09/10/2009

Lançamento - BRK na Central Comics

O álbum BRK, vai ser apresentado amanhã, sábado, 10 de Outubro, às 16h30, na livraria especializada em banda desenhada Central Comics (Rua do Bonjardim, 505, no Porto), com a presença dos autores, Filipe Pina (argumento) e Filipe Andrade (desenho), para uma sessão de autógrafos.
Neste dia, excepcionalmente, a Central Comics irá beneficiar todos os seus clientes registados com 10% de desconto em qualquer produto (excepto material em saldos e reservas).

Sugestão de leitura: Ferd’nand retorna

Mik (argumento e desenho)
Libri Impressi (Portugal, Setembro de 2008)
230 x 205 mm, 120 p., pb, brochado com badanas

Já está impresso e disponível no editor, o segundo volume de Ferd’nand, com “todas as 313 tiras diárias de 1938, o segundo ano da universal série pantomímica de Mik”, refere Manuel Caldas, que acrescenta que é “a primeira vez em todo o mundo que tal material se recolhe em livro na sua integralidade”.
As Leituras do Pedro aconselham vivamente o livro – quem não conhecer Ferd’nand pode descobrir mais aqui - e, uma vez que “ainda não se sabe a data em que estes livros serão distribuídos pelas livrarias”, recomendam que o encomendem directamente ao editor (mcaldas59@sapo.pt), por duas razões: primeira, vão poder lê-lo mais cedo; segunda, ficando com quem edita a verba normalmente deglutida pela distribuição, menos exemplares será necessário vender para conseguir editar novo volume!

08/10/2009

Astérix 50 anos - O Aniversário de Astérix e Obélix, O Livro de Ouro

Uderzo divulgou hoje, em França, durante uma conferência de imprensa, a capa do novo álbum de Astérix que chegará simultaneamente às livrarias de 15 países no próximo dia 22.
Trata-se do 34º álbum das aventuras do pequeno guerreiro gaulês, tem por título "O Aniversário de Astérix e Obélix - O Livro de Ouro", e ao longo das suas 56 páginas compila diversas histórias curtas, todas inéditas assinadas por Uderzo, ao lngo das quais podemos rencontrar cerca de 300 personagens, entre as quais César, Cleópatra ou o capitão dos piratas, que Asterix e Obélix cruzaram ao longo destes 50 anos, convidadas pelo chefe Matasétix para trazerem um presente para assinalar a efeméride.
A sua tiragem mundial será de 3 500 000 exemplares, dos quais 1,1 milhões em França. Em Portugal a tiragem, mais modesta, será de 60 mil exemplares, mesmo assim mais dez dos que os inicialmente previstos, dada a grande procura que o título já tem.

07/10/2009

Fora das Livrarias – Salúquia

A Lenda de Moura em Banda Desenhada
Vários autores
Câmara Municipal de Moura (Portugal, Junho de 2009)
208 x 295 mm, 76 p., cor, brochado com badanas

A história recente da banda desenhada portuguesa tem sido pródiga em álbuns patrocinados por municípios ou entidades oficiais, maioritariamente de temática histórica. E quase sempre, diga-se, condenados a um reconhecimento limitado e a um anonimato alargado, pois não têm distribuição comercial, sendo apenas divulgados localmente, em escolas e bibliotecas. Ou pouco mais.
Não fugindo aos aspectos referidos, “Salúquia” não deixa de marcar alguma diferença, pois o recontar da Lenda de Moura foi entregue a 15 autores, o que permite abordagens – temáticas e estilísticas – completamente díspares. Em abono da verdade, a maior parte deles limita-se à história em si, num estilo clássico, sem grandes surpresas nem variações, fiéis a uma linha e área de especialização (a BD histórica), há muitos anos adoptada. Mesmo assim, neste grupo maioritário, veja-se a diferença que faz, em termos narrativos (ou faria se o final não fosse já conhecido…), a opção de Pedro Massano de não contar de imediato o resultado do combate intermédio entre portugueses e mouros…
Mais interessantes, pela corrupção da narrativa base, pela multiplicidade de caminhos que proporcionam, pela transposição do tema para outras épocas, pela oportunidade de questionar problemas actuais ou, simplesmente, pelo tom divertido, são as histórias de Artur Correia, Jorge Magalhães com Augusto Trigo e Catherine Labey, Luís Afonso, Zé Manel (o mais inspirado de todos) e José Abrantes.
Serve assim, também, este livro, em que curiosamente prevalece (quase sempre) a ideia (pouco vulgar) de que os mouros seriam os “bons” e os cristãos os “maus”, para mostrar, para o bem e para o mal, alguns dos caminhos trilhados ou (potencialmente) a trilhar pela BD portuguesa histórica.

