27/01/2012

Gringos Locos













Yann (argumento)
Schwartz (desenho)
Dupuis (Bélgica, sem data anunciada)
48 p., cor, cartonado


Resumo
Em 1948, Jijé, com a mulher e quatro filhos que tinham entre 1 e 10 anos de idade, partiu para os Estados Unidos, igualmente na companhia de Franquin e Morris. Jijé partia temendo uma próxima guerra nuclear em solo europeu e os três pretendiam arranjar emprego nos Estúdios Disney.
Essa viagem, agora evocada na forma de banda desenhada, transformou-se num autêntica odisseia, que acabou por durar 5 anos. Nela, cruzaram os EUA e o México a bordo de um único automóvel, dormiram ao ar livre ou em tendas e sobreviveram graças ao dinheiro que iam recebendo, referente às pranchas que iam desenhando e enviando para a Dupuis.
Durante a sua estadia nos EUA, Jijé, Franquin e Morris, viriam a conhecer Harvey Kurtzman e os outros fundadores da revista MAD, bem como René Goscinny, o que contribuiu para terem um papel decisivo na modernização da BD belga aquando do seu retorno ao país natal.
Este primeiro volume, que se inicia com a partida da Bélgica, conclui-se com os autores a viverem no México e Franquin a receber a notícia de que deveria substituir Jijé à frente de Spirou.

Desenvolvimento
Este é um projecto que Yann acalentava há muitos anos. Nasceu das conversas informais que teve com Franquin (a quem chegou a propor desenhá-lo) e com Morris, quando trabalhou com ambos, e foi crescendo nas suas gavetas ao longo dos anos, ao ouvir aqui e ali anedotas sobre essa mítica viagem. Chaland, que chegou a traçar-lhe uma curta biografia em BD: “La vie exemplaire de Jijé - foi outro dos nomes apontados para o desenhar, mas como a visão de um e outro era díspar, também aí o projecto não avançou.
Finalmente, depois de trabalhar com Schwartz em “Spirou – Le groom vert-de-gris”, Yann propôs-lhe o argumento de “Gringos Locos”, que foi aceite de imediato.
Só para se ter uma ideia da importância deste livro, note-se que foi pré-publicado – em simultâneo, apesar das diferentes periodicidades – no jornal Le Soir e nas revistas Spirou e L’Immanquable.
O álbum é francamente divertido. Por um lado, porque Yann escreve muito bem, combinando a actualidade no México e Estados Unidos com alguns flashbacks ou cenas sonhadas ou imaginadas (nos quadradinhos) pelos autores. Por outro, porque nele são transcritos uma série de gags que parecem apenas possíveis nos quadradinhos, mas que na verdade existiram. É o caso da batalha de água – que incluiu despejar uma banheira cheia pelas escadas abaixo – que teve lugar na véspera da partida, quando as malas já estavam feitas, o que obrigou os 3 autores a partirem vestidos com pijamas (!) emprestados (!!), o facto de terem passado a noite toda a desenhar rachadelas e falhas de pintura na casa, como vingança contra a senhoria, o desenharem as suas bandas desenhadas em frente e verso para pouparem nos portes ou perseguição à família Gillain após terem tentado, inadvertidamente, entrar numa igreja só para negros!
Para além disso Yann recheou o seu argumento com alusões a séries dos autores ou a cenas bem conhecidas dos quadradinhos, o que, sem prejuízo dos outros, possibilita um outro nível de leitura ao leitor mais conhecedor.
Graficamente, Schwartz mais uma vez, revela-se um contador nato aos quadradinhos, com uma linha clara de cores fortes e vivas, muito dinâmica e expressiva, que cativa facilmente o leitor e com a qual acentua os (muitos) momentos cómicos do relato.
Fica, para o fim, o retrato traçado por Yann e Schwartz daqueles três nomes fundamentais da banda desenhada franco-belga e mundial: Franquin, assume a personalidade depressiva e pouco confiante que lhe era (re)conhecida, em absoluto contraste com o humor que expressava nas suas criações; Morris, por seu lado, surge como um brincalhão e um conquistador incorrigível (bem diferente do circunspecto senhor de alguma idade que conheci há anos no Porto);Jijé é apresentado quase com uma personalidade bipolar, capaz dos maiores arrojos mas também das maiores hesitações.

