18/05/2012

Valente para sempre


  


Vitor Cafaggi
Edição de autor (Brasil, Novembro de 2011)
92 p., pb e branco e rosa
R$ 12,00



Nota Prévia
Embora exista uma edição em papel, confesso – lamentando – que o que adiante escrevo se baseia na leitura online das primeiras 64 pranchas de “Valente para sempre”, originalmente publicadas no jornal “O Globo”, disponíveis aqui.

Desenvolvimento
Com “Valente para sempre”, Vítor Cafaggi revela-se, mais uma vez, um dos mais sensíveis e interessantes novos autores brasileiros.
Depois de “As Incríveis Aventuras do Pequeno Parker”, terna e deliciosa ficção sobre a infância de Peter Parker e de muitos outros integrantes do universo Marvel (disponíveis para leitura no mesmo blog e que urge editar em livro), agora este “Valente para sempre” revisita o conturbado e assustador período da adolescência por que todos passamos, no qual surgem os primeiros amores, as primeiras ilusões – e as primeiras e catastróficas decepções – que nos fazem sentir capazes das maiores proezas ou os mais infelizes de todos os seres humanos (e no qual formamos boa parte do nosso caracter e nos preparamos (ou não) para enfrentar a vida adulta), quando os sonhos mais loucos e exaltados teimam em chocar com a dura e inevitável realidade.

E, de novo, Cafaggi retrata-o com uma poesia, um humor leve e ternurento e uma sensibilidade irresistíveis que tocam o leitor, o prendem e o obrigam a ler prancha após prancha – a visitar o blog semana após semana – para saber como (o cãozinho) Valente - com a ajuda da (macaquinha) Bu - consegue – ou não… - comunicar os seus sentimentos à bela (gatinha) Dama, primeiro, e depois – após uma trágica separação! - à doce (pandinha) Princesa.
Porque, apesar desta opção por (pequenos e fofos) animais antropomorfizados, traçados de forma simples mas muito expressiva e agradável, e preenchidos em tons de branco e cinza, no início, ou de um rosa acastanhado sujo (que faz toda a diferença), Cafaggi consegue que nos identifiquemos perfeitamente com eles, com os seus sonhos, anseios, medos e hesitações, numa prova inequívoca de que por detrás destas belas pranchas aos quadradinhos há muito de verdade.

A verdade que já experimentaram todos aqueles que se apaixonaram - na adolescência, em qualquer idade? – mudando, por isso, hábitos, rotinas, opções, gostos – sei lá que/quanto mais! – para conseguir mais uns momentos perto do alvo da nossa paixão, trocar mais algumas palavras, caminhar ao seu lado durante mais alguns metros, ter vontade de prolongar para sempre o toque dos dedos, o aperto da mão, um abraço, o roçar de uns lábios, para sentir que o dia horrível valeu a pena pelo instante em comum que conseguimos viver…
… naquela idade em que, apesar de todos os medos, inseguranças e desilusões, amanhã é sempre um novo dia que pode vir repleto de surpresas!

17/05/2012

Martha Jane Cannary

Les dernières années 1877-1903










Christian Perrissin (argumento)
Mathieu Blanchin (desenho)
Futuropolis (França, 13 de Abril de 2012)
215 x 29o mm, 112 p., branco e sépia, cartonado
22,50 €


