11/05/2012

Casanova – Lujuria












Matt Fraction (argumento)
Gabriel Bá e Fabio Moon (desenho)
Panini Comics (Espanha, Março de 2011)
185 x 280 mm, 160 p., cor, cartonado
18,00 €


Resumo
“Casanova” é um relato de ficção-científica protagonizado pela personagem que dá título ao livro, filho de Cornelius Quinn, o Director Supremo de EMPIRE, uma força internacional encarregada de manter a paz e a ordem na Terra a qualquer preço, e irmão gémeo de Zephyr, a melhor agente de EMPIRE.
Avesso à autoridade e a cumprir ordens, Casanova é uma constante fonte de problemas para a EMPIRE e a sua própria família, num relato em que as surpresas – tal como os saltos espácio-temporais e as suas indesejáveis consequências - se sucedem.

Desenvolvimento
Fã assumido dos gémeos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá, tenho seguido com atenção - e grande prazer – a sua carreira, feita a pulso e com talento, sempre em sentido ascendente. Carreira  na qual privilegio, sem qualquer dúvida, a sua faceta mais autoral – revelada em títulos como “10 pãezinhos”, a meia-prancha semanal “Quase nada” ou “Daytripper” (neste momento no topo das obras que tenho para ler) - em detrimento dos trabalhos mais comerciais (deixem-me escrever assim) que, no entanto, revelam a sua importância crescente no meio dos comics norte-americanos, entre os quais se destacam  a colaboração com Mike Mignola em “BPRD”, “Umbrella Academy” ou este “Casanova”, em ambos os casos no que a Bá diz respeito.
Em todos eles – independentemente das suas características intrínsecas – os dois têm deixado a sua marca forte e personalizada a nível gráfico. Porque quer Bá, quer Moon, apesar de algumas diferenças, cultivam um traço não especialmente pormenorizado ou graficamente muito atractivo que, na sua estilização está longe de ser aquilo que se costuma designar por um “desenho bonito”. Mas que, apesar disso, é imediatamente reconhecível e personalizado e revela uma agilidade e uma capacidade de transmitir movimento invulgares, o que faz dele o veículo ideal para a narração em banda desenhada. Quer nas suas obras pessoais, mais intimistas e profundas, quer em banda desenhadas de ficção-científica – como “Casanova” ou “Umbrella Academy” - em que predomina a acção.
Este álbum, agora editado em Espanha – aqui tão perto e tão longe… - que compila os quatro primeiros comics da série, acrescentados de uma BD curta extra – desenhada por Moon -, revela exactamente isso, sendo admirável como Bá conduz a narrativa, como passa com facilidade de cenas intimas para grandes espaços, de monólogos ou diálogos a dois para cenas repletas de personagens e figurantes, sem que o leitor se sinta perdido.
Infelizmente – e aqui está a minha costela anti-comics mainstream a dar de si – o mesmo não se pode dizer do argumento de Matt Fraction – com provas dadas em títulos de Iron Man ou Thor – que por vezes acelera, através do tempo e do espaço, arrastando consigo o leitor sem que este consiga assimilar tudo o que o escritor transmite, o que obriga a paragens e releituras que não beneficiam o ritmo de fruição da obra
Apesar disso, é inegável a originalidade do relato na criação de um universo fantástico multifacetado e na recuperação de fórmulas antigas dos comics e da literatura pulp de terror e ficção-científica, servidas aqui com novas roupagens, que assenta em Casanova Quinn, um anti-herói movido apenas pelo desejo de lucro, vendendo os seus talentos a quem der mais, num mundo de múltiplas dimensões espacio-temporais onde convivem em abundância espiões, agentes duplos e super-vilões - entre os quais se destaca Newton Xeno, um génio do crime - e no qual, pelo que atrás ficou escrito, a entrada não é tão directa ou simplificada quanto possa parecer à primeira vista.
Ou, quem sabe, talvez o problema seja meu pois, nos Estados Unidos, depois da luxúria, em 2006, e da gula, em 2008, já está em publicação a terceira temporada de “Casanova”, dedicado à avareza.

