04/08/2009

Les Nourritures de l’âme

Vários autores (argumento)
Kim Dong-hwa (desenho)
Casterman (França, Janeiro de 2008)
169 x 240 mm, 176 p., cor, capa brochada com jaqueta


Projecto atípico, este livro nasceu de uma proposta da revista coreana “Positive Thinking” ao autor, considerado um dos mais brilhantes autores da sua geração, para transformar em bandas desenhadas pequenos contos dos seus leitores, que tinham em comum reportarem casos verídicos, exemplares pela sua sensibilidade e valor humano.
Nasceram assim 20 curtos manhwas (banda desenhada coreana), serenos, delicados e ternos, de grafismo e planificação (e cor) mais próximos dos quadradinhos ocidentais do que do manga japonês, que podem ajudar-nos a pensar no que é/deve ser importante no nosso relacionamento com os outros. O que, convenhamos, não é pouco.

03/08/2009

As Melhores Leituras de Julho

Gil Jourdan - L'Intégrale #1 (Dupuis, de Tillieux
A Teoria do Grão de Areia – vol. 1 (ASA), de Schuiten e Peeters
Clássicos da revista Tintin - Bernard Prince (ASA+Publico), de Hermann e Greg
Lulu Femme Nue – premier livre (Futuropolis), de Davodeau
Sábados dos meus amores (Conrad Editora), de Maurício Quintanilha
Superman & Batman #40 e #41 (Panini Comics Brasil)
Tex Gigante #19 – Arizona em Chamas (Mythos), de Nizzi e Victor de La Fuente
Turma da Mônica Jovem #6 (Panini Comics Brasil), de Maurício de Sousa

Zits – Pierced (Gradiva), de Borgman e Scott

28/07/2009

Nas bancas: Tex Edição Gigante #19 – Arizona em chamas

Claudio Nizzi (argumento) 
Victor de La Fuente (desenho) 
Mythos Editora (Brasil, Maio de 2007) 
182 x 277 mm 242 páginas preto e branco capa brochada 

Resumo Tex Willer e Kit Carson são enviados por Washington ao Arizona, para tentarem evitar uma nova guerra com os apaches, mas para isso terão que vencer a desconfiança dos indígenas e as armadilhas dos grupos interessados nas confrontações. 

Desenvolvimento Álbum escrito à medida do seu desenhador – como raramente terá acontecido em Tex – privilegiando uma temática – os confrontos brancos invasores/índios invadidos, uns protagonistas – os apaches – e uma localização – as regiões semi-desérticas da fronteira do Arizona com o México – “Arizona em Chamas” brilha, desde logo e por isso, pelo traço realista e seguro do veterano espanhol Vítor de La Fuente, em especial no tratamento que dá aos cavalos e às zonas montanhosas. A história de Nizzi, que começa com uma conspiração bem urdida, onde realça os jogos de interesse – políticos, económicos e financeiros – que estiveram em grande parte por detrás da conquista do Oeste e do quase extermínio dos índios, e que quase culmina com uma derrota de Tex, salvo por um encontro casual, decorre depois em bom ritmo, com diversas inflexões, perseguições e confrontos (com bandidos contratados, apaches rebeldes e autoridades mexicanas corruptas) como se exige a um bom western. 

A reter - A forma como a conspiração contra os rangers e o representante enviado por Washington se vai desenvolvendo, a diversos níveis, num crescendo, até explodir com consequências imprevisíveis e, nalguns casos, irreparáveis. - O traço algo “sujo” e duro, mas vivo e dinâmico de La Fuente. 

Menos conseguido - É curioso que cavaleiros experientes como Tex e Carson desperdicem o seu tempo em constantes trocas da sua posição relativa ao longo do caminho. Surpreendidos? Vejam a sequência das páginas 52 a 54 em que os dois cowboys trocam repetidamente da direita para a esquerda e vice-versa! 

Curiosidade - Publicado inicialmente em 1992, esta BD foi republicada em Itália em Fevereiro de 2007, na colecção Tex Stella D’Oro #5. No Brasil, foi o primeiro Tex Edição Gigante em 1995, então editado pela Globo, surgindo agora como o 19º volume da colecção da Mythos.

