14/11/2012

Jours de destruction, jours de révolte








Chris Hedges (texto)
Joe Sacco (ilustração e banda desenhada)
Futuropolis (França, 2 de Novembro de 2012)
195 x 265 mm, 320 p., pb, cartonado
27,00 €



Na ressaca das eleições norte-americanas e em dia de greve geral em Portugal, esta é uma obra cuja leitura seria útil a Barack Obama (e a Mitt Romney também, possivelmente antes dessas mesmas eleições) mas igualmente aos líderes europeus - os subservientes, os lambe-botas e os outros.
Na verdade, a situação nele descrita, embora retrate a situação concreta norte-americana, tem (demasiados) pontos de contacto com aquilo que se vive agora - em Portugal, na Grécia, em Espanha, em toda a Europa comunal não tarda muito? – pelo que uma leitura atenta – acompanhada por reflexão consciente – é altamente aconselhável para se ponderar o futuro que estamos a proporcionar aos nossos filhos, às próximas gerações.
Subintitulado pela Futuropolis “A realidade da sociedade norte-americana por dois grandes autores comprometidos”, este é um retrato duro da sociedade norte-americana.
Retrato duro e subjectivo, ideológico e empenhado, correspondente à visão comum dos dois autores e resultante de um longo périplo pelo país, o livro - editado nos EUA em Junho último - assume a forma de uma longa reportagem escrita, ilustrada e em BD – esta última pouco presente para o que desejariam os fãs de Sacco, usada apenas para "transcrever" algumas entrevistas.
É um retrato que se inicia com os últimos indígenas, na reserva índia de Pine Ridge, no Dakota, passa pelos guetos negros de Camden, em Nova Jérsia, revela as condições miseráveis dos últimos mineiros de carvão na Virgínia Ocidental, acompanha os apanhadores de tomate ilegais latinos em Immokalle, na Florida, e termina junto do movimento Occupy Wall Street, em Nova Iorque, num percurso não inocente.
É um retrato violento e incómodo que – na óptica desta dupla de criadores – mostra não só como os EUA caminha(ra)m para a auto-destruição, espoliando, oprimindo, explorando, despojando da dignidade, escravizando a base da sua sociedade, a sua força produtiva, mas também a revolta que a diferentes níveis isso está a gerar e como essa é a única réstia de esperança para um mundo governado por uma ínfima minoria assente no poder financeiro, cego, amoral e impiedoso.
Por isso, este retrato que mostra, destaca, dá voz, acompanha seres reais, de carne o osso como nós, mais do que espelhar o idealizado sonho americano revela um pesadelo atroz cada vez mais omnipresente – tornado banal? - em todo o mundo (ocidental), onde há cada vez mais gente “sem esperança, que trabalha duro por quase nada”.


13/11/2012

Três sombras











Cyril Pedrosa
Polvo (Portugal, Outubro de 2012)
165 x 230 mm, 270 p., pb, brochado com badanas
17,00 €



Esta é uma obra ao mesmo tempo terna e chocante, cativante e incómoda, doce e angustiante.
E sobre a qual é impossível escrever sem revelar o que está na sua génese, embora isso retire ao leitor a possibilidade d(ess)a descoberta. Por isso, se desejarem, parem por aqui a leitura deste texto e vão à procura deste “Três sombras”, uma das mais aconselháveis bandas desenhadas editadas em Portugal neste (fim de) ano.
Na origem deste livro está uma das mais chocantes e incompreensíveis situações que um ser humano pode experimentar: a perda de um filho pequeno devido a doença. Vivida por um casal amigo de Cyril Pedrosa, empurrou-o a descrevê-la aos quadradinhos como catarse e libertação.
E Pedrosa fê-lo - num preto e branco de traço fino, solto e muitas vezes impreciso, dinâmico e expressivo, vivo e singular, bem distante do abundante colorido de Portugal - de forma terna, comovente, simbólica, metafórica, onírica e maravilhosa, transformando numa fuga (literal) do inevitável o que na vida real prende e imobiliza.
Por isso, em Três sombras, o pequeno Joaquim, que vive despreocupado com os pais, quando três cavaleiros inquietantes começam a rondar o seu lar, é levado pelo progenitor para o mais longe possível, numa viagem singular mas perigosa, durante a qual, para o conservar, o pai experimenta tudo, despoja-se de tudo e (quase) de si mesmo, dá-se completamente, arrisca tudo – até a sua própria identidade e a relação conjugal – a família… - que se revelará finalmente o porto de abrigo, o único local de conforto.
Ode ao amor paternal, retrato maravilhoso da infância – desfrute-se da primeira vintena de pranchas, da harmonia e felicidade familiar que emanam (tal como as últimas) – Três sombras é uma obra profundamente humana, de início enganador que apenas torna mais densa a tragédia, mas também um hino de esperança e de louvor da vida, que deve ser vivida de forma intensa, numa dádiva diária para ser desfrutada plenamente.  