A reter
- O muito bom trabalho gráfico de Bá.
- A edição da Panini Comics, cuidada e bem complementada com um texto introdutório de David Fernández, a tal história curta extra, as capas originais dos comics e uma explicação de Bá e da (também brasileira) colorista Chris Carter, sobre a selecção de uma apertada gama de tons para a recolorização da obra para esta compilação – pois os comics originalmente foram publicados apenas numa surpreendente combinação de branco, negro e verde.

Menos conseguido
- O argumento de Matt Fraction, algo confuso, apesar dos aspectos originais que contém.

Nota: Com excepção da capa do livro, as imagens aqui reproduzidas foram “pirateadas” do PaperBlog, a quem agradeço a involuntária colaboração.

09/05/2012

Bravo les Brothers












Colecção Dupuis Patrimoine
Franquin
Dupuis (Bélgica, 6 de Abril de 2012)
230 x 310 mm, 88 p., cor, cartonado
24,00 €



Resumo
Este álbum divide-se em duas partes.
A primeira reproduz “Bravo les Brothers”, com um novo colorido – baseado no original – da responsabilidade de Frédéric Janin, antigo colaborador de Franquin, com a participação da filha deste, Isabel Franquin.
A segunda reproduz os originais a preto e branco – sublimes! – de Franquin, a par dos comentários de José-Louis Bocquet e Serge Honorez que, a propósito de cada prancha, evocam a personalidade, a carreira, a obra ou as personagens do genial criador de BD, contextualizando-as no quotidiano da revista belga “Spirou” e na sua época.

Desenvolvimento
A proximidade do aniversário de Fantasio, leva Gaston Lagaffe a procurar uma prenda para ele. Prenda que, inevitavelmente, terá tanto de inusitado quanto de surpreendente e catastrófico, como é seu timbre.
No caso, Gaston adquire um trio de chimpanzés, encontrados nos saldos de um circo falido.
Os símios - muito susceptíveis – incentivados e aplaudidos por Gaston, passam então a fazer da redacção da revista Spirou um autêntico circo, infernizando a vida de Fantasio em particular e de todos em geral, com os seus malabarismos, habilidades e pontaria (in)falível, com os gags, as situações rocambolescas, os acontecimentos inusitados e os “acidentes” a sucederem-se a um ritmo impressionante, num monumento de pura diversão.
Em especial na primeira dúzia de pranchas, Franquin faz gáudio do seu génio para os quadradinhos, aliando ao seu traço vivo, vigoroso, ágil e muito expressivo, uma soberba técnica narrativa, uma planificação dinâmica e um sentido de humor irresistível para o leitor.
A título de parêntesis, refira-se que esta BD, criada numa época de depressão (!) do autor, quando ponderava o abandono das aventuras de Spirou – de que viria a desenhar apenas mais um álbum – foi escolhida por ele como a sua preferida, surgindo a meio caminho entre uma aventura – quase caseira – de Spirou e os habituais gags de Gaston.
O resultado – já atrás ficou explícito – é magnífico, não só pelo humor e sentido narrativo, mas também porque ela serve de pretexto para humanizar um pouco o “perfeitinho” Spirou, que nela se exaspera, duvida e hesita…
Quanto a Fantasio, assoberbado pelos chimpanzés, passa metade da história sobre o efeito de calmantes – “drogado”, pois! – sendo um tratado a panóplia de expressões com que Franquin o dota, bem como a sequência em que o (inevitável) De Mesmaeker traz os (também inevitáveis) contratos para assinar.

A reter
- A genialidade de Franquin, bem expressa em 22 soberbas pranchas de BD. Um monumento!
- A excelente edição da Dupuis, quer a nível gráfico, quer pelo seu conteúdo, pois a par das duas versões da BD e dos comentários, há ainda diversos esboços e desenhos extra para apreciar, o que faz dela um documento imperdível para os fãs de Franquin e todos aqueles que gostam de banda desenhada.
- A forma simples e dinâmica como Bocquet e Honorez traçam um capítulo muito importante da história da BD franco-belga e da obra de Franquin.