(Versão revista do texto publicado originalmente a 18 de Julho de 2009, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

Astérix 50 anos - Brindes

Prioritariamente para ler e fruir no sossego do nosso canto de leitura preferido, a banda desenhada tem – cada vez mais – outras vertentes: exposições, venda de originais, coleccionismo…
A propósito deste último – em crescendo entre nós – fica a informação de que as edições ASA, a propósito dos 50 Anos de Astérix - que se cumprem no próximo dia 29 e que justificarão diversos posts aqui no blog ao longo deste mês, incluindo a recensão do novo álbum, logo no dia do seu lançamento, no próximo dia 22 – disponibiliza uma série de artigos evocativos da efeméride, que poderão ser conseguidos nos seguintes moldes:
- FNAC

- na reserva do novo álbum on-line: Placa Astérix ou Obélix
- na reserva do novo álbum em loja: Agenda Astérix
- na compra de dois álbuns: Caderneta de postais (existem duas)
- Sonae
- na compra de dois álbuns: um íman (existem quatro diferentes)
- Bertrand
- na compra de dois álbuns: um tapete de rato Astérix ou Obélix
- El Corte Inglés
- na compra de dois álbuns: poster com imagem comemorativa
Resta perguntar se as lojas especializadas – pelo menos as que comercializam álbuns nacionais e eu sei que não são muitas – não mereciam entrar na campanha…

06/10/2009

Fora das Livrarias: O Crime de Arronches

Eugénio Silva (argumento e desenho)
Câmara Municipal de Arronches Portugal, Julho de 2009)

212 x 305 mm, 32 p., cor, cartonado

“O crime de Arronches”, um romance histórico de Henrique Lopes de Mendonça, datado de 1924, uma história de amor, desejo, honra e vingança, serviu de base a esta adaptação aos quadradinhos por Eugénio Silva, que é mais um exemplo da forma como as autarquias continuam a apostar nos nossos autores para promoverem o seu património histórico/literário, embora muitas vezes estas obras não entrem no habitual circuito de distribuição, pois são destinadas às escolas e bibliotecas locais.
Situada na vila de Arronches, a história gira em torno do (feliz) casal composto por Gaspar e Margarida e do desejo que esta desperta em Gomes Tição.. Um assassinato e a rivalidade entre o alcaide daquelas terras, o nobre André de Sousa, e o bispo da Guarda, são aspectos marcantes da narrativa, desenvolvida de forma agradável na sua versão aos quadradinhos, entre o tom policial e a crítica de costumes, com a intriga a avançar de forma sustentada e com o autor, por vezes, a trocar as voltas ao leitor, levando-o a seguir/imaginar pistas falsas, o que contribui para tornar a história mais cativante e o desfecho menos esperado.
O traço de Eugénio Silva, que na sua biografia contava já adaptações de Júlio Verne (Matias Sandor) ou as biografias de Eusébio e Inês de Castro, no seu habitual registo realista, servido por uma equilibrada paleta de cores, adapta-se bem à temática, sendo notório o cuidado havido na reconstituição histórica da Arronches do século XVI. A utilização de tons de cinzento nos flashbacks, ajuda a distingui-los e facilita a sua inserção na narrativa principal, sem provocar quebras no ritmo de leitura.

Curiosidade
- O album assinala uma (invejável) tiragem de 5 000 exemplares.

