17/12/2009

The Simpsons, 20 anos – O fã Nuno Mata

- Porque és fã dos Simpsons?
Nuno Mata (*) -
É inevitável não gostar de uma família que se parece em muitas coisas com a nossa. Cheia de defeitos e qualidades escondidas e com um carisma muito próprio (embora a cor amarela seja o que menos consigo associar à minha própria família).
- O que aprecias mais na série?
NM -
A relação entre as diferentes personagens! São reflexos não só da sociedade americana mas também da sociedade universal. Temos os bêbados a verem o mundo com olhos reais e lógicos e temos os ditos normais cheios de clichés, medos, etc. São realmente as relações entre os diferentes personagens que fazem a série...
- E quais são os seus pontos fracos?
NM -
Para mim o principal ponto fraco é não ter pontos fracos! É perfeita, não se esqueceram de nada.
- Foi por isso que resistiu 20 anos num mundo como a TV que funciona muito à base de modas?
NM -
Principalmente por isso... Penso que os Simpsons ainda vão andar por aí quando tiver 90 anos...e vou rir-me sempre das mesmas piadas sem sequer questionar a verdadeira intenção das mesmas... É uma série tão inteligente que passa à vista de muitos como mais uma série de desenhos animados..."coisas de Putos"...

- Mas que apesar disso consegue criar polémicas a nível governamental e entre estados... NM - Pois...tão inteligente como isso!!!! Um reflexo da verdade, espelho real de uma sociedade feita a partir de um conjunto de diferentes culturas, uma amalgama labiríntica de estilos de vida e de sonhos inalcançáveis... (fui demasiado sebastianista?).
- De que consta a tua colecção Simpsons?
NM –
De algumas figuras de que gosto imenso, uns comics perdidos por aí e um bichinho simpático que me alerta quase sempre para a televisão quando eventualmente está a dar a série...
- Tens algum "sonho" Simpson?
NM -
Encontrar o bar do Moe ao virar de uma esquina...

- Qual a tua personagem favorita?
NM -
Decididamente o peixe com 3 olhos... Estou a brincar, nenhuma em especial... Como disse gosto da relação entre elas, são únicas e todas têm um carisma especial...
- Que personagem gostavas de incarnar na série?
NM -
Talvez o Krusty... Queria ver-me de cabelo verde um destes dias... Mas também porque ele é um grande sacana...Não me identifico muito com ele mas acho que a personagem é a mais triste e ao mesmo tempo a mais divertida (ignorada, conspurcada, pisada, etc..). Queria dar-lhe novo alento!
- Que celebridade gostavas que participasse num episódio?
NM –
José Sócrates, o primeiro-ministro de Portugal... Poderia ser um dos ajudantes do Krusty ou ser designado para limpar os tanques da central nuclear...
- Como seria retratado Portugal se os Simpsons nos fizessem uma visita?
NM -
Como um país de gente fresca, bela (especialmente as mulheres) mas com bêbados a cada canto, velhas cobertas de panos pretos, peixeiras e barrigudos... (eu próprio um candidato em potencial!).

* Nuno Mata, designer de Interiores, 34 anos, é coleccionador de cultura POP, principalmente bonecada, cujas novidades mostra (quase) diariamente no blog My Best Toys

(Versão integral do depoimento feito para o Jornal de Notícias de 17 de Dezembro de 2009)

The Simpsons, 20 Anos

Não são leitura nem banda desenhada (embora também passem por aí), mas são uma das minhas referências e um dos meus vícios, por isso decidi lembrar aqui, neste e em alguns dos próximos posts, o seu aniversário.
Que deve ser comemorado, a vê-los onde são melhores: na televisão.