26/07/2009

Tex Edição Gigante #6 – A Última Fronteira

Tex Edição Gigante #6 – A Última Fronteira 

Clãudio Nizzi (argumento)
Goran Parlov (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Dezembro de 2000)
182 x 277 mm, 242 páginas, preto e branco, capa brochada 

 Resumo Jim Brandon, o coronel da Polícia Montada canadiana, uma vez mais recorre à ajuda de Tex Willer e Kit Carson, desta vez para o ajudarem a prender Jesus Zane, um fora-da-lei que aterroriza a região, deixando um rasto de sangue e morte por onde passa. Oportunidade para os dois heróis reencontrarem também Gros-Jean. 

Desenvolvimento Se as edições gigantes de Tex costumam brilhar primeiro pelo traço do desenhador convidado, este é uma (agradável) excepção. Nele, Nizzi constrói um excelente argumento, sólido, bem delineado e em que apresenta um dos mais interessantes e bem caracterizados inimigos que Tex já teve que enfrentar: Jesus Zane, de seu nome, um mestiço filho de mãe índia (violada) e pai branco, que desde pequeno carrega esse fardo. 
Incitado pela mãe a odiar os brancos, muitas vezes encontrando na vida razões para o fazer, cresce dividido entre esse ódio, a amizade por Nat, o seu melhor amigo da adolescência, com quem compete pelo amor (no seu caso não correspondido) da bela Sheewa. A sua história é contada em pormenor, entendemos as suas razões (mesmo não as aprovando), vemos nele um ser (bem) humano, não um dos habituais estereótipos das histórias de Tex. Por outro lado, esta é, possivelmente, das muitas aventuras do ranger que eu já li, aquela em que ele tem menos protagonismo. Ausente em dezenas de páginas, funciona quase só como elemento de ligação entre as diversas fases da narrativa, ganhando protagonismo apenas no final, quando assume o papel de justiceiro. O que contribui para dar consistência à história e reforçar o seu interesse e permite a Nizzi espraiar-se mais na definição dos perfis psicológicos de Jesus e Nat ou mesmo de Sheewa. Uma referência ainda para a violência inaudita (apesar de tudo invulgar neste western) com que culminam os confrontos entre Nat e Zane (pp. 200-207) e entre este e Tex (pp. 234-240). Pena é que para um argumento desta qualidade, tenha sido escolhido não um desenhador consagrado, como é norma, mas alguém (então) quase sem experiência, o croata Goran Parlov, que denota isso mesmo. É verdade que já se adivinham algumas das qualidades, que fariam dele um dos desenhadores de Mágico Vento (com o qual J. Zane se parece bastante), nomeadamente o domínio da planificação e a capacidade de dotar de movimento a acção, mas a verdade é que “pesam” mais o “seu” Canadá, impreciso e indefinido, que poderia ser qualquer outra região, ou a forma “inacabada” de muitos rostos ou mesmo vinhetas.
A reter - O bem urdido e explanado argumento de Nizzi. - Jesus Zane, um dos poucos vilões credíveis de Tex. - O dossier sobre os autores, a obra e o seu contexto, que como é habitual ocupa as primeiras páginas deste Tex Gigante. Menos conseguido - O desenho de Parlov; a história merecia melhor. - A ausência das habituais legendas das imagens no dossier inicial. 

Curiosidades - Dificilmente uma mulher violada daria ao filho o nome do pai. No caso da mãe (índia) de Jesus, isto ainda é mais estranho quando depois o ensina e incita a odiar os (brancos) da raça do seu pai… - A capa do álbum lembra a de “Jesuit Joe”, de Hugo Pratt, a quem Sérgio Bonelli dedica esta obra.

(Texto publicado originalmente no Blog do Tex, em 1 de Julho de 2009)

21/07/2009

Les Rues de Sable

Les Rues de Sable
Paco Roca (argumento e desenho)
Delcourt (França, Abril de 2009)
202 x 257 mm, 96 p., cor, capa cartonada

Resumo

Um jovem, atrasado para se encontrar no banco com a sua companheira, para assinar um contrato de empréstimo à habitação, corta caminho por um velho bairro da sua cidade, cuja saída não consegue achar. Acaba por ir ter a um hotel repleto de personagens absurdas, que vivem um quotidiano vazio e repetitivo, convencidas que nunca o poderão mudar.

