Man (argumento e desenho)
Dargaud (França, Janeiro de 2008)
240 x 130 mm, 80 p., cor, cartonado
Mia é uma adolescente que sofre de bulimia. Desde pequena, sente uma necessidade imperiosa de vomitar tudo o que come. Por isso, apesar de bonita e sensual (tem as medidas de uma top-model…) - e também porque os pais não a compreendem - sente-se só e abandonada por todos, e sente inacessível aquele por quem se apaixonou, por quem vai todos os dias à biblioteca da universidade (que ainda não frequenta) tentando ganhar coragem para lhe falar.
Ele, é Dany. Que parece ter tudo para ter sucesso na vida: atraente e rico, que mais desejar? A atenção do pai, que lhe dá tudo menos aquilo que ele deseja: companhia, solidariedade, interesse.O caminho de ambos vai-se cruzar, numa armadilha do destino, que leva a que Dany seja raptado no exacto momento em que Mia ganhou coragem para falar com ele - ainda que só para lhe perguntar as horas… E que faz com que Mia seja a única a reagir, acabando por ser também levada pelos raptores, interessados em receber um belo resgate pelo rapaz.
Finalmente juntos, numa situação extrema, encontram-se e encontram no fundo de cada um as forças desconhecidas que os farão dar as respostas necessárias e poderem encarar juntos (até quando) um futuro mais que duvidoso.
Porque apesar do aparente happy end, a verdade é que o catalão Man deixa bem claro que todos os problemas continuam. E somos obrigados a pensar que, às vezes, é mais fácil encarar situações extremas do que viver o dia-a-dia, igual e monótono, aceitando as diferenças dos outros. Porque num relato aparentemente de tom policial, é às relações humanas - e de cada um consigo mesmo - que o autor dá todo o destaque, arrastando-nos até ao âmago de Mia e Dany.
Graficamente atraente, com um traço limpo de pormenores desnecessários, em que as expressões fisionómicas são o mais marcante, com uma planificação multifacetada e dinâmica, a obra trilha um caminho que muitos, possivelmente, vão seguir nos próximos tempos: o cruzamento entre o grafismo asiático e a construção narrativa ocidental, embora sejam claramente inspirados naquele género algumas sequências mudas (ou quase), em que a imagem ganha toda a força da narração.
(Versão revista e actualizada do texto originalmente publicado no BDJornal #22 de Janeiro/Fevereiro de 2008)
26/01/2010
Palhaço
Quentin Blake (argumento e desenho)
Caminho (Portugal, Outubro de 2009)
220 x 308 mm, 32 p., cor, brochado
Embora a data de nascimento da banda desenhada tenha sido (mediaticamente) estabelecida em função da utilização de balões de fala, este “Palhaço” é um belo exemplo de como uma BD muda – sem palavras escritas, entenda-se – pode ser tão eloquente e expressiva.
É verdade que a sua ideia base é simples e até pouco original: uma série de bonecos velhos (ultrapassados pela tecnologia?) são deitados ao lixo na sequência de uma arrumação – depreende-se porque, uma das características da banda desenhada é permitir ao leitor perceber/intuir/adivinhar, o que nela não está escrito/desenhado. Entre eles está um palhaço que – numa bela e maravilhosa efabulação – ganha vida e parte em busca de uma nova dona. A primeira escolha falha, devido ao seu pobre aspecto (de brinquedo de pobre). Mas, após algumas peripécias divertidas, com a ternura que os contos infantis (ainda) sabem ter, acaba por encontrar quem realmente precisa dele, conseguindo ainda resgatar os seus antigos companheiros de brincadeira para alegria geral, mostrando como a felicidade pode estar nas coisas simples.
O que faz a diferença nesta narrativa – galardoada com o prémio Bologna Ragazzi – é o traço do autor, próximo do cartoon, simples mas mais pormenorizado do que parece indicar uma leitura rápida, ágil, vivo extremamente expressivo, bem tingido – de forma parcimoniosa mas muito eficaz - por cores suaves e alegres.
E se esta é uma BD sem palavras, é também uma BD a cujas pranchas faltam também (quase todos) os enquadramentos, o que de forma alguma serve para dificultar a sua leitura, servindo para lhe conferir uma grande liberdade (também visual), dotando-a de movimento e acentuando o seu ritmo vivo e o seu tom maravilhoso.
(Texto publicado originalmente a 23 de Janeiro de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
Caminho (Portugal, Outubro de 2009)
220 x 308 mm, 32 p., cor, brochado
Embora a data de nascimento da banda desenhada tenha sido (mediaticamente) estabelecida em função da utilização de balões de fala, este “Palhaço” é um belo exemplo de como uma BD muda – sem palavras escritas, entenda-se – pode ser tão eloquente e expressiva.
É verdade que a sua ideia base é simples e até pouco original: uma série de bonecos velhos (ultrapassados pela tecnologia?) são deitados ao lixo na sequência de uma arrumação – depreende-se porque, uma das características da banda desenhada é permitir ao leitor perceber/intuir/adivinhar, o que nela não está escrito/desenhado. Entre eles está um palhaço que – numa bela e maravilhosa efabulação – ganha vida e parte em busca de uma nova dona. A primeira escolha falha, devido ao seu pobre aspecto (de brinquedo de pobre). Mas, após algumas peripécias divertidas, com a ternura que os contos infantis (ainda) sabem ter, acaba por encontrar quem realmente precisa dele, conseguindo ainda resgatar os seus antigos companheiros de brincadeira para alegria geral, mostrando como a felicidade pode estar nas coisas simples.
O que faz a diferença nesta narrativa – galardoada com o prémio Bologna Ragazzi – é o traço do autor, próximo do cartoon, simples mas mais pormenorizado do que parece indicar uma leitura rápida, ágil, vivo extremamente expressivo, bem tingido – de forma parcimoniosa mas muito eficaz - por cores suaves e alegres.
E se esta é uma BD sem palavras, é também uma BD a cujas pranchas faltam também (quase todos) os enquadramentos, o que de forma alguma serve para dificultar a sua leitura, servindo para lhe conferir uma grande liberdade (também visual), dotando-a de movimento e acentuando o seu ritmo vivo e o seu tom maravilhoso.
