Paz… à força
Datada de 2011/14, Segmentos é uma das últimas obras do desenhador argentino Juan Gimenez (1943-2020), aqui acompanhado pelo argumentista Richard Malka.
Resumo
Num futuro indefinido, após um incidente que forçou ao abandono do planeta Terra, a Humanidade encontra-se dividida por sete mundos diferentes: Stakan, Lexipólis, Musa, Psique, Voluptino, Mercante e Neo-Esparta. Essa divisão é feita em função dos interesses/capacidades de cada ser humano, avaliados aos 7 anos e depois treinados durante mais catorze até serem enviados para o planeta de referência. Dessa forma, os mundos atrás citados correspondem aos seguintes sectores: Trabalho, Ordem, Criatividade, Espiritualidade, Prazer, Câmbio e Guerra.
A ideia base desta divisão é que a separação dos seres humanos segundo os seus interesses, evita que entrem em conflito e provoquem guerras fractricidas.
A história começa quando duas pessoas, Loth e Jezréel, por razões diferentes - um atraso no apanhar de um transporte e a recusa de viver no local decidido para si - se põem em fuga para fugirem ao castigo que lhes foi determinado.
Desenvolvimento
Se em ficção-científica, é fundamental aceitar os princípios básicos para depois fruir a leitura, parece-me que a premissa de Segmentos é completamente errada.Passo a explicar: a junção num mesmo local de pessoas com os mesmos interesses de base, mais do que criar harmonia, deve potenciar a discórdia. Um exemplo simples? Juntar todas as confissões religiosas no mesmo planeta é, com certeza, o mesmo que lançar gasolina para a fogueira (da Inquisição, dita Santa, ou não); veja-se como ao longo dos séculos a religião serviu de pretexto para guerras infindáveis e massacres inomináveis, mesmo com continentes a separar as pessoas de opinião diferente...
E quem diz religião, diz política, diz finanças, diz…
Ultrapassada esta incongruência, Segmentos transforma-se numa narrativa de fuga para a frente, de rebeldia e de luta por ideais, melhores condições de vida e o direito à auto-determinação, assente num pequeno grupo cujos componentes são movidos por ambições e sonhos diferentes.
Às bases atrás citadas, Malka acrescenta ainda um conselho de anciãos, imortais, que governa os sete mundos, e a busca pelo planeta (Terra) original, onde estaria a solução para as questões que se vão acumulando, nomeadamente a esterilidade que grassa há uns anos e põe em causa o futuro de todos.
Numa narrativa geralmente feita em bom ritmo, fica a sensação de que o argumento e algumas das características expostas dos planetas, das sociedades e dos protagonistas seriam melhor explorado se, em vez de três álbuns, a série tivesse tido (pelo menos) mais um ou dois para consolidar este universo.
Quanto ao desenvolvimento gráfico feito por Juan Gimenez, se o seu traço e a sua capacidade de desenvolver cenários tecnológicos são facilmente identificáveis, há algum excesso de caricatura na representação das personagens e Segmentos apresenta-se, naturalmente, como uma obra do ocaso do desenhador argentino.
A Reter
- Juan Gimenez sendo Juan Gimenez, apesar dos sinais da idade;
- A edição da Arte de Autor, integral (mais uma) e com a qualidade a que já nos habituamos.
Menos conseguido
- A incongruência de juntar num mesmo local grupos com os mesmos interesses mas sensibilidades divergentes para conseguir a paz;
- A falta de mais páginas para consolidar a história.
Segmentos
- Integral
Richard
Malka (argumento)
Joan
Gimenez (desenho)
Arte
de Autor
Portugal,
Maio de 2023
236
x 312 mm, 160 p., cor, capa dura
33,00
€
(imagens disponibilizadas pela Arte de Autor; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre o tema destacado)
A falta de páginas, principalmente no final...
ResponderEliminarTambém no final...
EliminarBoas leituras!
Creio que é ao contrário:
ResponderEliminarAvaliados aos 7 anos e depois treinados por mais 14.
Exactamente! Correcção feita, obrigado pela atenção.
EliminarBoas leituras!