Jean Van hamme (argumento)
Paul Teng (desenho)
Casterman França, Novembro de 2009)
242 x 321 mm, 86 p., cor, cartonado
Resumo
Julien, Marcello, Charles, René e Louis somam em conjunto 300 anos; Jo, a bela e sensual desconhecida que regularmente espreitam através de um telescópio, pela janela do apartamento em frente ao de Julien, não passou ainda dos 25.
Eles, estão no ocaso da vida, com os sonhos perdidos e as esperanças desvanecidas; sobrevivem, apenas, em grande parte devido à amizade que há muito os une. Ela, habituada a viver de luxos conseguidos à custa do seu corpo e dos seus (falsos) afectos, tem ainda muitos sonhos para cumprir.
O encontro dos seis, vai ter consequências (in)esperadas.
Desenvolvimento
Após esse encontro, os cinco velhos – não haja medo de o escrever, são-no já nos corpos e nas mentes – vão viver seis semanas de sonho (para eles…) e reencontrar uma razão para (voltarem a) viver – vão como que rejuvenescer. Ou para viverem pela primeira vez, esgotando-se fisicamente, esgotando os seus recursos financeiros, como se tivessem todo o tempo do mundo para se recuperarem.
Jo – surpreendentemente – desse contacto, desse tempo, desses encontros, descobre que a vida pode ser bem diferente, que os sonhos não têm que seguir sempre os mesmos caminhos, que a felicidade pode ser menos custosa e estar mais perto do que imagina.
Dessas curtas seis semanas, nasce uma curiosa proposta: tirar partido das informações sigilosas que a bela jovem reuniu enquanto acompanhava um poderoso construtor com fortes ligações ao poder político para que os cinco homens façam fortuna. E, quem sabe, a façam (de novo) feliz.
Com esta base, Jean Van Hamme, longe dos relatos de acção (XIII, Largo Winch, etc.) que o celebrizaram, constrói uma trama de crítica social, sobre a velhice e a (consequente) perda de ilusões, o amor e os seus custos, e as ligações entre a imobiliária e a política.
Fá-lo com a competência habitual, sem deslumbrar mas divertindo, multiplicando as surpresas, mudando o rumo da narrativa a seu bel-prazer, da crónica quotidiana à intriga financeira e ao policial, com toques de humor e ternura, para a terminar como um verdadeiro conto de fadas. Em que todos casam e vivem felizes para sempre. Ou quase.
Que se perdoa e aceita, porque por vezes é preciso acreditar nos sonhos. Nem que seja nos dos outros.
Paul Teng, holandês, 54 anos, foi o escolhido para colocar em imagens este conto urbano, ao qual aplicou um traço semi-realista que evoca o de Boucq, com o qual criou personagens distintas e consistentes, seres humanos vulgares, não super-heróis nem modelos ou actores, sobressaindo apenas os traços da bela Jo.
Curiosidade
- Este álbum é a adaptação de um romance da autoria do próprio Jean Van Hamme, datado de 1992.
18/11/2009
17/11/2009
Johan et Pirlouit #4 - Les Années Schtroumpfs
Peyo (argumento e desenho)
Dupuis (Bélgica, Outubro de 2009)
218 x 230 mm, 276 p., cor, cartonado
Resumo
Johan foi criado por Peyo em 1946, num gag de apenas 4 vinhetas em que era louro. O autor recuperá-lo-ia mais tarde, já com cabelo preto, para protagonista de uma série medieval de capa e espada, de tom humorístico, acentuado pela formação de uma parelha com Pirlouit, a partir do terceiro tomo da série.
E se ela era a preferida do seu criador, hoje é mais conhecida por nas suas páginas terem surgido pela primeira vez os célebres Schtroumpfs, cujo sucesso obrigou Peyo a abandonar progressivamente Johan et Pirlouit, ao cabo de 13 álbuns e algumas histórias curtas.