Desenvolvimento
Este é um delírio (autobiográfico?) aos quadradinhos, com as sombras tutelares de Hergé e Borges, que explora o mais fundo da mente humana, convidando a que nos percamos com o autor nas armadilhas do subconsciente do protagonista, que, sem o perceber, se vai encontrando com diferentes possibilidades de si próprio, sempre incapaz de fazer (novas) escolhas e opções, sempre preso a momentos, recordações, objectos que o marcaram. Tal como na sua vida real, em que as hesitações, o medo de dar o passo em frente, parecem mais fortes do que o desejo de assumir em pleno a relação amorosa.
Para o narrar, Paco Roca explana mais uma vez o seu belo traço linha clara, combinado com uma planificação sóbria mas diversificada e labiríntica como a própria introspecção que conduz.
Após a leitura, fica a ideia de que a vida é (pode ser) como uma BD, como uma bela BD, na qual sempre pode aparecer a palavra (continua). Resta saber se o protagonista chegou – quis chegar – a tempo ao banco ou se preferiu passar (mais uma parte d)a vida preso nos seus sonhos de liberdade.
A ler, sem qualquer dúvida, apesar de um final demasiado aberto… como quase todos os sonhos. E vidas.

A reter
- Como adepto confesso da linha claro, tenho que destacar o traço de Roca.

Curiosidades
- Tintin, Popeye e o (óbvio) Corto Maltese são alguns heróis de BD que Paco Roca homenageia, expondo-os nas primeiras pranchas do relato.

18/07/2009

Maurício de Sousa, um homem deste tempo

Tive o privilégio de conhecer pessoalmente Maurício de Sousa há poucos anos, numa das suas várias passagens pelo Festival Internacional de BD da Amadora. Com entrevista marcada, preparei-me para o pior e a minha surpresa não podia ter sido maior. Em vez da vedeta ausente e distante (como tantos, de bem menor dimensão, são), encontrei um homem simpático, afável, disponível, de sorriso fácil, conversador, que cativa de imediato.

Ao contador de “histórias em quadrinhos” hábil e de mestria inegável, pude associar um contador de histórias vibrante e caloroso, informado e bom conversador, saltando de tema para tema, evocando memórias ou mostrando um brilhozinho nos olhos quando fala dos seus “filhos desenhados” e dos (muitos) projectos que sempre tem.

Um autor que se revelou também, sempre, um homem do seu tempo - deste tempo - alerta para as inovações tecnológicas, que acompanha e utiliza, e para os interesses, sempre em constante mudança, dos seus potenciais leitores, procurando-os onde estão – na net, no orkut ou no Twitter, onde é frequente encontrá-lo, ouvindo críticas e sugestões, mostrando o que está a fazer, admitindo erros, procurando novos caminhos.

E, acima de tudo, penso que posso dizê-lo, alguém que me honrou com a sua amizade e que continuou sempre disponível, nas várias ocasiões em que depois nos cruzamos, pessoalmente ou ao alcance de um “clic”, sempre com a mesma afabilidade, o mesmo calor, o mesmo brilhozinho.

Parabéns, Maurício!


Nota: A melhor forma de homenagear Maurício de Sousa – qualquer criador –, que hoje comemora 50 anos de carreira, é ler as suas obras. Mensalmente, chegam às nossas bancas mais de uma dezena de títulos, para (quase) todos os gostos e idades, das revistas clássicas da Mônica, Cebolinha, Cascão ou Chico Bento, para os mais conservadores, às novas versões da Turma da Mônica Jovem, da Tina ou do Ronaldinho Gaúcho. Procurem-nas e leiam-nas. Vão ver que vale a pena. Pelo humor e pela simplicidade. E pelo regresso à infância…