A polémica
E é neste ponto, que assenta a polémica que envolve esta obra.
Recapitulemos: “Gringos Locos” deveria ter sido lançado no passado dia 12 de Janeiro. No entanto, a editora Dupuis, mesmo tendo 35 mil exemplares já impressos, suspendeu-o. Actualmente, a única referência ao álbum no site da editora, é a notícia da anulação de um concurso com ele relacionado.
A razão, veio rapidamente à luz do dia: os filhos de Jijé e a filha de Franquin, conforme divulgado através de diversos órgãos de comunicação social francófonos, não concordavam com o retrato feito dos seus pais no álbum e manifestaram o seu desagrado à editora.
Se algumas fontes chegam ao ponto de afirmar que houve ameaças de retirar do fundo de catálogo da Dupuis as obras de Jijé e Franquin (e até de Morris), Romain Gillain Muñoz, neto de Jijé, há anos radicado em Portugal, negou-o peremptoriamente a As Leituras do Pedro.
Segundo ele, “não há guerra nenhuma com a Dupuis”, nem “foram feitas quaisquer ameaças”. A boa relação entre estas duas partes “já vem desde os anos 1940”, estando apenas a decorrer “conversações para tentarem chegar a um acordo”. A interdição de publicação deste álbum – e do segundo tomo que lhe deverá suceder, sobre a estadia do trio em Nova Iorque – nunca foi equacionada.
Ainda segundo Romain, a família de Jijé, pede apenas a hipótese de beneficiar “de um direito de resposta”, que poderá ser na forma de um encarte a incluir nos álbuns, em que seja afirmado que se trata apenas de “uma obra livremente ficcionada, apesar de conter alguns elementos verdadeiros, e não de uma biografia factual autorizada”, e no qual possam “transmitir uma imagem mais exacta de quem foi o seu pai e avô”.
A principal questão que aponta à obra de Yann e Schwartz é a imagem “demasiado beata e católica do avô, que não corresponde de forma alguma à sua forma de estar, ele que a certa altura deixou mesmo de frequentar a missa”, reforçada “pelo facto de surgir sempre de sandálias – que raramente calçou - como era uso dos missionários católicos” e de ele estar constantemente “a proferir palavrões, que ele nunca utilizava, para mais no dialecto de Bruxelas, que não dominava”.
A isto acrescenta algumas outras questões, como a forma “deselegante e incómoda como é abordada a relação de Jijé com a II Guerra Mundial”, ele que chegou a ser acusado de colaboracionismo, “o que sempre o incomodou, apesar de ser sabido que recebeu durante a guerra vários resistentes em sua casa e que nunca se gabou disso”. E que foi algo de todo inesperado porque Yann e Schwartz, em “Le Groom vert-de-gris”, “tinham dado o rosto de Jijé ao líder da resistência belga, Jean Doisy, um comunista bem conhecido que foi seu amigo”.
Igualmente a questão monetária apresentada – no álbum Annie, esposa de Jijé, pede a Morris e Franquin que paguem o alojamento e as refeições – revolta os familiares do criador de Jerry Spring, pois “é sabido que o meu avo, na Bélgica, alojou muitos autores em sua casa, entre eles também Will, Jean Giraud e Mezières, alguns por períodos bem prolongados, sem nunca lhes ter pedido nada em troca”.
Curiosamente, Romain diz que “ignorava a maior parte dos pormenores desta odisseia”, tendo tido que pedir ao seu pai “esclarecimentos quando as primeiras notícias sobre o projecto começaram a circular na net”, embora conhecesse “fotos da época” (que cedeu para aqui serem reproduzidas) bem como “um velho chapéu mexicano, oferecido por Franquin” que o pai ainda guarda.
Sabe que Yann falou “com o seu pai e um tio muito antes de concretizar o projecto”, mas, depois disso “não houve mais nenhum contacto”, pelo que à sua família não foi dado qualquer conhecimento do início ou do avanço da obra.
Apesar desta oposição só ter sido tornada pública quando a Dupuis cancelou o lançamento do álbum, o neto de Jijé revela que a sua família “contactou a editora logo que a pré-publicação se iniciou” e que desde então “tem havido diversos contactos no sentido da resolver da melhor forma para todas as partes”.
A terminar, Romain, a título pessoal, considera, apesar de tudo, “que esta é uma história que deve ser contada”, não só pela popularidade de que ainda gozam os três criadores, mas também pela sua importância na história da banda desenhada franco-belga.
Se será concluída ou não, ainda não se sabe. Para já, na sua última página, pode apor-se, com uma significativa alteração um termo bem conhecido dos leitores de BD: (continua?)



