L’Intégrale 1938-1943
Rob-Vel
Dupuis
(Bélgica, 18 de Janeiro de 2013)
220 x 300 mm, 312 p., cor,
cartonado
24,00 €
Resumo
Compilação das pranchas originais de Spirou criadas por
Rob-Vel (e não só…), introduzidas por um dossier muito completo e bem ilustrado
sobre a (atribulada) génese do herói.
Desenvolvimento
Há obra que se lêem com paixão, para outras é necessário
utilizar a razão. É o caso desta.
Há muito sabedor que Rob-Vel tinha sido o criador (gráfico)
de Spirou, quase nada tinha visto até hoje desses primeiros passos da
carismática personagem. Ao saber desta edição, rapidamente subiu para o topo
das minhas prioridades e a sua leitura impôs-se naturalmente. E, é sem dúvida
pelo seu tom documental que ela se torna valiosa, pois esta é a primeira vez
que todas as pranchas desenhadas por Rob-Vel são disponibilizadas após a sua
publicação original, pois até esta data uma única vez tinham sido reproduzidas,
em dois tomos, de tiragem limitada, no já muito distante ano de 1975.
Delineado por Jean Dupuis em 1937,
para ser a figura principal de uma nova publicação dedicada aos mais novos que
ele pensava editar, baptizado em reunião familiar dos Dupuis, Spirou seria
entregue ao francês Rob-Vel, colaborador de “Le Moustique”, uma outra
publicação da editora, e com vocação para desenhar grooms!
Dessa forma, a 21 de Abril de
1938, Spirou saltava (literalmente) do papel, para se tornar – ninguém o
adivinhava ainda - um dos mais representativos e duradouros heróis da banda
desenhada franco-belga.
O Spirou original, ainda em busca de
definição, foi evoluindo sem rumo fixo, consoante as necessidades de cada
episódio: traquinas, espertalhão, patriota, com um irmão gémeo (!), fumador,
apreciador de bom vinho, responsável por esquemas de honestidade duvidosa,
cientista, ventríloquo, detective, monarca, manager de um pugilista, astronauta…
Um faz-tudo, em suma, no qual identificámos muito pouco do herói que hoje tão
bem (re)conhecemos.
É dessa forma que protagoniza as suas
primeiras 27 pranchas aos quadradinhos, episódios humorísticos auto-conclusivos.
Depois, a 17 de Outubro desse mesmo ano, arranca a sua primeira aventura longa –
92 pranchas. Por elas e pelas seguintes, para lá de Rob-Vel, entretanto condicionado
pelo serviço militar e pela ocupação da Bélgica pelos nazis, passarão a sua
esposa, Blanche, Luc Lafnet e diversos colaboradores que permaneceram anónimos.
Disso se ressente a obra, com o traço e a própria planificação a variarem
segundo a inspiração e o estilo de cada um. Como curiosidade, fica uma nota
para o facto de as duas últimas pranchas – que terminam bruscamente essa
primeira narrativa longa – terem sido realizadas por Jijé, que poucos anos
volvidos, a partir de 1944, haveria de deixar uma marca fundamental na série, modernizando-a
e criando o temperamental Fantásio.
O mote desse relato primeiro
relato em continuação – na qual Spirou, pela primeira vez, assumirá o papel de viajante
pelo mundo – é, sem dúvida, curioso e original: Bill Honey, um norte-americano
hospedado no hotel onde Spirou trabalha, recebe uma fabulosa herança, que perderá
se não conseguir gastar um milhão por mês. Spirou encarregar-se-á de o ajudar,
evitando que a fortuna vá cair nas mãos de outro.
Nela – como nos outros episódios
posteriores, ao fim de poucas páginas, o ponto de partida é esquecido,
coadjuvantes desaparecem misteriosamente e as peripécias e os locais da acção
desdobram-se e multiplicam-se, tudo ao sabor da inspiração no momento criativo…
Esta belíssima edição, revela-se
assim, antes de tudo, um documento fundamental, que descobre a génese de Spirou
e espelha a forma de narrar aos quadradinhos, na Bélgica, nos anos que
antecederam a II Guerra Mundial. E cuja leitura, uma vez terminada, nos faz
pensar que só o talento único de dois génios dos quadradinhos, Jijé e Franquin,
tornou possível que este Spirou se tenha tornado naquele que hoje conhecemos.
A reter
- O valor documental de uma edição deste calibre: foi
preciso esperar 75 anos para ficar disponível a (longa) génese de um dos mais
importantes heróis da BD franco-belga.
- O livro em si: um objecto magnífico, surpreendentemente
leve (para a sua dimensão), bom papel, boa impressão.
- O dossier que abre o volume e detalha o percurso criativo
dos autores do groom mais conhecido da BD.
Curiosidades
Simples coincidência ou Rob-Vel era leitor do Tintin de
Hergé?
Deixo três momentos – que não são os únicos – que parecem inspirados
(?) nas aventuras do “repórter que nunca escreveu uma linha”…
Spirou (1942) / Tintin (1930)
Spirou (1939) / Tintin (1934)