08/05/2012

Hulk - O regresso do monstro

















 
 
Tomos #1 e #2
Bruce Jones (argumento)
John Romita Jr. (desenho)
Tom Palmer (arte-final)
Devir (Portugal, 2004)
170 x 250 mm, 120 p., cor, brochado



Na banda desenhada (na literatura, no cinema...) há universos com características e especificidades muito próprias que podem tornar essas obras quase herméticas aos "não iniciados" ou, pelo menos, fazer com que a leitura só possa ser integralmente fruída por quem as conhece - e as aceita...
É o caso dos super-heróis norte-americanos e "Hulk - O regresso do monstro" (numa excelente edição da Devir) mostra-o, porque apesar de toda a bem estruturada narrativa de Bruce Jones ser perfeitamente compreensível, até por estar relativamente
afastada do contexto tradicional do Hulk, a verdade é que há aspectos (a dualidade do ser Bruce Banner/Hulk, a existência de personagens (aparentemente) imortais, etc.) que podem causar estranheza.
Mas, uma vez aceites estas regras, a leitura faz-se de forma cativante e imparável, para o que muito contribui o desenho de John Romita Jr., sem dúvida um dos grandes desenhadores de comics de sempre.
O seu traço, cada vez mais límpido e expressivo, é aqui tratado com uma paleta cromática reduzida, de tons verdes, azuis e sépias, que transporta o leitor (quase inconscientemente) para o tom dominante do monstro verde que, mesmo ausente, protagoniza a história. Esta, conta de forma detalhada e ritmada, entre o policial e o mistério, com um invulgar (para o meio...) toque de erotismo, a perseguição, por parte de uma misteriosa e todo-poderosa - cá estão mais especificidades - organização ao cientista que o aumento de adrenalina faz transformar em Hulk.
Uma história de fuga para a frente, em que está subjacente a ideia que o nosso pior monstro, somos nós. Mas sem esquecer que é ele que, por vezes, e com a motivação adequada, nos liberta das situações complicadas...

(Texto originalmente publicado no Jornal de Notícias de 17 de Abril de 2004, com o título “Um monstro como nós”)


07/05/2012

Hulk esmaga há 50 anos














Em Maio de 1962, Stan Lee e Jack Kirby apresentavam aquele que viria a ser um dos mais carismáticos personagens da Marvel: o Incrível Hulk. Versão modernizada do clássico de Stevenson, “O Estranho caso do Dr. Jeckyll e Mr. Hyde”, estreou-se em Maio de 1962, em revista própria, que, no entanto, duraria apenas 6 números.
Acreditando na sua criação, Lee, já ao lado de Steve Dikto, transferiu-o para a revista “Tales to Astonish”, onde o gigante se firmou e desenvolveu a sua mitologia, alcançando um tão grande sucesso que a publicação assumiria o seu nome, em 1966.
No episódio inicial, no contexto de Guerra Fria que então se vivia, era apresentado Bruce Banner, um brilhante cientista que durante uma experiência científica com novo armamento, para evitar a morte de um adolescente – Rick Jones, seu futuro parceiro - foi atingido com uma elevada dose de raios gama o que fez com que, a partir daí, em circunstâncias especiais, passasse a transformar-se no colérico e irascível Hulk, um gigante com imensa força bruta e praticamente invulnerável. Na BD de estreia a transformação ocorria com a passagem do dia para a noite, mas rapidamente passou a ser o estado de espírito de Banner o responsável pelas transformações.
A par da perseguição pelo exército norte-americano, personificado pelo General Ross, umas vezes para o destruir, outras para o utilizar, a série nos primeiros anos assentou nas tentativas de Banner para controlar o monstro que vivia dentro de si e na sua relação com Rick Jones e a bela Betty Ross – filha do general Ross e sua futura esposa.
Depois de Stan Lee ter assegurado a escrita das primeiras dezenas de histórias dois argumentistas viriam a distinguir-se à frente do destino das aventuras de papel de Hulk: Peter David, que privilegiou o protagonismo do gigante verde, e Bruce Jones, que optou por destacar o papel de Bruce Banner, levando-o a percorrer o vasto território dos Estados Unidos, em fuga daqueles que querem controlar o monstro que existe dentro de si, numa narrativa mais intimista e de tom conspirativo.
Graficamente, depois de Kirby, que rapidamente abandonou a série, passaram pelo Hulk nomes sonantes como John Romita, Steve Ditko, Gil Kane, John Buscema, Todd McFarlane, Ron Garbey, Paul Jenkins, Richard Corben ou John Romita Jr.
A par das suas aventuras a solo, Hulk cruzou-se em diversos momentos com os outros super-heróis da Marvel, com destaque para os Vingadores – cuja formação inicial integrou mas de quem também foi adversário – sendo míticos os seus confrontos com o Coisa ou Wolverine.

