20/05/2020

Criminal Livro Três

O passo em frente




Disseram-me antecipadamente que este era o melhor volume de Criminal.
Neste momento, não consigo confirmar. Nem desmentir. Precisarei de algum distanciamento e que passe algum tempo, para repetir leituras e poder comparar. Embora, com sinceridade, esteja pouco interessado numa análise racional dos volumes Dois e Três da série porque, o que realmente me interessa, é que ambos - Dois e Três, portanto - me proporcionaram excelentes leituras.
No volume anterior, gostei especialmente da forma como as diversas histórias incluídas no volumes se entrecruzavam e como as personagens - mais ou menos relevantes - iam entrando e saindo das diversas cenas.
Agora, se voltamos a reencontrar alguns dos participantes dos relatos anteriores, com (o recorrente) Tracy Lawless em destaque, a verdade é que as duas narrativas longas incluídas neste volume são (mais) estanques e independentes. E podem ser lidas como tal, sem grande prejuízo.
O que não invalida, longe disso, possivelmente até potencia, que sejam duas excelentes narrativas, no universo que já (re)conhecemos - o policial negro em que Brubaker e Philips se movem exemplarmente - e com todos os atributos que já esperamos em Criminal: violência, imoralidade, traição, chantagem, mortes…
...e a sombra do passado de cada um - o que fizeram de mal, o que deixaram de fazer de bem, o que foram obrigados a fazer… - a pesar, a influenciar, a coagir, a empurrar sempre em direcção ao abismo pessoal que, passo a passo, parece mais largo, mais fundo, mais irresistível…
Graficamente, se todos sabemos o (muito) que Sean Phillips nos oferece, o segundo relato - O último dos inocentes - revela um curioso e apetecível traço cartoonesco que serve de marcador às cenas da adolescência - (mais) inocente - dos protagonistas, em claro - e chocante? - contraste com o negrume e a dureza do presente de cada um, onde termos como (aquela) inocência, perdão ou segunda oportunidade dificilmente fazem sentido.
São, tenho que reforçar, histórias negras e violentas, mas também cativantes e impossíveis de deixar a meio, protagonizados (quase exclusivamente) por gente desesperada a quem só restam duas saídas: o assumir da impotência e o arcar das consequências ou decidir lutar, contrariar, tomar a iniciativa, que é o mesmo que dizer dar o passo em frente.

Criminal Livro Três
Ed Brubaker (argumento)
Sean Phillips (desenho)
G. Floy
Portugal, 2020
190 x 280 mm, 264 p., cor, capa dura
28,00

(imagens disponibilizadas pela G. Floy; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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