(Texto publicado originalmente a 23 de Janeiro de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
25/01/2010
Efeméride – Quick e Flupke, dois diabretes octogenários
Se é normal associarmos o nome de Hergé a Tintin, a sua obra maior e uma das bandas desenhadas mais celebradas de sempre, o autor criou outros heróis, entre os quais Quick e Flupke, que há 80 anos eram vistos pela primeira vez em papel impresso. Tratava-se de dois pequenotes de Bruxelas – revisão ficcionada da própria infância de Hergé – juntos pela amizade, pela vontade de experimentar coisas novas e pela especial queda para provocar (pequenos) desastres.
A estreia ocorreu no “Le petit Vingtiéme” de 23 de Janeiro de 1930, pouco mais de um ano depois de Tintin, e as diferenças entre as duas criações eram significativas. Enquanto o repórter era (viria a ser…) longas aventuras, viagens, exotismo, justiça e ordem, Quick e Flupke não saíam da sua Bruxelas natal e viviam um quotidiano igual ao dos outros miúdos mas suas partidas provocavam o caos e desesperavam o Guarda 15, vítima recorrente das diabruras em duas pranchas.
O humor em Quick e Flupke, mais tarde decalcado em Tintin para os gags com Haddock ou Tournesol, raia muitas vezes o nonsense, pode ter conteúdos sociais ou politizados (como quando satirizam Hitler e Mussolini), representa-os como diabos (literalmente) e levava-os mesmo a chocar com os limites físicos das vinhetas ou a interagir com o desenhador.
E se o traço é o mesmo de Tintin, sente-se uma maior liberdade criativa e o privilegiar da eficácia estética e narrativa.
Com cerca de 250 pranchas publicadas (de forma irregular) durante uma década, Quick e Flupke tiveram uma nova vida nos anos 80, em versão animada e em álbuns redesenhados e coloridos pelos Estúdios Hergé, a partir das histórias originais. Esta última edição foi lançada em Portugal pela Verbo, com os heróis rebaptizados como Quim e Filipe.
Com cerca de 250 pranchas publicadas (de forma irregular) durante uma década, Quick e Flupke tiveram uma nova vida nos anos 80, em versão animada e em álbuns redesenhados e coloridos pelos Estúdios Hergé, a partir das histórias originais. Esta última edição foi lançada em Portugal pela Verbo, com os heróis rebaptizados como Quim e Filipe.
(Artigo publicado originalmente no Jornal de Notícias de 23 de Janeiro de 2010)
Leituras relacionadas
Hergé,
Quick e Flupke,
Verbo
22/01/2010
Bonne nuit les petits
Stéphane Lenglet (argumento)
Olivier Mau (desenho)
Casterman (França, Agosto de 2009)
226 x 323 mm, 80 p., pb, cartonado
“Bonne nuit les petits” é um conto urbano curto, (muito) negro e trágico, irónico, cruel e provocador sobre juventudes difíceis e vidas desperdiçadas. É narrado com textos directos e incisivos num preto e branco (e bem aplicados cinzentos), assente num traço generoso semi-caricatural e numa planificação heterogénea e dinâmica.
“Bonne nuit les petits” é a história de Jeanne, que sonha ser actriz, mas perde o seu quotidiano correndo do part-time na livraria para castings duvidosos, de dobragens mal (e tardiamente) pagas para trabalhos de publicidade desinterssantes ou o bar onde toca. Uma jovem de 18 anos, há dois a viver só - solitária - que o pai abusou na infância e que por isso (quase) foge dos homens, mas que continua a sonhar com o dia em que por uma vez se cruzará com a sorte que até agora nunca teve.
E é a história de Fabrice, filho de milionários que sempre lhe deram tudo - tudo menos a atenção e amor de que precisava - que cresceu sozinho apesar dos muitos amigos que as suas festas atraíam, que, no dia em que faz 18 anos, mais uma vez com o pai (sombra ameaçadora sempre) longe, pensa que é altura de (finalmente) fazer uma opção, tomar uma decisão…
Uma jovem esforçada, em muitos aspectos ainda presa à (inocência da chupeta da) infância. E um jovem arrogante, preso apenas à sua própria inutilidade.
Tão distantes em tantas coisas, mas tão próximos em muitas outras, Jeanne e Fabrice vão acabar por se cruzar, como desde o início o leitor intui, embora não vislumbre como. Em mais uma festa dele, em mais um part-time dela. De forma inolvidável para todos os que assistiram… mas que deixo ao leitor descobrir, para não estragar a surpresa do (happy-end?) final.
Olivier Mau (desenho)
Casterman (França, Agosto de 2009)
226 x 323 mm, 80 p., pb, cartonado
“Bonne nuit les petits” é um conto urbano curto, (muito) negro e trágico, irónico, cruel e provocador sobre juventudes difíceis e vidas desperdiçadas. É narrado com textos directos e incisivos num preto e branco (e bem aplicados cinzentos), assente num traço generoso semi-caricatural e numa planificação heterogénea e dinâmica.
“Bonne nuit les petits” é a história de Jeanne, que sonha ser actriz, mas perde o seu quotidiano correndo do part-time na livraria para castings duvidosos, de dobragens mal (e tardiamente) pagas para trabalhos de publicidade desinterssantes ou o bar onde toca. Uma jovem de 18 anos, há dois a viver só - solitária - que o pai abusou na infância e que por isso (quase) foge dos homens, mas que continua a sonhar com o dia em que por uma vez se cruzará com a sorte que até agora nunca teve.
E é a história de Fabrice, filho de milionários que sempre lhe deram tudo - tudo menos a atenção e amor de que precisava - que cresceu sozinho apesar dos muitos amigos que as suas festas atraíam, que, no dia em que faz 18 anos, mais uma vez com o pai (sombra ameaçadora sempre) longe, pensa que é altura de (finalmente) fazer uma opção, tomar uma decisão…
Uma jovem esforçada, em muitos aspectos ainda presa à (inocência da chupeta da) infância. E um jovem arrogante, preso apenas à sua própria inutilidade.
Tão distantes em tantas coisas, mas tão próximos em muitas outras, Jeanne e Fabrice vão acabar por se cruzar, como desde o início o leitor intui, embora não vislumbre como. Em mais uma festa dele, em mais um part-time dela. De forma inolvidável para todos os que assistiram… mas que deixo ao leitor descobrir, para não estragar a surpresa do (happy-end?) final.