16/12/2009

Efeméride – Comanche foi criada há 40 anos


Há 40 anos, os leitores do “Tintin” belga, descobriam no nº50 uma nova série intitulada “Comanche”. Se as primeiras pranchas, ambientadas num vasto espaço selvagem e com um duelo logo a abrir davam o mote para mais um western aos quadradinhos, poucos imaginavam que esta seria uma das mais referenciadas (e reverenciadas) abordagens realistas a um género que a banda desenhada explorou até à exaustão, então (ainda) na moda.
O seu argumentista era Greg, rigoroso na construção e desenvolvimento das histórias, mestre na escrita dos diálogos, que situou a acção da nova série no período de transição entre o Oeste selvagem em que imperava a lei das armas e dos mais fortes e a chegada da civilização às regiões mais inóspitas do vasto continente americano.
E como protagonistas, um lote de personagens de todo improvável - Comanche, uma jovem, dona do rancho “666”, Ten Gallons, um velho vaqueiro, o negro Toby, o miúdo Clem e o índio “Mancha de Lua” – todos excluídos socialmente, que lhe permitiu abordar problemas como o lugar da mulher, o racismo ou o massacre dos peles-vermelhas. E, claro, Red Dust, a estrela da companhia, o elo de união entre todos, capaz de potenciar o melhor de cada um, irlandês, ruivo, ex-pistoleiro, decidido e humano. E talvez este seja, também, o adjectivo que melhor define a série: humana porque, apesar de abundarem os tiroteios, os confrontos com bandidos e pele-vermelhas, as emboscadas, as armadilhas, a corrupção e os negócios pouco claros, ficando como um marco o tríptico “Os lobos do Wyoming”/”O céu está vermelho sobre Laramie”/”Deserto sem luz”, que narra a passagem do protagonista pela prisão após desrespeitar a proibição do uso de armas para por fim a um impiedoso bando de assassinos. E cujo final (sugerido por Hermann) hiper-violento (para a época) do segundo daqueles títulos – o último dos irmãos Dobbs é abatido por Dust, semi-nu e desarmado, caindo no meio do lixo e sujidade - valeu à série ser “excluída” das páginas da revista Tintin.
Também por (tudo) isto, “Comanche” é antes de tudo um tratado sobre seres humanos, sobre a sua adaptação às circunstâncias e a um novo mundo, sobre superação e sobre amizade.
O desenho foi entregue a Hermann que, após alguma experimentação nas primeiras histórias – vinhetas grandes, planos de pormenor, pontos de vista ousados – se revelou progressivamente como um dos grandes mestres europeus do género, com uma planificação multifacetada e dinâmica, tal como o traço, nervoso, violento, com o evoluir da série mais belo e depurado, ágil e servido por belas cores, tão capaz de retratar os grandes espaços como o ser humano, de mostrar o quotidiano como os (muitos) momentos de tensão e violência.
Em Portugal, a série foi publicada integralmente na revista “Tintin” e (de forma desordenada) oito dos seus dez tomos foram editados pela Bertrand e/ou a Distri.
Anos mais tarde, em 1989, Greg (ninguém é perfeito) voltou a Comanche para mais cinco aventuras (a última terminada por Rudolphe, devido à sua morte, em 1990). Mas a verve narrativa já não era a mesma, o tempo do western tinha também passado e o traço de Rouge (mostrado em “As Feras”, publicada na 1ª série das Selecções BD, do #38 ao #40) ficava muito distante da arte de Hermann.

(Versão revista e aumentada do artigo publicado no Jornal de Notícias de 16 de Dezembro de 2009)

Zatoichi














Hiroshi Hirata (argumento e desenho)
Delcourt (França, Janeiro de 2006)
127 x 180, 256 p., pb, brochado com sobrecapa com badanas, sentido de leitura japonês

14/12/2009

As Leituras dos heróis – Demian

(Segundo a pessoalíssima opinião de Pasquale Ruju *)

Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Demian?
Resposta – Mmm… Uma pergunta difícil… Diria que Demian poderia ler Dylan Dog (e, porventura, Napoleone e Jan Dix, dada a paixão comum pela arte e pela poesia).

* com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco

11/12/2009

O Gato do Simon – Os gatos são mesmo assim!


