19/02/2021

Crónicas de Guerra #1 + Almanaque Tex #52 + Contos Sangrentos #1

Curtas, curtas, curtas

Se não nascida, pelo menos tornada popular em longos folhetins que se estendiam por semanas ou meses nos jornais, a banda desenhada, com o advento das revistas, ganhou relatos mais curtos. Hoje, encontramo-la por toda a parte nestas duas dimensões - e noutras... - mas a verdade é que há universos em que à partida não contamos com relatos curtos - e como é relativo este adjectivo...
É o caso daqueles em que se movimentam os super-heróis da Marvel ou o ranger Tex Willer. Mas como não há regra sem excepção, hoje deixo aqui três exemplos.


A Guerra dos Reinos: Crónicas de Guerra #1
Inclui: War of the Realms - War Scrolls (2019) 1; Giant-Man (2019) 1; War of the Realms - Punisher (2019) 1-3
Jason Aaron, Josh Trujillo, Ram V., Gerry Duggan, Leah Williams, Chip Zdarsky (argumento)
Andrea Sorrentino, Ricardo López Ortiz, Cafy, Marcelo Ferreira, Marco Castiello, Joe Quinones, Marcelo Poggi e Joe Rivera (desenho)
Panini
Brasil, Fevereiro de 2020
170 x 260 mm, 128 p., cor, capa cartão
R$ 21,90 / 9,90 €

Esta edição surge integrada num dos eventos em que o Universo Marvel é (cada vez mais) fértil, no caso A Guerra dos Reinos. A Terra invadida pelos exércitos 'divinos' de Malekith é, assim, o pretexto, para encontramos alguns dos heróis da Casa das Ideias em situações limite. Que, com ligeiras alterações, nalguns casos - todos eles? - poderiam ter lugar noutro contexto - até noutros universos.

É o caso da história - pouco curta: 63 páginas! - em que o Justiceiro estabelece um surpreendente pacto com alguns prisioneiros em trânsito, para ajudarem na evacuação de um hospital e, mais do que isso, lutarem juntos por um bem comum: a sobrevivência de todos.

Neste caso, a violência extrema que geralmente associamos ao Justiceiro é a imagem de marca do relato, tal como os sentidos hiper-desenvolvidos do Demolidor marcam a narrativa inaugural, ou a capacidade de mudar de tamanho do Homem-Formiga se destaca quando. mais à frente, ele, o Gigante, Atlas e Golias tentam fazer-se passar por gigantes de gelo...

A fechar uma edição de relatos de grande tensão, a válvula de escape (pois...) surge em quatro curtas - aqui, sim! - páginas, com o impagável humor escatológico de Howard, the Duck...



Almanaque Tex #52
> Colheita sangrenta
Jacopo Rauch (argumento)
Alessandro Poli (desenho)
> Corrida pela vida
Giorgio Giusfredi (argumento)
Alfonso Font (desenho)
Histórias originalmente publicadas em Tex Magazine #5 (2019)
Mythos Editora
Brasil, Fevereiro de 2020
135 x 180 mm, 110 p., pb, capa mole
R$ 13,90 / 4,00 €

Disse acima que o adjectivo 'curto' era enganoso, e esta edição prova-o. Colheita sangrenta, que a abre, conta 78 pranchas, volume considerável em muitos outros panoramas editoriais, mas não quando falamos de Tex, cujas aventuras (até há poucos anos) ultrapassa(va)m (praticamente sempre), no mínimo, a centena de pranchas.

Da história, realce para dois momentos fundamentais: o sacrifício humano logo nas primeiras páginas e a perseguição num campo de milho, mais à frente. Fora isso, pode ser encarada como uma aventura tradicional do ranger, a solo, embora com uma surpresa (previsível) quase no final, que confirma uma regra cavalheiresca que Tex não tramsgride...

Quanto a Corrida pela vida, é uma dupla surpresa: pela sua curta (cá está, outra vez) dimensão - 32 páginas - e, principalmente, pela ausência do protagonista esperado, substituído aqui por Gros Jean e Dawn. Confesso que não me ocorre - falta minha ou memória fraca? - nenhuma outra história d(o universo d)e Tex em que ele não esteja presente, mas a verdade é que a dupla (canadiana) escolhida faz todo o sentido num argumento que se desenrola quase integralmente na neve, durante numa corrida de trenós, em que os interesses e os fins, parecem justificar alguns meios.

Num caso e noutro, com a ajuda do traço mais duro e agreste de Poli e Font, os desvios à 'normalidade' texiana são sensíveis, sem serem abusivos, e permitem abordagens diferentes.


Carnificina Absoluta: Contos Sangrentos #1
Inclui: Absolute Carnage: Weapon Plus (2019) 1; Absolute Carnage: Separation Anxiety (2019) 1; Absolute Carnage vs. Deadpool (2019) 1; Absolute Carnage: Miles Morales (2019) 1
Jed MacKay, Clay McLeod Chapman, Frank Tieri e Saladin Ahmed (argumento)
Stefano Raffaele, Brian Level, Marcelo Ferreira e Federico Vincentini (desenho)
Panini
Brasil, Junho de 2020
170 x 260 mm, 112 p., cor, capa cartão
R$ 19,90 / 9,20 €

Integrada aqui - à força? - esta edição segue uma lógica um pouco diferente. Igualmente parte de um evento maior - Carnificina absoluta - os relatos nela incluída, nalguns casos encaminham o leitor para o tronco central do evento ou deixam-no 'pendurado' para a edição seguinte.

Não é o caso da história inicial, fechada em si mesmo, que tem o Arma H como principal figura. Ao contrário dos relatos centrados no Deadpool e em Miles Morales que, apontando continuação, podiam terminar - mal...! - por aqui.

Mas, a narrativa mais interessante - aquela que melhor cumpre a regra da autonomia e da diferença - é aquela em que não se vislumbra qualquer super-herói nas suas páginas, um relato com um tom surpreendentemente humano quando estamos perante a possessão de uma família em desagregação pelos acólitos do Carnificina. Ao longo dela, vemos uma coisa, quando na verdade acontece outra e, aplicando um pouco de psicologia, podemos ler o mal extraterrestre como a personificação de um mal humano, por vezes bem real, o que proporciona uma outra interpretação, bem para lá da leitura de um simples relato de super-heróis.

(capas disponibilizadas pela Panini e pela Mythos; clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)

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