06/04/2012

Marjane Satrapi

“A banda desenhada é um meio de narração muito específico e muito especial”










Há cerca de 11 anos, aquando da passagem da iraniana Marjane Satrapi pelo XI Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto, de que foi uma das convidadas e onde os originais de “Persépolis”  estiveram expostos, tive oportunidade de conversar com ela.
A propósito da recém-edição portuguesa, pela Contraponto, daquela obra de referência, aproveito para recordar essa entrevista com Satrapi, originalmente publicada no Jornal de Notícias de 7 de Outubro de 2001.

Jornal de Notícias – Como é que decidiu fazer banda desenhada?
Marjane Satrapi – A banda desenhada é um meio de narração muito específico e muito especial, a meio caminho entre o mundo das imagens e o mundo das palavras. Na literatura tudo funciona ao nível da imaginação e, por exemplo, no cinema, ao nível visual. A banda desenhada fica a meio do caminho entre ambas e funciona a nível visual, mas exige também o uso da imaginação para entender a sequência da narrativa. Gosto de desenhar e de contar histórias e, por isso, a BD é o meio de expressão que me convém.

JN – Não leu BD quando era pequena, pois ela não existia no Irão. Como é que descobriu esta arte?
MS – Descobri a banda desenhada quando cheguei a França há sete anos [1994]. A primeira obra que me marcou, lembro-me bem, foi “L’ascension du haut mal”, de David B., uma obra muito específica, muito gráfica, auto-biográfica, para adultos. Até então, a minha visão da BD limitava-se a Astérix, Tintin, Lucky Luke, muito caricaturais, humorísticas… Com “L’ascension…”, vi que se podiam fazer coisas diferentes, que se podia fazer BD para adultos. Depois encontrei pessoas como [Christophe] Blain, [Joann] Sfar, David B., [Emmanuel] Guibert, e a proximidade com eles e com as suas obras deu-me vontade de fazer BD. Embora inicialmente os achasse malucos. Eu fazia ilustrações para livros infantis e 13 ilustrações eram um livro. Em BD, 13 desenhos são uma ou duas páginas. Não percebia porque tinham tanto trabalho. Depois, descobri as possibilidades narrativas da BD e senti que era aquilo que eu queria fazer.

JN – Normalmente, diz-se que quem não leu banda desenhada em pequeno não sabe como a ler quando é adulto. Isso aconteceu consigo?
MS – Sem dúvida. Quando comecei a ler BD, primeiro, via todas as imagens, depois lia o texto todo, e depois é que olhava para o conjunto! Ler BD é uma coisa que é preciso aprender a fazer. Mas é como tudo.

JN – “Persépolis” é a sua primeira BD?
MS – Sim. Antes tinha sido grafista, tinha feito desenho de imprensa, algumas ilustrações para livros infantis, mas nunca tinha vendido nenhuns, porque tinha pouca autoconfiança e apresentava-me muito mal aos editores, desvalorizava as minhas próprias obras…

JN – “Persépolis” recebeu em Angoulême o “Alph-Art” para o melhor primeiro álbum. Isso foi importante?
MS – Foi muito importante num só aspecto: credibilizou-me aos meus próprios olhos. Fez-me acreditar em mim. Depois dele ganhei confiança e vendi facilmente os trabalhos que tinha feito anteriormente.

JN – Porque é que há tão poucas mulheres a fazer BD?
MS – A BD foi durante muitos anos uma leitura de distracção e era suposto as mulheres aprenderem a tocar piano e a distraírem-se e a cozinhar e não distraírem-se. Por outro lado, as heroínas apresentadas não eram mulheres com quem as leitoras se gostassem de identificar. A primeira heroína francesa, Bécassine, por exemplo, era um pouco pobre de espírito. As outras heroínas tinham grandes seios e pernas longas e também não eram personagens com quem as mulheres se identificassem. Portanto, a BD não era uma leitura que se destinasse a nós. E ainda há outro aspecto: a BD é um trabalho obsessivo e eu acho que os homens têm uma obsessão criativa maior do que as mulheres, que desde sempre tiveram de se preocupar com outras coisas, como tratar das crianças, etc.

JN – As mulheres trazem uma sensibilidade diferente À BD?
MS – Acho que não. A discussão é a mesma que em relação à literatura feminina. Acho que não há razão para fazer essa diferenciação. Alguém disse que a literatura não tem sexo e com a BD passa-se o mesmo.

