04/06/2011

VII Festival de BD de Beja (III)

Foto de Jorge Machado Dias
O VII Festival Internacional de BD de Beja, que está a decorrer naquela cidade alentejana até 12 de Junho, para além da qualidade das suas exposições e da presença de alguns nomes sonantes dos quadradinhos – Jacques de Loustal, Ivo Milazzo, Aleksandar Zograf… - afirma-se cada vez mais como montra por excelência da banda desenhada portuguesa. Não só porque lhe dedica 11 das 17 exposições patentes, mas também porque tem sido escolhido pelos editores independentes para aí lançarem as suas novidades editorais. Este ano não foi excepção, com a apresentação de oito novos títulos.
Se formatos e conteúdos são díspares, de comum a todos é a assinatura portuguesa, as tiragens geralmente baixas e a opção pela distribuição em eventos do género, algumas lojas especializadas e a venda mão a mão, como forma de contornar os altos custos associados à distribuição.
Entre as novidades agora apresentadas, destaca-se “Li Moonface” (pedranocharco), uma novela gráfica de Fernando Relvas, um autor que marcou a BD nacional nos anos 80 e 90 do século passado, nas páginas da revista Tintin e do semanário Se7e. A mesma editora publicou também o 27º número do “BDJornal” que, a par de crítica e actualidade, inclui uma longa entrevista com Relvas e diversas bandas desenhadas.
As edições colectivas marcaram também presença em Beja com o lançamento da “Zona Gráfica” #2 (oitavo volume lançado pela Associação Tentáculo em menos de dois anos), “Venham +5” #8 (da Bedeteca de Beja, que engloba maioritariamente trabalhos dos membros do atelier Toupeira que funciona na cidade durante todo o ano) e “Futuro Primitivo” (da Chili com Carne). Quanto à El Pep regressou à edição com três títulos: “Mocifão: Dia a dia, com azia!”, de Nuno Duarte, “Cidade suja”, de Pepedelrey e “Sketchbook”, de Pedro Poitier.
São propostas diversas que mostram a actual vitalidade da BD nacional, embora à margem das principais editoras.
Quanto ao festival propriamente dito, tem no seu programa para este fim-de-semana, uma “Maratona de 12 horas a desenhar ao vivo”, entre as 14h de hoje e as 2h de amanhã, domingo, dia em que está prevista, para as 21h30, a exibição do filme “O enigma do portal – thru the Moebius strip”.

03/06/2011

O Lince Ibérico

A sua história em Portugal
Bruno Pinto (argumento)
José Garcês (ideia original e desenho)
Liga para a Protecção da Natureza (Portugal, Maio de 2011)
210 x 300 mm, 28 p., cor, brochada com agrafos


Este livro vai ser apresentado hoje, em Moura, na Adega da Mantana, pelas 15h30. Às 16h15, no Espaço Inovinter, terá lugar a inauguração de uma exposição com a capa e todas as pranchas que constituem o álbum e uma sessão de autógrafos com os autores, Bruno Pinto e José Garcês.
Segundo a organização, “a exposição e o lançamento do álbum chegaram a estar programados para o Moura BD mas, por acordo entre as entidades intervenientes no projecto, acabaram por ser adiados para a data agora anunciada”.
A exposição decorrerá até 12 de Junho, das 09h30 às 12h30 e das 14h às 17h30.
Para a realização desta obra, José Garcês trabalhou a partir de fotografias e vídeos sobre o lince ibérico, baseando-se também na sua larga experiência de desenho de animais a partir de modelos vivos e de bandas desenhadas animalistas, pelo que não surpreende que as pranchas que mais se destacam sejam aquelas que têm o lince como protagonista.
Assente no seu traço realista, rigosoro e personalizado, e tendo como ponto de partida uma sessão de esclarecimento, “Lince Ibérico: a sua história em Portugal”,  traça, com recurso a sucessivos flashbacks, o percurso do lince ibérico em Portugal (e a espaços também em Espanha), desde a Idade Média até aos nossos dias. O resultado final é uma obra com evidente teor pedagógico, mas de leitura fluida e acessível, que explica as razões porque o lince está hoje em risco de extinção e as iniciativas em curso para tentar evitar que isso aconteça.


