Com
a tranquilidade da BD nacional desfeita pela chegada de um herói
inconsciente – toma lá o trocadilho, Luís Louro! – urgia falar com o
seu autor para que se pudesse justificar. Se o fez ou não, cabe aos
leitores decidir, após desfrutarem da entrevista que se segue, feita
por meios electrónicos.
Luís
Louro:
Nem são poucos nem são muitos, são os que há!!! :)
Do
ponto de vista dos fãs serão poucos, claro… Do meu ponto de
vista, sim gostava de ter feito outros tantos… Mas outros projetos
surgiram, o que me proporcionou o crescimento óbvio entre este e o
último Corvo em 2007! Não nos podemos esquecer também, que nesses
25 anos houve um hiato de 7 anos… Quando eu parei completamente (e
definitivamente, pensava eu…) com a BD. Mas também aprendi com o
Jim del Monaco que quando se fazem vários álbuns seguidos parece
que perde valor… começam a ser ignorados, “- Olha é mais um…”
E isso sempre me aborreceu bastante, pois o trabalho e dedicação
são idênticos para todos… Passei pela mesma experiência
recentemente com os Watchers
e Sentinel.
(O pobre Sentinel
não teve metade da atenção da imprensa que teve o Watchers…)
Portanto,
acho que este Corvo veio no momento certo. Estou de (in)Consciência
Tranquila!!!
Luís
Louro:
O Corvo foi o meu primeiro personagem a solo!!! Logo tem um lugar
ENORME no meu coração! Foi a minha primeira aventura como
argumentista… Acompanhou todos os meus momentos de ansiedade…
medos, alegrias… E curiosamente veio a tornar-se algo muito maior
do que eu alguma vez imaginei…
Com
o Corvo alcancei novos voos… (Pun intended)… É um personagem que
sempre acompanhou o meu crescimento como autor completo e nunca ficou
datado. Está em constante evolução. (Como seria de esperar de um
verdadeiro herói, claro está!) o Corvo tornou-se num ícone
nacional, e está a caminho de se tornar num ícone Mundial!!!
(Apenas aguarda resposta a uma carta de candidatura enviada aos
Vingadores…) O Corvo começa a já não caber nas páginas de um
álbum de BD!!! (Daí o facto deste novo álbum ter um formato maior…
Aí está!)
Luís
Louro:
Pela primeira vez na minha carreira quando entreguei um álbum à
editora (o Sentinel),
continuei cheio de vontade de desenhar… Ao passar pelo estirador vi
uma página de esboços da cara do Corvo que tinha feito em 2016… E
essas caras começaram a chamar por mim… Literalmente, acreditem…
EU NÃO ESTOU LOUCO!!! E comecei a fazer uns esboços neste novo
traço mais dinâmico… quando dei por mim já tinha desenhado mais
de 100 poses, entre o Corvo e o inflamável Combustão!!! Ora como
não sou uma pessoa que goste de trabalhar para o boneco, tinha de
rentabilizar todos este esforço (delicioso prazer…) E pronto
comecei a pensar numa nova história.
É
engaçado que o Corvo está sempre presente… Mesmo quando trabalho
em projetos diferentes.
As
Leituras do Pedro: E porquê o regresso a solo? A experiência
anterior com o Nuno Markl não podia ter sido repetida?
Luís
Louro:
O Corvo é uma personagem muito minha. A experiência com o Nuno foi
excelente, mas foi isso mesmo, uma experiência… O Corvo faz parte
de mim e eu do Corvo… É algo muito intimo, que não gosto muito de
partilhar… :) Acho que inconscientemente o Corvo tem cada vez mais
traços da minha personalidade… Do meu humor, dos meus medos, e da
minha coragem, claro… Afinal o Resplandecente Corvo é um HERÓI!!!
As
Leituras do Pedro: O
Corvo começa com um tom trágico no álbum de estreia; depois parece
tactear em busca do seu caminho
em O Regresso; em Laços de Família assume um tom de comédia
ligeira e agora torna-se definitivamente um ‘super-herói’.
Concordas? Porquê?
Luís
Louro:
Seria a meu ver a evolução mais apropriada para o nosso inolvidável
herói… Neste último volume decidi dedicar-me a 100% ao Corvo, ao
herói, deixando propositadamente o Vicente de fora. Este é um álbum
mais “Dark” onde ficamos a conhecer melhor o Herói, e todas as
questões que o incomodam…
É
mais uma vez uma abordagem diferente dos anteriores, apesar de neste
termos também uma parte dramática (mais encapotada) nos monólogos
do nosso vingador (em breve, espero…) o que revela todo o seu
desequilíbrio e alheamento em relação aos que o rodeiam… Não
significa isso que o Vicente não volte…
O
curioso é que houve muita gente que se apercebeu disso, dessa
componente dramática mais oculta, outros deram pelo lado mais
humorístico, outros pelo heroísmo com a grande batalha com o infame
Combustão… E outros só viram mamas… :):):) Esta é a beleza de
fazer BD!!!
As
Leituras do Pedro: Neste álbum Lisboa é menos visível do que nos
álbuns anteriores. Precisavas de descansar depois do protagonismo
que lhe deste em Watchers/Sentinel?
Luís
Louro: Não
creio que seja menos visível… É apenas mais realista (afinal o
Corvo é um herói de verdade!!!) Não é uma Lisboa tão
espetacular, visual e fantasista, mas está lá como sempre. No Corvo
tudo grita Lisboa!