Leituras relacionadas
Casterman,
Lenglet,
Maurício de Sousa
Jacques Martin (1921-2010)
21/01/2010
BD e Literatura - L’Obéissance
Frank Bourgeron
(argumento e desenho, a partir do romance de François Sureau)
Futuropolis (Novembro de 2009)
217 x 296 mm, 80 p., cor, cartonado
Resumo
Em plena Primeira Guerra Mundial, o governo belga solicita ao seu homónimo francês o empréstimo de uma guilhotina e de um carrasco para executar um condenado à morte, Préfaille, preso numa zona ocupada pelos alemães. A razão do pedido ? Há mais de 80 anos que não há execuções na Bélgica, pelo que também não existem profissionais – carrascos – habilitados para o efeito...
A França aceita o pedido e envia Deibler, o executor, com a sua preciosa máquina de matar devidamente desmontada e encaixotada, sob a escolta de um pequeno grupo comandado pelo tenente Verbruge, após conseguir os necessários salvo-condutos da parte dos diversos exércitos envolvidos (francês, belga, alemão, inglês).
Desenvolvimento
Embora soe a anedota de mau gosto, esta adaptação do romance homónimo de François Sureau (Gallimard, 2006), tem por base uma história verídica, que mostra como os governos envolvidos numa guerra fratricida, embora incapazes de chegar a um consenso para promover a paz, conseguem facilmente acordos para ceifarem uma vida a mais (mesmo que isso coloque em risco diversas outros seres humanos).
De qualquer forma, o cerne da história gira em torno da obediência cega que o exército impõe – e que tantos dos seus homens cultivam – de tal forma que Verbruge, que perdeu um braço na guerra, ao receber as suas ordens, nem sequer questiona porque foi condenado à morte Préfaille. E, dias depois não admite sequer questionar se elas se mantêm, quando alterações profundas na frente de batalha o aconselhavam.
O seu grupo, composto por voluntários, é heterogéneo e singular e é pena que não tenham sido aprofundadas as suas diferenças e motivações: Deibler, que só sai de Paris obrigado e que passa os dias a relatar ao pormenor em pequenos cadernos as suas execuções; o seu ajudante, Desfourneaux, que ama a lâmina da guilhotina mais do que a própria vida; o interesseiro Faucon, que não hesita em seduzir e possuir a esposa do carrasco mesmo antes da partida… Um grupo cujos pensamentos – que servem de fio condutor à narrativa - vamos conhecendo, embora por vezes seja complicado compreender quem “pensa” naquele momento, o que retira fluidez à banda desenhada que também é afectada por algum excesso de texto.
Juntos, mas não unânimes, com algumas tensões latentes mas contidas pela necessidade de obedecer, embrenham-se no campo de batalha, sofrem bombardeamentos – de oponentes e aliados - por duas vezes, cruzam as linhas inimigas e acabam por chegar a Fresnes, onde Préfaille, que denota algum atraso mental, aguarda numa cela, acusado de um crime (relativamente) menor e inexplicável e cuja única vontade é pôr rapidamente um fim aquela situação.
Este relato que seria burlesco, se não fosse tão trágico e pesado, é feito por Bourgeron com um traço grosso, não rude como aparenta mas elegante, que no entanto se revela pouco indicado para o tratamento da figura humana, em especial ao nível dos rostos que, por vezes, se torna difícil distinguir. Mas que se torna bem mais interessante quando aplicado de forma depurada aos cenários – urbanos ou não – como nas páginas 37, 38 ou 45, em que é realçado pela ausência de texto.
A utilização exclusiva de tons – escuros - verdes e cinzentos e a opção pela pintura das personagens com uma só cor, acentua o tom sombrio desta história interessante mas cujas limitações apontadas não deixam entusiasmar, sobre uma missão absurda criada para satisfazer caprichos de políticos que tomam decisões sentados nos seus gabinetes, longe da realidade.
A reter
- A elegância do traço de Bourgeron.
- O travo amargo que o absurdo da ideia base deixa.
- A forma subtil como o relato expõe temas incómodos, sempre recorrentes, como a obediência cega, a pena de morte ou o patriotismo.
Menos conseguido
- A dificuldade de distinguir as personagens e os seus pensamentos.
- A forma como isso obriga a parar e a voltar atrás na leitura, comprometendo a fluidez da leitura.
(argumento e desenho, a partir do romance de François Sureau)
Futuropolis (Novembro de 2009)
217 x 296 mm, 80 p., cor, cartonado
Resumo
Em plena Primeira Guerra Mundial, o governo belga solicita ao seu homónimo francês o empréstimo de uma guilhotina e de um carrasco para executar um condenado à morte, Préfaille, preso numa zona ocupada pelos alemães. A razão do pedido ? Há mais de 80 anos que não há execuções na Bélgica, pelo que também não existem profissionais – carrascos – habilitados para o efeito...
A França aceita o pedido e envia Deibler, o executor, com a sua preciosa máquina de matar devidamente desmontada e encaixotada, sob a escolta de um pequeno grupo comandado pelo tenente Verbruge, após conseguir os necessários salvo-condutos da parte dos diversos exércitos envolvidos (francês, belga, alemão, inglês).
Desenvolvimento
Embora soe a anedota de mau gosto, esta adaptação do romance homónimo de François Sureau (Gallimard, 2006), tem por base uma história verídica, que mostra como os governos envolvidos numa guerra fratricida, embora incapazes de chegar a um consenso para promover a paz, conseguem facilmente acordos para ceifarem uma vida a mais (mesmo que isso coloque em risco diversas outros seres humanos).
De qualquer forma, o cerne da história gira em torno da obediência cega que o exército impõe – e que tantos dos seus homens cultivam – de tal forma que Verbruge, que perdeu um braço na guerra, ao receber as suas ordens, nem sequer questiona porque foi condenado à morte Préfaille. E, dias depois não admite sequer questionar se elas se mantêm, quando alterações profundas na frente de batalha o aconselhavam.
O seu grupo, composto por voluntários, é heterogéneo e singular e é pena que não tenham sido aprofundadas as suas diferenças e motivações: Deibler, que só sai de Paris obrigado e que passa os dias a relatar ao pormenor em pequenos cadernos as suas execuções; o seu ajudante, Desfourneaux, que ama a lâmina da guilhotina mais do que a própria vida; o interesseiro Faucon, que não hesita em seduzir e possuir a esposa do carrasco mesmo antes da partida… Um grupo cujos pensamentos – que servem de fio condutor à narrativa - vamos conhecendo, embora por vezes seja complicado compreender quem “pensa” naquele momento, o que retira fluidez à banda desenhada que também é afectada por algum excesso de texto.