A propósito da iniciativa, e para enquadrar esta edição no âmbito do Projecto Life Habitat Lince Abutre, coloquei três questões a Filipa Loureiro, da Liga para a Protecção da Natureza:


As Leituras do Pedro - Como nasceu este projecto?
Filipa Loureiro (LPN) - O lince-ibérico (Lynx pardinus) é um animal endémico da península ibérica, cuja distribuição foi já em tempos generalizada por todo Portugal e Espanha. No entanto, devido à fragmentação e perda do seu habitat natural e ao declínio das populações da sua principal presa, o coelho-bravo, este felino tornou-se muito ameaçado. No final dos anos 70, as populações de lince-ibérico encontravam-se já bastante reduzidas, sendo já óbvio o seu declínio. Por esta altura, a LPN - Liga para a Protecção da Natureza abraçou esta causa e iniciou o seu trabalho na conservação do Lince-ibérico, lançando junto com outras entidades uma campanha Nacional, por muitos de nós ainda hoje recordada, “Salvemos o Lince e a Serra da Malcata”. Em 2004, em parceria com a FFI (Fauna and Flora International), a LPN deu início ao Programa Lince, cujo principal objectivo é assegurar a conservação e a gestão a longo prazo de áreas com habitat Mediterrânico adequado ao lince-ibérico em Portugal.
Tendo em conta todo este historial, há algum tempo atrás, o célebre ilustrador José Garcês contactou a LPN com o intuito de realizar uma banda desenhada sobre o Lince ibérico. A sua ideia original foi então trabalhada pelo biólogo Bruno Pinto, que escreveu o argumento e foi conseguido financiamento (Projecto LIFE-Natureza, Habitat Lince Abutre, co-financiado a 75% pela Comissão Europeia) para a sua realização. Agora, lança-se assim a banda desenhada “O lince-ibérico: a sua história em Portugal”.
ALP – Qual o seu objectivo?
FL - O principal objectivo desta BD é a divulgação e sensibilização para a conservação do lince-ibérico de um público-alvo maioritariamente constituído por jovens adolescentes e adultos. No âmbito do Projecto LIFE Habitat Lince Abutre serão distribuídos exemplares pelos alunos das escolas das regiões da área de intervenção do Projecto (parte do Alentejo e Algarve) bem como pelas bibliotecas destas áreas.


ALP – Qual a situação actual de Lince-Ibérico?
FL - Actual-mente, existem apenas cerca de duas centenas de indivíduos na Natureza, estando estes maioritariamente distribuídos em duas populações localizadas na Andaluzia, em Espanha (na Serra Morena e na região de Doñana), as únicas onde está comprovada a sua reprodução.
Em 2008 foi aprovado o Plano de Acção para a Conservação do Lince-Ibérico em Portugal, uma importante ferramenta legal do estado português para preservação desta espécie.
No nosso país, para além de continuarem a existir relatos que indiciam a presença deste felino de forma ocasional em algumas regiões, foi detectado por telemetria em 2010, um animal proveniente de Espanha. No entanto, actualmente não é conhecida em território nacional nenhuma população. Ainda assim, é importante referir que existem no nosso país diversas áreas com habitat de elevada qualidade, que são importantes manter, e que se forem alvo de medidas de gestão apropriadas, poderão contribuir para a recuperação da espécie a médio/longo prazo. É precisamente este o trabalho do Programa Lince e do seu novo Projecto LIFE Habitat Lince Abutre.