Simon Tofield (argumento e desenho)
Objectiva (Portugal, Outubro de 2009)
210 x 164 mm, 240 p., pb, brochado com badanas


Irresistível. Eu, que nem aprecio gatos – e de que quero ainda maior distância depois de saber do que eles são capazes, se são mesmo assim! – vi-me rendido ao do Simon ao fim de poucas dezenas de páginas!
Compilação de ilustrações, cartoons e sequências narrativas curtas – alguns originais outros adaptando os filmes animados em que o gato nasceu, disponíveis na net – este livro revela-nos um felino com dupla personalidade. Pelo menos.
Porque tão depressa se comporta como um gato normal, preguiçoso e pachorrento, mimado – a que quase apetece fazer uma festa – como deixa vir ao de cima o seu lado “Garfield” - digamos assim, para melhor compreensão, ao fim e ao cabo são ambos felinos e protagonistas da mesma (9ª) arte! – esfomeado, anárquico, terrorista, sádico, cruel, vingativo…
E, claro está, é este segundo lado que prefiro, pois é quando o assume que tenta – desesperada e pateticamente – capturar os animaizinhos do jardim, encher o seu prato com comida a todo o custo ou destruir a casa em que vive com o pobre Simon.
Para além deste pobre diabo, o gato contracena também com pássaros e ratos – que também não lhe fazem a vida fácil, registe-se -, porcos-espinhos (cujos picos os tornam vítimas de indizíveis partidas) ou outros seres vivos de ocasião… E, acima de tudo, o gato do Simon interage com o sorumbático anão de pedra do jardim, seu (involuntário) companheiro de partidas, caçadas, pescarias e demais patifarias. Ou pelo menos, o gato tenta que sim…
É com eles, com este universo simples e enganadoramente limitado – veja-se a diversidade de soluções que as mesmas situações possibilitam -, que Tofield, com um traço fino e simples, mas expressivo, dinâmico e de grande legibilidade, dá largas ao seu humor, que oscila entre linear ou negro, o nonsense, a ternura ou o completamente inesperado, mas sempre irresistível. Mas isso, já o tinha escrito.

(Versão revista e aumentada do artigo publicado originalmente a 21 de Novembro de 2009, na secção de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

Dieu en personne

Mac-Antoine Mathieu (argumento e desenho)
Delcourt (França, Setembro 2009)
187 x 265 mm, 128 p., cartonado


Resumo
Numa fila de espera, um homem aguarda a sua vez. Quando finalmente é atendido, apresenta-se como Deus e revela não ter documentos ou domicílio conhecido.

Desenvolvimento
O pretexto é prometedor: Deus regressa à Terra que criou, para ver o seu estado, combater a solidão que sente e aprender a faculdade de rir. Um Deus (bem) humano…
Mas este também é um Deus que mostra a sua divindade, pois é capaz de saber quantas moléculas há numa sala num determinado instante ou de resolver postulados matemáticos ou físicos até então insolúveis.
E se a primeira reacção dos humanos é de incredulidade, depois a multidão passa à crença. A que se segue, inevitavelmente, num mundo globalizado, o interesse mediático e o aproveitamento comercial. O primeiro, analisando o facto de todos os ângulos, o segundo, potenciando o “criador” sob todas as formas: logótipos, livros, música, puzzles, canecas, jogos, campanhas promocionais, sessões de autógrafos, entrevistas, espectáculos, um site…
Mas depois, aos poucos – quando o efeito “novidade” desaparece -, surge uma onda de revolta pelos (muitos) “defeitos” encontrados na sua criação que, golpe de teatro, acaba por originar um processo judicial duma dimensão sem precedentes.
Ao longo desse julgamento, duma enorme incongruência, vão-se acumulando as situações caricatas, as mais absurdas pretensões, com todos – advogados, cientistas, feministas, sociólogos, imprensa, economistas, psiquiatras, filósofos – sem lugar para o homem comum? – a tentarem apresentar e definir Deus.
Um Deus que face a tudo isto se revela cada vez mais cansado e farto de tudo e cuja (breve) história terrena termina (?) com um longo comunicado difundido através da televisão…

Mais do que uma história aos quadradinhos, este é um ensaio em BD sobre Deus, melhor, sobre a forma como Ele é visto pelas pessoas, curiosamente sem que sejam citados ou apareçam religiões, igrejas ou os seus ministros, aqueles que geralmente se anunciam como possuidores d(e tod) a verdade. E sem que Marc-Antoine Mathieu pretenda de alguma forma ter (um)a palavra (final) sobre o assunto.
Em suma, é uma visão laica de Deus, explicou o autor, criada com muita ironia, apresentada de forma sóbria, apesar do traço caricatural, com uma planificação diversificada que ajuda a atenuar o peso e a profundidade das palavras que Mathieu utiliza com mestria, em diálogos bem estruturados.