12/11/2012

Cinzas da Revolta













Miguel Peres (argumento)
Jhion (desenho)
ASA (Portugal, Outubro de 2012)
195x265 mm, 48 p., cor, cartonado
13,90 €



Resumo
Angola, 1961. Durante um ataque a uma fazenda de portugueses, o casal que lá habita é assassinado e a sua filha adolescente levada por um dos assaltantes.
Angola, 1963. Um comando de soldados portugueses é enviado supostamente para encontrar a rapariga desaparecida dois anos antes.
As mudanças por ela sofridas, o questionar da missão – eventualmente do interesse de uma alta autoridade nacional - e da própria guerra pelos soldados são outros dos motes que orientam a narrativa.

Desenvolvimento
Este álbum é uma das surpresas deste fim de ano em Portugal, apesar das limitações que se lhe reconhecem. Fundamentalmente pela (nova) dupla autoral e pela sua temática.
Vamos por partes.
Os autores são os portugueses Miguel Peres e Jhion (ou seja “o artista anteriormente conhecido por João Amaral!).
O traço deste último surpreende por surgir diferente do seu registo mais habitual. Mais natural, possivelmente porque mais liberto da base fotográfica e/ou informática que geralmente utiliza, mas também com alguma falta de expressividade e preso de movimentos. Nota-se, no entanto, uma melhoria ao longo do álbum, fruto certamente da experiência que este lhe foi possibilitando.
A composição das páginas, diversificada, serve-lhe para ritmar a narrativa, embora nalguns casos a utilização de um traço demasiado espesso para delimitar as vinhetas, torne as páginas algo pesadas. Ainda no que diz respeito à planificação, destaque para alguns efeitos interessantes, originais e conseguidos, nomeadamente os “rasgões” que permitem visualizar em simultâneo o interior e o exterior da fazenda (na p. 4) ou a utilização recorrente das onomatopeias como limite das vinhetas (como na p.5).
A surpresa maior acaba por ser o argumento do estreante Miguel Peres, apesar de algumas pontas soltas, uma ou outra oscilação de ritmo e, principalmente a falta de explicação para a(s) mudança(s) de atitude da cativa. A sensação que fica é que faltaram páginas para a justificar, bem como para aprofundar a sua relação com o seu captor e para explorar o tempo (e as respectivas consequências) que os soldados passaram no mato.
Destaca-se, mesmo assim, a coragem para abordar uma temática – a guerra colonial - que a diversos níveis ainda continua a ser tabu entre nós. O que se lamenta pois é extremamente rica a diversos níveis, permitindo abordagens em registos de acção, intimistas, ideológicos, históricos…
A Miguel Peres serviu para questionar as razões por detrás das guerras e os efeitos que elas provocam naqueles que mais directamente estão a ela associados – sejam os soldados que combatem ou as “vítimas colaterais” hoje tanto na moda.
Dessa forma, Cinzas da Revolta, inegavelmente, indica e trilha um caminho que a BD nacional pode percorrer com originalidade, para exorcizar fantasmas e para chegar a leitores habitualmente avessos aos quadradinhos.


11/11/2012

Selos & Quadradinhos (90)


Stamps & Comics / Timbres & BD (90)


Tema/subject/sujet:
1º Salão dos Humoristas – Centenário 1912-2012
1st Hall of Humorists – Centenary 1912-2012
1er Salon des Humoristes – Centenaire 1912-2012
País/country/pays: Portugal
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 16/10/2012





10/11/2012

AmadoraBD 2012 (VI)


Último fim-de-semana









Antes do programa do último fim-de-semana do AmadoraBD 2012, que fica marcado pela presença de Zep e cujo visita recomendo, ficam as ligações para o programa geral, para o meu balanço do festival e para a lista das obras e autores distinguidos com os Prémios Nacionais deBanda Desenhada.