Juntos, mas não unânimes, com algumas tensões latentes mas contidas pela necessidade de obedecer, embrenham-se no campo de batalha, sofrem bombardeamentos – de oponentes e aliados - por duas vezes, cruzam as linhas inimigas e acabam por chegar a Fresnes, onde Préfaille, que denota algum atraso mental, aguarda numa cela, acusado de um crime (relativamente) menor e inexplicável e cuja única vontade é pôr rapidamente um fim aquela situação.
Este relato que seria burlesco, se não fosse tão trágico e pesado, é feito por Bourgeron com um traço grosso, não rude como aparenta mas elegante, que no entanto se revela pouco indicado para o tratamento da figura humana, em especial ao nível dos rostos que, por vezes, se torna difícil distinguir. Mas que se torna bem mais interessante quando aplicado de forma depurada aos cenários – urbanos ou não – como nas páginas 37, 38 ou 45, em que é realçado pela ausência de texto.
A utilização exclusiva de tons – escuros - verdes e cinzentos e a opção pela pintura das personagens com uma só cor, acentua o tom sombrio desta história interessante mas cujas limitações apontadas não deixam entusiasmar, sobre uma missão absurda criada para satisfazer caprichos de políticos que tomam decisões sentados nos seus gabinetes, longe da realidade.
A reter
- A elegância do traço de Bourgeron.
- O travo amargo que o absurdo da ideia base deixa.
- A forma subtil como o relato expõe temas incómodos, sempre recorrentes, como a obediência cega, a pena de morte ou o patriotismo.
Menos conseguido
- A dificuldade de distinguir as personagens e os seus pensamentos.
- A forma como isso obriga a parar e a voltar atrás na leitura, comprometendo a fluidez da leitura.
Leituras relacionadas
BD e literatura,
Bourgeron,
Futuropolis
20/01/2010
Portugal aos quadradinhos (II) – MKM, Mega-krav-maga #1
Lewis Trondheim (ideia)
Mathieu Sapin e Frantico (argumento e desenho)
Delcourt (França, Janeiro de 2010)
120 x 180, 190 p., pb, brochado com sobrecapa com badanas
Resumo
Convidados para participarem no (fictício) Blogadores Festival de Lisboa, Frantico e Sapin acabam por se ver envolvidos numa mega-tramóia em torno do Mega-krav-maga, uma versão muito aperfeiçoada da arte de combate pessoal criada pelo exército israelita.
Desenvolvimento
A primeira meia centena de pranchas desta banda desenhada dizem respeito à presença dos dois autores no (fictício) festival português e apresentam, nos seus estilos peculiares, relativamente próximos, baseado num traço rápido, quase só esquemático, expressivo e legível, apesar de maioritariamente passadas em interiores (do hotel e de restaurantes) algumas paisagens da capital portuguesa que, possivelmente, não seriam reconhecíveis se não soubéssemos que ela servia de cenário à história. A isso, Sapin e Frantico, juntam alguns clichés e preconceitos pouco abonatórios dos portugueses, num inexplicável auto-convencimento de superioridade, postura também cultivada habitualmente por Lewis Trondheim em relação aos locais que a sua profissão obriga (!?) a visitar.
Este, é o mentor do projecto, publicado no formato Tankobon próprio dos mangas, agora adoptado para a colecção Shampooing que dirige na Delcourt e inicialmente publicado num blog criado para o efeito (http://www.megakravmaga.com/index.php?id=2009-12-16).
Se esta BD tem um início (aparentemente) autobiográfico (pois os dois autores vão intercalando pranchas desenhadas por um ou por outro com o relato da sua presença no festival português), transforma-se rapidamente num delírio ficcional em torno da eventual existência de uma versão melhorada do Krav-maga, a técnica de combate desenvolvida pelo exército israelita.
Mas tudo vai precipitar-se quando Sapin e Frantico são abordados numa rua lisboeta por um ucraniano (!) que num anterior contacto lhes propusera droga próximo de uma esquadra de polícia. Neste segundo encontro propõe-se revelar-lhes os segredos do Mega-Krav-Maga, uma técnica de combate pessoal até hoje desconhecida por ser mantido em grande segredo pelos que o praticam, para atraírem maior atenção para o seu blog.
Seduzidos pela demonstração do ucraniano, os autores exemplificam-na nas suas pranchas, divulgadas na net, ficando assim sob ameaça de morte por revelarem os segredos daquela arte, tão ciosamente mantidos até então.
Começa então um périplo rocambolesco (quase) planetário, pontuado por segredos, confrontos, fugas e mortes, que leva os dois autores por percursos separados, cada um mantido cativo por uma das sociedades rivais que defende o MKM, que em tom leve e descontraído, apresenta alguns momentos divertidos mas peca pela extensão do relato, que só se concluirá num segundo tomo, a publicar já em Fevereiro.
A reter
- A maneira como os autores conseguem subverter o espírito do Krav-Maga, exagerando no uso da capacidade de antecipação como sua principal arma.
- Alguns momentos bem conseguidos, como a sequência em que Frantico simula a fuga por diversas vezes, sem nunca a concretizar.
- As divertidas “cartas” MKM que ilustram a contracapa e o interior das badanas.
Menos conseguido
- A extensão do relato.
- Alguma confusão inicial na identificação das personagens, devido às diferenças entre o traço dos dois desenhadores que, no entanto, se atenua com o decorrer do relato.
Curiosidade
- O Krav Maga ("combate próximo, fechado" em hebraico) é um sistema de defesa pessoal criado na década de 1940 para capacitar os grupos que lutavam pela independência do Estado de Israel. Não é considerado um desporto porque não tem uma vertente competitiva uma vez que não existem regras que limitem esta arte de combate. Todos os golpes são permitidos e treinados de forma a ultrapassar todo e qualquer tipo de situação de violência do modo mais rápido e eficaz possível.
19/01/2010
Nas bancas – Janeiro
Segundo o Blog do Tex, durante este mês estarão nas bancas portuguesas, para além de títulos de qualidade garantida, como J. Kendall ou Mágico Vento, a conclusão de “El Muerto”, uma das melhores histórias de Tex e também “Oklahoma!”, outra emblemática aventura do ranger, bem como a centésima edição de Zagor, integralmente a cores.