A reter
- A originalidade da ideia base.
- A forma como Mathieu disserta sobre Deus, em banda desenhada.
- A força dos diálogos.

Curiosidades

- Flaubert, Sartre, Jung ou Einstein são algumas das personalidades citadas ao longo deste ensaio aos quadradinhos.
- Este álbum recebeu o Grand Prix de la Critique 2010, em França, atribuído pela Association des Critiques et Journalistes de Bande Dessinée (ACJBD), entre as 3607 novidades editadas naquele país entre novembro de 2008 e Outubro de 2009.
- Não inocentemente, o livro foi publicado a 9/09/09, o que invertido dá…

10/12/2009

As Leituras dos Heróis – Loverboy

(segundo Marte, aliás, Marcos Farrajota)

Pergunta - Se lesse banda desenhada, quais seriam as preferidas de Loverboy?

Resposta - O Loverboy é um beto, filho do neo-liberalismo cavaquista e neto da cultura cristã (dois momentos negros da História!) logo não lê BD nem outra coisa qualquer.
Talvez o manual de IVA ou o Milan Kundera e pouco mais, mas se lesse BD provavelmente iria ler o mais baixo e reles que houvesse no mercado…
Bom… o que há no mercado? Talvez o Warhammer ou Conan, o Bárbaro? Pior, o Tex… mas acho muito pouco provável.

Loverboy #3 – (…) muda mas fica igual (…)

Marte (argumento)
João Fazenda )desenho)
Edições Polvo (Portugal, Novembro de 2001)
158 x 230 mm, 48 p., pb, brochado


A banda desenhada portuguesa não tem sido fértil em heróis, entendendo-se aqui o termo como referindo-se a protagonistas que passam de história em história, quer como personagens (quase) invencíveis, quer como simples condutores de narrativas mais abrangentes. E se nos primórdios ainda se conseguem encontrar alguns exemplos (frutos também da existência de revistas e jornais que permitiam uma publicação regular), na "moderna BD portuguesa", os dedos de uma mão sobram para os referenciar: o Espião Acácio de Relvas, confinado às páginas da revista "Tintin" (e a merecer reedição condigna), o Porto Bomvento, de José Ruy e, principalmente o Jim del Monaco, de Louro & Simões.
Agora, um outro nome começa a afirmar-se: Loverboy, que, depois de "O rebelde" e "A faculdade são dois ou três livros", regressa com "(…) muda mas fica igual (…).
Neste álbum, o traço de João Fazenda surge mais solto, mais estilizado, mais rebelde, quase escrevia "à imagem do herói", não fosse este álbum um retrato da passagem da juventude para a idade adulta. Passagem que vem depois da fase das bandas de garagem, e da entrada na faculdade, de que falavam os títulos anteriores escritos por Marte. Passagem despoletada por umas férias com os amigos e experiências com drogas, que têm como resultado o reconhecimento de um imenso vazio (houvesse mais com esta percepção…) e a necessidade de procurar algo mais da vida (o amor? uma relação estável? a necessidade de responsabilidade?).
O que ressalta deste terceiro livro é a vontade de mudar, de passar da adolescência (cada vez mais - e a culpa não é maioritariamente deles) vazia e fútil para a idade adulta, embora para isso seja necessário quebrar a própria auto-resistência, a comodidade de ser igual aos outros, resistir ao facilitismo instalado na sociedade.
Em termos do trabalho dos autores, o prosseguir no caminho agora esboçado, se de alguma forma pode implicar a perda de um público que se identifica com o anterior Loverboy, e que ainda não deu (não tem capacidade de dar) o mesmo passo em frente, embora arriscado é sem dúvida um desafio estimulante e, a médio prazo, capaz de dar a Loverboy uma consistência e uma dimensão já revelada pontualmente e que este álbum acentua.

(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 1 de Janeiro de 2001)

Tarzan dos Macacos

Condensação da novela de Edgar Rice Burroughs
Harold R. Foster (desenho)
Libri Impressi (Novembro de 2009)
230 x 215 mm, 72 p., pb, brochado com badanas

Resumo

A história de Tarzan, o rapaz branco adoptado pelos grandes gorilas africanos que cresceu como um selvagem e o seu posterior contacto com a civilização dos seus pais e com compatriotas, é um dos grandes mitos do século XX, criado na literatura e depois ampliado pelo força das imagens do cinema e da banda desenhada.