05/04/2012

Persépolis






  








Marjane Satrapi
Contraponto (Portugal, 5 de Abril de 2012)
150 x 235 mm, 352 p., pb, brochado
19,90 €

04/04/2012

Thorgal - Aarícia








 


Jean Van Hamme (argumento)
Grzegorz Rosinski (desenho)
ASA + Público (Portugal, 4 de Abril de 2012)
225 x 295 mm, 48 p., cor, cartonado
4,90 €



1.      Este é o primeiro tomo da nova parceria entre a ASA e o jornal Público, vendido hoje com o jornal, dedicado a Thorgal , uma série magnífica que, situada no tempo dos vickings, combina a grande aventura com um tom místico e fantástico, que lhe conferem uma aura única.
2.      Como primeira nota prévia ao que de seguida vou escrever, quero deixar claro que considero esta uma das melhores escolhas que podia ter sido feita dentro da linha de banda desenhada popular que tem norteado as colecções conjuntas da ASA e do Público.
3.      E, como segunda nota prévia, afirmo que concordo com a opção editorial feita de começar esta colecção – constituída apenas por volumes inéditos em português - no tomo #14 da saga original…
4.      … porque os volumes #1 a #3 e #7 a #10 já tiveram edição portuguesa…
5.      … porque o #4 foi distribuído entre nós em edição brasileira…
6.      … e integra o ciclo de Brek Zarith concluído nos tomos #5 e #6…
7.      … tal como os tomos #11 a #13 fazem parte do ciclo do País Qâ, iniciado no tomo #9 e que a ASA conta concluir até meados de 2013.
8.      Mas, apesar de tudo o que atrás escrevo, acho que este não deveria ter sido o tomo inicial da colecção.
9.      Isto, porque acredito que a venda destas colecções de BD com o jornal pretendem mais do que atingir aqueles que já são/foram leitores de quadradinhos…
10. … ou seja, também conquistar novos leitores de banda desenhada…
11.  … e por isso não me parece que Aarícia seja o volume mais indicado para introduzir a série a quem não a conhece.
12.  Tal como “O Filho das Estrelas” (tomo #7), “Aarícia” é um conjunto de histórias curtas.
13.  Aquele abordava a infância de Thorgal, o actual volume, com histórias publicadas entre 1984 e 1988, narra episódios marcantes da infância da sua esposa: a morte da mãe; a morte de Leif Haraldson, pai adoptivo de Thorgal e a consequente coroação de Gandalf, o louco; a reintegração de Thorgal no seio da aldeia; a utilização das jóias com que a deusa Frigg a presenteou aquando do seu nascimento.
14.  Entre a ternura própria das crianças, algum humor, o início das intrigas em torno de Thorgal, a exploração da mitologia nórdica e o fantástico, servem acima de tudo para justificar a ligação entre os dois desde criança, explicar o posicionamento de Thorgal na comunidade vicking que o acolheu e reforçar o protagonismo que Aarícia vai conquistando ao longo desta longa saga.
15.  No entanto, falta-lhe o tom mais adulto presente nos álbuns “tradicionais” da série que fizeram de Thorgal um caso único no panorama da BD francófona e que teriam um maior potencial para conquistar novos leitores.
16.  Por isso, em meu entender – sem saber se isso era contratualmente exequível – penso que teria sido mais proveitoso deixar este tomo para mais tarde – mesmo que mantivesse o número 1 na lombada, para respeitar a sequência original – e introduzir Thorgal aos leitores do Público na notável exploração da temática “saltos temporais” que é “O Senhor das Montanhas” (volume #2 desta colecção, disponível na próxima quarta-feira, quando aqui escreverei sobre ele).
17.  Por isso, recomendo aos que fiquem desiludidos com “Aarícia”, um pouco de paciência ou que concedam uma segunda oportunidade a Thorgal, porque os próximos volumes – todos eles completos em si mesmo, apesar de constituírem peças de um mosaico mais vasto - já serão bem mais cativantes…
18.  E, no tomo #7 da colecção, “A marca dos banidos” (#20 na numeração original), iniciar-se-á o magnífico ciclo dedicado ao pirata (…?) Shaigan, a vários níveis cativante e surpreendente, com sequências memoráveis e um desfecho de todo inesperado, que ocupará quatro tomos que merecem um lugar de grande destaque no conjunto desta série.
19.  Que, reforço, é muito aconselhável e recomendável.