02/06/2011

Astérix

Site em português
Desde ontem, o site oficial de Astérix passa a contar com mais uma língua, o português, que se junta assim aos outros idomas que já estavam disponíveis: francês, alemão, espanhol, inglês e holandês.
A novidade serviu para assinalar o Dia Mundial da Criança – pois o pequeno guerreiro gaulês continua a ser garantia de divertimento e boas gargalhadas também para os mais novos – e é mais uma das manifestações da comemoração dos 50 anos de publicação em Portugal do herói criado por René Goscinny e Albert Uderzo.
O desejo “de ter, no site oficial Astérix, a informação em português, acompa-nhou-me durante algum tempo”, refere Maria José Pereira, responsável do departamento de BD das Edições ASA, que editam o herói no nosso país. E acrescenta, “a fase mais gratificante de trabalhar a BD e um personagem como Astérix, é mesmo a fase de execução. Embora seja a fase mais  “dolorosa” (porque, por Tutatis,  às vezes as ideias não ocorrem ao ritmo que desejamos e o trabalho não flui com a graciosidade que ambicionamos) é também a fase que, por ter uma componente criativa, se torna para mim a mais agradável”.
Agora, a visita virtual em português permite recordar de forma simples e acessível o percurso do herói gaulês através do “arquivo secreto” de Albert Uderzo e das informações detalhadas (resumo, protagonistas, datas da primeira publicação em revista e em álbum, adaptações em animação ou filme, título nos diversos idiomas, etc.) sobre cada um dos 34 livros existentes. E, a título de curiosidade, refira-se que as aventuras de Astérix, Obélix, Ideiafix, Panoramix e dos outros gauleses que são o terror dos romanos no distante ano de 50 a.C., estão traduzidas em 107 línguas e idiomas (entre as quais o português e o mirandês), num total de quase 1500 edições diferentes!
O site tem também jogos, que permitem passar algumas horas no universo do herói, testando os conhecimentos do internauta sobre Astérix – “Convido-os a testar o Geoteste da Antiguidade. Então? Quantos pontos fizeram?” desafia Mª José - uma enciclopédia e um museu virtual com muitos dos produtos derivados - figuras, selos de correio, calendários, jogos, dentífricos, etc. – que a série inspirou. Tudo motivos suficientes, na opinião de Mª José Pereira, para cada um “reencontrar neste site a mágica poção presente em todas as aventuras de Astérix: o inconfundível aroma dos ingredientes que conduzem de regresso à infância”.

01/06/2011

Guerra Colonial

Na Banda Desenhada Portuguesa

Apesar da História pátria ter sido sempre uma temática importante na banda desenhada portuguesa, a guerra colonial (tal como o período revolucionário que se seguiu ao 25 de Abril), embora tematicamente muito rica, a vários níveis, teve uma passagem mais ou menos discreta pelos quadradinhos nacionais, reflexo sem dúvida da forma complicada como a própria sociedade lidou com o tema.
Na maior parte dos casos, as referências à guerra colonial - as suas origens, as suas consequências – limitam-se a apontamentos mais ou menos breve nas abordagens históricas à época contemporânea.
É o que acontece, com algumas nuances, na “História de Portugal em B.D.” (ASA, 1989), de José Garcês e Carmo Reis, “25 de Abril – O renascer da Esperança” (SporPress, 1999), de Manuel de Sousa e Ernesto Neves, “A Revolução desenhada” (Afrontamento, 2000), de José Carlos Fernandes, João Miguel Lameiras e João Ramalho Santos, “Memória” (Má Criação, 2004), de Cristina Sampaio e Rui Cardoso Martins ou “Salazar – Agora, na hora da sua morte” (Parceria A.M. Pereira, 2006), de Miguel Rocha e João Paulo Cotrim. Ou ainda, num registo satírico, em “O País dos Cágados” (edição de autor, 1989), de Artur Correia e António Gomes de Almeida.
O (quase) endeusamento das figuras nacionais, que caracteriza muita da BD histórica nacional, está presente nas obras anteriores ao 25 de Abril, como acontece com “O Ericeira”, a biografia de um soldado com várias comissões em África onde acaba por morrer vítima de uma explosão, da autoria de Baptista Mendes, publicada (sem surpresa) na Revista da Armada, em 1972.
Casos reais, mas de sentido oposto, bem mais humanos e pacifistas, estiveram também na origem de “7 72” (Azul BD3 #2, Jogo de Imagens, 1994), de Diniz Conefrey, que conta a morte de “um soldado que nunca disparou um tiro e ia a cantar”, e de “Angola 1971” (Visão #7, Edibanda, 1975), de Pedro Massano, que narra o abate, por engano, de uma negra e do seu filho de colo, por um soldado português.
A mesma revista “Visão” publicaria “Matei-o a 24”, logo a partir do seu primeiro número, uma das abordagens mais marcantes ao tema, apesar de ser uma história que ficou incompleta. Desenhada por Victor Mesquita, a partir de um argumento de Machado da Graça, num estilo realista, a cores, com uma planificação muito dinâmica, esta BD, é narrada na primeira pessoa por Eduardo, recém-regressado à vida civil após cumprir a sua comissão em Moçambique, com evidentes sintomas daquilo que hoje se designa por Síndroma de Guerra.