(Versão revista do texto publicado originalmente a 3 de Outubro de 2009, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

02/10/2009

Je t'ai aimé comme on aime les cons

Maria José Giménez (argumento)
José Miguel Fonollosa (desenho) 
Dargaud (França, Maio de 2008) 
149 x 210 mm, 112 p., pb, brochado
Uma separação raramente é fácil. Uma separação quando sentimos que fizemos tudo para ela durar, sem o correspondente empenho da outra parte, mais difícil é. E como ficar quando, após quatro anos de vida em conjunto, o parceiro, como item para mitigar a ausência agora forçada, pede apenas… a televisão? É o que acontece a Miranda, uma valenciana de 27 anos, no momento em que termina a relação com Pedro. Uma relação intensa mas dolorosa, prova (se necessário) de como o amor é cego (e surdo…), de como ele afecta o mais lúcido dos mortais, de como é uma força tão irresistível, mesmo (ou especialmente?) quando nos arrasta inexoravelmente para um abismo (interior, no caso de Miranda). É uma crónica urbana de uma relação minada (também) pelas dificuldades financeiras, pelas (sucessivas) faltas de emprego e pela obrigação de compartilhar apartamentos com desconhecidos, mas acima de tudo pela incapacidade de entrega de uma parte, retrato vivo de boa parte da juventude de hoje, em parte a isso forçada pelas dificuldades de iniciar a vida que os jovens hoje enfrentam, mas também pela sua cada vez menor responsabilização e pela maturidade adiada. O que dá uma força e uma razão inusitada ao título da obra. Fim de relação com que se inicia este livrinho (“inho”, no formato, apenas), no qual vamos acompanhar Miranda ao longo de mais de uma centena de páginas, nas quais a conhecemos melhor e às razões que a levaram a terminar tudo, apesar do muito que gostava de Pedro. Razões que nos são reveladas numa série de flashbacks que ritmam a narrativa, não deixando que se instale alguma monotonia e criando momentos de tensão que os autores conseguem transmitir apesar do traço simples, em registo humorístico, próximo do desenho de imprensa mas eficaz e pleno de movimento. Mas que não deixa de contrastar com a abordagem séria do tema, que ganha força e capacidade de reter a atenção do leitor exactamente na sua banalidade, no retrato sincero de uma situação corriqueira. E que se conclui num happy-end, em que a protagonista, depois de compreender o que a levou aquele ponto, consegue aceitar – finalmente – o que aconteceu, retomar a auto-estima e refazer a vida, com a ajuda de familiares e amigos que, em boa verdade, na vida real muitas vezes não aparecem quando deles se precisa.
(Texto publicado originalmente no BDJornal #23 – Verão de 2008)

01/10/2009

As Melhores Leituras de Setembro

- Appoline (Casterman), de Morvan e TBC
- BRK, tomo 1 (ASA), de Filipe Pina e Filipe Andrade
- Dieu en personne (Delcourt), de Marc-Antoine Mathieu
- Lire Hors-Serie – La vie secrète de Goscinny
- Passageiros do Vento, vols. #1 a #5 (ASA+Público), de François Bourgeon
- Porreiro, pá! (Guerra e Paz), de Augusto Cid

- Tiras Clássicas Turma da Mônica #4 (Panini Comics), de Maurício de Sousa

30/09/2009

As Viagens de Juan sem Terra I - O Cachimbo de Marcos

Javier de Isusi (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Março de 2009)
172 x 241 mm, 136 p., pb, capa brochada com badanas


