Dez semanas após o início da colecção do Público, 22 anos
depois segundo a edição original ou 24 anos e 58 dias depois de Van Hamme ter
pela primeira vez escrito a cifra ‘XIII’, chega ao fim uma das grandes sagas de
acção e aventura que a banda desenhada franco-belga nos ofereceu.
Com mestria e todas as pontas bem atadas, após uma longa,
paciente, elaborada e electrizante viagem.
Houve ao longo do percurso alguns desequilíbrios, é verdade.
Para mim, o díptico Top Secret/Soltem os
Cães revela-se o elo mais fraco da saga de XIII, mas Van Hamme soube depois
retomar a mão e voltar às qualidades que fizeram deste um thriller de eleição:
uma história apaixonante, muito suspense e mistério, teoria da conspiração em
doses generosas, histórias paralelas a confluir para um mesmo ponto, acção à
desfilada e sucessivos falsos finais, até desvendar o verdadeiro e atar as
muitas pontas soltas que foi espalhando ao longo de quase um milhar de páginas.
A par disso, para além do protagonista, o célebre amnésico
de muitas identidades, suspeito de ter assassinado o presidente dos Estados
Unidos, de ser terrorista do IRA e de um sem número de outras acções, raramente
legais, a série está recheada de personagens fortes e marcantes. A bela (e bem mais
do que isso) tenente Jones, o general Carrington, o assassino a soldo Magusto,
o mafioso Frank Giordino (um dos homens mais poderosos dos Estados Unidos
durante décadas…), as letais Irina e Jessica Martin (esta tardiamente chegada à
série, mas com um papel decisivo) e outros mais…
A leitura de Top
Secret/Soltem os Cães e de Operação
Montecristo/O Ouro de Maximiliano – que eu desconhecia antes desta colecção
sair em Portugal – e do volume final do ciclo original, o escrito por Van Hamme,
vieram confirmar o erro crasso que foi a ASA e o Público terem deixado de fora
o álbum TheXIII Mistery – L’Enquête. Porque, para além de um resumo – sob a forma
de trabalho jornalístico - do que tinha acontecido nos primeiros 12 álbuns,
aquele livro lança diversas pistas fundamentais para o aparecimento de
personagens importantes como Jessica Martin e Danny Finkelstein e para a
leitura do restante da série - e mesmo de alguns dos álbuns paralelos (The XIIIMistery), cujos três inéditos em português até podiam ter sido incluídos na
colecção – bastava mais um volume um pouco maior…
A versão irlandesa
surge como um álbum atípico – mas fundamental – na série, não só por ter sido –
surpreendentemente (na época) - desenhado por Jean Giraud (para que pudesse ser
publicado em simultâneo com O Último Assalto,
mas também pelo tom e o ritmo, díspares da restante narrativa.
Se Operação
Montecristo/O Ouro de Maximiliano, encerram com brilho a questão do tesouro
mexicano, O Último Assalto encerra
com chave de ouro a história de XIII, de novo em ritmo avassalador, com as
surpresas, os volte-faces e os salvamentos in
extremis a sucederem-se, impedindo o leitor de sossegar.
De fora desta análise – a minha leitura dele está ainda
incompleta – fica o segundo “grande” ciclo, da responsabilidade da dupla
Sente/Jigounov – os álbuns O dia de
Mayflower / O Isco e Regresso a
Greenfalls/A Mensagem do Mártir, mas parece-me que esta narrativa
complementar, em ritmo moderado e graficamente menos interessante, leva longe
de mais a associação de XIII aos grandes momentos da História norte-americana e
envolve-o novamente, de forma algo forçada, numa enorme conspiração político-económica.
XIII #9
A Versão Irlandesa/O Último Assalto
Jean Van Hamme
(argumento)
Jean Giraud e William
Vance (desenho)
ASA/Público
Portugal, 4 de Fevereiro de 2015
220 x 290 mm, 96 p., cor, brochado com badanas
7,90 €
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