03/04/2012

Provérbios... com gatos













A ideia de que, o espaço que os livros e os eventos de BD ocupam nas prateleiras e nas agendas das livrarias é muito exímio (o melhor é sempre possível!) tem-me acompanhado nos últimos tempos, um pouco como eco das mensagens que me chegam directamente ou que leio aqui e acolá neste ou naquele blogue.
Quero por isso partilhar convosco a notícia de que estamos a desenvolver, em conjunto com os nossos colegas responsáveis pelas Livrarias Leya, e em algumas lojas que são da sua responsabilidade directa, um Espaço BD.
Trata-se de um espaço de mostra/venda de livros, mas pretende-se que se torne, gradual e simultaneamente, um espaço de actividades, de convívio e de troca de ideia.
O primeiro desses espaços será localizado em Lisboa, na Livraria LEYA na BUCHHOLZ (Rua Duque de Palmela, 4) e será “inaugurado” no próximo dia 3 de Abril, aquando do lançamento do livro “Provérbios…com Gatos”, cujo convite vos envio em anexo.
Na ocasião, e porque a autora do livro, a Catherine Labey, é também pintora de formação, inauguraremos uma exposição/venda das suas aguarelas.
Esta exposição ficará patente ao público até Maio.
Quanto a nós, pretendemos congregar e reunir neste espaço, pelo menos uma vez por mês, todos aqueles que desenvolvam qualquer actividade em torno da 9ª arte, sejam autores, editores, críticos, bloguistas…
Estou disponível para vos ouvir e fico à espera das vossas propostas.

Alguns repararão na data em que marcámos este primeiro evento: a primeira 3ª feira do mês. Esta data foi escolhida porque a consideramos emblemática para a BD, pois é uma data associada à Tertúlia BD Lisboa, da responsabilidade do Geraldes Lino.
A sua escolha é também uma “homenagem” ao trabalho de divulgação que o Geraldes Lino tem feito em prol da Banda Desenhada.
Assim, no dia 3 de Abril propomos a todos que a Tertúlia BD Lisboa comece mais cedo, na Livraria Leya na Buchholz, seguindo-se depois o habitual jantar do restaurante A Gina, do Parque Mayer.
Até terça-feira.

(Texto de Maria José Pereira)


02/04/2012

Melhores Leituras

Março 2012



Tsugumi Ohba e Takeshi Obata


Demain les oiseaux (Delcourt)
Osamu Tezuka


Roger Langridge e Filipe Andrade


Laudo Ferrera e Omar Viñole


L’Île au trésor (Futuropolis)
Sylvain Venayre et Philippe Stassen


Léonard Chemineau


Nanairo Inko (Asuka)
Osamu Tezuka


María e Miguel Gallardo


20 Ans Fermé (Futuropolis)
Sylvain Ricard e Nicoby


Thorgal #1 a #14 (Bertrand, Futura, VHD diffusion, Le Lombard, ASA)
Jean Van Hamme et Grzegorz Rosinski

01/04/2012

Banzai #2

















O segundo número da revista Banzai, que é editada pelo projecto NCreatures, é apresentado hoje, a partir das 17h, na FNAC de Santa Catarina, no Porto.
Na altura estarão presentes Manuela Cardoso, Cristina Dias e Marta Patalão, três das autoras das histórias que têm sido publicadas pela Banzai, dedicada ao género manga.
Publicação trimestral – a Banzai #1 foi lançada no final de 2011 -, de venda exclusiva nas lojas FNAC e preço de 5,30 €, a revista tem capa a cores e 100 páginas a preto e branco que, neste segundo número, mais uma vez, são preenchidas com bandas desenhadas de autoras portuguesas, com uma única excepção: a sueca (luso-descendente) Natália Batista, que assina a BD “Miau Miau”, bem como o segundo capítulo de “Aprender manga”, onde ensina como desenhar o corpo humano.
No sumário da Banzai #2 encontramos igualmente “The Mighty Gang”, BD em continuação de Joana Rosa Fernandes, “Kuroneko”, de Cristina Dias, “7 Pecados”, de Marta Patalão, obra vencedora das 24 h de Manga 2011, “Banzai@Curto-Circuito, de Manuela Cardoso, Joana Rosa Fernandes e Cristina Dias, desenhada em directo no programa televisivo Curto-Circuito, e “Zphyr”, de Manuela Cardoso.
Mais informações disponíveis no site da Banzai.

31/03/2012

Selos & Quadradinhos (76)

Stamps & Comics / Timbres & BD (76)

 


Tema/subject/sujet: Thorgal
País/country/pays: Bélgica/Belgium/Belgique
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: Janeiro/Jannuary/Janvier 2007 

São selos DuoStamp belgas, de colecção, de tiragem limitada (e custo acrescido), divididos ao meio: à direita o símbolo dos correios belgas, à esquerda o tema. 

Ils sont timbres DuoStamp de Belgique, de collection, en édition limitée (et bien payée), divisé en deux: à droite le symbole de la poste belge, à gauche le thème choisi. 