Era uma vez uma revolução – chamou-se zapatista – que a 1 de Janeiro de 1994 se revelou ao mundo, ocupando as cidades mais importantes da província de Chiapas, no México. Deixaram-nas pacificamente dias depois, defendendo uma revolução pacífica, não imposta pelas armas. Pretendiam, entre outras coisas, a participação directa da população, a partilha da terra e das colheitas, igualdade para os indígenas…
Alguns anos depois – em 2004, para a edição original – acompanhamos Vasco, mais elo de ligação da narrativa do que protagonista, nos passos dados antes por Isusi, numa viagem até La Realidad, uma pequena aldeia em pleno coração do zapatismo, onde convivem indígenas e alguns europeus e por onde passam quotidianamente soldados, numa pretensa demonstração de força. À boleia da busca de um amigo, o Juan sem Terra que dá nome à série, desaparecido 6 anos antes, para lhe entregar o cachimbo, descobrimos também em que ponto está a revolução.
Porque, na estranha realidade de La Realidad, ninguém admite a realidade, vivendo como que para forçar um sonho que, 10 anos depois, pouco mais é que isso. Por isso, perante o relato de Isusi, sentimo-nos numa casa de espelhos. Não daquelas vulgares, das feiras, em que superfícies côncavas e convexas reflectem, deformada, a nossa imagem, mas numa outra, perante as imagens já deformadas das (pelas) várias personagens – incrivelmente fortes e definidas - que se apresentam como aquilo que ambicionam, sonham, aspiram, desejam, nunca como são na realidad(e).
Os zapatistas acreditam que a revolução continua viva e que há que viver em segredo, com medidas de segurança extremas e cuidados especiais com espiões ou traidores… E os europeus, crêem-se peças fundamentais de uma engrenagem especializada em pleno funcionamento, enquanto sonham conhecer o famoso subcomandante Marcos, líder do movimento…
Desta forma, Isusi cria um relato envolvente, reforçado pelos diálogos de tom falsamente misterioso, traçado num preto e branco contrastante que contrasta com os muitos “tons cinzentos”, dúbios, que os protagonistas assumem. Um relato que, qual reportagem, transmite uma visão em primeira-mão daquilo que se tornou uma das últimas revoluções da História, ao mesmo tempo que, ficcionando a vivência, consegue equilibrar-se entre um saudável romantismo incurável e o tom desiludido e descrente com que mostra a realidade dos últimos vestígios do zapatismo…
Um relato a que não falta paixão e distanciamento, utopia e amargura, ritmo e ironia, esta última reforçada pelo traço semi-caricatural e bem presente no derradeiro capítulo, que mostra que todos podemos ser “Marcos” e o quão estranho a ele pode ser aquilo que o define: o seu cachimbo.

(Texto publicado originalmente a 18 de Abril de 2009, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

29/09/2009

Zagor Especial #5 – O homem do Rifle

Moreno Burattini (argumento)
Ferri (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Março de 2006)
135 x 178 mm, mensal, 276 p., pb, capa brochada


Confesso que não sou grande fã de Zagor, mas esta história, considerada por muitos a sua melhor aventura, surpreendeu-me agradavelmente. Descrevendo uma perseguição implacável a um assassino, numa autêntica caça ao homem, ao longo de centenas quilómetros de paisagens geladas cobertas de neve (e também ao longo de muitas dezenas de páginas), é não apenas uma boa história de Zagor, mas uma boa banda desenhada de aventuras, qualquer que seja o ponto de vista pelo qual seja considerada.
Para isso contribui em grande parte a presença discreta de Chico e Zagor, este longe do (quase super-)heroísmo habitual, aquele menos desastrado do que é costume, reduzindo assim alguns exageros habituais na série – que de certa forma constituem a sua imagem de marca - e permitindo que o autor explore mais e melhor quer a narrativa em si, que se torna mais credível, quer a psicologia dos restantes intervenientes, que são assim mais do que (habituais) figurantes.
A isso há que juntar uma escrita inteligente, ágil e desenvolta, com as peripécias a desenrolarem-se em bom ritmo, com diversas nuances na linha condutora da trama e com um final que se revela lógico e coerente mas que, apesar disso, consegue surpreender o leitor.

28/09/2009

Appoline

Jean David Morvan (argumento)
TBC (desenho)
Casterman (França, Setembro de 2009)
242 x 321 mm, 64 p., cor, capa cartonada


Resumo

Numa pequena cidade – que pode ser qualquer uma, até a nossa – um pasteleiro é selvaticamente assassinado mesmo à hora de fecho do seu estabelecimento, sem que haja qualquer sinal de roubo. Encarregado da investigação do crime, o inspector Wimms vai fazer uma incrível descoberta…