Eis a rlação completa das edições da Mythos Editora:
- TEX 451 - Fuga na Neve (Mauro Boselli e Miguel Angel Repetto)
- TEX COLEÇÃO 243 - A Colina dos Pés Juntos (Continuação da aventura El Muerto, Guido Nolitta e Aurelio Galleppini)
- TEX OURO 35 - Oklahoma! (Giancarlo Berardi e Guglielmo Lettèri)
- ZAGOR 100 - Magia Indígena (Moreno Burattini e Gallieno Ferri)
- ZAGOR EXTRA 64 - Caça ao Lobo (Capone e Polese)
- J. KENDALL - AVENTURAS DE UMA CRIMINÓLOGA 57 - Os Guerreiros (Giancarlo Berardi, Maurizio Mantero e Enio Legisamón)
- MÁGICO VENTO 86 - O Filho de Nuvem Vermelha (Gianfranco Manfredi, Giovanni Talami e Stefano Biglia)
Entretanto, as edições da Panini também já começaram a chegar às bancas, sendo de assinalar que a Turma da Mónica Jovem entra no seu segundo ano de publicação, a revista do Homem-Aranha traz o arco completo de A primeira Caçada do Kraven, com este último numa versão feminina, e que a saga Batman - RIP está no seu prólogo na revista do Homem-Morcego.
Segundo o site da editora, eis a data de chegada às bancas dos vários títulos distribuídos este mês:
- 14/01/2010 - Mónica nº 31, Cebolinha nº 31, Cascão nº 31, Homem-Aranha nº 90;
- 15/01/2010 - Magali nº 31, Chico Bento nº 31, Saiba Mais Turma Mónica nº 23, X-Men nº 90;
- 18/01/2010 - Almanaque Mónica nº 16, Almanaque Cebolinha nº 16, Almanaque Cascão nº 16, Novos Vingadores nº 65;
- 19/01/2010 - Ronaldinho Gaúcho nº 31, Turma da Mónica Parque nº 31, Almanaque Temático Cebolinha nº 11, Superman & Batman nº 47, Avante Vingadores nº 29;
- 20/01/2010 – Turma da Mónica Jovem nº 13, Mauricio Apresenta nº 7, Batman nº 79, Superman nº 79, Wolverine nº 54;
- 21/01/2010 – Colecção Histórica Mónica nº 12, Almanaque Astronauta nº 5, Almanaque Tina nº 6, Universo Marvel nº 47, Contagem Regressiva nº 13, Liga da Justiça nº 78.
Eis a rlação completa das edições da Mythos Editora:
- TEX 451 - Fuga na Neve (Mauro Boselli e Miguel Angel Repetto)
- TEX COLEÇÃO 243 - A Colina dos Pés Juntos (Continuação da aventura El Muerto, Guido Nolitta e Aurelio Galleppini)
- TEX OURO 35 - Oklahoma! (Giancarlo Berardi e Guglielmo Lettèri)
- ZAGOR 100 - Magia Indígena (Moreno Burattini e Gallieno Ferri)
- ZAGOR EXTRA 64 - Caça ao Lobo (Capone e Polese)
- J. KENDALL - AVENTURAS DE UMA CRIMINÓLOGA 57 - Os Guerreiros (Giancarlo Berardi, Maurizio Mantero e Enio Legisamón)
- MÁGICO VENTO 86 - O Filho de Nuvem Vermelha (Gianfranco Manfredi, Giovanni Talami e Stefano Biglia)
Entretanto, as edições da Panini também já começaram a chegar às bancas, sendo de assinalar que a Turma da Mónica Jovem entra no seu segundo ano de publicação, a revista do Homem-Aranha traz o arco completo de A primeira Caçada do Kraven, com este último numa versão feminina, e que a saga Batman - RIP está no seu prólogo na revista do Homem-Morcego.
Segundo o site da editora, eis a data de chegada às bancas dos vários títulos distribuídos este mês:
- 14/01/2010 - Mónica nº 31, Cebolinha nº 31, Cascão nº 31, Homem-Aranha nº 90;
- 15/01/2010 - Magali nº 31, Chico Bento nº 31, Saiba Mais Turma Mónica nº 23, X-Men nº 90;
- 18/01/2010 - Almanaque Mónica nº 16, Almanaque Cebolinha nº 16, Almanaque Cascão nº 16, Novos Vingadores nº 65;
- 19/01/2010 - Ronaldinho Gaúcho nº 31, Turma da Mónica Parque nº 31, Almanaque Temático Cebolinha nº 11, Superman & Batman nº 47, Avante Vingadores nº 29;
- 20/01/2010 – Turma da Mónica Jovem nº 13, Mauricio Apresenta nº 7, Batman nº 79, Superman nº 79, Wolverine nº 54;
- 21/01/2010 – Colecção Histórica Mónica nº 12, Almanaque Astronauta nº 5, Almanaque Tina nº 6, Universo Marvel nº 47, Contagem Regressiva nº 13, Liga da Justiça nº 78.
Leituras relacionadas
Bancas,
Maurício de Sousa,
Mythos,
Panini
The Squirrel Mother
Megan Kelso
Fantagraphics Books (Estados Unidos, Junho de 2006)
165 x 216 mm, 136 p., cor, cartonado
"The Squirrel Mother" é uma compilação de histórias criadas por Megan Kelso entre 2000 e 2005, de que a Fantagraphics Books, fiel à sua tradição, fez um belo objecto, que delicia os olhos antes da mente. Porque este é um daqueles livros que dá prazer só pelo ver e sentir, desde a textura levemente rugosa da capa às cores suaves e aconchegantes utilizadas, complemento ideal do traço fino, pormenorizado e expressivo da autora. Que contrasta, depois, com a crueza - o realismo… - de algumas histórias.
Porque o que Megan Kelso nos conta são vidas. Melhor, pedaços, pedacinhos de vidas. Dela ou de outras com quem se cruzou ou que a sua imaginação criou. Uma mãe (esquilo?) que trocou os filhos pelos seus sonhos - ilusões? Umas férias - sonhadas e de sonho - mostrados como que em slides (ainda alguém os usa?). Ou outras férias que, embora mais sonhadas - não é a adolescência a idade de todos os sonhos? - foram bem menos felizes. Adolescência que é tema recorrente, com as dificuldades, erros e dúvidas próprias da idade.