Apresentações e encontros
Sábado, 10 de Novembro
16h00
Apresentação da coleção Heróis Marvel Série II, com João Miguel Lameiras,
José de Freitas e responsável da Editora Levoir

Domingo, 11 de Novembro
18h00
Encontro/debate com Victor Mesquita sobre o seu novo projecto, moderado por Pedro Mota


Visitas Guiadas
Sábado, 10 de Novembro
10h30 — 11h30
A Cenografia da Exposição Os Vários Rostos do Eu,
com Susana Lanceiro, Susana Vicente, João Rapaz e Bruno Caetano

15h30 — 17h00
A Exposição Os Vários Rostos do Eu,
com Comissário Pedro Moura e convidados estrangeiros

17h00 — 18h00
Exposição O Infante Portugal em Universos Reunidos,
com José de Matos-Cruz e Daniel Maia

Domingo, 11 de Novembro
10h30 — 13h00
O 23º AmadoraBD, com Nelson Dona, Director do Festival,
Pedro Moura, Comissário da Exposição Os vários Rostos do Eu
e convidados estrangeiros

15h00 — 16h00
Exposição Happy Zep, com Zep, por Pedro Mota


Sessões de autógrafos
Sábado, 10 de Novembro
15h00
Ana Afonso
André Oliveira
António Valjean
Daniel Maia
Geral & Derradé
Joana Afonso
José Matos-Cruz
José Ruy
Mathieu Sapin
Ricardo Cabral
Sergei
Susana Resende
Victor Mesquita

16h00
Ana Afonso
Ana Oliveira
André Oliveira
Antonio Altarriba
António Valjean
Caeto
Daniel Maia
Filipe Andrade
Geral & Derradé
Joana Afonso
João Mascarenhas
José Matos-Cruz
Mathieu Sapin
Nuno Duarte
Pedro Leitão
Ricardo Cabral
Sergei
Susana Resende
Victor Mesquita
ZEP

17h00
Ana Afonso
Ana Oliveira
António Altarriba
Caeto
Filipe Andrade
Geral & Derradé
Joana Afonso
João Mascarenhas
José  Ruy
Kati Rapia
Marko Turunen
Mathieu Sapin
Nuno Duarte
Pedro Leitão
Peter Pontiac
Sergei
Victor Mesquita
ZEP

18h00
Ana Oliveira
António Altarriba
Caeto
Filipe Andrade
Joana Afonso
João Mascarenhas
José Ruy
Kati Rapia
Marko Turunen
Nuno Duarte
Pedro Leitão
Peter Pontiac
Victor Mesquita
ZEP

Domingo, 11 de Novembro
15h00
Ana Afonso
António Altarriba
Bruno Ma
Diogo Campos
Geral & Derradé
Joana Afonso
Mathieu Sapin
Paulo Monteiro
Ricardo Cabral
Victor Mesquita
ZEP

16h00
Ana Afonso
Ana Oliveira
António Altarriba
Caeto
Diogo Campos
Filipe Melo
Geral & Derradé
Joana Afonso
João Mascarenhas
Kati Rapia
Marko Turunen
Mathieu Sapin
Nuno Duarte
Paulo Monteiro
Pedro Leitão
Peter Pontiac
Ricardo Cabral
Rui Lacas
Victor Mesquita
ZEP

17h00
Ana Afonso
Ana Oliveira
António Altarriba
Caeto
David Soares
Filipe Melo
Geral & Derradé
Joana Afonso
João Mascarenhas
Kati Rapia
Marko Turunen
Nuno Duarte
Paulo Monteiro
Pedro Leitão
Peter Pontiac
Rui Lacas
Victor Mesquita

18h00
Ana Oliveira
Caeto
David Soares
Filipe Melo
Joana Afonso
João Mascarenhas
Kati Rapia
Marko Turunen
Nuno Duarte
Pedro Leitão
Peter Pontiac
Rui Lacas


