Versões
“Quem conta um conto, acrescenta um ponto”, diz o provérbio e em Coney Island, são vários os narradores, orquestrados pelo ‘narrador supremo’, Gianfranco Manfredi (o mesmo de Mágico Vento).
Passo a explicar. Ambientada no final dos anos 20 do século passado, tendo como local privilegiado da acção o parque de diversões que dá nome à obra e como pano de fundo a Lei Seca (que proibia a venda de álcool) e as lutas sem tréguas entre as diversas famílias de mafiosos pelo controle dos diversos tipos de crimes, Coney Island assenta num quarteto de protagonistas: Jack Sloane, detective obstinado e duro; Brenda, uma jovem com muitos sonhos mas infeliz na escolha dos amigos; Speddy, mensageiro do exército norte-americano durante a Primeira Guerra Mundial; Mister Frolic, herói do mesmo conflito e mágico, ilusionista ou algo mais.
Unindo-os por um acaso, Manfredi vai traçar um relato duro, violento quanto baste, de um realismo extremo pela base histórica escolhida e a que dá um toque de fantástico que se vai revelar fundamental.
Para além disso, Coney Island começa de forma original: a mesma cena é narrada sucessivamente do ponto de vista de cada um deles, acrescentando cada nova versão elementos importantes sobre os protagonistas mas também sobre o que realmente aconteceu na noite em que Sloane levou Brenda ao parque de diversões, assistiram ao espectáculo de Frolic e a jovem quase acabou assassinada no seu quarto.
Depois deste longo intróito - na verdade quase a base da narrativa - o último terço desta mini-série - publicada originalmente em 2015, em Itália, em três números, reunidos no Brasil neste volume único - mergulha no mundo esconso e violento da Cosa Nostra, nas suas intrigas e lutas sem quartel pelo domínio das mais apetecíveis zonas dos Estados Unidos, numa aparente mudança de paradigma que na verdade continua a seguir o que foi traçado na sua fase inicial: aprofundamento das personagens e explicação da razão de ser das suas opções e atitudes, num todo cuja leitura é difícil de interromper antes de um final que, mesmo sendo coerente, surpreende.
Graficamente Giuseppe Barbati - que assinou aqui o seu último trabalho, que não chegou a ver na forma de livro, devido à sua morte prematura em 2014 - e Bruno Ramella desenvolvem um trabalho muito competente, perfeitamente credível na reconstituição histórica de locais, edifícios, veículos e guarda-roupa, e à-vontade na representação anatomicamente correcta dos seres humanos, expressivos e suficientemente personalizados para evitar dificuldades no seu reconhecimento. Afinal, a qualidade gráfica elevada que sempre se espera das edições Bonelli.
Coney
Island
Gianfranco
Manfredi (argumento)
Giuseppe
Barbati e Bruno Ramella (desenho)
Editora
85 e Lorobuono Fumetti
Brasil,
2022
160
x 210 mm, 290 p., pb, capa cartão com badanas
R$
49,90
(capa disponibilizada pelas editoras Editora 85 e Lorobuono Fumetti; pranchas disponibilizadas pela Sergio Bonelli Editore; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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