Pedacinhos de vida que mostram também a crueldade inocente (?) das crianças, a magia da dança, o valor de certos objectos. Pedacinhos de vida a que Megan Kelso faz uma abordagem simples e delicada, quase só expositiva, sem (falsas) morais nem (pretensiosas) lições, em histórias curtas que se lêem num ápice mas que, às vezes, nos deixam a pensar.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 27 de Agosto de 2006 )
Fantagraphics Books (Estados Unidos, Junho de 2006)
165 x 216 mm, 136 p., cor, cartonado
"The Squirrel Mother" é uma compilação de histórias criadas por Megan Kelso entre 2000 e 2005, de que a Fantagraphics Books, fiel à sua tradição, fez um belo objecto, que delicia os olhos antes da mente. Porque este é um daqueles livros que dá prazer só pelo ver e sentir, desde a textura levemente rugosa da capa às cores suaves e aconchegantes utilizadas, complemento ideal do traço fino, pormenorizado e expressivo da autora. Que contrasta, depois, com a crueza - o realismo… - de algumas histórias.
Porque o que Megan Kelso nos conta são vidas. Melhor, pedaços, pedacinhos de vidas. Dela ou de outras com quem se cruzou ou que a sua imaginação criou. Uma mãe (esquilo?) que trocou os filhos pelos seus sonhos - ilusões? Umas férias - sonhadas e de sonho - mostrados como que em slides (ainda alguém os usa?). Ou outras férias que, embora mais sonhadas - não é a adolescência a idade de todos os sonhos? - foram bem menos felizes. Adolescência que é tema recorrente, com as dificuldades, erros e dúvidas próprias da idade.
Pedacinhos de vida que mostram também a crueldade inocente (?) das crianças, a magia da dança, o valor de certos objectos. Pedacinhos de vida a que Megan Kelso faz uma abordagem simples e delicada, quase só expositiva, sem (falsas) morais nem (pretensiosas) lições, em histórias curtas que se lêem num ápice mas que, às vezes, nos deixam a pensar.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 27 de Agosto de 2006 )
Fora das Livrarias - Surdos, 100 piadas!
Marc Renard (argumento)
Yves Lapalu (argumento e desenho)
Surd’Universo (Portugal, Outubro de 2009)
163 x 236 mm, 112 p., cor e pb, brochado
Depois da edição de “Leo, o puto surdo”, em 2006, a Surd’Universo (www.surduniverso.pt/) volta a apostar na BD e no cartoon para chamar a atenção para as dificuldades que os surdos vivem no seu dia-a-dia, num mundo feito para ouvintes.
Lapalu – também ele surdo - com um traço humorístico, vivo, dinâmico e agradável, típico da BD humorística franco-belga, quase sempre a preto e branco, mas que ganha quando utiliza cor, revisita anedotas conhecidas, casos reais ou histórias divertidas, em que os surdos e aquilo que lhes diz especificamente respeito (aparelhos auditivos, linguagem gestual, etc.) são os protagonistas.
O todo, de leitura agradável, mas que obriga a (re)pensar como é importante ouvir, está recheado de situações bem humoradas, provocadas pela falta de audição que implica, muitas vezes, desfechos inesperados para situações vulgares, como um intercomunicador avariado ou um simples jogo de futebol.
E concluída a leitura, o trocadilho com o título do livro é inevitável: não são surdos sem piadas, são até bem divertidos.
(Versão revista do texto publicado originalmente a 14 de Novembro de 2009, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
Yves Lapalu (argumento e desenho)
Surd’Universo (Portugal, Outubro de 2009)
163 x 236 mm, 112 p., cor e pb, brochado
Depois da edição de “Leo, o puto surdo”, em 2006, a Surd’Universo (www.surduniverso.pt/) volta a apostar na BD e no cartoon para chamar a atenção para as dificuldades que os surdos vivem no seu dia-a-dia, num mundo feito para ouvintes.
Lapalu – também ele surdo - com um traço humorístico, vivo, dinâmico e agradável, típico da BD humorística franco-belga, quase sempre a preto e branco, mas que ganha quando utiliza cor, revisita anedotas conhecidas, casos reais ou histórias divertidas, em que os surdos e aquilo que lhes diz especificamente respeito (aparelhos auditivos, linguagem gestual, etc.) são os protagonistas.
O todo, de leitura agradável, mas que obriga a (re)pensar como é importante ouvir, está recheado de situações bem humoradas, provocadas pela falta de audição que implica, muitas vezes, desfechos inesperados para situações vulgares, como um intercomunicador avariado ou um simples jogo de futebol.
E concluída a leitura, o trocadilho com o título do livro é inevitável: não são surdos sem piadas, são até bem divertidos.
(Versão revista do texto publicado originalmente a 14 de Novembro de 2009, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
Leituras relacionadas
Lapalu,
Renard,
Surd'Universo
15/01/2010
L’Ancien temps – I. Le roi n’embrasse pas
Joann Sfar (argumento e desenho)
Gallimard Jeunesse (França, Novembro de 2009)
230 x 310 mm, 144 p., cor, cartonado
Leituras relacionadas
Gallimard,
Joann Sfar,
opinião
BD para ver – The Last Match
É inaugurada amanhã, dia 16, em Lisboa, a exposição de banda desenhada e ilustração “The Last Match” (“O Último Fósforo”), que reúne cerca de duas centenas de autores de todo o mundo e tem a particularidade de caber em sete caixas de fósforos!
Originária da Letónia, numa iniciativa da revista “Kuš!" e do Latvian Center for Contemporary Art, bem pode ser considerada a “maior pequena exposição de ilustração e banda desenhada” de sempre, pois os autores tiveram que trabalhar em pranchas medindo apenas 3 x 5 centímetros, tendo como ideia base o fósforo e/ou o fogo. As pranchas são depois “montadas” num fósforo e assim expostas.