AmadoraBD Júnior
Pinturas Faciais e Modelagem de balões
Sábado e domingo
das 10h30 às 12h30 e das 16h00 às 18hh00

Oficina de Origami
Pretende-se com esta oficina iniciar os formandos na arte ancestral japonesa de dobragem de papel: entender o conceito de origami e conseguir executar diferentes tipos de origami.
Sábado e domingo
das 10h30 às 12h30 e das 15h00 às 18h00

Atelier de Cinema de Animação
Dar a conhecer as técnicas de cinema de animação, dando a oportunidade da experimentação aos participantes produzindo um pequeno filme.
Descrição:
Jogos ópticos:
- Exercício 1: Animação em tiras de papel para Zootrópio (desenho)
- Exercício 2: Animação em pixilação
- Exercício 3: Animação directa sob a câmara, com recortes e objectos
10 de Novembro, das 10:30 às 12:30

Hora do Conto
11 de Novembro
10h30
O Lobo Prateado, de Isabel Alçada, Ana Maria Magalhães e Ana Afonso (Caminho)

Atelier Baralho de Contos
10 de Novembro
das 10h30 às 12h30
Vamos explorar o universo dos contos infantis e juntar os ingredientes necessários à criação de uma história. Aqui podemos reinventar o mundo!
Escolhemos o cenário e as personagens, podemos pôr pinguins numa floresta ou camelos no polo norte. Escolhemos a acção e o final. Registamos a ideia no papel e, para terminar, vamos ver a nossa história em movimento. Até parece magia.
Baseado no livro O Lobo Prateado, de Isabel Alçada, Ana Maria Magalhães e Ana Afonso (Caminho)

Atelier(es) Picassa-te!
11 de Novembro
das 10h30 às 12h30
Pablo Picasso esteve na origem do movimento cubista. Através do desenho, experimentou registar no plano (2d) o movimento e o volume do que é tridimensional (3d).
Tens curiosidade de perceber como é que ele o fazia? Gostavas de saber mais sobre a vida deste grande mestre? Vamos conhecer um pouco mais este artista.
Baseado no livro Paris na Primavera com Picasso,
de Joan Yolleck e Marjorie Priceman (Gradiva)

09/11/2012

Valérian e Laureline, 45 anos














Há 45 anos, a a revista francesa Pilote apre-sentava no nº 420, datado de 9 de Novembro de 1967,  um novo herói de BD, o agente-espácio tem-poral Valérian.
Em “Maus sonhos”, numa ida ao passado, mais concretamente à Idade Média, encontraria a bela Laureline com quem viria a formar um dos mais emblemáticos casais dos quadradinhos.Depois deste início algo ingénuo e num estilo demasiado caricatural, o verdadeiro arranque surgiria no ano seguinte com “A cidade das águas movediças”, em que uma explosão de bombas de hidrogénio provoca a inundação de quase todas as zonas habitadas da Terra de 1986, para onde o casal foi enviado em perseguição de um criminoso, às ordens de Galaxity uma metrópole do futuro que um cataclismo haveria de fazer desaparecer, deixando os dois perdidos no tempo e no espaço.
Progressivamente, Laureline, distante dos retratos estereotipados que tantas vezes a BD apresentou das mu-lheres, através da sua inteligência, capaci-dade de iniciativa e atributos físicos viria a assumir um papel preponderante, relegando muitas vezes Valérian para um plano secundário na série.
Os seus criadores eram Pierre Chritin (que então assinava Linus) e Jean-Claude Mezières, amigos desde a adolescência, que ao longo de quatro décadas e mais de duas dezenas de álbuns, tendo por base valores como o pacifismo, o feminismo ou a igualdade racial e cultural, desenvolveriam um dos mais originais universos que a banda desenhada já conheceu, levando os seus heróis a percorrer o espaço sideral e a visitar planetas fantásticos e maravilhosos, povoados de seres fascinantes e bizarros, revelados pelo traço barroco mas muito eficaz de Mezières. E mais tarde compilados num curioso “Os Habitantes do Céu - O Atlas Cósmico de Valérian e Laureline”
Estreadas em Portugal na revista Tintin, a 30 de Janeiro de 1971, as aventuras de Valérian e Laureline, que também passaram pelo Jornal da BD, a Flecha 2000 e o Público Júnior, estão integralmente editadas em álbum entre nós, divididas pelos catálogos da Meribérica/Líber e da ASA, com excepção da aventura inicial, apenas publicada na revista Selecções BD, em 1990.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 9 de Novembro de 2012)