They are Belgian DuoStamp collectible stamps, from limited edition, divided in half: at right, the symbol of the Belgian post; at left the topic.

30/03/2012

Mariko Parade





 



Colecção écritures
Frédéric Boilet e  Kan Takahama (argumento e desenho)
Casterman (França, 12 de Setembro de 2003)
173 x 240 mm, 184, pb e cor (12 p.), brochada com badanas
13,50 €




De que são feitas as relações? O que as alimenta? O que as mantém? O que as mina? O que as destrói?
“Mariko Parade”, de Frédéric Boilet e Kan Takahama, responde a estas perguntas. Ou melhor, indica pistas, adianta hipóteses. Boas ou más, depende de quem as lê e de como as interpreta.
Porque o livro, diga-se desde já, assume-o Takahama no prefácio, não conta nada, não tem princípio, meio e fim. Ou melhor, tem meio, pois apanhámos a história em andamento e somos apeados antes que ela acabe.
Por isso, também, “Mariko Parade” é um livro estranho. E também pela forma como são encadeadas na sua narrativa principal, as histórias curtas que Boilet foi publicando no Japão ao longo dos anos, como se assim tivessem sido concebidas.
Obra de contornos autobiográficos, conta a relação de um autor de BD (Boilet, francês, radicado no Japão há alguns anos) com a sua modelo (e companheira, Mariko) vinte anos mais nova. E conta-nos como esta, no seguimento de uns dias de férias anuncia que vai partir para os Estados Unidos, para estudar durante dois anos. Que vai partir no dia seguinte.
E o “nada” que nos é contado, são esses dias de férias. Calmos sossegados, aparentemente apaixonados às vezes, vazios outras. Um “nada” realçado pela forma lenta como a história flui. Lentidão consciente, que é acentuada pelos inúmeros pormenores que são objectos de vinhetas. Como um anúncio num jornal, uma folha, uma flor, um pé, descalço ou calçado, uma nuvem.
Tudo “nadas”, pequenos nadas, que às vezes se tornam tão importantes. Como os pequenos nadas que (também) mantêm as relações, embora possam parecer insignificantes. 

(Texto publicado no Jornal de Notícias de 18 de Outubro de 2003)


Curiosidade
- Este é mais um tomo da colecção écritures, já diversas vezes presente aqui As Leituras do Pedro, que completou 10 anos de bons serviços no passado dia 14 de Março. Conto voltar a ela, repetidamente, nas próximas semanas.


29/03/2012

Às Quintas Falamos de BD

Construções de Armar - Homenagem a António Velez


Os encontros no CNBDI continuam a marcar presença, agora na última quinta-feira de cada mês.
Assim, hoje dia 29 de Março, pelas 21h00, no Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem terá lugar mais uma edição de Às Quintas Falamos de BD, com o encontro Construções de Armar - Homenagem a António Velez.
Para a ocasião Dâmaso Afonso e José Ruy recuperaram a única entrevista conhecida de António Velez. São 11 minutos que reconstituem o significado e a memória das construções de armar em Portugal e o pretexto para mais um encontro no CNBDI.
Na última quinta-feira do mês convidamo-lo a tomar café connosco.


28/03/2012

Thorgal















A ASA em parceria com o jornal Público vai começar na próxima semana uma nova colecção de banda desenhada dedicada a Thorgal. Publicada semanalmente à quarta-feira, terá no total 16 álbuns de capa dura, todos inéditos em português, correspondentes aos volumes 14 a 29 da série original.
O primeiro custará 4,90 €., sendo o preço dos restantes 7,90 €. Os títulos anunciados são os seguintes:

Aarícia
O Senhor das Montanhas
Loba
A Guardiã das Chaves
A Espada-Sol
A Fortaleza Invisível
A Marca dos Banidos
A Coroa de Ogotaï
Gigantes
A Jaula
Aracnéa
A Peste Azul
O Reino sob a Areia
O Bárbaro
Kriss de Valnor
O Sacrifício