26/01/2012

Hellboy









A Bruxa Troll e outros contos
Mike Mignola (argumento e desenho)
Richard Corben (desenho)
P. Craig Russell (desenho)
G. Floy Studio (Portugal, Novembro de 2011)
170 x 260 mm, 136 p., cor, brochado com badanas
15,99 €


Resumo
Sétimo tomo de Hellboy lançado em Portugal, esta colectânea de histórias curtas, publicadas entre 2003 e 2007 em diversas revistas ou na forma de mini-séries, inclui: A Penanggalan, A Hidra e o Leão, A Bruxa Troll, O Vampiro de Praga, A Experiência do Dr. Carp, O Ghoul e Makoma.
O desenho desta última é da autoria de Richard Corben, tendo P. Craig Russell desenhado O Vampiro de Praga

Desenvolvimento
Curiosamente, aquele que poderia ser o maior atractivo deste livro, é também o seu ponto menos conseguido. Refiro-me, às duas histórias que Mignola não desenhou pois, se é inegável o maior talento artístico – de um ponto de vista clássico e formal, sem que isso diminua o seu talento de autores de BD - de Corben e Russell, o “seu” Hellboy – servido por um traço mais apurado (e por cores mais vivas no caso de Corben) - perde no recriar dos ambientes típicos da série. Falta-lhes o aspecto sombrio, o traço menos definido, mais estilizado, o uso de sombras, que potenciam a sensação de temor e receio do desconhecido, do estranho, do misterioso que caracteriza a maior parte dos relatos do demónio.
Características que encontramos nas histórias de que é autor completo Mignola, que aproveita estes contos para consolidar e aprofundar os ambientes e temáticas místicos e fantásticos que lhe são caros. Ao mesmo tempo que explora lendas e mitos europeus e africanos, tornando Hellboy seu participante ou protagonista, o que contribui para reforçar a sua aura e a sua dimensão face aos demónios e seres fantásticos que tem que enfrentar.
Em termos pessoais, se gostei especialmente dos argumentos de Makoma e de A Bruxa Troll, a pérola desta compilação – de que merece referência a inclusão de um comentário de Mignola sobre cada relato – é A Experiência do Dr. Carp, pela forma elíptica como está narrada e pela dúvida que fica após a sua leitura.


25/01/2012

Cebola Jovem Especial #1












O Grande Prémio
Estúdios Maurício de Sousa
Panini Comics (Brasil, Novembro de 2010)
190 x 275 mm, 96 p., cor, brochado
R$ 9,90 (3,50 €)


Resumo
Vencedor de uma corrida espacial entre a turma num simulador virtual, Cebola é abduzido para outra dimensão, onde terá que defrontar os campeões de vários planetas num desafio cujo prémio decidirá o futuro do universo.

Desenvolvimento
Com um atraso maior do que os habituais seis meses, chega a Portugal mais uma edição derivada do sucesso Turma da Mônica Jovem.
Distribuída este mês – está agora nas bancas nacionais – foi uma das edições lançadas para comemorar os 50 anos do Cebolinha, sendo pena que com ela não tenha vindo a edição que compilou alguns dos melhores e mais marcantes momentos da sua carreira. Mas como a esperança é a último a morrer, pode ser que ainda chegue a Portugal essa edição – bem como os diversos tomos do projecto MSP50…
Cebola Jovem Especial é a cores – vivas e lisas - e num formato maior do que a revista mensal, o que podendo ser, do ponto de vista comercial, um atractivo extra, não beneficia a história, pois acentua o vazio dos fundos e a linearidade do traço utilizado, acentuado pela excessiva simplificação dos engenhos voadores presentes na maioria das páginas.
Merecem referência, apesar disso, alguns dos conceitos – interessantes – que lhes estão subjacentes, as (chamativas) personagens femininas (qual será a sua relevância no sucesso da TMJ junto dos rapazes adolescentes?!), a galeria de esboços inserida nas páginas finais da revista e a elevação para uma nova dimensão do conceito de “dono da rua” que Cebol(inh)a há tantos anos persegue e que está na base deste relato.
O afastamento dos habituais protagonistas – Cebola, Mônica, Cascão e Magali – do seu quotidiano, sem eliminar os habituais choques, cumplicidades e momentos de humor, retira-lhes algum do destaque habitual, substituído na história pela homenagem/sátira a títulos como Star Trek, Star Wars e outras séries/filmes de ficção-científica, numa história movimentada em que nem todos são o que parecem e em que a amizade – como sempre – leva de vencida o engano e a mentira.