Este álbum, último de uma trilogia, pode ser encarado de duas formas: a destruição ou a humanização de um mito.
Porque, disso não duvido, Martha Jane Cannary, aliás Calamity Jane, é uma daquelas figuras do Velho Oeste que o tempo, a tradição e as artes –a literatura, o cinema, a BD – se encarregaram de mitificar. Mesmo para aqueles que com ela puderam conviver. Um dos muitos mitos - e um dos mais fortes - que a sua época e o local (enquanto conceito alargado) em que viveu se encarregaram de desenvolver.
A intenção de Perrissin e Blanchin, no entanto, não é endeusá-la, mas sim mostrá-la na sua profunda humanidade. O que é mais evidente neste tomo da trilogia que lhe dedicaram (e que está também disponível num único tomo integral) que encerra a biografia romanceada aos quadradinhos de Martha Jane, porque corresponde aos seus anos finais, à época do seu declínio (acentuado) provocado pela solidão, o alcoolismo, a velhice e as doenças que o seu estilo de vida propiciou.
Por isso, longe da exploradora audaz e da atiradora ímpar que, possivelmente a nossa memória associava à sua imagem e que os tomos anteriores de certa forma privilegiaram, encontramos uma mulher a lutar pela sua vida – que no entanto preza pouco – como cozinheira, dona de uma lavandaria, enfermeira, artista de feira ou de circo, ou pouco mais (menos), minada pelas suas dúvidas, com saudades da filha que um dia abandonou, arrependida dessa atitude que a marcou e à qual foi incapaz de se declarar como mãe (embora por razões nobres e que vão além da sua vergonha…).
Não que não seja, mesmo assim, apesar de tudo isto, uma mulher à frente do seu tempo – com um pouco do “pêlo na venta” que Goscinny tãobem traduziu na caricatura de Calamity com que Lucky Luke se cruzou – com uma inextinguível sede de liberdade e de independência, emancipada e autónoma num mundo de homens – dos quais precisa e aos quais se entrega, aos quais se submete e com quem tem filhos que o seu abuso de álcool matou ou de quem mais cedo ou mais tarde se desligou – uma mulher de força, de vontade, de uma vivência única e marcante. Mas também uma mulher, profundamente humana, com muitas dúvidas e incertezas, em busca de reconhecimento e aceitação – em especial de si própria - minada, destruída pela vida que levou.
Combinando a narrativa directa com as cartas que escreveu à filha mas nunca enviou e com apontamentos – estranhos no tom geral do relato – do endeusamento que os escritores de folhetins então promoveram, Perrissin propõe-nos uma obra ritmada, bem documentada e credível. Para isso contribui de forma decisiva o traço semi-realista de Blanchin, com uma boa reconstrução de época, embora as personagens enquanto centro da narrativa se sobreponham aos cenários, traçada em sombrios tons de sépia, em que o realismo sobrepuja (logicamente) algumas passagens ficcionadas-
O conjunto, propicia uma leitura forte e emotiva, que assenta principalmente na dualidade – inerente a todo o ser humano – entre a realidade de cada um – e a ideia que cada um faz de si - e a impressão que provoca nos outros, aqui toldada, distorcida pela dimensão do mito face à pequenez do ser humano.


16/05/2012

VIII Festival Internacional de BD de Beja (I)
















Entre os dias 26 de Maio e 10 de Junho Beja volta a fazer uma grande festa em torno da Banda Desenhada, reunindo originais de autores do Mundo inteiro. O Festival inaugura dia 26, sábado, às 15h00, na Casa da Cultura. A Programação no primeiro dia prolonga-se até às 3h30 da manhã. Em breve daremos mais notícias. Por enquanto aqui vos deixamos as exposições:

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS

ANDRÉ OLIVEIRA (Portugal)


CARLA RODRIGUES (Portugal)

ELISEU GOUVEIA (Portugal)



DE BEJA A ANGOULÊME - 18 HORAS DE COMBOIO (Portugal)
Exposição de Fotografia de Francisco Paixão


JÚLIO SHIMAMOTO - O SAMURAI DOS QUADRINHOS (Brasil)


MARIA JOÃO WORM (Portugal)


PEPEDELREY (Portugal)

EXPOSIÇÕES COLECTIVAS
TRAÇOS COMUNS:ARTE ORIGINAL DA COLECÇÃO DE DOMINGOS ISABELINHO
Com Al Columbia (Estados Unidos), Al Smith (Estados Unidos), Alberto Breccia(Uruguai), Aristophane (França), Arturo del Castillo (Chile), Barron Storey(Estados Unidos), Bud Fisher (Estados Unidos), Carl Barks (Estados Unidos), Carlos Roume (Argentina) /Héctor Germán Oesterheld (Argentina), Chester Brown(Canadá), Chris Ware (Estados Unidos), Clare Briggs (Estados Unidos), DaveMcKean (Reino Unido), David Wright (Reino Unido), Eddie Campbell (Reino Unido),Eddie Campbell (Reino Unido) / Alan Moore (Reino Unido), Frank Godwin (EstadosUnidos), Fred (França), George McManus (Estados Unidos), Guido Buzzelli(Itália), Hal Foster (Canadá), Jaime Hernandez (Estados Unidos), Joe Matt(Estados Unidos), José Luis Salinas (Argentina) / Rod Reed (Estados Unidos),Kyle Baker (Estados Unidos), Tony Weare (Reino Unido) e Tony Weare (ReinoUnido) / James Edgar (Reino Unido)