Este quarto e último volume da reedição integral inclui os álbuns “La guerre des 7 fontaines”, “L'anneau des Castellac”, “Le pays maudit” e “Le sortilège de Maltrochu”, todos datados dos anos 60 e os últimos escritos e desenhados por Peyo, então em paralelo com as primeras aventuras dos anõeszinhos azuis.
Desenvolvimento
A participação destes últimos numa das histórias, aliás, faz perceber porque tiveram mais sucesso que os dois heróis em questão, devido à sua originalidade.
Porque “Johan et Pirlouit”, uma banda desenhada de humor e acção, dentro de um género então popular, não tinha maiores ambições do que o distrair e dispor bem, o que, refira-se consegue com eficácia.
As histórias revelam a construção semana a semana, sem argumento nem ritmo definido, para além de uma ideia geral, adivinhando-se que Peyo – como todos os seus colegas de então, homem de mil e um heróis e histórias – ia descobrindo as façanhas dos seus heróis ao mesmo tempo que as contava aos seus leitores.
Apesar disso, a sua leitura não permite descobrir lapsos de maior ao nível dos argumentos, que combinam aventura, feitiçaria, seres fantásticos ou misteriosos, humor e acção em doses equilibradas, sejam os heróis movidos pelo desejo de ajudar um fantasma a reencontrar paz de espírito, um náufrago a reconquistar o seu ducado, o seu rei a redescobrir a alegria de viver ou um príncipe transformado em cão a recuperar a forma humana. Tudo no meio de muitos perigos, diversas surpresas, inúmeras peripécias, gags divertidos e actos de coragem, no final dos quais os heróis vencem sempre e o bem prevalece.
O traço de Peyo, ágil, vivo, expressivo e agradável, contribui para uma leitura agradável, fluida e dinâmica.
Relidas hoje, com o distanciamento que o tempo e a época actual permitem, as aventuras de Johan et Pirlouit valem pelo reencontro com uma ingenuidade genuína que a banda desenhada de então tinha – para o bem e para o mal… – e que nos nossos dias raramente ostenta.
A reter
- O completo dossier sobre Peyo e Johan et Pirlouit, com documentos inéditos ou raros, que serve de introdução ao álbum.
- O baixo preço – apenas 22 € para quase 300 páginas coloridas e uma edição sem nada a apontar - uma agradável surpresa, habitual nas reedições integrais francófonas.
Curiosidade
- Uma das histórias curtas publicadas neste volume têm origem num concurso da revista Spirou, que desafiou os seus leitores a legendarem uma BD de 4 páginas elaborada por Peyo. Entre os participantes, contou-se um certo… René Goscinny!
- Em Portugal, onde foram publicados em revistas como “O Cavaleiro Andante”, “Zorro”, “Jacaré” ou “Spirou” (2ª série), Johan passou a Joanico ou João (conforme os casos) e Pirlouit foi rebaptizado como … Pirolito! Estavam à espera de quê?
- A União Gráfica editou mesmo três álbuns com as suas aventuras: “O Juramento dos Vickings” (5º álbum da série), “A Flauta de Seis Schtrumpfs” (9º, mais tarde reeditado pela Verbo na forma de romance ilustrado) e “O Anel dos Castellac” (11º).
Dupuis (Bélgica, Outubro de 2009)
218 x 230 mm, 276 p., cor, cartonado
Resumo
Johan foi criado por Peyo em 1946, num gag de apenas 4 vinhetas em que era louro. O autor recuperá-lo-ia mais tarde, já com cabelo preto, para protagonista de uma série medieval de capa e espada, de tom humorístico, acentuado pela formação de uma parelha com Pirlouit, a partir do terceiro tomo da série.
E se ela era a preferida do seu criador, hoje é mais conhecida por nas suas páginas terem surgido pela primeira vez os célebres Schtroumpfs, cujo sucesso obrigou Peyo a abandonar progressivamente Johan et Pirlouit, ao cabo de 13 álbuns e algumas histórias curtas.
Este quarto e último volume da reedição integral inclui os álbuns “La guerre des 7 fontaines”, “L'anneau des Castellac”, “Le pays maudit” e “Le sortilège de Maltrochu”, todos datados dos anos 60 e os últimos escritos e desenhados por Peyo, então em paralelo com as primeras aventuras dos anõeszinhos azuis.