17/07/2009

La Théorie du Grain de Sable – Tome 2

La Théorie du grain de sable – Tome 2 François Schuiten (desenho) e Benoit Peeters (argumento) Casterman (França, Setembro de 2008) 300 x 204 mm, 120 p., preto, branco sujo e branco, capa com badanas Resumo Neste segundo tomo de ”La Théorie du Grain de Sable/A teoria do grão de areia”, Schuiten e Peeters unem as pontas que foram espalhando no primeiro tomo, para darem uma conclusão lógica aos acontecimentos que começaram a ter lugar em Brusel, a 21 de Julho de 784: o aparecimento, vindos do nada, e a posterior acumulação de grãos de areia num apartamento e de pedras de peso constante (6793 gramas, um número primo) noutra casa ou na progressiva perda de peso, sem que no entanto emagreça, por parte de um chefe de cozinha, com os quais nos levaram a reencontrar anteriores personagens das Cidades Obscuras, como Mary Von Rathen (de "L'enfant penchée") e Constant Abeels (de "Brusel"). Desenvolvimento Foi longa a espera – de apenas um ano, na verdade, pois foi esse o intervalo entre os dois tomos na versão original francesa - mas a curiosidade era grande após a leitura do tomo 1. E o mínimo que se pode dizer é que a expectativa não foi iludida, quer pelo final inesperado, quer pelo toque tão místico que Schuiten e Peeters dão à conclusão desta história. A partir dos estranhos fenómenos a que Brusel assistiu, com uma fina ironia mas de forma consistente, os autores desenvolvem uma narrativa de contornos ecológicos sobre a confrontação – melhor, sobre as confrontações, cada vez em maior número, cada vez mais inevitáveis nos nossos dias – entre a civilização urbano e ocidental, com factores estranhos - nem melhores, nem piores, só diferentes - ou desconhecidos, provenientes de outros mundos, outras realidades, outras civilizações. Uma antevisão poética, talvez, mas mesmo assim criadora de dúvidas e receios legítimos, sobre o confronto ocidente/oriente, que muitos analistas consideram inevitável, e que poderá tomar muitas formas… No caso presente, os pequenos grãos de areia surgidos do nada que vão emperrar – e quase destruir - a máquina – nem sempre bem oleada, admita-se – que faz funcionar a grande metrópole de Brusel. Pelo caminho, pelos vários caminhos que como todos os seus álbuns também este tem – e esta minha leitura, não é mais do que isso, a minha leitura – aproveitam para homenagear o belga Victor Horta e a sua arquitectura arte-nova, representada pela sua Maison Autrique, sem dúvida personagem importante do relato, dado o lugar central que ocupa até ao seu misterioso desaparecimento e pelo seu posterior reaparecimento surpreendente, que deixo aos leitores descobrir. Ao mesmo tempo que convido também a reverem o traço sumptuoso de Schuiten, magnífico no preto e branco sujo, pintalgado de um branco forte, aqui perturbante, ali luminoso, além revelador, no traço fino e detalhado, na utilização de sombras, manchas de negro e de fabulosos contrastes de claro/escuro, no tratamento da figura humana quanto na representação de edifícios ou de paisagens naturais, na forma como a planificação, variada e heterogénea conduz o ritmo da narrativa, condiciona a nossa leitura e nos leva numa viagem inesquecível por este universo fantástico. (Versão revista e actualizada do texto publicado no BDJornal #24, datado de Outubro de 2008)

16/07/2009

A teoria do grão de areia - Tomo 1

A teoria do grão de areia - Tomo 1 Benoit Peeters (argumento) e François Schuiten (desenho) Edições ASA (Portugal, Junho de 2009) 300 x 204 mm, 112 p., preto, branco sujo e branco, capa com badanas Resumo Uma série de acontecimentos insólitos, aparentemente sem ligação entre si, leva Mary Von Rathen, “coleccionadora de fenómenos inexplicáveis”, até Brusel, para os investigar. Desenvolvimento Universo fantástico, só possível em BD, paralelo ao nosso, com múltiplos pontos de contacto, referências ou desenvol-vimentos, combinando presente, passado e futuro e dotado de cidades (quase) com vida própria - as verdadeiras protagonistas de cada livro - onde se distinguem alguns habitantes, atentos ou desencadeadores dos pormenores que despoletam cada história, a série "As cidades obscuras", associa o traço sumptuoso - mas extremamente legível e funcional - de François Schuiten, que cria e recria arquitecturas e mundos, e os argumentos inteligentes, ao mesmo tempo profundos e claros, de Benoit Peeters. Neste álbum, que começa com alguns factos insólitos aparentemente sem interligação, mas que se vão acentuando com o passar do tempo - a morte por atropelamento de um estrangeiro de aspecto bárbaro, a acumulação regular de grãos de areia num apartamento e de pedras de peso constante (6793 gramas, um número primo) noutra ou a progressiva perda de peso, sem que no entanto emagreça, por parte de um chefe de cozinha - mostrando o perigo do aumento descontrolado de pequenos problemas de fácil solução na sua origem, Peeters e Schuiten constroem uma fábula ecológica que alerta para os perigos do aquecimento global, ao mesmo tempo que mostram que o que vem de fora (da Europa comunitária…) não tem que ser obrigatoriamente mau, só porque é diferente. Nele, reencontramos a (já não) pequena Mary Von Rathen (de "A menina inclinada"), chamada de Phâry para conduzir o inquérito sobre os estranhos acontecimentos, e Constant Abeels (de "Brusel"), anos depois das histórias que (co-)protagonizaram, que vão ser observadores privilegiados dos insólitos fenómenos que dão um toque de fantástico, até aqui praticamente ausente na série, e que contrasta com o traço hiper-realista com que Schuiten, a pincel, construiu os cenários, e pontuam a acção deste livro, em formato italiano (deitado), que marca o regresso ao preto e branco (e branco - puro, uma "terceira" cor, de que só os leitores e Mary se apercebem, mas cuja mancha vai crescendo página a página), numa obra que reafirma a vontade de Schuiten e Peeters inovarem constantemente, pondo sempre em causa todas as soluções anteriormente experimentadas nas Cidades Obscuras e questionando continuamente o universo que criaram. A reter - O traço primoroso de Schuiten. - O desenvolvimento em crescendo do ritmo da narrativa, paralelo aos efeitos dos fenómenos em Brusel. - A forma como é utilizada a cor “branca”, a par do preto e do branco sujo, para acentuar os fenómenos fantásticos que dão o mote à história. - A bela edição da ASA, em tudo fiel à original. Menos conseguido - O único senão a apontar é o facto de este ser o primeiro de dois tomos, restando-nos aguardar pelo segundo, que está prometido até final do corrente ano. Com impaciência.

