12/02/2021

A Ilha do tesouro

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Regresso aos Clássicos da Literatura em BD, porque acredito que é uma das mais importantes iniciativas dos últimos anos entre nós, no âmbito da BD. [O facto de os primeiros volumes terem esgotado e estarem em reimpressão, indicia a justeza desta aposta da Levoir.]
Não, como já escrevi aqui mais do que uma vez, para leitores regulares de banda desenhada, mas sim enquanto proposta para leitores jovens, como dupla porta de entrada na BD e nos clássicos da literatura.
Dito isto - como não podia deixar de ser - há nesta colecção adaptações mais conseguidas do que outras. Do ponto de vista que hoje quero abordar, A Ilha do Tesouro cabe no grupo das 'mais'.

Quando me disponho a ler - ou ver - uma adaptação, tenho sempre como ponto de partida uma condição inegociável: a obra em si, tem de ser autónoma no suporte em que está a ser apreciada. Ou seja - passando já a concretizar para o caso presente - este álbum tem que poder ser lido independentemente do (des)conhecimento do romance original de Stevenson ou de alguma das muitas adaptações - e até sequelas! - que já originou. Como as mostradas aqui - onde faltam, por exemplo, as de Fernando Bento.

E nisso, a versão de Christophe Lemoine e Jean-Marie Wohehrel, cumpre o seu propósito. É um relato com princípio, meio e fim, sem saltos ou vazios narrativos que impliquem conhecimento prévio. Dispensa quase sempre textos de apoio, evita descrições (do que o desenho mostra), os diálogos e as imagens são (auto)suficientes para fazer avançar a narrativa, que apresenta uma boa dinâmica.

Nela encontra-se o apelo da aventura presente no romance, o percurso iniciático do jovem Jim Hawkins e o carácter dúbio de Silver, para muitos o verdadeiro protagonista de A Ilha do Tesouro. Para além disso, encerra em si os pontos fortes da obra de Stevenson: o mistério inicial em torno dos antigos piratas, a procura de um tesouro, uma ilha perdida, algumas surpresas no decurso da narrativa e muitas cenas de acção.

O traço de Wohehrel, não excessivamente realista, mas mais próximo deste estilo do que do semi-caricatural, é credível no retrato de época e denota à-vontade tanto no desenho do ser humano, quanto das paisagens exóticas e do navio em que boa parte da história decorre.

Mas, não deixem que o que até aqui fica escrito vos iluda. Estamos apenas perante uma obra competente, de leitura fluída e acessível para o seu público-alvo. Leitores habituais de BD, com outro tipo de exigências, poderão ficar insatisfeitos.

E o mesmo poderá acontecer a quem - erroneamente - procure nestas parcas 46 pranchas de BD uma transcrição integral do romance original. O que temos aqui, é uma versão de uma das maiores aventuras que a literatura nos ofereceu, uma versão inevitavelmente resumida, contida, limitada, mas que cumpre o pretendido.

Como já dito oportunamente, cada um dos volumes desta colecção inclui no final um dossier que aponta outras pistas e proporciona uma panorâmica mais vasta sobre o romance original, o seu autor e a sua época, que poderá apelar a outras leituras.


Clássicos da Literatura em BD
#6 A Ilha do tesouro
Baseado na obra original de Robert-Louis Stevenson
Christophe Lemoine (argumento)
Jean-Marie Wohehrel (desenho)
Patrice Duplan (cores)
Levoir/RTP
Portugal, 4 de Fevereiro de 2021
210 x 285 mm, 64 p., cor, capa dura
10,90 €

(imagens disponibilizadas pela Levoir; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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