Desenvolvimento
A participação destes últimos numa das histórias, aliás, faz perceber porque tiveram mais sucesso que os dois heróis em questão, devido à sua originalidade.
Porque “Johan et Pirlouit”, uma banda desenhada de humor e acção, dentro de um género então popular, não tinha maiores ambições do que o distrair e dispor bem, o que, refira-se consegue com eficácia.
As histórias revelam a construção semana a semana, sem argumento nem ritmo definido, para além de uma ideia geral, adivinhando-se que Peyo – como todos os seus colegas de então, homem de mil e um heróis e histórias – ia descobrindo as façanhas dos seus heróis ao mesmo tempo que as contava aos seus leitores.
Apesar disso, a sua leitura não permite descobrir lapsos de maior ao nível dos argumentos, que combinam aventura, feitiçaria, seres fantásticos ou misteriosos, humor e acção em doses equilibradas, sejam os heróis movidos pelo desejo de ajudar um fantasma a reencontrar paz de espírito, um náufrago a reconquistar o seu ducado, o seu rei a redescobrir a alegria de viver ou um príncipe transformado em cão a recuperar a forma humana. Tudo no meio de muitos perigos, diversas surpresas, inúmeras peripécias, gags divertidos e actos de coragem, no final dos quais os heróis vencem sempre e o bem prevalece.
O traço de Peyo, ágil, vivo, expressivo e agradável, contribui para uma leitura agradável, fluida e dinâmica.
Relidas hoje, com o distanciamento que o tempo e a época actual permitem, as aventuras de Johan et Pirlouit valem pelo reencontro com uma ingenuidade genuína que a banda desenhada de então tinha – para o bem e para o mal… – e que nos nossos dias raramente ostenta.
A reter
- O completo dossier sobre Peyo e Johan et Pirlouit, com documentos inéditos ou raros, que serve de introdução ao álbum.
- O baixo preço – apenas 22 € para quase 300 páginas coloridas e uma edição sem nada a apontar - uma agradável surpresa, habitual nas reedições integrais francófonas.
Curiosidade
- Uma das histórias curtas publicadas neste volume têm origem num concurso da revista Spirou, que desafiou os seus leitores a legendarem uma BD de 4 páginas elaborada por Peyo. Entre os participantes, contou-se um certo… René Goscinny!
- Em Portugal, onde foram publicados em revistas como “O Cavaleiro Andante”, “Zorro”, “Jacaré” ou “Spirou” (2ª série), Johan passou a Joanico ou João (conforme os casos) e Pirlouit foi rebaptizado como … Pirolito! Estavam à espera de quê?
- A União Gráfica editou mesmo três álbuns com as suas aventuras: “O Juramento dos Vickings” (5º álbum da série), “A Flauta de Seis Schtrumpfs” (9º, mais tarde reeditado pela Verbo na forma de romance ilustrado) e “O Anel dos Castellac” (11º).
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16/11/2009
As Melhores Tiras de Nico Demo
Maurício de Sousa (argumento e desenho)
Editora Globo (Brasil, 2003)
137 x 208 mm, 96 p., pb, brochado
Nico Demo é uma criação “esquecida” de Maurício de Sousa, nascida no Jornal da Tarde em 1966, que durou até finais da década de 70 e que tem tanto de surpreendente quanto de inesperado pelo humor negro e o politicamente incorrecto que perpassam por boa parte destas tiras.
Porque se nalgumas delas facilmente vemos o Cebolinha ou o Cascão no lugar do protagonista de sorriso maldoso e cabelo a lembrar os chifres do Demo (!), se a linguagem e os elementos específicos da banda desenhada, continuam a servir como mote para alguns gags e se a maior parte das piadas tem como base situações do quotidiano, como é habitual em Maurício, na maior parte das tiras podemos descobrir um autor com um humor bem diferente daquele que associamos à Turma da Mônica ou às suas outras criações. Um autor capaz de brincar de forma provocatória com temas socialmente delicados como a pobreza ou a morte, ou não seja Nico Demo egoísta e egocêntrico, capaz de furar as bolhas provocadas por alguém que se afoga em vez de o ajudar ou de beber a água que lhe trazem para apagar um incêndio e que ignora valores como a solidariedade, a entreajuda ou o companheirismo.