Desenvolvimento
De forma cáustica, Morvan e TBC abordam – embora involuntariamente – um tema que faz(ia) as primeiras páginas jornais e abria os noticiários na data de publicação deste álbum: o rapto e/ou violação e/ou sequestro de crianças/adolescentes/jovens, devido à descoberta, na Califórnia, no final de Agosto, de Jaycee Lee Dugard, 18 anos depois de ter sido raptada com apenas onze anos.
A história de Morvan, que começa apenas como um assassinato violento, previsivelmente devido a alguma vingança, com o avançar do inquérito de Wimms, um homem solitário, fechado sobre si mesmo – com problemas de relacionamento, portanto – revela outros contornos, bem mais complicados, mesmo que o inspector descubra e prenda o assassino. Só que, a história não termina assim pois Wimms, ao revistar a casa do suspeito, aparentemente recebe a sorte grande, se assim se pode dizer, pois nela encontra sequestrada (…?) Appoline, uma adolescente raptada anos atrás, com apenas 11 anos, que entretanto se transformou numa mulher atraente e manipuladora.
Chegado aqui, não vou adiantar muito mais, para não retirar à narrativa o efeito surpresa de que eu próprio beneficiei, acrescento apenas que Morvan, com a cumplicidade gráfica do esloveno TBC, desenvolve uma estranha narrativa em que explora (aliena…) o chamado Síndroma de Estocolmo, mostrando como – às vezes – a vítima não é quem parece…
Numa narrativa burlesca e mordaz, com um lado cruel, o traço semi-caricatural e algo rude de TBC, cheio mas pouco pormenorizado o que permite ao leitor um ritmo de leitura mais rápido e consequente com o tom da narrativa, assume bem as despesas, apesar de um ou outro exagero, ilustrando bastante bem facetas menos agradáveis e recomendáveis presentes, mas nem sempre visíveis, nos seres humanos. E não deixa de ser irónico, na sua representação iconográfica, o facto de Appoline ser a única personagem “bonita” (bem desenhada), em contraste com a fealdade dos restantes intervenientes.

A reter
- A forma como Morvan consegue subverter a ideia base apresentada no primeiro quarto da história – e na própria capa do álbum -, dando-lhe depois uma direcção totalmente diferente.

Menos conseguido
- Se o traço de TBC agarra e representa bem a ideia central inerente ao relato de Morvan, a mãe de Antoine surge, mesmo assim, demasiado caricaturada.

25/09/2009

Primal Zone – volume 1

Gabrion (argumento e desenho)
Delcourt (França, Setembro de 2009)
167 x 237 mm, 120 p., pb, capa brochada


Resumo

Descoberto aos 10 anos junto do cadáver da mãe, assassinada, foi julgado, considerado culpado e internado numa instituição especializada. Ao longo de 15 anos, foi alvo de todos os estudos e testes psicológicos imagináveis, mas o seu instinto de sobrevivência ensinou-o a dar as respostas esperadas, respeitando a hierarquia, tornando-se dócil, mostrando-se pronto a reentrar na sociedade como um elemento válido.
Só que, no seu interior, o demónio Ortog continua bem vivo e faminto, disposto a esperar pela sua oportunidade.

Desenvolvimento
Partindo daqui, Gabrion desenvolve uma narrativa tensa, num tom entre o policial e o terror, mergulhando no mais fundo da mente conturbada do protagonista, dividido entre várias personalidades: um frio e insensível assassino por contrato, um pacato vendedor de seguros ou o insaciável Ortog, sempre faminto de sangue e carne, de preferência humana.
Por isso, a par das actividades normais (?!) de cada um deles, assistimos também à sua luta interior, surgindo a realidade que tem lugar no nosso mundo a par das visões imaginárias de mundos ocultos povoados por demónios, entre as quais existe apenas uma ténue linha divisória que facilmente é atravessada pelo protagonista.
Gabrion nesta obra, como não podia deixar de ser, optou por um preto e branco duro e agreste, com as zonas escuras a predominarem, reflectindo a escuridão interior do hospedeiro de Ortog, onde se adivinha a influência do Frank Miller dos bons velhos tempos.

A reter
- A forma como Gabrion equilibra os vários registos da narrativa.

Menos conseguido
- Nalgumas sequências no mundo real, o traço está demasiado preso às referências fotográficas utilizadas.

Curiosidade
- Este álbum foi pré-publicado em tempo real no Facebook e encontra-se disponível gratuitamente em versão integral em http://www.bdprimalzone.net/, onde estão já disponíveis as primeiras pranchas do segundo tomo, a publicar em Setembro de 2010.
- O livro conclui com um caderno a cores de homenagem a Jorge Eish, amigo de Gabrion, que sofria de doença bipolar e se suicidou, que esteve na origem desta abordagem em quadradinhos à esquizofrenia.