CORTO MALTESE NO SÉCULO XXI (Portugal)
Exposição do fanzine Efeméride, de Geraldes Lino
Com Alice Geirinhas, Álvaro, Ana Madureira, André Ruivo, Andreia Rechena, Arlindo Fagundes, Carlos Páscoa, Carlos Zíngaro, Daniel Lopes, David Campos, Miguel Falcato, Ricardo Ferrand, Filipe Abranches, J.Coelho (des.) / David Soares (Arg.), J. Mascarenhas, Joana Afonso, João Chambel, João Sequeira (des.) / Luís Pedro Cruz (Arg.), José Lopes, José Pedro Costa, João Lam, Luís Guerreiro, Machado-Dias, Marco Mendes, Maria João Careto, Mota, Nazaré Álvares, Nuno Saraiva, Paulo Monteiro, Pedro Massano, Pedro Nogueira, Pepedelrey, Regina Pessoa, Renato Abreu, Ricardo Cabral, Ricardo Cabrita, Ricardo Santos, Roberto Macedo Alves, Rui Pimentel, Susa Monteiro, Tiago Baptista, Vasco Gargalo e Victor Mesquita.

ORIGINAIS E SERIGRAFIAS DA BEDETECA DE BEJA (Vários países)
Com Alberto Vázquez (Espanha), Alexander Zograf (Sérvia), Andrea Bruno (Itália),André Caetano (Portugal), Artur Correia (Portugal), Carlos Rocha (Portugal), Craig Thompson (Estados Unidos da América), Dave McKean (Reino Unido), David B. (França), David Rubín (Espanha), Fabio Civitelli (Itália), Fábio Moon (Brasil),Fernando Gonsales (Brasil), Fernando Relvas (Portugal), Fritz (Espanha), Gabriel Bá (Brasil), Gary Erskine (Reino Unido), Gisela Martins (Portugal), Sara Ferreira (Portugal), Hermann (Bélgica), Hypollite (França), Jakob Klemencic (Eslovénia), João Lam (Portugal), José Manuel Saraiva (Portugal), Lourenço Mutarelli (Brasil), Loustal (França), Martin tom Dieck (Alemanha), Maria João Careto (Portugal), André Oliveira (Portugal), Max (Espanha), Miguel Rocha (Portugal), Niko Henrichon (Canadá), Rufus Dayglo (Reino Unido), Susa Monteiro (Portugal), Ulf K. (Alemanha), Véte (Portugal) e Zé Francisco (Portugal)

MOSTRAS
DIOGO CARVALHO (Portugal) – Obscurum Nocturnus
RUI LACAS (Portugal) – Han Solo

Contactos: Bedeteca de Beja, Edifício da Casa da Cultura, Rua Luísde Camões, 7800-508 Beja. Tel.: 284 313 310 / 284 313 318 / 969 660 234 /e-mail: bedeteca@cm-beja.pt


Organização: Câmara Municipal de Beja (Bedeteca de Beja)


Parceiros: Associação Para a Defesa do Património Cultural da Região de Beja / Museu Regional de Beja


Apoios: Cooperativa Proletário Alentejano / Agrupamento de Escolas da Santiago Maior / A Cozinha / Edições Polvo / Clube de Modelismo da Escola Mário Beirão /Star Wars Clube Portugal / LNK / Arte Pública / Sociedade Filarmónica Capricho Bejense / Lemon BD


Apoio à divulgação: Diário do Alentejo / Alentejo Popular / TVL / Rádio Voz da Planície / Rádio Pax / As Leituras do Pedro / Central Comics / DrMakete /Kuentro / Leituras de BD / Notas Bedéfilas

(Textos da responsabilidade da organização)

15/05/2012

Provérbios... com Gatos!








