
- O Malka dos Leões
- O Êxodo
Dia 16/03 - Volume 3
XIII MISTERY, de R. Meyer e X. Dorison e P. Berthet e Corbeyran
- O Mangusto
- Irina
Dia 23/03 - Volume 4
ADÈLE BLANC-SE,C de Tardi
- O Sábio Louco
- Demónio
Dia 30/03 - Volume 5
O BUDA AZUL, de Cosey
- Tomo 1
- Tomo 2
Dia 06/04 - Volume 6
I.R.$., de Vrancken e Desberg
- A Via Fiscal
- A Estratégia Hagen
Dia 13/04 - Volume 7
MURENA, de Dufaux e Delaby
- O Melhor das Mães
- Os que Vão Morrer…
Dia 20/04 - Volume 8
MAX FRIDMAN, de V. Giardino
- Rapsódia Húngara
Dia 27/04 - Volume 9
EM BUSCA DO PÁSSARO DO TEMPO, de Le Tendre e Loisel e Lidwine e Aouamri
- O Meu Amigo Javin
- O Livro dos Deuses Antigos
Dia 04/05 - Volume 10
LARGO WINCH, de Philippe Francq e Jean Van Hamme
- A Fortaleza de Makiling
- A Hora do Tigre
Dia 11/05 - Volume 11
O VAGABUNDO DOS LIMBOS, de Godard e Ribera
- A Fissirmá de Musky
- O Tempo dos Óraculos
Dia 18/05 - Volume 12
O ASSASSINO, de Jacamon e Matz
- A Dívida
- Laços de Sangue
Uma referência ainda para o facto de esta colecção, variada e heterogénea, ser aproveitada (também) para concluir/prosseguir séries que por diversas razões (falência da Meribérica, abandono da BD pela Booktree, dificuldade de conseguir co-edições, …) até agora estavam incompletas. O que, apesar das inevitáveis diferenças de formato em relação aos volumes originais, não deixa de ser uma iniciativa louvável, a que os leitores portugueses de banda desenhada não estão de todo habituados.
Leituras relacionadas
ASA,
Os incontornáveis da Banda Desenhada,
Público
01/03/2011
Melhores Leituras
Fevereiro de 2011
Quim e Manecas 1915-1918 (Tinta da China), de Stuart Carvalhais (argumento e desenho) e João Paulo de Paiva Boléo (organização, introdução e glossário)
Armazém Central #3 - os homens (ASA), de Régis Loisel e Jean-Louis Tripp (argumento e desenho)
L'Île aux cent mille morts (Glénat), de Fabien Vehlmann (argumento) e Jason (desenho)
L'orfèvre (Glénat), de Warnauts (texto e desenho) e Guy Raives (texto, desenho e cor)
O livro do buraco (Libri Impressi), de Peter Newell (texto e desenho)
Scenes from an Impending Marriage (Drawn & Quarterly), de Adrian Tomine (argumento e desenho)
TBO – 1972 (Salvat Espanha), de vários autores
Tex Especial Civitelli #1 – O Presságio (Mythos Editora), de Claudio Nizzi (argumento) e Fabio Civitelli (argumento e desenho)
Tif et Tondu Intégrale #2 - Sur la piste du crime (Dupuis), de Tillieux (argumento) e Will (desenho)
Tintin - A estrela misteriosa, O caranguejo das tenazes de ouro, O segredo do Licorne, O tesouro de Rackham o vermelho (ASA), de Hergé
Quim e Manecas 1915-1918 (Tinta da China), de Stuart Carvalhais (argumento e desenho) e João Paulo de Paiva Boléo (organização, introdução e glossário)
Armazém Central #3 - os homens (ASA), de Régis Loisel e Jean-Louis Tripp (argumento e desenho)
L'Île aux cent mille morts (Glénat), de Fabien Vehlmann (argumento) e Jason (desenho)
L'orfèvre (Glénat), de Warnauts (texto e desenho) e Guy Raives (texto, desenho e cor)
O livro do buraco (Libri Impressi), de Peter Newell (texto e desenho)
Scenes from an Impending Marriage (Drawn & Quarterly), de Adrian Tomine (argumento e desenho)
TBO – 1972 (Salvat Espanha), de vários autores
Tex Especial Civitelli #1 – O Presságio (Mythos Editora), de Claudio Nizzi (argumento) e Fabio Civitelli (argumento e desenho)
Tif et Tondu Intégrale #2 - Sur la piste du crime (Dupuis), de Tillieux (argumento) e Will (desenho)
Tintin - A estrela misteriosa, O caranguejo das tenazes de ouro, O segredo do Licorne, O tesouro de Rackham o vermelho (ASA), de Hergé
28/02/2011
Scenes from an Impending Marriage
A prenuptial memoir
Adrian Tomine (argumento e desenho)
Drawn & Quarterly (EUA, Janeiro de 2011)
135 x 150 mm, 56 p., pb, cartonado, 9,95 $USA
De entre os muitos autores – muitos deles então ainda a começar nos quadradinhos – que conheci e descobri no Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto – Miguelanxo Prado, Seth, Roberta Gregory, Chester Brown, Bezian, Dave McKean, Ed Brubaker, Étienne Davodeau, Lewis Trondheim, Marjane Satrapi… - alguns há cuja carreira tenho acompanhado (mais ou menos) de perto. Adrian Tomine é um deles.