24/01/2012

Les Faux Visages









Une vie imaginaire du Gang des Postiches
David B. (argumento)
Hervé Tanquerelle (desenho)
Futuropolis (França, 5 de Janeiro de 2012)
195 x 265 mm, 152 +., bicromia, cartonado
21,00 €



Resumo
Nos anos 80, um bando celebrizou-se em Paris pelos vários assaltos efectuados com sucesso, sem que a polícia conseguisse pistas para os deter.
Ficou conhecido como o Gang des Postiches (o bando dos postiços) porque os seus membro,s para não serem reconhecidos, utilizavam barbas, bigodes e cabeleiras postiças em lugar das habituais máscaras ou meias na cabeça.

Desenvolvimento
Na origem do bando - na realidade, como na BD – esteve a morte a tiro por um polícia de um amigo de alguns dos seus membros. Como vingança decidiram assaltar bancos, pois para “os burgueses, perder dinheiro, é pior do que fazer correr sangue”…
Constituído por pessoas sem grandes ligações ao crime organizado ou à máfia, o bando conseguiu manter-se à margem deles, o que dificultou sobremaneira a actuação da polícia – num tempo em que os métodos “à la CSI” pouco mais eram do que uma miragem.
Com 27 assaltos bem sucedidos e mais de 13 000 cofres bancários arrombados, o Gang des Postiches conseguiu tal fama, que chegaram mesmo a ser imitados por outros, o que acabou por congregar a atenção – nem sempre legal, nem sempre desinteressada… – de diversos agentes da lei e por precipitar o seu fim.
Partindo da verdade factual, David B. desenvolve um relato livremente ficcionado, que oscila entre o documentário – pelo rigor das datas e pelo retrato dos locais - e o romance – pela própria natureza do relato -, entre o tom policial - com que descreve a preparação e concretização dos assaltos - e o tom humano - com que aborda as motivações e as reacções de cada um dos seus integrantes e a forma como, apesar das diferenças, conseguiram manter-se unidos durante alguns anos.
Isto não significa que os autores tenham feito deles heróis cativantes; a essa eventual faceta sobrepõe-se rapidamente o improviso que encabeçou a maior parte dos assaltos, a violência – muitas vezes gratuita – exercida sobre os reféns, o evidente desequilíbrio psicológico de alguns deles, o que, se por um lado os humaniza, por outro reduz a eventual empatia por parte do leitor.
Graficamente, o traço semi-realista de Tanquerelle, bem servido por um tom azul acinzentado que complementa o preto e branco de base das pranchas, é fiel no retrato de penteados, vestuário, viaturas e urbanismo dos anos 80, o que confere maior credibilidade ao relato.
Relato esse que, para quem – como nós portugueses – passa ao lado da realidade subjacente à história, se assume como um belo policial, género que parece estar de novo na moda por terras francófonas.

A reter
- O tom global do relato.
- A sua credibilidade - narrativa e gráfica.
- A nova vida que a banda desenhada policial parece estar a ter na França e na Bélgica.



