O
que faz a diferença no
retirar ou não prazer da
leitura de um livro? O tema, argumento, o desenho, a planificação...
Tudo isso, sem dúvida, mas há outro factor (igualmente?) relevante:
o momento. O momento em que o leitor pega no livro, se acomoda e o
abre - e entenda-se aqui a predisposição do leitor para 'aquela'
leitura, o seu estado de espírito, até o ambiente em
que está.
Foi
o que aconteceu comigo em relação a Lazarus,
cuja leitura de seguida dos tomos Um
e Dois
me
deixou pouco menos do que indiferente. E que, numa nova oportunidade
- em que acrescentei a leitura do volume Três
- afinal se (me) revelou uma proposta aliciante e cuja continuação
espero
conhecer.
A acção decorre num futuro que se adivinha (relativamente) próximo pelos adereços, veículos e tecnologia utilizados - embora, ao nível da clonagem e da restauração do ser humano, tenha havido alguns avanços significativos.
O mundo, tal como o conhecemos, sofreu uma profunda mudança a nível geopolítico e social. O planeta está dividido, ao nível financeiro, por Famílias (que nalguns casos se assemelham a gangues). Esses núcleos duros centrais, têm à sua volta uns poucos Servos, bem tratados, sendo a restante população considerada Desperdício, tendo por isso condições de vida miseráveis. Com muitas das infra-estruturas que hoje conhecemos desaparecidas, a vida está longe de ser fácil para a maioria da população.
A narrativa está centrada na família Carlyle que domina a zona oeste dos Estados Unidos e o Norte do Canadá. Ao lado do seu senhor - de cada senhor, em cada família - está um Lazarus, alguém que recebeu o melhor treino e o melhor equipamento imagináveis para os usar como protector e guarda-costas ao serviço do seu senhor. O Lazarus da família Carlyle é uma rapariga que dá pelo nome de Forever.
Ela é em boa parte a protagonista da história - quer através do seu treino e crescimento, quer através das dúvidas que lhe surgem, dos seus relacionamentos e da forma como se revela eficiente e imbatível(?) quando é necessário passar à acção. No equilíbrio entre a sua humanidade e as suas características especiais - e as razões para as possuir que aos poucos iremos descobrir... - Lazarus (a série) assume muitas vezes um tom mais introspectivo e intimista, que contrasta com as movimentadas cenas de acção em que a violência impera.
A extensão do protagonismo aos Barret - no livro Dois - acentua esse tom mais humano, ao expor as desigualdades reinantes e denunciar a exploração até ao limite que impera no relacionamento entre os extremos da pirâmide social.
Finalmente, de forma progressiva, mas mais claramente no livro Três, o relato vai (também) assumir outras direcções. Vai narrar a luta interna pelo poder no seio da família Carlyle. Vai-nos contar como as diversas famílias - uma dúzia que domina o planeta - interagem, como conseguem a estabilidade, como gerem conflitos, como superam os desejos de expansão e crescimento. Uma luta de bastidores, com jogos nada claros e traições inesperadas, que acentuam a podridão de um sistema diferente mas com os mesmos problemas dos que já conhecemos (até) hoje.
Ao fim e ao cabo, os mesmos seres humanos que há séculos dominam o planeta, com as mesmas (poucas) qualidades, os mesmos (muitos) defeitos, as mesmas ambições e jogadas sujas para as concretizar.
Os tons maioritariamente sombrios e escuros de Santi Arcas e o traço realista sujo de Michael Lark contribuem sobremaneira para acentuar o tom desencantado, a tensão latente em permanência e a falta de confiança no ser humano, predominantes no argumento de Greg Rucka que explora bem as diferenças do contexto em que as personagens vivem. As variações temáticas e a interacção sempre complicada entre os intervenientes são trunfos que ele utiliza para tornar esta série estimulante e desafiadora - pelo menos quando lida no momento certo!
Lazarus:
Um, Dois e Três
Greg
Rucka (argumento)
Michael
Lark (desenho)
Santi Arcas (cor)
Devir
Portugal, Julho de
2018, Janeiro e Outubro de 2019
170
x 260
mm, 104+128+152
p., cor, capa cartão
9,99
€
+ 14,99 € + 14,99 €
(imagens disponibilizadas pela Devir; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
A mim, cativou-me logo nas primeiras páginas. A ver vamos se a devir não mata de vez este Lazarus
ResponderEliminarhttps://www.mycomicshop.com/search?TID=24807587
EliminarAo todo sao 6 tpbs,para já.......
O volume Quatro já está impresso (no Brasil), à espera de transporte para Portugal.
EliminarBoas leituras!
Infelizmente deixei de confiar na Devir para titulos em continuação
ResponderEliminarjsilva
Cheguei a comprar os dois primeiros mas desisti, não por falta de qualidade da obra mas porque mal consigo ler os balões, o tamanho deles não permite grandes adaptações para português onde o texto fica mais extenso, o que faz com que a fonte fique muito diminuída na maior parte dos casos, é tortura e faz-me perder o prazer da leitura.
ResponderEliminarClaro que comprei os TPBs americanos.