24/09/2009

Morte e vida dos Dalton

Os Grandes Clássicos de Tex #8
Gianluigi Bonelli (argumento)
Galep (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Abril de 2007)
135 x 177 mm, 274 p., pb, brochado

Lucky Luke #06 – Hors la Loi
Morris (argumento e desenho)
Dupuis (Bélgica, Janeiro de 1987)
215 x 299 mm, 48 p., cor, cartonado

Lucky Luke #53 – Os primos Dalton
René Goscinny (argumento)
Morris (desenho)
Edições ASA (Portugal, Maio de 2009)
222 x 295 mm, 48 p., cor, cartonado

Se a relação entre banda desenhada e História, assume as mais variadas formas, desde a total independência – quando a ficção impera - até ao retratar rigoroso e documental daquela, passando por obras ficcionais com base histórica, casos há, em que a verdade dos acontecimentos reais é adulterada – quando não completamente deturpada. Um daqueles acasos em que a vida é fértil – apesar de gostarmos de dizer que não para os valorizarmos – fez com que em poucas horas, na leitura de duas obras díspares, assistisse à morte e ressurreição dos tristemente célebres irmãos Dalton.


No primeiro caso, vi-os morrer às mãos de Tex, então ainda não pertencente ao corpo dos Rangers, na história “A Quadrilha dos Dalton”, originalmente publicada em 1951, em Itália, e uma das duas incluídas no oitavo tomo de “Os Grandes Clássicos de Tex” – a outra é “Os chacais do Kansas”.
Com o traço inconfundível de Aurelio Galleppini, é uma história típica de Bonelli, escrita ao correr da pena, com as situações limite a multiplicarem-se ao longo da narrativa, rica em confrontos e, neste caso, com uma grande liberdade no tratamento de factos históricos comprovados. Marcante pelo facto do índio Jack Tigre fazer nela a sua estreia absoluta, é um western tradicional em que Tex Willer assume mais uma vez o papel de juíz e carrasco, matando os chefes e alguns elementos da célebre quadrilha liderada por Bob, Emmett e Grat Dalton.

Curiosamente, poucos anos depois, corria o ano de 1954, esses mesmos irmãos Dalton - Bob, Grat e Emmett, mas também Bill – eram de novo mortos, num dos mais lamentáveis assassinatos que a banda desenhada já conheceu: isso aconteceu no álbum “Hors-la-loi”, sexto título das aventuras de Lucky Luke, então ainda assinado a solo pelo seu criador, Morris, com os fora-da-lei a perderem a vida às mãos do cowboy que viria a “disparar mais rápido que a própria sombra”, durante o ataque ao banco de Coffeyville, assim acompanhando (de longe…) a realidade histórica, como sempre aconteceu no mais célebre dos westerns humorísticos.

Entre estas duas interpretações, fica no ar a pergunta: quem os terá realmente abatido? Lucky Luke ou Tex Willer? E – talvez inspirado em Goscinny – acrescento: em que ano morreram, afinal?

Mas a história dos Dalton, no que a Lucky Luke diz respeito, não se ficaria por aqui. Quatro anos depois, em 1958, René Goscinny, argumentista do cowboy de fresca data, intuindo o enorme potencial cómico dos quatro irmãos feios, burros e maus, aparentemente gémeos mas de alturas diferentes, corrigia o erro de Morris, ressuscitando-os… sob a forma dos seus primos – Joe, Jack, William e Averell, no álbum “Os primos Dalton”.
Eram igualmente feios e maus e tornaram-se os grandes inimigos de Lucky Luke. E eram muito, mas muito mais burros, de uma imbecilidade a toda a prova, o que os tornou uma fonte inesgotável de gags e piadas irresistíveis, que começam logo na vinheta em que fazem a sua primeira aparição e se prolongam ao longo de todo este álbum – em que multiplicam os esquemas e estratagemas para tentar abater Lucky Luke e fazer jus ao nome de família que herdaram dos primos falecidos.
Neste álbum, em que Lucky Luke ainda fumava e bebia Coca-Cola, sinais de tempos idos e de uma doce ingenuidade que (também) a banda desenhada entretanto perdeu, como nos muitos mais em que viriam a participar, terminam atrás das grades, após muitas e boas gargalhadas proporcionadas ao leitor.

(Texto publicado originalmente no Blog do Tex, em 22 de Setembro de 2009)
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