08/11/2012

Heróis Marvel II - #4 Surfista Prateado: Parábola












Stan Lee (argumento)
Moebius e John Buscema (desenho)
Levoir/Público (Portugal, 8 de Novembro de 2012)
170 x 260 mm, 224 p., cor, cartonado
8,90 €



Se há colaborações (improváveis) entre autores de banda desenhada que se tornaram quase míticas, este Surfista Prateado: Parábola, de Stan Lee e Moebius, é, sem dúvida, uma delas.
Desde logo porque o casual encontro para almoço entre os dois, concluído com uma vaga promessa de colaboração, acabou por dar frutos.
Depois, essencialmente, porque a colaboração entre duas super-estrelas das respectivas constelações aos quadradinhos, conseguiu combinar o melhor dos dois, sem ao mesmo tempo afastar qualquer deles do seu registo próprio.
Possivelmente, o Surfista Prateado, com o seu “ar de graça, elegância, altivez e coração puro” (para citar Moebius) seria, se não a única escolha possível, pelo menos a que mais se coadunava com a busca mística que o autor europeu levou a cabo na sua própria vida e cujos reflexos foram bem patentes nas suas obras mais pessoais (aquela que assinou a solo, como Moebius).
Para reforçar esta simbiose, Lee optou por um registo centrado na procura interior e na religião, tanto no que ela tem de melhor, quanto no que nela há de mais execrável, da aceitação pura da mensagem aos excessos em nome da fé, do desejo inato do ser humano sentir o conforto de algo maior (e a quem possa culpar pelas suas falhas…) à facilidade das conversões, da entrega total ao desembaraço com que se derrubam hoje as (falsas) promessas de fidelidade juradas ontem… E fá-lo sob a forma de um comic tradicional de super-heróis, sem excessos de acção nem moralismos desmedidos.
Quanto a Moebius, dá a este conto a ambiência ideal, despojando o desenho, feito de linhas finas, de todo e qualquer pormenor desnecessário – e conseguindo obter o efeito máximo desse depuramento nas diversas pranchas de vinheta única – integrando-o na sua forma pessoal de narrar sem qualquer sinal de concessão ou esforço.
O resultado – bela combinação de talentos oriundos de dois universos gráficos díspares – proporciona uma leitura agradável e estimulante, capaz de satisfazer fãs de super-heróis, apreciadores de ficção-científica, amantes de BD franco-belga e mesmo simples leitores, tendo os elementos necessários para proporcionar uma reflexão sobre a religião nas suas diversas facetas, a instabilidade do ser humano e a sua necessidade inata de alguém a quem se submeter.
Esta edição, a primeira que dita esta obra em português, é complementada com um texto em que Lee e Moebius narram a génese de Parábola e a forma como trabalharam para a criar, desenhos preparatórios e ainda uma galeria com as ilustrações de super-heróis Marvel (Homem de Ferro, Homem-Aranha, Elektra…) da autoria de Moebius.
Fica como nota final a indicação de que, uma vez que (re)li esta banda desenhada na edição incluída na colecção Graphic Novel da Editora Abril (tal como aconteceu com Batman – O Filho do Demónio), tenho que deixar de fora desta apreciação as histórias de Lee e Buscema que completam este volume da colecção Heróis Marvel – série II.


07/11/2012

O Cabra













Flávio Luiz (argumento e desenho)
Artur Fujita (cor)
Papel 2 (Brasil, 2010)
250 x 380 mm, 56 p., cor, brochado
R$ 38,00




Primeiro
Todos os álbuns de banda desenhada deviam ter (pelo menos) este tamanho.
Pelo menos aqueles cujo desenho vibra, pulsa, transborda, chama os leitores a mergulhar no universo desenhado.
Um formato gigante que permite uma maior impacto da acção, onde os pormenores saltam à vista, onde os olhares e os movimentos são mais precisos e expressivos.