Embora a maior parte dos participantes – das mais variadas origens - esteja ligado a projectos alternativos, entre eles contam-se alguns nomes de maior nomeada, como o israelita Rutu Modan, cujo álbum “Exit Wounds” foi considerado em dos Essenciais de 2008 pelo Festival de Angoulême, o sérvio Aleksandar Zograf, os norte-americanos Tom Gauld e Roberta Gregory, o japonês Daisuke Ichiba ou a italiana Gabriella Giandelli. Esta é a primeira etapa de 2010 desta exposição itinerante, que em cada país acrescentará ao seu espólio trabalhos de autores locais, no caso português André Lemos, Filipe Abranches, João Chambel, Jucifer, Ricardo Martins ou Luís Henriques.
Patente na nova galeria Artside, na Rua S.João da Mata, 53 em Santos-o-Velho, até 8 de Fevereiro, a exposição é inaugurada às 16h30, com um Porto de Honra oferecido pela Embaixada da Letónia.
Na ocasião, a editora Chili com Carne, que participa na organização do evento, apresentará “Massive”, o oitavo volume da “Colecção CCC”, dirigida por Margarida Borges, Marcos Farrajota, Jucifer e Ricardo Martins, que reúne pouco mais de uma centena de pranchas de diversos autores nacionais e estrangeiros, alguns deles representados em The Last Match.
Originária da Letónia, numa iniciativa da revista “Kuš!" e do Latvian Center for Contemporary Art, bem pode ser considerada a “maior pequena exposição de ilustração e banda desenhada” de sempre, pois os autores tiveram que trabalhar em pranchas medindo apenas 3 x 5 centímetros, tendo como ideia base o fósforo e/ou o fogo. As pranchas são depois “montadas” num fósforo e assim expostas.
Embora a maior parte dos participantes – das mais variadas origens - esteja ligado a projectos alternativos, entre eles contam-se alguns nomes de maior nomeada, como o israelita Rutu Modan, cujo álbum “Exit Wounds” foi considerado em dos Essenciais de 2008 pelo Festival de Angoulême, o sérvio Aleksandar Zograf, os norte-americanos Tom Gauld e Roberta Gregory, o japonês Daisuke Ichiba ou a italiana Gabriella Giandelli. Esta é a primeira etapa de 2010 desta exposição itinerante, que em cada país acrescentará ao seu espólio trabalhos de autores locais, no caso português André Lemos, Filipe Abranches, João Chambel, Jucifer, Ricardo Martins ou Luís Henriques.
Patente na nova galeria Artside, na Rua S.João da Mata, 53 em Santos-o-Velho, até 8 de Fevereiro, a exposição é inaugurada às 16h30, com um Porto de Honra oferecido pela Embaixada da Letónia.
Na ocasião, a editora Chili com Carne, que participa na organização do evento, apresentará “Massive”, o oitavo volume da “Colecção CCC”, dirigida por Margarida Borges, Marcos Farrajota, Jucifer e Ricardo Martins, que reúne pouco mais de uma centena de pranchas de diversos autores nacionais e estrangeiros, alguns deles representados em The Last Match.
14/01/2010
Tex Colecção #242 e #243
El Muerto
Guido Nolitta (argumento)
Aurelio Galleppini (desenho)
Mythos (Brasil, Março e Abril de 2007)
133 x 177 mm, 100 p., pb, brochado, mensal
Resumo
Esta aventura começa quando Jack Tigre e outro navajo regressam de uma viagem com cobertores e provisões para a tribo. Aproximam-se de um pequeno acampamento onde aparentemente são recebidos com hospitalidade mas rapidamente o grupo mata o indígena e espanca violentamente Tigre. No final, o chefe, uma personagem com a cara toda retalhada, que se intitula El Muerto, diz-lhe para transmitir um recado a Tex: se quer saber a razão do ataque, terá que se encontrar com ele no cemitério de Pueblo Feliz, daí a uma semana. Dias depois, uma diligência que transporta Kit Willer para se encontrar com o pai, é assaltada e o jovem baleado para transmitir o mesmo recado.
Tex não tem qualquer lembrança de se ter cruzado com a estranha personagem, mas dispõe-se a comparecer ao encontro.
Desenvolvimento
Considerada uma das melhores histórias de Tex, “El Muerto”, originalmente datada de Agosto/Setembro de 1976, faz jus à sua fama.
Como quase sempre acontece nestes casos, apresenta um Tex menos infalível – por isso mais humano – que tem que correr atrás dos acontecimentos, desconhecendo quem orquestra tudo e porque o faz. E dando a ideia que chega sempre um pouco tarde ou que não consegue virar o rumo aos acontecimentos, mesmo quando consegue antecipar os movimentos do seu misterioso adversário, como na chegada a Sunsetville. Nessa “falibilidade”, Tex vê os seus amigos serem feridos espancados ou mesmo mortos, sem conseguir inverter as situações, algo raro nas suas histórias.
Mesmo a forma como, a caminho do lugar do encontro final, consegue derrotar os capangas de El Muerto – apenas cinco… -, após a emboscada que eles lhe prepararam, precisando para isso da ajuda providencial de Tigre, apenas reforça esse (estranho e incomum) lado humano do ranger e cria mais expectativa para o duelo final, aumentando a estranha aura de El Muerto.
Este, é uma personagem bem delineada, um dos mais marcantes vilões que Tex enfrentou, não tanto pelos seus actos, mas pela forma como se impõe ao ranger quase até final. Um vilão movido por um insano (?) desejo de vingança, que nem as explicações do ranger, no cemitério, conseguem demover. O que só contribui para acentuar o seu lado trágico e, surpreendentemente, para lhe dar consistência e credibilidade.
A tensão acumulada ao longo das pranchas, aumenta ainda mais quando Tex e El Muerto finalmente se encontram cara a cara no cemitério que este escolheu para se desvendar e ao segredo que há anos carrega. De uma forma (invulgarmente) leal e correcta, posicionando-se no capítulo moral no patamar que (apenas) Tex costuma ocupar, o que reforça ainda mais o seu impacto. Só dessa forma, aliás, seria possível o longo flash-back, em que um e outro vão completando a história – e em que finalmente são desvendadas as razões que motivam o bandido.
E se a explicação é longa, que dizer do duelo final que ocupa três (demoradas) pranchas e finalmente possibilita o aliviar da tensão acumulada. Pelo menos para o leitor, porque Tex, se obtém o esperado resultado final, ainda precisa de se libertar dela contra o relógio que testemunhou o dramático confronto…
Guido Nolitta, construiu com mestria a trama, que prima em conduzir num crescendo, sem pontas soltas nem incongruências, encaixando nela perfeitamente a narrativa “antiga”, afastando quase completamente o Tex heróico e infalível que tantas vezes custa a “engolir”.