Inicialmente divulgado em Portugal através de edições brasileiras, o incrível Hulk estreou-se entre nós no suplemento Quadradinhos do jornal A Capital, em 1980, onde foram publicadas tiras diárias assinadas por Larry Lieber, irmão de Stan Lee. Nesse mesmo ano, a Agência Portuguesa de Revistas lançou uma revista com o seu nome, que se aguentou 18 números. Três anos depois seria a vez da Distri, numa colecção que teve apenas 4 números.

Depois, foi preciso esperar pelo presente século para que a Devir, como sinal de outros tempos, editasse diversos álbuns – “O Regresso do Monstro”, “Wolverine/Hulk”, “Banner” – e também uma colecção de 20 comics, esta última em parceria com o Jornal de Notícias. “Os Clássicos da Banda Desenhada” (que reproduziu a BD de estreia do Hulk) e “Os Clássicos da Banda Desenhada – Série Ouro” (Devir/Correio da Manhã, respectivamente em 2004 e 2005), também tiveram tomos dedicados ao Hulk, cuja bibliografia portuguesa também comporta um álbum de cromos e a adaptação oficial do filme.
Para lá dos quadradinhos de papel, Hulk surgiu por diversas vezes na televisão, em animações de má memória e na bem-sucedida série de que Lou Ferrigno interpretou nos anos 70/80, que originou diversos telefilmes. No cinema, em 2003 estreou o filme realizado por Ang Lee e protagonizado por Eric Banna, que foi mal recebido pela critica e pelo público.
Entretanto, circular rumores sobre um eventual filme com Mark Ruffalo, a estrear em 2015, na sequência da boa prestação do monstro verde no filme dos Vingadores, actualmente em.
Verde ou de várias cores pois embora seja aquele o tom que geralmente associamos ao Hulk, a verdade é que quando Lee e Kirby o criaram, a sua pele era cinzenta. No entanto, problemas da gráfica para acertar com o seu tom, levaram os autores a optar pelo verde ao fim de apenas três edições.
No entanto, anos mais tarde, o Hulk voltou a ser cinza durante algum tempo e, recentemente, uma das suas versões mais violentas exibe uma intensa cor vermelha…
O mesmo se passa com o seu temperamento e personalidade pois, ao longo deste meio século, de monstro descontrolado a génio científico, passando por ser com mentalidade infantil, foi diversificado o espectro comportamental já assumido pelo gigante da Marvel que inclusive, durante um certo período, viveu separado de Bruce Banner, e chegou a assumir o trono de um planeta distante.


(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 5 de Maio de 2012)

06/05/2012

As Estantes do Pedro (II)











  

Depois da primeira panorâmica da minha biblioteca de BD, regresso ao tema para mostrar, nesta “segunda secção”, as estantes com os álbuns (ordenados por desenhador) de Greg a Savard (nas portas inferiores), as compilações de tiras diárias humorísticas, as edições Bonelli, figuras diversas com destaque para os heróis Marvel e ainda um belíssimo giclée de Fábio Moon.