Catherine Labey
ASA (Abril de 2012)
165 x 220 mm, 48 p., cor, brochado com badanas
8,90 €


1.       As surpresas geralmente encontram-se onde menos se espera. Por isso são surpresas.
2.      Uma das mais recentes, devo-a a este “Provérbios… com  Gatos”. Possivelmente porque, à partida, a sua temática era para mim duplamente desinteressante.
3.      Porque sou avesso ao uso de provérbios – que geralmente servem de muleta – a propósito e a despropósito… - a quem não tem (ou tem poucas) ideias próprias; porque em muitos casos (co)existem em versões com sentido oposto, para haver sempre (pelo menos) um aplicável.
4.      Porque não tenho grande afinidade com gatos – nem com cães, esclareço já… - pela alergia (literal) que me provocam; porque me irrita crescentemente a forma demasiado humanizada como tantos – cada vez mais… - insistem em tratá-los em detrimento dos outros seres humanos.
5.      Apesar disso – de tudo isso – confesso que desfrutei com a leitura deste livro, assente no formato da tira, de imagem única ou, no máximo, dividida em duas ou três vinhetas, de traço simples mas bem legível e definido, e que trata os ditos e provérbios que todos - infelizmente…! – conhecemos, geralmente com humor, aqui e ali de forma original, propondo – fazendo – novas interpretações de ideias que o tempo parecia ter gasto ou mesmo esgotado.
6.      Características – o conceito, a(s) temática(s), a forma, a legibilidade - que fazem dele um livro que pode encontrar os seus leitores fora do círculo habitualmente restrito de quem lê BD.
7.      O que está longe de ser um defeito. Bem pelo contrário.
8.     E que podia – devia até? – ser uma ambição de quem cria quadradinhos…


14/05/2012

Eddy Paape (1920-2012)












A banda desenhada belga perdeu ontem mais uma das suas referências. Colaborador das revistas “Spirou”, “Pilote” e “Tintin”, Eddy (Edouard) Paape faleceu aos 91 anos.
Natural de Grivegnée, próximo de Liége, na Bélgica, onde nasceu a 3 de Julho de 1920, Paape teve formação em pintura e ilustração no Institut saint-Luc, tendo conhecido, em 1942, durante a II Guerra Mundial, num estúdio de animação onde trabalhou, Franquin, Morris e Peyo, de quem viria a ser parceiro na revista “Spirou”, sob a égide de Jijé.
Curiosamente, um ano depois, esse estúdio marcaria, de uma outra forma, a sua vida poi, na sequência dos ferimentos sofridos num incêndio que nele teve lugar, seria tratado por uma enfermeira, Laurette Beer, sua futura esposa com quem ainda era casado.
Quando Jijé partiu para os Estados Unidos, Paape “herdou” Jean Valhardi, escrito sucessivamente por Jean Doisy, Yvan Delporte e jean-Michel Charlier, que desenhou durante 8 anos e se tornou a primeira grande referência da sua carreira nos quadradinhos. Ainda na “Spirou” desenhou as primeiras “Belles Histoires de L’Oncle Paul”, a partir de 1951, e animou diversas rubricas.
Acumulando colaborações e parcerias, sob vários pseudónimos, para diversos títulos, Paape voltaria a destacar-se em 1958, com a criação das aventuras de Marc Dacier, mais uma vez com argumentos de Charlier.
Depois de colaborar na “Pilote” com bandas desenhadas curtas, entre 1960 e 1966, ainda neste último ano estrear-se-ia no “Tintin” belga onde, no ano seguinte, lançaria a sua mais conhecida criação, Luc Orient, uma série de ficção-científica (temática então praticamente ausente da revista) de tomo moderno e filosófico, com preocupações pacifistas e ecologistas, escrita por Greg.
“Tommy Banco” (1970), “Yorik des Tempêtes” (1971) e “Udolfo” (1978) foram outras séries que desenhou para a “Tintin”, encontrando-se igualmente na sua vasta bibliografia títulos como “Les Jardins de la Peur” (em 1988, com Jean Dufaux) e “Johnny Congo” (1992, com Greg), sendo de assinalar igualmente a sua vertente de professor de desenho, no Institut Saint-Luc.
Os leitores portugueses descobriram-no a 22 de Dezembro de 1956, no “Cavaleiro Andante” #260, com uma versão aos quadradinhos da morte de Cristo. O especial de Natal desse ano estreava Jean Valhardi, que regressaria na série regular, nos fascículos #393 e #433, sempre rebaptizado… Pedro Valente.
“Marc Dacier” no “Zorro” #1 (1962) e “Douglas Bader” no Jacto #50 (1972) seriam outras histórias de Paape publicadas em Portugal.
A sua marca mais forte, no entanto, foi deixada na versão nacional do “Tintin”, onde foram publicadas 12 histórias de Luc Orient, a partir do #143 (1969), a par de algumas histórias curtas. O herói regressaria ainda nas “Selecções do Mundo de Aventuras” #251 (1982). A Livraria Bertrand editou 3 álbuns, entre 1974 e 1977, a que se juntou um quarto, muitos anos depois, em 2009, na colecção “Clássicos da revista Tintin” (ASA/Público).
Quanto a “Yorik das tempestades”, foi publicado no “Mundo de Aventuras” #240, de 1978, e nas “Selecções do Mundo de Aventuras” #248 (1982), revistas que também publicaram diversas das suas histórias curtas.