Nela, descreve como, após ter sido dado como morto na sequência de um ataque, se vê frente a frente com um guerrilheiro negro – um “turra”, como eles eram chamados em África pelos portugueses - e como conseguiram ultrapassar a rivalidade inicial para se ajudarem mutuamente. Esta BD teria apenas 12 pranchas publicadas até ao quinto número da publicação. Depois, desentendimentos internos levaram à saída do seu autor, ficando os leitores sem saber o destino de Eduardo e do parceiro, embora o título o deixasse adivinhar...
A mesma revista “Visão”, criada para divulgar de forma digna “Uma nova banda desenhada portuguesa”, claramente marcada por ideias de esquerda e pela sede de liberdade que atravessava o país, voltaria de alguma forma ao tema, ao publicar uma biografia aos quadradinhos de Amílcar Cabral, embora de origem cubana.
Publicada directamente em álbum, “Operação Óscar” (Meribérica/Líber, 2000), de José Ruy, narra a relação amorosa entre um oficial português e uma negra, abarcando o período desde 1962 até à revolução de Abril, cruzando a ficção com personagens reais como Salgueiro Maia e Otelo Saraiva de Carvalho.
“Quem vem e atravessa o rio” (Quadrado #3, 2ª série, ASIBDP, 1996) de Arlindo Fagundes e Pedro Sousa Dias, mostra em tom mordaz os efeitos da guerra a longo prazo, quando o herói, Pitanga, encontra um ex-PIDE prestes a suicidar-se na ponte Luiz I, dividido entre uma atitude racista e os remorsos do que fez em África.
E se a maior parte das abordagens da BD nacional à guerra colonial se limita à simples referência histórica ou opta pela sua condenação, “Mamassuma – Comandos ao ataque” é a excepção à regra.
Lançado em 1977, num formato entre a revista e o mini-álbum, com uma tiragem anunciada de 30 mil exemplares, é uma criação de Vassalo Miranda que surpreende pelo tom assumido, se tivermos em conta o contexto, tendo sido por muitos apodada de “fascista” e “reaccionária”

Fazendo dos comandos heróis, nos moldes tradicionais da banda desenhada clássica de aventuras, Miranda usa a sua BD para criticar abertamente a descolonização levada a efeito por “alguns traidores”, supostamente aliciados pelas “grandes potências anti-europeias” – Rússia, China, Estados Unidos – “inspiradas por monstruosa ambição”, após o terrorismo nos territórios coloniais portugueses ter sido “completamente derrotado pela resistência das populações do Ultramar e pelo Exército Português”.
A acção, ainda segundo o autor, decorre em “Angola, um país luso-africano (…) onde todos viviam em paz e segurança” pois “as arestas étnicas e sociais estavam a ser limadas”. Este paraíso idílico, no entanto, em 1961 seria “atacado por grupos terroristas (…) de marginais e paranóicos, tanto africanos como europeus – que a traição não distingue raças”.
Ao longo das seis dezenas de páginas do livro, com uma linguagem viva e bem realista os comandos têm que libertar um aviador feito prisioneiro pelos “estúpidos e drogados terroristas do M.P.L.A.”, enfrentando-os sem piedade bem como os “comunistas de m…” que constituíam a tripulação de um cargueiro russo infiltrado em território angolano.
Vassalo Miranda, ele próprio ex-comando na Guiné, voltaria ao tema com “Operação Gata Brava” e “Operação Trovão” (ed. Intermal, 1994 e 1995) a partir de argumentos de Alpoim Calvão.
Não sendo muitos, estes exemplos revelam no entanto a abordagem diversificada que a banda desenhada permite, ao nível de temáticas, técnicas narrativas e estilos gráficos.


Nota 1: Por motivos evidentes, não foram referidas neste texto as histórias publicadas ao longo de 1999 no jornal Público, no projecto “25 de Abril, 25 Anos, 25 Bandas Desenhadas”. Pelo menos duas delas, “Memória”, de Cristina Sampaio e Rui Cardoso Martins, e “Pipu” de Daniel Lima, (ambas publicadas no mini-álbum “25 de Abril Sempre!”, da Má Criação, 2004) contêm breves referências à guerra colonial, tema a que Diniz Conefrey dedicou integralmente “A Serpente”.
Fica o registo para lamentar mais uma vez que esse projecto tenha ficado inédito em livro.


Nota 2: para aprofundar o tema, sugiro a leitura do catálogo “Uma Revolução Desenhada – O 25 de Abril e a BD” (Afrontamento/Centro de Documentação 25 de Abril, 1999), da autoria de João Miguel Lameiras, João Paulo Paiva Boléo e João Ramalho Santos, que serviu de ponto de partida para este texto.