05/05/2012

Anicomics Lisboa 2012 (II)
















A Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, em Telheiras, acolhe este fim-de-semana, entre as 10h e as 20h, pelo terceiro ano consecutivo, o Anicomics Lisboa, que a organização promete ser o melhor de sempre.
O prato forte do evento é a presença de dois desenhadores que trabalham para a Marvel, os italianos Davide Gianfelice e Marco Checchetto, que terão originais expostos, bem como o mexicano Tony Sandoval e os portugueses Joana Afonso, Cari e o colectivo Zona Nippon. Este último projecto reuniu num álbum a lançar hoje, pelas 14h15, diversos autores nacionais influenciados pelo manga (BD japonesa), numa edição da Associação Tentáculo, que vai também apresentar o livro “Leporidae”, de Cari, às 16h15.
Outro grande destaque do Anicomics Lisboa 2012, hoje, às 17 horas, é o espectáculo de Cosplay com os melhores representantes portugueses desta actividade que consiste em disfarçar-se e assumir a personalidade de uma personagem de BD ou cinema de animação.
Desfiles de moda, um show burlesco, workshops, karaoke, disco-party, um espaço para jogos de cartas e videojogos e uma área comercial com banda desenhada e produtos relacionados com a cultura japonesa, fazem igualmente parte da programação prevista para os dois dias do evento, cuja programação integral pode ser consultada no site oficial.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 5 de Maio de 2012)



04/05/2012

O País dos Cágados













António Gomes Dalmeida (argumento)
Artur Correia (desenho)
Bertrand Editora (Portugal, Abril de 2012)
165 x 245 mm, 88 p., cor, cartonado
18,80 €

Esta é uma banda desenhada de traço divertido e enganadoramente infantil, que retrata em tom sarcástico a história recente de um país habitado por cágados, que avança a passo de tartaruga e tem estranhas semelhanças com Portugal. O relato inicia-se com o nascimento de um certo António de Oliveira Azar, o Cágado das Botas, e decorre até à actualidade, após a subida ao poder de Pedro Cágado Coelho e da sua submissão aos cágados (vampiros…) da troika, comandados pela Tartaruga Berkel e pelo Cágado Jacuzy...
Ao longo de quase uma centena de pranchas, os autores – parceiros de longa data em obras como  “História Alegre de Portugal”, “Super-Heróis da História de Portugal” ou “Romance da Raposa” – introduzem-nos também à Revolução dos Cágados levada a cabo pelos Cágados Capitães que depôs o Cágado Marítimo e o Cágado Morcela, famoso pelas suas conversas na televisão, e a personagens como o Cágado do Monóculo, o Cágado Colares, o Cágado Pinhal, o Cágado Ramalhe, o professor A. Cágado Silva ou o corredor Cágado Zé Sopras-te, sendo que qualquer semelhança entre eles e personagens políticas que bem conhecemos não são mera coincidência.
“O País dos Cágados” foi criado no final dos anos 1970 por Gomes Dalmeida e Artur Correia que, durante quase uma década procuraram sem sucesso editor, tendo optado por uma edição de autor, em 1989, que teve tiragem limitada e distribuição restrita e pode ser lida aqui.
Para a actual edição, os autores acrescentaram mais de duas dezenas de páginas novas, desenvolvendo o capítulo dedicado ao cágado A. De Oliveira Azar e prolongando o relato até aos nossos dias (menos aprofundado do que as épocas anteriores), pois o original terminava com a eleição presidencial ganha pelo Cágado Ramalhe. Para além disso, o álbum agora lançado pela Bertrand Editora tem uma nova capa e é colorido, enquanto que a edição original era a preto e branco.
Apesar do intervalo de tempo que decorreu entre as duas edições, tal facto não é visível graficamente na actual edição, pois Artur Correia conseguiu mimetizar o seu traço de então de forma assinalável.
É verdade que a opção – hoje menos compreensível - por cartuchos de texto sobre as imagens, que frequentemente também incluem balões de fala – torna menos ágil a leitura, pois uns e outras recorrentemente repetem-se, mas também se compreende que a intenção não era recriar completamente a obra mas sim dar-lhe continuidade e uma visibilidade que então não teve mas que indiscutivelmente merece.
Não só pelo traço de Artur Correia, muito expressivo e à vontade no estilo animalístico que prefere – e que já usara em “Romance daRaposa” -, afirmando-se mais uma vez como um dos grandes desenhadores portugueses, mas também pelo texto mordaz e corrosivo de Gomes Dalmeida que, claramente – mas pode ser doutra maneira? – não morre de amores pelos políticos portugueses, perdão, do país dos cágados!