Curiosidade

- A edição à venda na FNAC é acompanhada do “DVD de Presse” francês, que inclui um documentário sobre o making-of do álbum. (Versão revista e actualizada do texto publicado a 11 de Julho de 2009 no suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

14/07/2009

Gil Jourdan – L’Intégrale #1

Gil Jourdan – L’Intégrale #1
Maurice Tillieux (argumento e desenho)
Dupuis (Bélgica, Junho de 2009)
220 x 300 mm, 240 p., cor, capa cartonada


Resumo

Primeiro volume da reedição integral de Gil Jourdan, uma das mais marcantes criações de Maurice Tillieux (1921-1978), para além de um texto introdutório, inclui as histórias "Libellule s'évade", "Popaïne et vieux tableaux", "La Voiture immergée" e "Les Cargos du crépuscule".

Desenvolvimento
Clássico dos anos 50 e 60, criado quando Tillieux se juntou à revista Spirou, Gil Jourdan é o exemplo perfeito – e possivelmente o primeiro exemplo – de um conseguido casamento entre o tom policial e o registo semi-humorístico. Para o conseguir, foi necessário um autor de eleição como Tillieux hábil no desenvolvimento das histórias, convincente nos casos criados, equilibrado entre os momentos narrativos e os de acção, mestre na criação de situiações de suspense no fim de cada página, como obrigava a publicação semanal em revista, insuperável na construção dos diálogos, ao mesmo tempo credíveis e divertidos, contidos e esfusiantes, e com os incontornáveis trocadilhos de Libellule.
A galeria de personagens é outro dos trunfos desta série, que passou incólume quase meio século, com o protagonista Gil Jourdan, um recém-licenciado em Direito que se torna detective particular, a ser ladeado por Libellule, um criminosos que ajudou a evadir, Crouton, um inábil (para não dizer pior…) polícia e a sua eficiente secretária Queue-de-Cerise.
Nas quatro histórias aqui reunidas – na verdade apenas três, poisas duas primeiras formam um (pouco habitual na época) diptíco – Jourdan enfrenta e desbarata um bando de traficantes de arte e droga, descobre um assassino e neutraliza um plano para apropriação fraudulenta de um seguro. Erece um destaque especial "La Voiture immergée", um relato de pura dedução, que na sua maior parte se desenrola numa estrada (inspirada na realidade) entre o continente e uma ilhota, que fica submersa pela maré na maior parte do tempo, onde (quase) tudo acontece, no qual Tillieux consegue criar momentos de extrema tensão.

A reter- A frescura de uma obra com 50 anos.
- O ritmo e o tempo certos das histórias e o equilíbrio perfeito entre o registo policial e de humor.
- O texto introdutório que apresenta o autor e a personagem e analisa cada uma das histórias.