23/01/2012

Banzai #1





The Mighty Gang
Joana Rosa Fernandes
Kuroneko
Cristina Dias
Pandora’s Song
Rita Marques (argumento)
Inês Pott e Rita Marques (desenho)
Manuela Cardoso (arte-final)
NCreatures (Portugal, Novembro de 2011)
150 x 210 mm, 100p., pb, brochada
Publicação trimestral
5,50 €


1.       Com algum atraso, devido a questões diversas que não interessam para aqui, trago finalmente às minhas leituras esta edição.
2.      Que reflecte algo evidente para aqueles que acompanham a realidade actual da BD (também) no nosso país: a influência do estilo manga nos mais jovens.
3.      Não sendo caso único, a Banzai - que teve um número #0 distribuído nalgumas lojas especializadas - pode ser considerada pioneira, por ser a primeira revista – a classificação é de quem a edita – naquele estilo.
4.      E que nasceu “no seguimento do SENPAI PROJECT (…) uma acção de formação gratuita que a NCreatures fez durante quatro anos” em “eventos de banda desenhada, manga e cultura japonesa” onde foram vistos “os trabalhos de vários jovens autores” nacionais.
5.      “Que têm aqui a oportunidade de publicar as suas obras regularmente”. Para além deles, haverá a “participação ocasional de autores estrangeiros, como parte da parceria da NCreatures, “o único estúdio lisboeta no estilo manga”, com a Comic Party da Dinamarca e a Nosebleed Studios da Suécia”. Graças a essa parceria, os criadores portugueses terão também “as suas obras publicadas naqueles dois países”.
6.      A isto, há que acrescentar o facto – não negligenciável – de a Banzai incluir duas páginas de publicidade externa, o que poderá ser – é? – fundamental para a sua sobrevivência.
7.      Por tudo isto, há que reconhecer à Banzai ambição e ousadia.
8.     Ambas reveladas na pretensão de uma periodicidade – que só o tempo poderá confirmar – e de uma distribuição semi-comercial – em exclusivo nas lojas FNAC – o que acarreta uma significativa responsabilidade extra ao projecto.
9.      Deste, como primeiro elemento, surge o aspecto escorreito e agradável da publicação, com capa a cores e miolo a preto e branco e uma centena de páginas…
10.  … e como segundo ponto, a curiosidade de todas as colaborações deste número terem assinaturas femininas, algo difícil de encontrar noutros projectos similares que não têm o manga por referência.
11.   Se isso, em termos práticos, não passa de uma curiosidade, a verdade é que quer Joana Rosa Fernandes, quer a equipa responsável por Pandora’s Song, revelam já uma assinalável competência, quer em termos gráficos, quer em termos narrativos, o que torna as suas obras, já de algum fôlego, bastante legíveis…
12.  … o que não as isenta de poderem (e deverem) melhorar e evoluir, para que se confirmem as potencialidades agora reveladas.
13.  Para isso, a Banzai poderá ser certamente uma mais-valia, pela obrigatoriedade de criação de um ritmo de trabalho que lhes permita manter os prazos necessários.
14.  Uma secção de desenho manga, da responsabilidade de Natália Batista, uma sueca luso-descendente que terá as suas obras publicadas a partir do próximo número - completa a centena de páginas da Banzai.
15.   A finalizar – de alguma forma compensando o atraso deste texto – fica a informação de que a Banzai #2 – de que fico à espera para confirmar as indicações deixadas - deverá estar à venda no próximo dia 25 de Fevereiro.

22/01/2012

MAB Invicta (I)

Evento multidisciplinar, dedicado ao cinema, ilustração, animação e, em especial aos quadradinhos, o MAB Invicta - Festival Internacional de Multimédia, Arte e Banda Desenhada terá lugar na faculdade de Belas Artes do Porto, nos fins-de-semana de 10/11 e 17/18 de Março.

Do programa já anunciado destaca-se a homenagem ao editor italiano Sergio Bonelli, falecido o ano passado, numa mostra composta por edições de sua autoria, obras biográficas, fotografias e diversa correspondência, e a evocação dos 75 anos do Príncipe Valente, organizada por Manuel Caldas, um dos maiores conhecedores a nível mundial da obra de Harold Foster.

A nível de autores, está confirmada a presença dos alemães Lars Henkel (autor do cartaz), Ulli Lust, Anke Feuchtenberger e Ulf K. e dos belgas Thierry Van Hasselt, Olivier Deprez e Denis Deprez (todos fundadores da editora Fremok), no que parece ser uma clara aposta da organização na banda desenhada à margem das grandes editoras e das propostas mais comerciais.

A excepção é o italiano Fábio Civitelli, o mais consagrado autor de Tex, um western italiano com muitos seguidores em Portugal, onde se desloca pela quinta vez.

