Apoteose
Construída num
crescendo, esta série de 4 álbuns, termina agora em
grande apoteose, reunindo num volume extremamente visual todos que
até agora desempenharam papeis de destaque.
Rúben,
o (agora) coronel Jonas Moura, Capitu, Bakar, Luana... juntam-se uma
última vez, num tomo em que redenção e queda no abismo caminham
lado a lado, sob a influência de forças sobrenaturais do bem e do
mal e da
própria natureza.
Tal como o álbum, que abre com um dos momentos culminantes desta saga para depois recuar no tempo, deixem-me também voltar um pouco atrás.
Em Salve-se quem puder retomamos a acção sete meses depois dos acontecimentos que já conhecemos. Rúben, murou a favela de Beija-Flor, anexou algumas das favelas vizinhas, acabou com o tráfico e criou uma economia interna, simples e funcional. Para lá chegar, usou muitas vezes a força, outras tantas a persuasão, e tornou-se um líder incontestado... internamente.
Porque fora dos muros de Beija-Flor, o governador do Rio de Janeiro - e o próprio presidente da república - trabalham para destruir aquele 'estado autónomo' que tenta vingar em terras brasileiras - e põe em causa opções, políticas e promessas (nunca cumpridas). Nem que isso implique fazer o exército avançar sobre a favela, a qualquer custo.
E é neste ponto que Louise Garcia e Corentin Rouge nos fazem retomar a leitura.
Os elementos que balizaram todo o relato continuam presentes: o toque de sobrenatural proveniente dos cultos ancestrais do Brasil, as paixões e ódios que continuam latentes, a violência policial - e militar -, a corrupção, o compadrio, os (imensos) interesses à margem da lei... E as relações, nem sempre claras, nem sempre pacíficas entre os elementos mais proeminentes da história.
E tudo isto concorre para que este quarto tomo assuma uma (ainda) maior força visual - a progressão de Rouge ao longo da série é assinalável - com muitas das suas pranchas - ou vinhetas de dimensões generosas - mudas no texto que (não) ostentam ou ensurdecedoras naquilo que revelam directamente ou fazem intuir, arrastando-nos na (corrente) narrativa para o grande final.
E se, chegados a este álbum, perguntássemos a quem leu os três anteriores como terminaria este relato, duvido que muitos fossem capazes de apontar na direcção correcta. Mas - acredito também - que serão menos ainda os que ficarão desiludidos com a cavalgada apoteótica que Garcia e Rouge nos prepararam, com os homens - e as mulheres, sublinhe-se -, o sobrenatural e a Natureza (aparentemente) unidos num mesmo propósito redentor e purificador.
Nota final
Para além da sua incontornável qualidade intrínseca, os ecos que foram chegando, dos sites e blogs da especialidade e das redes sociais, parecem comprovar a adesão a esta aposta. Pela diferença gráfica e temática da proposta, pela sua curta extensão que a tornou mais apetecível, (pela localização da sua acção,,,?), possivelmente pela menor oferta disponível no momento da sua edição devido à pandemia.
É evidente que, como sempre, a confirmação definitiva da validade desta experiência será dada exclusivamente pelas vendas atingidas - e o momento actual deverá ser tido em conta na sua avaliação.
Parece uma aposta que pode ser repetida - assim seja mantido o (alto) padrão de qualidade agora apresentado - e o que não falta nos catálogos franco-belgas são (mini-)séries de dimensão semelhante. O futuro dirá se este é o(utro) caminho a trilhar.
Rio
#4: Salve-se quem puder
Louise
Garcia (argumento)
Corentin
Rouge (desenho)
ASA
/ Público
Portugal,
21 de Janeiro de 2021
240
x 320
mm, 64
p.,
cor, capa dura
10,90
€
(imagens disponibilizadas pela ASA; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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