Já
referi por aqui, a propósito da Tex
#600, a actual tendência nas
aventuras do ranger para 'recuperar
personagens que de alguma forma foram marcantes pelo tempo de uma
história'.
Obviamente,
este tipo de exercício presta-se a diferentes interpretações - que
também estão relacionadas com o posicionamento de cada leitor em
relação a Tex. Uma delas, crítica, é associar a opção a falta
de imaginação dos actuais argumentistas, daí a necessidade do
regresso recorrentemente aos 'bons tempos passados'. Outra, mais
favorável, é considerar que as personagens (agora reencontradas)
eram tão ricas e fortes que era uma pena limitá-las a uma única
história.
Este
díptico, A
aldeia dos danados/A fúria de Makua, é
mais um exemplo.
Exemplo esse personalizado em Makua, que se cruzou com Tex em meados de 2012. Era um mestiço, duplamente rejeitado por brancos e índios, o que o levou a más companhias e a tornar-se pistoleiro ao serviço das piores causas. Derrotado de forma cruel pelo ranger, que lhe inutilizou a mão com que disparava, acabará apesar de tudo com a vida poupada - não são muitos os que se podem gabar disso... - para pagar pelos seus crimes na prisão.
Agora, a história arranca anos depois, quando Makua deixa a penitenciária após cumprir a sua pena; à sua espera está Tex, que acreditou que no fundo o seu antigo adversário podia ser um homem bom.
Esse reencontro, após algumas peripécias, levá-los-à a cruzarem-se com um bando de índios renegados que espalha a destruição e a morte e que, de forma dramática, obrigará Makua a repensar as suas opções, colocando nos pratos da balança, de um lado a confiança que Tex nele depositou, do outro a sua posição perante uma tragédia que se desenrolou perante os seus olhos.
A escolha feita, as decisões tomadas, não tão evidentes ou lineares como parece do que atrás fica descrito, são o âmago de um relato tenso, assinado pela mesma dupla - Pasquale Ruju e Alfonso Font - que tinha criado Makua. Este regresso de uma personagem forte e com espessura psicológica, revela-se feliz, pois volta a colocar o (co-)protagonista perante escolhas difíceis e capazes de abalar as mais fortes convicções.
Desta forma, um dos aspectos a destacar é que Makua sem a proximidade física de Tex, é obrigado a decidir sozinho quando a vida o coloca perante uma encruzilhada (quase) impossível, numa história em que as cenas de acção se multiplicam, mas em que o fundo dramático está sempre presente.
Outro aspecto que me agrada bastante, é o traço fino e expressivo de Font que, apesar da considerável idade, continua um mestre na representação da figura humana e da natureza, bem servido por um belo uso dos contrastes branco/negro.
Tex
#608 A aldeia
dos danados
Tex
#609 A
fúria de Makua
Pasquale
Ruju (argumento)
Alfonso
Font (desenho)
Mythos
Editora
Brasil,
Junho/Julho
de
2020
135
x 175 mm, 114 p., pb, capa fina
R$
12,90
(texto originalmente publicado no Tex Willer Blog; capas disponibilizada pela Mythos; pranchas disponibilizadas pela Sergio Bonelli Editore; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
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