Curiosidades
- Se quase apetece copiar integralmente todo o (belo) texto introdutório de apresentação do autor e dos seus heróis, quero citar três curiosidades nele referidas: Tillieux foi “empurrado” para a BD por “não saber escrever nem desenhar”, o nascimento de Gil Jourdan deveu-se a uma mudança de editor e, por uma vez, foi mecânico de François Schuiten!
- Nas primeiras histórias de Gil Jourdan, Tillieux “reciclou” gags e ideias anteriormente desenvolvidas por si na série “Félix”.

Desabafo
- Eu sei que o país é diferente, que a realidade - económica e cultural… - também e até percebo as razões: tiragens mais levadas, inexistência de custos de tradução e legendagem, fotolitos já existentes, menores custos com direitos de autor… Mas não posso deixar de sentir inveja dos belgas, franceses e suíços quando olho para estas belas edições integrais com o quádruplo das páginas de um álbum normal e um preço que mal chega ao dobro…

09/07/2009

Lance #2

Lance – Volume 2 (de 4)
Warren Tufts (argumento e desenho)
Libri Impressi (Maio de 2009)

234 x 333 mm, 96 p., cor e pb, brochado com badanas

Resumo

Lance St. Horn, tenente (indisciplinado) do exército norte-americano vive grandes aventuras que só têm paralelo nas paixões que provoca.

Desenvolvimento
O segundo tomo da reedição integral deste western clássico de recorte humano, datado de meados dos anos 50 do século passado e ambientado nos primeiros anos da expansão para o oeste selvagem, destaca-se mais uma vez pela superior qualidade da edição, da responsabilidade do português Manuel Caldas que gastou em média 15 horas no restauro de cada prancha da obra a partir de páginas de jornais da época, obtidas no Ebay, pois já não existem as provas originais.
Este segundo volume tem a particularidade de incluir não só as magníficas pranchas dominicais, coloridas, mas também as tiras diárias, a preto e branco, tendo estas sido de curta duração, pois publicaram-se apenas durante 16 meses, enquanto a série durou cinco anos.
Isto não retira interesse à narrativa, com a história dividida entre as proezas heróicas de Lance St. Lorne, um impetuoso e impulsivo (e por vezes indisciplinado) tenente do exército norte-americano, com uma visão muito pessoal do sentido do dever, sempre ao lado dos mais fracos e desfavorecidos, e as paixões amorosas que vai desencadeando. Neste volume, entre o combate à ofensiva desencadeada pelo chefe índio Nariz Partido e a tentativa de ajudar os caçadores montanheses ao lado da jovem e fogosa Valle, com quem acaba por casar, sobra tempo para um curto mas belíssimo interlúdio, compostos pelas pranchas 79 a 85, que revelam toda a mestria narrativa e gráfica do traço clássico de Tufts, a sua soberba aplicação de cores e a sua invulgar capacidade de emprestar emoções bem humanas aos seus heróis de papel.

A reter
- A edição em si.
- A paixão e o cuidado postos no restauro dos originais por Manuel Caldas.
- O episódio das pranchas 79 a 85.

Menos conseguido
- Eu sei que a edição integral obrigava à publicação como ela é feita, alternando as pranchas dominicais com as tiras diárias, mas a verdade é que a sua leitura conjunta, retira dinamismo à acção, tornando-a mesmo algo repetitiva, uma vez que a narrativa das tiras, embora aprofunde e acrescente pormenores ao todo, começa um pouco antes do fim da prancha dominical anterior e termina um pouco depois do início da prancha seguinte…
- É inacreditável que o primeiro volume de Lance não tenha vendido em Portugal os míseros 700 exemplares necessários para o pagar e garantir novo tomo. Depois queixem-se que não há banda desenhada em português. Quando há – e com esta qualidade - não a compram! Bem podemos agradecer aos nossos vizinhos espanhóis a possibilidade de ler este volume #2.

Curiosidades
- As pranchas dominicais de Lance foram publicadas entre 5 de Junho de 1955 e 29 de Maio de 1960, enquanto que as tiras diárias existiram de 4 de Janeiro de 1957 a 17 de Maio de 1958.
- Segundo (o especialista) Manuel Caldas, “o belíssimo interlúdio do episódio de Muitas Túnicas esteve para ser passado ao cinema na época em que a série se publicava”.