Segundo
Muitas bandas desenhadas deviam ser assim.
Capazes de transportar naturalmente os elementos reais e específicos da cultura de onde o autor é oriundo para os mundos ficcionados de papel que ele escolheu. (E tão poucas vezes a banda desenhada nacional foi capaz de o fazer, perdendo oportunidades de marcar a diferença, também por aí…).
Porque se este é uma história do cangaço, com um fora-da-lei tipo Robin Hood que desafia coronéis donos da terra (e dos que nelas trabalham), cuja autoridade é imposta pela força das armas e da repressão, ela é também um relato de ficção-científica, ambientado no ano de “3 mil e não sei quantos” num planeta Terra devastado por guerras e experiências genéticas e assolado por uma desertificação quase total que transformou a água no bem mais precioso.
A isto, acresce ainda uma história de amor de contornos originais, um conseguido equilíbrio entre os vários registos combinados e um final a um tempo previsível e inesperado.

Terceiro
Não todas, mas muitas bandas desenhadas deviam ser assim.
Capazes de combinar géneros, influências (assumidas e assimiladas), citações, aventura e acção, romance e crítica social, para criar novos universos e contar velhas histórias com nova roupagem, num registo em que se encontrem os pontos de referência suficientes para serem identificados mas também as variantes capazes de surpreender, estimular e cativar.

Quarto
O responsável por esta obra é Flávio Luiz, sobre quem Sidney Gusman, editor-chefe do UniversoHQ e responsável pelo planeamento editorial da Maurício de Sousa Produções, escreveu, com justiça, que o seu “talento é grande demais para ficar limitado apenas à Bahia”, afirmação que subscrevo, por isso o trago aqui hoje.
Conheci-o (à distância) há poucas semanas quando me pediu o endereço para me enviar algumas obras. Uma vez recebido o pacote, “O Cabra” chamou de imediato a atenção, pelo formato, sim, mas também pela excelente linha clara à qual não consegui resistir.
Uma linha clara límpida, dinâmica e expressiva, servida por um traço semi-realista, surpreendentemente (para um brasileiro) próximo do registo europeu que associamos à revista belga Spirou.
Uma linha clara que denota à-vontade no tratamento da figura humana e dos cenários, com soluções narrativas diversificadas, enquadramentos dinâmicos e uma planificação que potencia a legibilidade da história.
E que tem a felicidade de contar com um soberbo trabalho de cor - baseado em tons quentes para a narrativa principal e em sépias mais sombrios para os flashbacks que explicam o porquê do ódio entre o Cabra e o Coronel - da responsabilidade de Artur Fujita, que ajuda a definir ambientes e momentos da acção e é uma inegável mais-valia para esta obra.


06/11/2012

Heróis Marvel II - #3 Homem de Ferro - Extremis









Warren Ellis, Adam Warren, Mark Haven Britt, Matteo Casali, Tim Fish (argumento)
Adi Granov, Salva Espin, Nuno Plati, Steve Kurth e Filipe Andrade (desenho)
Levoir/Público (Portugal, 1 de Novembro de 2012)
170 x 260 mm, 216 p., cor, cartonado
8,90 €