Não
significa isto que o Corvo seja um herói de Lisboa, como todos
sabemos o Corvo e Robim (peço desculpa por me ter esquecido de
mencionar o sempre fiel companheiro e parte intrínseca do duo
dinâmico,) são enormes e fazem parte do património mundial…
Não…?
As
Leituras do Pedro: Em Laços de Família há o esboço de uma capa
onde se lê o título: "Inconsciência tranquila".
Coincidência? Ideia antiga? Aproveitamento?
Luís
Louro:
Ora esse título surgiu-me ainda antes do Laços de Família… E
sempre gostei muito dele. Como não sabia se o Corvo iria ter mais
aventuras, ou se alguém até lá se iria lembrar deste trocadilho…
(Eu sei que foi de génio… Mas nunca se sabe se anda por aí mais
algum…) resolvi pôr por brincadeira a anunciar brevemente no Corvo
III.
Passado
todo este tempo, a primeira coisa que me veio à cabeça quando
pensei no Corvo IV foi esse título… E ainda tive de andar às
voltas durante um tempo para me lembrar dele… (Sim, este belo génio
nunca mais se lembrou que o tinha posto no álbum anterior…)
Mas
pronto, esta é a história… A propósito, também já me lembrei
de outro “genial” para um próximo volume… Resta saber se se
enquadrará na história e, mais importante… Se haverá próximo
volume… :)
As
Leituras do Pedro: Um dos factores mais marcantes deste quarto álbum
do Corvo, é a tua passagem da Asa para a Ala dos Livros. O que te
fez mudar?
Luís
Louro:
Tudo na vida tem o seu tempo… Estive na Asa 30 anos, desde 1989!!!
A certa altura queremos algo diferente, queremos sempre ser mimados,
valorizados e respeitados... Mas chega um momento, como em todas as
profissões, que se tivermos uma proposta mais interessante temos de
seguir em frente.
Na
Asa tive momentos maus, bons, excelentes, estranhos… Mas todos me
deixam saudades, para além disso continuo a fazer parte da Asa com
outros trabalhos.
Com
a Ala dos Livros estou a ter um apoio a que não estava habituado…
Realço a “incansável” Luísa, sempre ao meu lado a promover o
meu trabalho, agora finalmente com outro tipo de apoio da editora.
As
Leituras do Pedro: A Ala dos Livros já anunciou a reedição do
Alice
para Outubro. Há mais reedições a caminho?
Luís
Louro: Para
já não… Isto tem sido um turbilhão… A mudança de editora com
o Corvo, agora também a Alice…
Tudo num ano atípico como este não é fácil.
As
Leituras do Pedro: Nos últimos anos, o autor que tinha deixado a BD,
proporcionou-nos os regressos de Jim del Monaco e do Corvo e o duplo
díptico Watchers/Sentinel.
O que vem aí a seguir?
Luís
Louro:
A reedição do Alice,
claro!!! Eheheh…
Agora
preciso de respirar um pouco e pensar no futuro… Confesso que
fiquei bastante entusiasmado com o resultado deste novo Corvo e, como
disse antes… o Corvo nunca anda longe dos meus pensamentos… Mas
por outro lado dois volumes seguidos da mesma personagem… hhhmmm…..
Veremos o que o futuro nos traz…
As
Leituras do Pedro: Paralelamente, a propósito da pandemia de
Covid-19, criaste Os
Covidiotas
no Facebook. Como surgiu a ideia?
Luís
Louro:
Como disse antes ando cheio de vontade de desenhar… E quando
começou esta pandemia e tivemos de ficar em casa (apesar de eu
passar a maior parte do meu tempo em casa…) comecei a sentir uma
pressão de estar em casa sem fazer nada numa altura que vai ficar
para sempre na memória do mundo.
Aí
comecei-me a aperceber de uma série de situações ridículas
ligadas a esta pandemia… E como sempre quis experimentar um traço
mais simplificado para cartoon, esta era a oportunidade perfeita…
Comecei por pensar em fazer 4 ou 5… e acabei por chegar aos 150!!!
Tudo isto também com o incentivo e acompanhamento de todos os amigos
e seguidores das redes sociais, que têm sido o meu constante
apoio!!!
Inclusive
esta semana estava a trabalhar nos extras para o Alice
e esqueci-me de pôr à hora habitual a tira do dia… Recebi logo
dois ou três recados a puxar-me as orelhas… :):):)
Luís
Louro:
Pois, não sei… Apenas sei que se for realmente para álbum, vou
deixar uma parte inédita… Logo isto vai ter de parar brevemente…
As
Leituras do Pedro: Está prevista a sua edição em livro? Quando? Já
não devia estar a acontecer?
Luís
Louro:
Sim está tudo a ser tratado… Como já disse, não está a ser um
ano fácil, mas esperemos que seja para breve pois é um tema que
mesmo que a pandemia acabe em breve (esperemos) ficará para sempre
na história mundial! (assim como o Corvo, não nos podemos
esquecer…) :):):):)
(imagens disponibilizadas por Luís Louro e pela Ala dos Livros; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Uma excelente entrevista a um dos nossos melhores desenhadores e argumentistas nacionais, quando lemos o Corvo contamos com um desenho excelente, historias fora do vulgar, alguns easter eggs que falham á primeira leitura.
ResponderEliminarDepois de ler esta entrevista, dá uma grande vontade de o comprar, ler de novo o resto corvo e ir relembrar a Alice.
Como seguidor dos OS-COVIDIOTAS gostei muito de saber que poderá haver uma edição em papel, olhando para os comentários no Facebook compradores não vão faltar.