(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 31 de Maio de 2011, integrado numa série de artigos sobre a Guerra Colonial)

31/05/2011

Melhores Leituras

Maio 2011


Batman 95 (Panini Brasil), vvaa

Ele foi mau para ela (Libri Impressi), de Milt Gross

Le désespoir du singe #1 – La nuit des lucioles (Delcourt), de Peyraud (argumento) e Alfred (desenho)


Le masque du fantôme #1 – Le château des ombres (Delcourt), de Fabien Grolleau


Mezek (Le Lombard), de Yann (argumento) e Juillard (desenho)


Os Incontornáveis da BD #7 – Murena (ASA + Público), de Dufaux (argumento) e Delaby (desenho)


Os Incontornáveis da BD #8 - Max Fridman (ASA + Público), de Giardino


Os Incontornáveis da BD #12 – O Assassino (ASA + Público), de Jacamon (argumento) e Matz (desenho)


Théodore Poussin – L’Intégrale #1 (Dupuis), de Yann (argumento) e Frank Le Gall (argumento e desenho)


Tintin #13 – As 7 bolas de cristal, #14 – O Templo do Sol e #15 – No país do ouro negro (ASA), de Hergé


Universo Marvel #3 (Panini), vvaa

30/05/2011

Turma da Mônica Jovem #34

Estúdios Maurício de Sousa
Panini Comics (Brasil, Maio de 2011)
160 x 210 mm, mensal, 128 p., preto e branco, brochada, 2,35 €


1960: nasce no Brasil, nas tiras diárias de jornal protagonizadas pelo Bidú, Cebolinha, um menino com meia dúzia de anos, cinco fios de cabelo na cabeça e dificuldade em pronunciar os “rr” que sistematicamente troca por “ll”.
1963: no mesmo suporte, aparece pela primeira vez Mônica, uma menina da mesma idade, dois dentes salientes, muita força e a companhia constante de um coelhinho de peluche chamado Sansão.
2008: Mônica e Cebolinha, depois de anos de um imenso sucesso, muita amizade e ainda mais rivalidade, marcados pelo falhanço de planos infalíveis e grandes tareias com o coelhinho, (finalmente) cresceram. Vantagem do tempo passado nos quadradinhos, mais de quarenta anos depois são apenas adolescentes. Ela está bonita e continua decidida; ele, agora chamado Cebola, só troca os “rr” pelos “ll” quando está nervoso. A estreia, a preto e branco e em estilo próximo do manga (BD japonesa) acontece na revista Turma da Mônica Jovem, que de imediato se torna um enorme sucesso de vendas no Brasil, com presenças sucessivas nos tops de vendas de bancas e livrarias.
2011, Maio, 24: Chega às bancas brasileiras o nº34 da Turma da Mônica Jovem, alguns dias mais cedo do que o anunciado, na sequência de uma intensa campanha de marketing, essencialmente desenvolvida online. Inicialmente assente numa imagem que mostrava Sansão, o tal coelhinho de peluche abandonado, ganhou (mais) força mediática quando foi revelada a capa que mostra um intenso beijo entre Mônica e Cebola.
Não que fosse o primeiro. Esse, mais casto e rápido, aconteceu na TMJ #4, no calor do final de uma aventura emocionante, que fez da revista recordista com quase meio milhão de exemplares vendidos!
Depois, já houve mais alguns, leves e rápidos. Mas agora, numa história intitulada “Quer namorar comigo?”, Cebola finalmente ganhou coragem e faz o pedido, para não perder a amiga para um rival, revelou Maurício de Sousa, remetendo para a leitura da revista a descoberta da resposta da Mônica.
Sendo positiva, como a capa parece indicar, implicará um reajuste na estrutura da série – em parte assente na rivalidade/atracção – entre os dois jovens. O que poderá servir de mote para Maurício, que lança algumas pistas – mais dúvidas do que certezas - sobre o futuro do “casal” no editorial da revista, que pode ser lido abaixo, explorar outras temáticas mais sensíveis relacionadas com as relações na adolescência, pois esse era, afinal, um dos objectivos da publicação quando foi criada.
Mas se os brasileiros já estão a descobrir a resposta da Mônica (um sim intenso ou uma forte coelhada?), numa edição com tiragem base de 500 mil exemplares, os portugueses terão que esperar até Outubro, quando chegará às bancas e quiosques nacionais este número da Turma da Mônica Jovem.
(Versão revista e modificada do texto publicado no Jornal de Notícias de 30 de Maio de 2011)
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