Outra vez o momento
Já
o disse algures por aqui, na primeira tentativa de leitura deste
Monika,
volume da colecção Novela
Gráfica 2019,
parei ao fim de 20 ou 30
páginas, sem conseguir qualquer empatia
que me levasse a continuá-la. [O
que, refira-se não é nada
habitual...]
Agora
- só agora! - impulsionado principalmente pela leitura da magnífica
surpresa que foi Karmen -
forcei-me a nova abordagem ao livro,
o
que comprovou novamente como o momento pode ser tão importante para a fruição - ou afastamento - de uma obra.
A
fasquia era muito alta, mas a leitura actual revelou suficientes
qualidades para a aconselhar.
Em comum às duas obras - para além de terem um nome feminino no título e a respectiva detentora como protagonista! - havia o desenhador, o maiorquino Guillem March. A sua progressão em termos técnicos e de planificação é evidente, mas nesta obra já são visíveis muitas das suas grandes qualidades: o tratamento da figura humana, a sensualidade das personagens femininas, a forma como usa e abusa dela(s) sem cair na exposição gratuita, aqui com um traço um pouco mais duro e realista, como era pedido pelo relato. Claro que e o facto de Monika ter argumento alheio e Karmen ser uma obra inteiramente pessoal, pode ter influenciado esta questão e dado maior liberdade ao desenhador neste último livro.
A ambas as obras, é também comum o protagonismo no feminino - o que justifica e aprova a escolha do desenhador em Monika.
Tematicamente, com a mulher no centro do relato, na dupla acepção de protagonista completa e autónoma e, no outro extremo, de objecto sexual ao serviço dos homens - a argumentista Thilde Barboni desenvolve um thriller a um tempo político e policial, em que combina a ascensão dos extremismos políticos, o terrorismo, conceitos de arte e criação artística e mesmo um toque de ficção-científica centrado na exploração dos limites da inteligência artificial.
A combinação de tantos ingredientes diferentes, possibilita um alargar da proposta, multifacetando-a e permitindo diversas abordagens - e interpretações - de leitura, apesar da sua aparente linearidade.
Em suma, é (mais) um livro diferente, ousado e inovador, difícil por isso para ser aposta directa de uma (qualquer) editora, mas que encontra o seu lugar numa colecção como a Novela Gráfica.
Monika
Colecção
Novela Gráfica 2019
Thilde
Barboni (argumento)
Guillem
March (desenho)
Levoir/Público
Portugal,
2019
225
x 295
mm, 132
p., cor,
capa dura
18,90
€
(imagens disponibilizadas pela Levoir; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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