Desenvolvimento
Este tomo, recupera a adaptação para a 9ª arte da história original de Burroughs, publicada em 1929 e que ficou para a história como a primeira banda desenhada em estilo realista, num tempo em que toda a BD era cómica. O seu responsável gráfico foi Harold Foster – que viria a ficar famoso como criador do Príncipe Valente – que, com um traço ágil, nervoso e dinâmico, com um apreciável domínio do preto e branco e dos jogos de luz e sombras e uma multiplicidade de enquadramentos, recria de forma magistral a misteriosa selva africana, a selvajaria das suas criaturas ou a elegância do homem criado pelos macacos.
É um clássico que hoje, 80 anos depois, mantém toda a actualidade e modernidade porque, apesar do texto no rodapé das imagens, se trata de uma indiscutível sequência gráfica narrativa, em que as (soberbas) ilustrações muitas vezes quase dispensam o texto escrito.

A reter
- A força gráfica de um clássico com 80 anos.
- O notável trabalho de restauro das ilustrações originais de Foster (explicado no final do volume) feito por Manuel Caldas a partir de quatro edições, aproveitando de cada uma o melhor de cada desenho, num trabalho de rigor, minúcia, entrega e paixão que o ocupou durante algumas centenas de horas e faz desta edição a primeira em todo o mundo a apresentar, completamente restaurada e em todo o seu esplendor, a feliz conjugação dos talentos de Burroughs e Foster.

Menos conseguido
- Eu sei que possivelmente não havia (economicamente falando) outra solução para a montagem deste livro, que publica duas tiras por página dupla: como cada tira tem 5 vinhetas, no topo da primeira página temos 3 vinhetas e mais duas no topo da segunda página e, depois, 2 vinhetas no fundo da primeira página e 3 no fundo da segunda. No entanto, pessoalmente, preferia apenas uma tira por página, o que implicaria um livro mais baixo e comprido. Esquisitices, dirão alguns...

Curiosidades
- Tarzan dos Macacos é considerada a primeira banda desenhada realista.
- Todos os que leram o (magnífico) Tarzan de Joe Kubert, poderão descobrir nesta edição como ele se inspirou (tantas vezes) no original de Foster.
- O mesmo se passou com Frank Frazetta, por exemplo para desenhar a capa mostrada aqui ao lado, claramente inspirada na última vinheta da página 35 (em baixo).

(Versão revista e aumentada do artigo publicado originalmente a 5 de Dezembro de 2009, na secção de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

09/12/2009

As Leituras dos Heróis – Mathias


(segundo Giancarlo Malagutti, com desenho original e uma saudação de Itália *)

Pergunta - Se lesses banda desenhada quais seriam as tuas preferidas Mathias?

Resposta – Mas eu leio banda desenhada! Em casa temos muitas delas, são do papá mas eu também as leio. Martin Mystère, Tex, Alan Ford e até Astérix… e tantos outros de que agora não me recordo. A mim agradam-me Astérix e Benoit Brisefer, mas o meu preferido é Zagor. Lê-o também a minha amiga Anna embora diga sempre que não gosta de westerns.

* com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco

08/12/2009

Mucha

David Soares (argumento)
Osvaldo Medina (desenho)
Mário Freitas (arte-final)
Kingpin Books (Portugal, Outubro de 2009)
184 x 260 mm, 36 p., pb, brochado com badanas