Thorgal, que há poucos dias completou 35 anos, pois a sua estreia deu-se a 22 de Março de 1977, no Tintin belga, é um dos maiores sucessos da banda desenhada de aventuras francófona, cujos efeitos se fazem sentir até hoje.
Apesar de aparentemente ambientada no tempo dos vickings – recriado de forma bem credível – em Thorgal há alguns traços distintivos que o afastam dos cânones tradicionais daquele género.
Desde logo pelo seu tom fantástico. Último sobrevivente de uma antiga civilização terrestre que um dia partiu para as estrelas, regressando mais tarde ao nosso planeta, Thorgal Aergisson, nas aventuras iniciais, a par da sua vida entre os vickings que o acolheram em bebé, encontra os seus compatriotas, o que confere à série um interessante tom anacrónico.
Depois, há nesta banda desenhada um marcante tom místico, com o protagonista a visitar mundos estranhos e outras dimensões, incluindo o reino da morte e o lar dos deuses.
Isto não diminui, pelo contrário, o tom aventuroso, a acção a rodos e a adrenalina sempre em alta, com desfechos inesperados e acontecimentos muito marcantes – incluindo a morte de protagonistas e um longo período em que Thorgal perde a memória e assume uma identidade completamente díspar – que surpreendem e abalam o leitor.
Por outro lado, em contraste com tudo isto, Thorgal, apesar de ser um guerreiro extraordinário, prefere uma pacata vida familiar, tentando evitar a acção e os problemas que constantemente vêm à sua procura. Por isso, ao longo dos álbuns, casa com Aarícia, envelhece, tem três filhos – Jolan, Louve e Aniel que, devido à origem extraterrestre do pai têm alguns poderes extraordinários - que vão assumindo parte do protagonismo, evocando, de alguma forma, com as muitas diferenças que facilmente se reconhecem, uma outra grande saga dos quadradinhos, o Príncipe Valente.

Criação de Jean van Hamme, sem dúvida um dos melhores, mais originais e inventivos argumentistas que a banda desenhada francófona de aventuras conheceu, as aventuras de Thorgal estão divididas por ciclos que, se não são estanques, permitem a leitura independente, sem necessidade de conhecer os restantes.
Graficamente, a evolução de Rosinski é notável. Depois de um início num registo semi-caricatural, servido por um colorido algo psicadélico, progressivamente o traço torna-se cada vez mais realista ao mesmo tempo que é apurado o trabalho de cor, que se torna cada vez mais importante na definição dos ambientes. A mudança é marcante a partir do quinto álbum, “Au-delà des ombres”, excedendo-se Rosinski sucessivamente num virtuosismo incomparável, que terá o seu auge, numa fase posterior, quando passa a realizar os álbuns numa técnica de cor directa.

Em Portugal, Thorgal estreou-se na revista Tintin #1301, a 17 de Maio de 1980, com o episódio “A feiticeira traída”. Regressaria a esta revista perto do final desse ano com “A ilha dos mares gelados” (#1321), que curiosamente o “Mundo de Aventuras” #362 publicara a preto e branco um mês antes! “Quase o paraíso” (#1503), já publicado no Mundo de Aventuras (#387) foi a terceira e última presença de Thorgal no Tintin, enquanto aquela outra revista apresentou aos leitores portugueses, sucessivamente, até 1984, diversos episódios curtos e longos: “Os três velhos do país de Aran” (#430), “A galera negra” (#458), “O drakkar perdido” (#504), “O Talismã” (#529) e “Para além das sombras” (#540). No que a publicações periódicas diz respeito, o herói haveria de passar ainda pelas páginas das Selecções BD (2ª série), em 1999/2000, onde foram publicadas três histórias curtas: “As lágrimas de Tjahzi” (#6), “A montanha de Odin” (#12) e “Primeiras neves” (#26).
Em álbum, a vida deste filho das estrelas em terras portuguesas foi também algo atribulada. O episódio inaugural, “A feiticeira traída”, foi editado pela Bertrand, em 1983. Seguiu-se a Futura, com “A ilha dos mares gelados” (1988) e “Os três velhos do país de Aran” (#1989).
Já este século, a ASA lançou sucessivamente “O filho das estrelas” (2002), “Alinoë” (2003), “Os arqueiros”(2005) e “O país Qâ” (2006). Os dois primeiros títulos editados pela ASA seriam reunidos num único volume, em 2008, no número inaugural da colecção “Grandes autores de BD”, lançada em parceria com o jornal Público.

Após o término da colecção agora anunciada, ficarão inéditos em Portugal os tomos #4 (“A galera negra”, distribuído entre nós na edição brasileira da VHD diffusion, nos anos 90) a #6 e #11 a #13, sendo que a ASA prevê editar os três últimos até meados de 2013.
Por editar, claro está, ficarão também os tomos 30 a 33, escritos por Yves Sente, que substituiu Van Hamme quando este decidiu abandonar a série, nos quais o protagonismo é partilhado entre Jolan e Thorgal.
De fora ficam igualmente as séries derivadas genericamente intituladas “Les Mondes de Thorgal”, onde já foram publicados dois volumes protagonizados por Kriss de Valnor, uma das grandes inimigas de Thorgal, da autoria de Yves Sente e Giulio De Vita, e um com as aventuras de Louve, a filha de Thorgal e Aarícia, por Yann et Surzhenko.


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