(Versão revista e actualizada do texto publicado a 20 de Junho de 2009 no suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

06/07/2009

Nas bancas: Tex Anual #9 - Forte Saara

Tex Anual #9 - Forte Saara
Claudio Nizzi (argumento) 
Roberto Diso (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Dezembro de 2007)
136 x 178 mm, anual, 332 p., pb, capa brochada

Um ataque a um comboio em que viajam Tex Willer e Kit Carson, leva-os a envolverem-se com um grupo de ex-soldados da Legião Estrangeira que ainda funcionam como tal, o que faz com que a história fuja ao que é habitual nas aventuras do ranger, em termos temáticos e também de cenários, o que a torna uma agradável surpresa. E pese embora um final algo apressado, a narrativa, com uma forte componente humana, está bem delineada e explanada, e foi desenhada de uma forma limpa e agradável por Diso.

03/07/2009

Nas bancas: Turma da Mônica Jovem #6

Turma da Mônica Jovem #6
Estúdios Maurício de Sousa
Panini Comics (Brasil, Janeiro de 2009)
160 x 210 mm, mensal, 128 p., preto e branco, brochada

Resumo

Mônica, Cebola, Cascão, Magali e Franja vão numa visita de estudo até uma estação espacial, comandada pelo Astronauta, próxima de Marte, onde terão de enfrentar perigos inesperados.

Desenvolvimento
Confesso que duvidei quando soube do lançamento da Turma da Mônica Jovem, a versão adolescente dos heróis criados por Maurício de Sousa.
Mas, após 6 números, confesso-me rendido. A Turma da Mônica Jovem é uma criação bem pensada, com escrita competente e um desenho atraente, equilibrada entre a ponte que faz com o passado da Turminha e as (muitas) novas vias que abre para o seu futuro, com imensos piscares de olho às (outras) séries que o seu público-alvo, os adolescentes (principalmente), conhecem e curtem na TV, em jogos de computador ou em histórias aos quadradinhos. Equilibrada também no tom que assume, entre a aventura, a acção, o romance e o humor, com destaque para os gags em torno das especificidades da própria banda desenhada.
Para além disso, tem um bom ritmo, capaz de prender o leitor ao longo de mais de uma centena de páginas, em suspense crescente, como nesta edição, ou de passear pelo quotidiano (normal) dos (novos) heróis como se viu na edição #5. Agrada, assim, tanto a velhos fãs da série quanto a novos, a rapazes quanto a raparigas.

A reter
- A forma convincente como Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e todos os outros cresceram, mantendo no entanto as características que lhes eram (re)conhecidas.
- O argumento desta edição, da responsabilidade de Marcelo Cassaro, com diálogos vivos que conduzem toda a narrativa, sublinhando os momentos-chave da trama e as dúvidas, emoções e sentimentos próprios dos adolescentes.

Menos conseguido
- A indefinição da época em que as personagens vivem. No presente, como visto na edição #5 ou num futuro (algo) distante, como nesta?
- O vazio da maior parte dos fundos das vinhetas, sejam as histórias fantásticas, sejam as do quotidiano. Um aspecto a melhorar, sem dúvida.

Curiosidades
- Esta história é baseada na longa-metragem de animação “A Princesa e o Robô”, protagonizada pela Turma da Mônica em 1983.
- Como na saga inicial, publicada na Turma da Mônica Jovem #1 a #4, são muitas as referências feitas, quer internas (Astronauta, Xabéu, Zé Luís), quer externas (Transformers, Usagi Yojimbo)… Cabe ao leitor descobri-las, aumentando os laços e afinidades com a Turma da Mônica Jovem e as suas aventuras.

01/07/2009

As Melhores Leituras de Junho

- Lance Volume 2 (de 4) (Libri Impressi), Warren Tufts
- Tex Gigante #6 – A Última Fronteira (Mythos), Nizzi e Parlov
- Superman & Batman #39 (Panini Comics Brasil)
- Les Sentinelles #1 e #2 (Delcourt), Dorison e Brecci
- Rafael Bordalo Pinheiro – Fotobiografia (Assírio & Alvim), João Paulo Cotrim
- 11-M La Novela Gráfica (Panini Comics Espanha), Gálvez, Guiral e Mundet
- Clássicos da Revista Tintin – Rock Derby (ASA + Público), Greg
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...