A seu lado, esteve um Galep na posse de todas as suas (muitas) qualidades, com um traço vibrante e dinâmico como sempre, especialmente detalhado e completamente à vontade cenários interiores ou nas paisagens do velho oeste, no retrato de homens ou animais, de cenas calmas ou de acção intensa.
A reter
- A manutenção do mistério da identidade de El Muerto ao longo de 130 das quase 200 páginas da narrativa.
- A forma como Tex é desta vez um peão na história, seguindo o curso dos acontecimentos, não o impondo como é habitual.
- A consistência e a credibilidade de El Muerto.
Menos conseguido
- A história ganharia ainda mais se a presença de Paço Ordoñez na fatídica cabana fosse revelada apenas no final da narrativa em flashback.
Curiosidade
- O Tex Colecção #242 (ainda) está disponível nas bancas portuguesas, devendo a edição seguinte chegar ainda durante este mês.
- Existe uma versão semi-animada desta banda desenhada que pode ser vista aqui (http://texwillerblog.com/wordpress/?p=7366).
- Guido Nolitta é pseudónimo de Sergio Bonelli.
- Tex Colecção republica, por ordem cronológica, todas as histórias de Tex.
Guido Nolitta (argumento)
Aurelio Galleppini (desenho)
Mythos (Brasil, Março e Abril de 2007)
133 x 177 mm, 100 p., pb, brochado, mensal
Resumo
Esta aventura começa quando Jack Tigre e outro navajo regressam de uma viagem com cobertores e provisões para a tribo. Aproximam-se de um pequeno acampamento onde aparentemente são recebidos com hospitalidade mas rapidamente o grupo mata o indígena e espanca violentamente Tigre. No final, o chefe, uma personagem com a cara toda retalhada, que se intitula El Muerto, diz-lhe para transmitir um recado a Tex: se quer saber a razão do ataque, terá que se encontrar com ele no cemitério de Pueblo Feliz, daí a uma semana. Dias depois, uma diligência que transporta Kit Willer para se encontrar com o pai, é assaltada e o jovem baleado para transmitir o mesmo recado.
Tex não tem qualquer lembrança de se ter cruzado com a estranha personagem, mas dispõe-se a comparecer ao encontro.
Desenvolvimento
Considerada uma das melhores histórias de Tex, “El Muerto”, originalmente datada de Agosto/Setembro de 1976, faz jus à sua fama.
Como quase sempre acontece nestes casos, apresenta um Tex menos infalível – por isso mais humano – que tem que correr atrás dos acontecimentos, desconhecendo quem orquestra tudo e porque o faz. E dando a ideia que chega sempre um pouco tarde ou que não consegue virar o rumo aos acontecimentos, mesmo quando consegue antecipar os movimentos do seu misterioso adversário, como na chegada a Sunsetville. Nessa “falibilidade”, Tex vê os seus amigos serem feridos espancados ou mesmo mortos, sem conseguir inverter as situações, algo raro nas suas histórias.
Mesmo a forma como, a caminho do lugar do encontro final, consegue derrotar os capangas de El Muerto – apenas cinco… -, após a emboscada que eles lhe prepararam, precisando para isso da ajuda providencial de Tigre, apenas reforça esse (estranho e incomum) lado humano do ranger e cria mais expectativa para o duelo final, aumentando a estranha aura de El Muerto.
Este, é uma personagem bem delineada, um dos mais marcantes vilões que Tex enfrentou, não tanto pelos seus actos, mas pela forma como se impõe ao ranger quase até final. Um vilão movido por um insano (?) desejo de vingança, que nem as explicações do ranger, no cemitério, conseguem demover. O que só contribui para acentuar o seu lado trágico e, surpreendentemente, para lhe dar consistência e credibilidade.
A tensão acumulada ao longo das pranchas, aumenta ainda mais quando Tex e El Muerto finalmente se encontram cara a cara no cemitério que este escolheu para se desvendar e ao segredo que há anos carrega. De uma forma (invulgarmente) leal e correcta, posicionando-se no capítulo moral no patamar que (apenas) Tex costuma ocupar, o que reforça ainda mais o seu impacto. Só dessa forma, aliás, seria possível o longo flash-back, em que um e outro vão completando a história – e em que finalmente são desvendadas as razões que motivam o bandido.
E se a explicação é longa, que dizer do duelo final que ocupa três (demoradas) pranchas e finalmente possibilita o aliviar da tensão acumulada. Pelo menos para o leitor, porque Tex, se obtém o esperado resultado final, ainda precisa de se libertar dela contra o relógio que testemunhou o dramático confronto…
Guido Nolitta, construiu com mestria a trama, que prima em conduzir num crescendo, sem pontas soltas nem incongruências, encaixando nela perfeitamente a narrativa “antiga”, afastando quase completamente o Tex heróico e infalível que tantas vezes custa a “engolir”.
A seu lado, esteve um Galep na posse de todas as suas (muitas) qualidades, com um traço vibrante e dinâmico como sempre, especialmente detalhado e completamente à vontade cenários interiores ou nas paisagens do velho oeste, no retrato de homens ou animais, de cenas calmas ou de acção intensa.
A reter
- A manutenção do mistério da identidade de El Muerto ao longo de 130 das quase 200 páginas da narrativa.
- A forma como Tex é desta vez um peão na história, seguindo o curso dos acontecimentos, não o impondo como é habitual.
- A consistência e a credibilidade de El Muerto.
Menos conseguido
- A história ganharia ainda mais se a presença de Paço Ordoñez na fatídica cabana fosse revelada apenas no final da narrativa em flashback.
Curiosidade
- O Tex Colecção #242 (ainda) está disponível nas bancas portuguesas, devendo a edição seguinte chegar ainda durante este mês.
- Existe uma versão semi-animada desta banda desenhada que pode ser vista aqui (http://texwillerblog.com/wordpress/?p=7366).
- Guido Nolitta é pseudónimo de Sergio Bonelli.
- Tex Colecção republica, por ordem cronológica, todas as histórias de Tex.
(Texto publicado originalmente no Blog do Tex, a 13 de Janeiro de 2010)
Leituras relacionadas
Bonelli,
Galleppini,
Mythos,
Nolitta,
Tex
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