Dono de um traço limpo, fino e delicado, expressivo e bastante pormenorizado, onde se adivinha mais trabalho do que espontaneidade, revelou-se em Optic Nerve, um mini-comic auto-editado, que seria depois compilado em “32 stories”, pela Drawn & Quarterly, editora onde o autor retomou o título.
Pouco social, um tanto ou quanto obsessivo compulsivo, a par das suas ilustrações para, entre outros, The New Yorker, tem narrado também em obras como Sleepwalk and Other Stories e no (aclamado) Shortcomings, aspectos corriqueiros (ou nem tanto) do seu dia-a-dia, dando uma visão sensível, algo crítica e, por vezes, mesmo mordaz da sua intimidade e da forma como (não?) se relaciona com os outros, num exercício onde se adivinha muito muito de catarse e que fez dele um dos expoentes mais interessantes da autobiografia em quadradinhos.
Agora, com este (mini-)livro, continuando fiel à temática e à linha condutora que sempre o tem norteado, revela uma faceta menos presente nos títulos anteriores, um sentido de humor ácido e irónico, com o qual narra (e de certa forma desmonta) os preparativos para o seu casamento iminente, numa série de curtos episódios, directos e incisivos. Com os quais ilustra bem, por vezes mesmo de forma incómoda, o grande negócio que é hoje a organização de (qualquer) casamento, onde não podem faltar convites, fotógrafos e cameramen, refeições de arromba, bailaricos, fogo de artificio, DJs e sabe-se lá que mais, transformando num autêntico arraial impessoal aquilo que na origem deveria ser um momento significativo e marcante da vida de um casal.
Se Tomine mantém o seu traço habitual, que funciona perfeitamente apesar do reduzido tamanho das páginas, não deixam de ser curiosos dois piscares de olhos a dois clássicos dos quadradinhos americanos: Familly Circus, de Bill Kean, nalguns gags de imagem única que surgem por entre as curtas narrativas que compõem este livrinho, e o seu choro (p. 29) “à la Peanuts”, de Schulz, que não deixa de fazer pensar que os preparativos para um eventual casamento de um Charlie Brown trintão não andariam muito longe daqueles que Tomine narra.
Se, pessoalmente, não sou grande fã de casamentos (menos ainda dos actuais casamentos…), confesso que sinto alguma inveja dos convidados de Tomine, pois levaram como recordação do evento um comic original com a maior parte das bandas desenhadas agora incluídas neste livro.
Adrian Tomine (argumento e desenho)
Drawn & Quarterly (EUA, Janeiro de 2011)
135 x 150 mm, 56 p., pb, cartonado, 9,95 $USA
De entre os muitos autores – muitos deles então ainda a começar nos quadradinhos – que conheci e descobri no Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto – Miguelanxo Prado, Seth, Roberta Gregory, Chester Brown, Bezian, Dave McKean, Ed Brubaker, Étienne Davodeau, Lewis Trondheim, Marjane Satrapi… - alguns há cuja carreira tenho acompanhado (mais ou menos) de perto. Adrian Tomine é um deles.
Dono de um traço limpo, fino e delicado, expressivo e bastante pormenorizado, onde se adivinha mais trabalho do que espontaneidade, revelou-se em Optic Nerve, um mini-comic auto-editado, que seria depois compilado em “32 stories”, pela Drawn & Quarterly, editora onde o autor retomou o título.
Pouco social, um tanto ou quanto obsessivo compulsivo, a par das suas ilustrações para, entre outros, The New Yorker, tem narrado também em obras como Sleepwalk and Other Stories e no (aclamado) Shortcomings, aspectos corriqueiros (ou nem tanto) do seu dia-a-dia, dando uma visão sensível, algo crítica e, por vezes, mesmo mordaz da sua intimidade e da forma como (não?) se relaciona com os outros, num exercício onde se adivinha muito muito de catarse e que fez dele um dos expoentes mais interessantes da autobiografia em quadradinhos.
Agora, com este (mini-)livro, continuando fiel à temática e à linha condutora que sempre o tem norteado, revela uma faceta menos presente nos títulos anteriores, um sentido de humor ácido e irónico, com o qual narra (e de certa forma desmonta) os preparativos para o seu casamento iminente, numa série de curtos episódios, directos e incisivos. Com os quais ilustra bem, por vezes mesmo de forma incómoda, o grande negócio que é hoje a organização de (qualquer) casamento, onde não podem faltar convites, fotógrafos e cameramen, refeições de arromba, bailaricos, fogo de artificio, DJs e sabe-se lá que mais, transformando num autêntico arraial impessoal aquilo que na origem deveria ser um momento significativo e marcante da vida de um casal.
Se Tomine mantém o seu traço habitual, que funciona perfeitamente apesar do reduzido tamanho das páginas, não deixam de ser curiosos dois piscares de olhos a dois clássicos dos quadradinhos americanos: Familly Circus, de Bill Kean, nalguns gags de imagem única que surgem por entre as curtas narrativas que compõem este livrinho, e o seu choro (p. 29) “à la Peanuts”, de Schulz, que não deixa de fazer pensar que os preparativos para um eventual casamento de um Charlie Brown trintão não andariam muito longe daqueles que Tomine narra.
Se, pessoalmente, não sou grande fã de casamentos (menos ainda dos actuais casamentos…), confesso que sinto alguma inveja dos convidados de Tomine, pois levaram como recordação do evento um comic original com a maior parte das bandas desenhadas agora incluídas neste livro.
Subscrever:
Mensagens (Atom)