13/05/2012

As Estantes do Pedro (III)







 


Pela terceira semana consecutiva volto a mostrar a minha biblioteca de BD, agora com a secção com as estantes com os álbuns (ordenados por desenhador) de Schuiten a Zitko, obras colectivas e o meu acervo manga.
Em termos de figuras vê-se uma colecção de mini-bonecos Homem-Aranha e estatuetas de Gaston Lagaffe e Spirit.

12/05/2012

Tony DeZuñiga (1941-2012)















O autor de banda desenhada Tony DeZuñiga faleceu ontem de madrugada, depois de ter estado internado em estado grave devido a um derrame sofrido no mês passado.

Natural das Filipinas, onde nasceu em 1941, foi o criador gráfico de Jonah Hex, em 1972, com argumento de John Albano, e de Orquídea Negra, em 1973, com Sheldon Mayer, duas personagens da DC Comics. Para esta editora ilustrou igualmente histórias de Batman, Aquaman e Swamp Thing, entre outros.

Primeiro desenhador filipino a trabalhar para a indústria de quadradinhos dos Estados Unidos e responsável pela contratação de diversos compatriotas, DeZuñiga também emprestou o seu talento à Marvel, para quem desenhou histórias do Homem-Aranha, X-Men, Thor, Homem de Ferro, Conan ou Star Wars.

Tendo começado profissionalmente como letrista, aos 16 anos, fez de seguida um curso de design gráfico em Nova Iorque, após o qual passou a dedicar-se aos quadradinhos e à publicidade, no seu país natal.

No final dos anos 60 regressou aos Estados Unidos, tendo feito a sua estreia nos quadradinhos deste país como arte-finalista de Ric Estrada, na revista “Girl’s Love Stories”, da DC Comics, estrando-se como desenhador principal em 1970, na revista de terror “House of Mistery” #188.

Depois de uma década ligado à empresa SEGA, na área dos videojogos, o desenhador filipino regressou aos quadradinhos tendo assinado a sua última banda desenhada em 2010, a graphic novel “Jonah Hex – No Way Back”, lançada em simultâneo com o filme com o mesmo protagonista.


11/05/2012

Casanova – Lujuria












Matt Fraction (argumento)
Gabriel Bá e Fabio Moon (desenho)
Panini Comics (Espanha, Março de 2011)
185 x 280 mm, 160 p., cor, cartonado
18,00 €


Resumo
“Casanova” é um relato de ficção-científica protagonizado pela personagem que dá título ao livro, filho de Cornelius Quinn, o Director Supremo de EMPIRE, uma força internacional encarregada de manter a paz e a ordem na Terra a qualquer preço, e irmão gémeo de Zephyr, a melhor agente de EMPIRE.
Avesso à autoridade e a cumprir ordens, Casanova é uma constante fonte de problemas para a EMPIRE e a sua própria família, num relato em que as surpresas – tal como os saltos espácio-temporais e as suas indesejáveis consequências - se sucedem.