Aliás, também graficamente Nico Demo é diferente, com o traço arredondado de Maurício aqui tornado mais “agreste” por um efeito de “serrilha” nos contornos, o que reforça o (mau) carácter do protagonista.
Nico Demo foi criado como tira diária muda em jornais brasileiros, provocando ao longo do tempo de publicação inúmeros protestos e pedidos de suavização do humor até ao ponto do autor desistir dele, considerando que o seu Dem(óni)o tinha surgido antes do tempo. O que se lamenta.
A boa notícia é que a Panini Comics tem em preparação no Brasil a reedição integral das (mais de 2500) tiras de Nico Demo.
Editora Globo (Brasil, 2003)
137 x 208 mm, 96 p., pb, brochado
Nico Demo é uma criação “esquecida” de Maurício de Sousa, nascida no Jornal da Tarde em 1966, que durou até finais da década de 70 e que tem tanto de surpreendente quanto de inesperado pelo humor negro e o politicamente incorrecto que perpassam por boa parte destas tiras.
Porque se nalgumas delas facilmente vemos o Cebolinha ou o Cascão no lugar do protagonista de sorriso maldoso e cabelo a lembrar os chifres do Demo (!), se a linguagem e os elementos específicos da banda desenhada, continuam a servir como mote para alguns gags e se a maior parte das piadas tem como base situações do quotidiano, como é habitual em Maurício, na maior parte das tiras podemos descobrir um autor com um humor bem diferente daquele que associamos à Turma da Mônica ou às suas outras criações. Um autor capaz de brincar de forma provocatória com temas socialmente delicados como a pobreza ou a morte, ou não seja Nico Demo egoísta e egocêntrico, capaz de furar as bolhas provocadas por alguém que se afoga em vez de o ajudar ou de beber a água que lhe trazem para apagar um incêndio e que ignora valores como a solidariedade, a entreajuda ou o companheirismo.
Aliás, também graficamente Nico Demo é diferente, com o traço arredondado de Maurício aqui tornado mais “agreste” por um efeito de “serrilha” nos contornos, o que reforça o (mau) carácter do protagonista.
Nico Demo foi criado como tira diária muda em jornais brasileiros, provocando ao longo do tempo de publicação inúmeros protestos e pedidos de suavização do humor até ao ponto do autor desistir dele, considerando que o seu Dem(óni)o tinha surgido antes do tempo. O que se lamenta.
A boa notícia é que a Panini Comics tem em preparação no Brasil a reedição integral das (mais de 2500) tiras de Nico Demo.
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As Leituras dos Heróis – O Menino Triste
(segundo João Mascarenhas*)
Pergunta: Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de O Menino Triste?
Resposta – Ele lê muita coisa. Praticamente um pouco de todos os estilos. Mas os seus preferidos são efectivamente o Jirô Taniguchi e o James Kochalka. Deste último tem uma preferência pelo seu "Magic Boy".
(* a quem agradeço a bela ilustração original que encabeça este post)
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13/11/2009
BD para ver – Osvaldo Medina na Mundo Fantasma
A galeria Mundo Fantasma inaugura amanhã, sábado, dia 14, às 17h, a exposição “Moscas e Formulas”, composta por originais dos livros "A Fórmula da Felicidade" e "Mucha", ambos editados pela Kingpin Books e desenhados por Osvaldo Medina, natural de Angola mas de nacionalidade cabo-verdiana, um dos valores (seguros) da nova banda desenhada portuguesa.
“Mucha”, lançado no recente Amadora BD 2009, marca o regresso de David Soares à BD, com um conto de terror de atmosfera intimista, no qual as moscas têm um assustador protagonismo que provoca um incómodo sentimento de repulsa. Nele Medina, que contou com a arte-final do seu editor Mário Fretas, apostou num registo a preto e branco expressivo e no qual abundam imagens fortes.