Em termos de autores nacionais o MAB Invicta contará com Regina Pessoa, Filipe Abranches, Pedro Serrazina e Hugo Teixeira.
Evento particular, fruto de diversas parcerias, que se pretende direccionado a um público ecléctico e de todas as faixas etárias, o MAB Invicta apresentará exposições individuais de todos os autores presentes, e o seu programa inclui visitas guiadas às exposições, sessões de autógrafos, exibição de curtas e longas-metragens, masterclasses de animação e uma zona comercial. A programação paralela, a cargo da CasaViva, contará com apresentações de novidades editoriais, concertos e duas exposições em estações de metro da cidade.

O programa ainda não está fechado e até lá a organização do MAB Invicta promete algumas surpresas, entre as quais a confirmação de mais autores nacionais e do Reino Unido, Bélgica e Espanha.

21/01/2012

As Figuras do Pedro (XII)

Pin Spirou



Fabricante/Distribuidor: Les amis de Jijé
Ano: 1998
Material: metal

Nem só de figuras é feita a minha colecção para-BD.
Esta semana mão amiga – obrigado Romain! – fez-me chegar estes magníficos pins – ao que parece raros - inspirados no Spirou que Jijé desenhou no início da década de 1940 e eu não resisti a mostrá-los aqui de imediato...

20/01/2012

L’enfant cachée










Loïc Dauvillier (argumento)
Marc Lizano (desenho)
Greg Salsedo (cor)
Le Lombard (Bélgica, 13 de Janeiro de 2012)
202 x 268 mm, 80 p., cor, cartonado
16,45 €


Resumo
1940. As leis racistas e discriminatórias em vigor na França ocupada, fazem com que se multipliquem as humilhações sobre os judeus.
Na noite em que a história começa, a pequena Dounia, cuja vida, repleta de amigos, até aí era agradável e divertida, recebe do seu pai uma “estrela de xerife” para ajudar a que tudo se mantenha em ordem. Só alguns dias depois, face à mudança de atitude de professores, colegas e vizinhos, compreenderá (parte d)o seu real significado.

Desenvolvimento
Por vezes, a melhor forma de falar das coisas complicadas é de forma simples e directa. É o que fazem os autores deste álbum, que recontam a história de Dounia, uma menina judia, cujos pais foram presos em França durante a II Guerra Mundial, por serem judeus.
E fazem-no através da própria protagonista, cujas lágrimas evocaram a curiosidade da menina de quem hoje é avó e a quem conta a sua dolorosa experiência. E ao fazê-lo assim, aumentam a proximidade e a identificação com ela por parte dos seus leitores, porque esta obra – que os adultos também devem ler - é destinada àqueles que têm hoje sensivelmente os 6, 7 anos que Dounia tinha então.
O álbum evita chocar gratuitamente – o desenho é sempre contido, o que é narrado não vai além do necessário – mas Loïc Dauvillier não deixa de evocar os horrores inomináveis da descriminação racial, a dor da separação, os traumas de viver escondida ou a cruel certeza de que o pai de Dounia foi uma das muitas vítimas dos campos de concentração nazis.
O traço de Marc Lizano, é, também ele, simples mas muito legível e especialmente expressivo, em grande parte devido à grande dimensão das cabeças das personagens relativamente aos corpos, e constitui uma mais-valia para captar a atenção dos leitores.
É evidente que Dounia teve muita sorte – muita mais do que as 11 400 crianças judias então assassinadas em França devido à sua raça - e o livro, de forma contida e sensível, evoca claramente o que há de melhor no ser humano, através daqueles que contribuíram para que ela se salvasse.
Por isso, também, num tempo em que estão a desaparecer as últimas testemunhas de um dos maiores horrores de que a humanidade foi capaz, recrudesce a sua importância e a urgência de manter viva esta memória pois “quem esquece o seu passado, está condenado a voltar a vivê-lo” (Primo Levi).

A reter
- A forma sensível e contida mas verdadeira como o tema é tratado. Com a crueldade indispensável, mas com uma doçura e uma poesia que a atenuam sem a esconder.

Curiosidades
- O álbum foi editado numa parceria com a AJPN – Anonymes, Justes et Persecutés durant la période Nazie dans les communes de France…
- … e será objecto de uma exposição em Angoulême 2012, no Espace Franquin.


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