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 29 de Abril de 2012)

Nota
Artur Correia e António Gomes Dalmeida, os autores deste livro, estarão amanhã, sábado, 5 de Maio, às 16 horas, na Feira do Livro de Lisboa, para uma sessão de autógrafos.
E no dia 15 de Maio, pelas 18,30, estarão no CNBDI, na Amadora, para uma apresentação do livro a cargo de João Miguel Lameiras.

03/05/2012

Ferd'nand: 75 anos sem abrir a boca












Os leitores de O Comércio do Porto, recordam certamente Ferd’nand, um herói dos quadradinhos que os acompanhou nas páginas daquele jornal durante décadas, e que hoje completa 75 anos. Poucos saberiam, no entanto, que se tratava de uma banda desenhada de origem dinamarquesa, tal como o seu autor, Henning Dahl Mikkelsen (1915-1982), que assinava apenas Mik e que se manteve como seu autor até falecer. A continuidade seria assegurada primeiro pelo seu assistente Al Plastino (que assinava Al Mik) e depois por Henrik Rher (Rher Mik), que mantiveram Ferd’nand nos jornais até 2004, fazendo dela a tira diária não norte-americana de maior longevidade. Para além disso, Ferd’nand distinguiu-se por ser completamente muda, baseando-se apenas no desenho para conseguir os seus objectivos humorísticos (embora alguns jornais, em diferentes épocas, incluíssem por baixo deles um texto “explicativo”).
O seu protagonista era um perdedor nato de classe média, (quase) sempre de calças de tweed, colete, casaco preto com grandes botões e um chapéu na cabeça, que, para além de turista ocasional, pescador frustrado, desportista inábil e náufrago frequente, assumiu todas as profissões imagináveis, sempre ao sabor das necessidades humorísticas da tira, que privilegiavam o aproveitamento de situações quotidianas universais e, por isso, facilmente identificáveis, e uma sátira social leve e inócua.
Antes de se concluir o primeiro ano, Ferd’nand conheceria aquela que três tiras mais tarde (!) já era sua esposa - para seu desespero, claramente expresso - sendo o núcleo familiar da tira aumentado de imediato com o nascimento de um bebé que rapidamente cresceu alguns anos, tornando-se uma cópia perfeita do pai em tamanho reduzido.
Baseada num traço simples, de grande legibilidade, Ferd’nand rapidamente saltou dos jornais dinamarqueses para outras paragens, até rebentar a II Guerra Mundial, durante a qual foi proibido em toda a Europa dominada pelos nazis, pois estes assumiram o seu bigode como uma caricatura de Hitler. Durante este período o seu criador realizou duas curtas metragens também protagonizadas por ele.
Terminada a guerra, Mikkelsen emigrou para os Estados Unidos, em 1946, onde casou e teve quatro filhos, e onde o sucesso de Ferd’nand obrigou à criação de uma prancha dominical colorida, a partir de 4 de Abril de 1948, a par das tiras diárias a preto e branco, publicadas simultaneamente em dezenas de jornais, de cerca de vinte países.
Para além da publicação no Comércio do Porto, em Portugal estão disponíveis desde 2008 duas compilações cronológicas, editadas pela Libri Impressi de Manuel Caldas: “Surge…Ferd’nand – Tiras de 1937” e “Ferd’nand retorna – Tiras de 1938”.

 (Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 3 de Maio de 2012)

02/05/2012

Tex Edição de Ouro #56/#57

  
Caçadores de Lobos
Do outro lado da lei
Guido Nolitta (argumento)
Alberto Giolitti e Giovanni Ticci (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Setembro/Novembro de 2011)
135x175 mm, 234 p., pb, brochado
R$ 17,90 / 9,00 €
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