Antes e/ou depois
Ao ritmo desta pandemia que nos prende mais em casa e nos limita a actividade, vou resgatando leituras que a falta de tempo - e o momento... - foram adiando.
Regresso assim a Terry y los Piratas (Terry and the Pirates, na versão original norte-americana9, no caso abrindo a edição que
compila os primeiros dois anos de pranchas dominicais, publicadas a
partir de 22 de Outubro de 1934.
Para
lá da banda desenhada (de referência) em si, este volume, para mim,
apresenta
como uma
das principais vantagens,
a par da leitura
no formato integral, a inclusão de textos de apoio que desvendam
muito sobre a forma de trabalhar dos autores e/ou a época original
de publicação e os suportes utilizados.
No caso presente, Rafael Marín vai às origens de Terry y los Piratas e revela que Milton Caniff teve de criar as pranchas dominicais antes de arrancar com as tiras diárias. Na verdade, por questões técnicas da época - meados da década de 1930 - as primeiras, devido à cor, exigiam a entrega com 10 semanas de antecedência em relação à data de publicação, enquanto que as tiras diárias, a preto e branco, só tinham de ser recepcionadas 4 semanas antes.
Desta forma - e porque inicialmente as tiras diárias e as pranchas dominicais de Terry y los Piratas funcionavam autonomamente - entre os relatos de umas e outras há variações sensíveis, com eliminação de algumas personagens, alteração de situações e mesmo da interacção entre os protagonistas. Quem leu o primeiro volume - quem na época lia tiras e pranchas diártia e semanalmente - vai estranhar sem dúvida.
Nas pranchas dominicais, o encontro de Terry, Pat e Connie com Dragon Lady acontece mais depressa e a relação entre eles vai ser recorrente, entre alianças pontuais e confrontos mais frequentes, numa maior repetição de situações-tipo em relação às tiras, que apresentam maior variedade temática e consistência narrativa.
Para além disso, sensivelmente a meio deste volume, deparamos com uma série de pranchas auto-conclusivas - embora inseridas num relato mais amplo - que assumem um cariz mais caricatural e rocambolesco, assentes principalmente nas acções de Connie que, em minha opinião, têm pouco a ver com o tom geral da série, onde andam lado a lado aventura, exotismo, sensualidade e mesmo alguma violência.
Que surgem igualmente, em diferentes combinações, nas restantes pranchas, deixando antever já, a espaços, o que esta série seria e significaria para a história das tiras de imprensa em particular e da banda desenhada em geral.
Outro aspecto interessante, é a forma como Caniff vai alterando a estrutura das página dominicais, em nome da possibilidade de ela ser remontada de acordo com o espaço disponibilizado pelos jornais que a publicavam, algo habitual na época.
Na fase final apresentada neste volume, quando o tom original já tinha sido recuperado, é notório o quanto Hugo Pratt (reconhecidamente) bebeu graficamente em Caniff. Ele, e tantos outros...
A documentação reproduzida neste volume encerra com a transcrição de uma alocução radiofónica (!) que o autor, nos últimos dias da II Guerra Mundial, fez para a Austrália, sobre a sua tira e as suas personagens mas também sobre o momento que se vivia, incluindo igualmente uma galeria final, com desenhos soltos, autógrafos desenhados e a reprodução a preto e branco - e que preto e branco! - de algumas pranchas dominicais (posteriores).
Entra Dargon Lady
Dolmen Editorial
Espanha, Agosto de 2019
ISBN: 978-8417956172
280 x 215 mm, 112 p., cor, capa dura
29,90 €
(imagens disponibilizadas pela Dolmen Editorial; clicar nelas para a aproveitar em toda a sua extensão)
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