Marcando o regresso de David Soares à BD, depois de um interregno em que o romance – “A Conspiração dos Antepassados”, “Lisboa Trunfante” - teve a sua preferência, este livro mostra-o à vontade no tratamento de um tema – o terror – que lhe é grato.
Trata-se de uma história simples e banal, é verdade, mas incómoda pelo proximidade da ideia base – baseada numa premissa da peça surrealista “Rhinocéros”, de Eugène Ionesu - e pela forma aberta como é narrada, sem princípio nem fim, o que deixa no ar a ideia de que o que acontece nela pode voltar a ocorrer… num lugar perto de si! Sem levantar qualquer ponta do véu, para não estragar o efeito surpresa, sempre necessário no género, refiro apenas que se trata de uma história quase sem palavras, muitas vezes muda até, mas com muitas moscas, cujo zumbido incómodo e inquietante parece ouvir-se nas pranchas, como “se essa fosse a única banda sonora possível”, escreve, inspirado, Pedro Moura na introdução.
Responsável pelo argumento e pela planificação, Soares entregou o desenho a Osvaldo Medina - revelado com o magnífico “A Fórmula da Felicidade” - aqui coadjuvado pela arte-final de Mário Freitas, que dá espessura e um tom mais rude e grotesco ao traço mais fino e delicado de Medina, ajudando à composição do clima de medo e insegurança que transpira do relato e nos fará olhar para as moscas (nojentas e) banais de uma forma (bem) diferente após a sua leitura.

(Artigo publicado originalmente 28 de Novembro de 2009, na secção de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

07/12/2009

Lady S. #6. Salade portugaise

Jean Van Hamme (argumento)
Philippe Aymond (desenho)
Sébastien Gérard (cores)
Dupuis (Bélgica, Novembro 2009)
217 x 298, 48 p., cor, cartonado


Resumo
Shania Rivkas é uma jovem estoniana que trabalha como intérprete no Parlamento Europeu, em Estrasburgo. E é também Lady S., uma agente que, por vezes, trabalha às ordens da CIA.
Neste sexto tomo das suas aventuras, um imprevisto, involuntariamente relacionado com a preparação de um atentado terrorista da Al Qaeda, mais importante que os de 11 de Setembro, obriga-a a partir de urgência para Lisboa, para seguir uma pista que a pode levar a encontrar o pai, que julgava morto há uma dúzia de anos.

Desenvolvimento
Tudo começa, quando a sua companheira de apartamento, a bela Kadija, sempre sedenta de sexo, a convence a participar num jantar a quatro. Durante a refeição conhece Kader Bessaoui, um jovem e interessante professor islâmico.
Só que, desde logo, nem tudo é o que parece neste início de álbum, com (quase) todos os participantes a esconderem segredos e a assumirem ser o que não são, num desenrolar de situações – dois fugitivos mortos pela policia, um CD escondido na bolsa de Shania, um atentado da Al Qaeda em preparação, a notícia do aparecimento do pai da protagonista, a perseguição encetada por russos e muçulmanos radicais, uma atribulada refeição á sombra da ponte 25 de Abril, diversos atentados, uma animada perseguição pelas ruas lisboetas, um vistoso acidente automóvel…. - que se tornam cada vez mais intrigantes, até ao (também) inesperado final.
Esta é uma série típica da banda desenhada de aventuras de matriz franco-belga, dinâmica, com muita acção, ritmo elevado, suspense q.b., diversas surpresas e vitória final da protagonista, dos bons.
Pelo meio, Van Hamme, com a sua habitual competência, cria alguns laços com os tomos anteriores – que explicam alguns aspectos mas cuja leitura não é necessária para a compreensão deste episódio -, gere com eficácia as situações, puxa os cordelinhos certos, introduz diversos elementos surpresa, faz algumas inflexões no rumo da narrativa e, com isso, prende e cativa o leitor, que, sem dar por ela, percorre página após página em busca do desfecho que concederá algum descanso à adrenalina.
Aymond, sem deslumbrar, mas também sem erros de relevo, cumpre bem o seu papel, melhor nos cenários, pormenorizados e credíveis, do que no tratamento da figura humana, à qual falta um pouco mais de dinamismo.

Curiosidades
- Para nós, portugueses, este álbum apresenta a particularidade de dois terços das suas páginas se desenrolarem em Lisboa e arredores, a começar logo pela capa, que apresenta uma boa perspectiva da cidade e do castelo de S. Jorge. Algo raro, mesmo em obras de autores nacionais.
- A protagonista viaja num avião da TAP.
- Uma das cenas finais do livro utiliza de forma no mínimo curiosa um dos eléctricos lisboetas.
- Os diálogos incluem um balão num português impecável.
- E há também uma Amália (era inevitável o lugar comum) e – mácula desnecessária – um Manoël…
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...