Desenvolvimento
Fã assumido dos gémeos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá, tenho seguido com atenção - e grande prazer – a sua carreira, feita a pulso e com talento, sempre em sentido ascendente. Carreira  na qual privilegio, sem qualquer dúvida, a sua faceta mais autoral – revelada em títulos como “10 pãezinhos”, a meia-prancha semanal “Quase nada” ou “Daytripper” (neste momento no topo das obras que tenho para ler) - em detrimento dos trabalhos mais comerciais (deixem-me escrever assim) que, no entanto, revelam a sua importância crescente no meio dos comics norte-americanos, entre os quais se destacam  a colaboração com Mike Mignola em “BPRD”, “Umbrella Academy” ou este “Casanova”, em ambos os casos no que a Bá diz respeito.
Em todos eles – independentemente das suas características intrínsecas – os dois têm deixado a sua marca forte e personalizada a nível gráfico. Porque quer Bá, quer Moon, apesar de algumas diferenças, cultivam um traço não especialmente pormenorizado ou graficamente muito atractivo que, na sua estilização está longe de ser aquilo que se costuma designar por um “desenho bonito”. Mas que, apesar disso, é imediatamente reconhecível e personalizado e revela uma agilidade e uma capacidade de transmitir movimento invulgares, o que faz dele o veículo ideal para a narração em banda desenhada. Quer nas suas obras pessoais, mais intimistas e profundas, quer em banda desenhadas de ficção-científica – como “Casanova” ou “Umbrella Academy” - em que predomina a acção.
Este álbum, agora editado em Espanha – aqui tão perto e tão longe… - que compila os quatro primeiros comics da série, acrescentados de uma BD curta extra – desenhada por Moon -, revela exactamente isso, sendo admirável como Bá conduz a narrativa, como passa com facilidade de cenas intimas para grandes espaços, de monólogos ou diálogos a dois para cenas repletas de personagens e figurantes, sem que o leitor se sinta perdido.
Infelizmente – e aqui está a minha costela anti-comics mainstream a dar de si – o mesmo não se pode dizer do argumento de Matt Fraction – com provas dadas em títulos de Iron Man ou Thor – que por vezes acelera, através do tempo e do espaço, arrastando consigo o leitor sem que este consiga assimilar tudo o que o escritor transmite, o que obriga a paragens e releituras que não beneficiam o ritmo de fruição da obra
Apesar disso, é inegável a originalidade do relato na criação de um universo fantástico multifacetado e na recuperação de fórmulas antigas dos comics e da literatura pulp de terror e ficção-científica, servidas aqui com novas roupagens, que assenta em Casanova Quinn, um anti-herói movido apenas pelo desejo de lucro, vendendo os seus talentos a quem der mais, num mundo de múltiplas dimensões espacio-temporais onde convivem em abundância espiões, agentes duplos e super-vilões - entre os quais se destaca Newton Xeno, um génio do crime - e no qual, pelo que atrás ficou escrito, a entrada não é tão directa ou simplificada quanto possa parecer à primeira vista.
Ou, quem sabe, talvez o problema seja meu pois, nos Estados Unidos, depois da luxúria, em 2006, e da gula, em 2008, já está em publicação a terceira temporada de “Casanova”, dedicado à avareza.

A reter
- O muito bom trabalho gráfico de Bá.
- A edição da Panini Comics, cuidada e bem complementada com um texto introdutório de David Fernández, a tal história curta extra, as capas originais dos comics e uma explicação de Bá e da (também brasileira) colorista Chris Carter, sobre a selecção de uma apertada gama de tons para a recolorização da obra para esta compilação – pois os comics originalmente foram publicados apenas numa surpreendente combinação de branco, negro e verde.

Menos conseguido
- O argumento de Matt Fraction, algo confuso, apesar dos aspectos originais que contém.

Nota: Com excepção da capa do livro, as imagens aqui reproduzidas foram “pirateadas” do PaperBlog, a quem agradeço a involuntária colaboração.

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