Assumida e recorrentemente tenho destacado aqui em As Leituras do Pedro a publicação de autores portugueses pela Marvel, nomeadamente de Filipe Andrade e Nuno Plati, sem dúvida os mais produtivos.
Nuno Plati em cima) 
e Filipe Andrade (em baixo)
Por isso, quanto mais não fosse por uma questão de coerência, não podia deixar de referir a sua estreia em português (enquanto autores da Marvel claro está).
Isso aconteceu na passada quinta-feira, no terceiro tomo da segunda série da colecção Heróis Marvel, publicada semanalmente com o jornal Público.
Os seus trabalhos – histórias curtas ­- estão incluídos na mini-série Titanium, um one-shot publicado nos EUA à boleia da versão cinematográfica do Homem de Ferro, sobre a qual não me vou alargar, uma vez que na altura escrevi sobre ela aqui.
E também porque, apesar de tudo, esta “estreia portuguesa” de Andrade e Plati terá apenas um valor simbólico e, acima de tudo, o valor que cada um deles lhe quiser dar.
(Deixo apenas a estranheza de este tomo concluir com uma mini-entrevista e alguns extras de Filipe Andrade desta sua primeira BD publicada pela Marvel e não ter sido dado a Nuno Plati o mesmo tratamento. Opção editorial ou algo mais?)
De qualquer forma, seguindo em frente, esse não é o único aspecto a destacar neste volume que corrige uma lacuna da série I, a ausência do Homem de Ferro.
O seu prato forte é a banda desenhada Extremis, que abre o livro e que de alguma forma relança a personagem e o seu alter-ego Tony Stark e faz a ponte para o uniforme mais moderno apresentado no cinema.
Na sua origem está um Tony Stark atormentado pelos efeitos causados pelas armas que desenvolve e vende e a tentar justificar-se perante si próprio da inevitabilidade desse comércio para conseguir concretizar outros aspectos mais benéficos para o ser humano, igualmente desenvolvidos pelas suas empresas.
(Um Tony Stark algo deprimido e com pena de si próprio, de certa forma a evocar o período em que dependeu do álcool…)
Entretanto, o roubo por um grupo terrorista (uma temática que os super-heróis têm abordado muitas vezes nos últimos anos) de um protótipo de uma nova versão, mais potente, do soro do super-soldado que esteve na origem do Capitão América, obriga-o a acelerar o processo de desenvolvimento de uma nova armadura.
A história é narrada de forma directa e enleante por Warren Ellis, que faz as pontes necessárias entre o passado e o presente para situar o herói e basear os seus temores e indecisões, e combina em doses equilibradas cenas intimistas com outra de acção (com um grau de violência invulgares nos comics de super-heróis).
A transformação experimentada pelo terrorista, o seu ataque a uma dependência do FBI, a sequência entre o flashback que recria a origem do fato do Homem de Ferro e a passagem para a sua versão hipermoderna ou o combate final, são momentos altos desta história que justificam por si só a sua leitura.
Mas o final, com um inesperado volte-face é também uma mais-valia.
Acresce a isto o trabalho gráfico de Adi Gramov, mais eficaz nas cenas de acção do que seria de esperar dado o seu registo algo estático e possivelmente de base fotográfica, pese embora a sua inegável beleza estética.




05/11/2012

Uma nova editora de BD


NetCom2 Editorial









A NetCom2 Editorial nasceu em Espanha, há 4 anos, onde é hoje a segunda maior editora de BD franco-belga.
Neste momento a NetCom2 Editorial tem um catálogo de mais de 120 álbuns, distribuídos por 15 séries, desde Vasco a Alix passando por Vinci ou Yoko Tsuno, editando obras de nomes como Jacques Martin, Gilles Chaillet, Jean Pleyers, Marc Jailloux, Roger Leloup, André Taymans ou Christophe Simon. 

Em Espanha sabe-se que, devido à qualidade e ao sucesso do projecto, o mesmo está para durar, para grande satisfação dos fãs espanhóis de BD franco-belga.
Quanto a Portugal, e tendo consciência da dimensão do mercado português de BD, mas tendo também confiança nesse mesmo mercado, a NetCom2 Portugal propõe-se editar mais BD, desta feita em português. A boa BD não se esgota, nem de perto nem de longe, com as séries editadas até agora em Portugal.
As pessoas que estão à frente da editora são, antes de mais, fãs de BD franco-belga, e têm plena consciência do que os fãs gostam, garantem que o projecto será sempre feito com empenho, dedicação e qualidade.
Este projecto terá início em Portugal com a edição das séries:
     - Keos, da autoria de Jacques Martin e Jean Pleyers;
     - As investigações de Margot, da autoria de Olivier Marin e Emilio Van der Zuiden;
     - A última profecia, da autoria de Gilles Chaillet.

O primeiro volume da BD Allan Mac Bride, da autoria de Patrick Dumas e Jean-Yves Brouard, será publicado em várias tranches na BDNet, a revista bimensal gratuita da editora.

Esperamos que disfrutem destas colecções, da mesma forma como a NetCom2 Editorial disfruta em publicá-las.

A última palavra é vossa!!
Jorge Fernandes (Manager Portugal)

(Texto oficial de apresentação da NetCom2 Editorial)

Site da NetCom2 Editorial
BDNet #1  (pdf)


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