Em “A Fórmula da felicidade”, um dos grandes lançamentos nacionais de 2008, a opção foi por cores lisas e suaves e pela utilização (bem conseguida) de personagens com corpo humano e cabeça de animal, para dar mais consistência ao argumento forte e bem estruturada de Nuno Duarte sobre um marginalizado génio(zinho) matemático, filho de uma prostituta, que descobre uma fórmula cuja leitura proporciona felicidade imediata, passando por isso a ser procurado e adulado, mas não se tornando mais feliz…
Uma boa oportunidade para conhecer pessoalmente Osvaldo Medina, Mário Freitas, Nuno Duarte e David Soares que estarão presentes para uma conversa e sessão de autógrafos na galeria Mundo Fantasma, que fica no Centro Comercial Brasília (na Rotunda da Boavista, no Porto), na loja especializada em BD com o mesmo nome, onde mais de duas dezenas de originais poderão ser vistos até 11 de Dezembro.
(Versão revista do artigo publicado no Jornal de Notícias de 13 de Novembro de 2009)
“Mucha”, lançado no recente Amadora BD 2009, marca o regresso de David Soares à BD, com um conto de terror de atmosfera intimista, no qual as moscas têm um assustador protagonismo que provoca um incómodo sentimento de repulsa. Nele Medina, que contou com a arte-final do seu editor Mário Fretas, apostou num registo a preto e branco expressivo e no qual abundam imagens fortes.
Em “A Fórmula da felicidade”, um dos grandes lançamentos nacionais de 2008, a opção foi por cores lisas e suaves e pela utilização (bem conseguida) de personagens com corpo humano e cabeça de animal, para dar mais consistência ao argumento forte e bem estruturada de Nuno Duarte sobre um marginalizado génio(zinho) matemático, filho de uma prostituta, que descobre uma fórmula cuja leitura proporciona felicidade imediata, passando por isso a ser procurado e adulado, mas não se tornando mais feliz…
Uma boa oportunidade para conhecer pessoalmente Osvaldo Medina, Mário Freitas, Nuno Duarte e David Soares que estarão presentes para uma conversa e sessão de autógrafos na galeria Mundo Fantasma, que fica no Centro Comercial Brasília (na Rotunda da Boavista, no Porto), na loja especializada em BD com o mesmo nome, onde mais de duas dezenas de originais poderão ser vistos até 11 de Dezembro.
(Versão revista do artigo publicado no Jornal de Notícias de 13 de Novembro de 2009)
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As Leituras dos Heróis – Joe Dalton
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12/11/2009
A Fórmula da felicidade #1 (de 2)
Nuno Duarte (argumento)
Osvaldo Medina (desenho)
Ana Freitas (cores)
Kingpin Books (Portugal, Dezembro de 2008
212 x 297 mm, 48 p., brochado com badanas
O que é a felicidade? Como se alcança? Se Nuno Duarte não dá a estas duas questões as respostas que todos desejam conhecer, coloca uma terceira e curiosa pergunta: E se a felicidade estivesse dependente de uma fórmula matemática?
Para a suportar, assenta a sua história, forte e bem estruturada, nalguns – bem explorados – clichés: o génio(zinho) matemático, filho de uma prostituta e de pai incógnito, por isso marginalizado e humilhado por (quase) todos, que busca nos números o refúgio e o consolo que os humanos não lhe dão. Quando descobre a tal fórmula que, quando lida por ele, produz a felicidade instantânea, passa de desprezado a adulado, o que não significa que tudo mude pois N. Duarte corta o entusiasmo questionando, ao concluir este primeiro tomo, uma das verdadinhas politicamente correctas da nossa sociedade: tornar os outros felizes traz felicidade?
E se pelo que fica escrito, até agora esta parece ser uma obra de argumentista, tal é injusto para o excelente trabalho gráfico de Medina que a suporta, bem servido pelas cores suaves de Ana Freitas. Por um lado, pela extrema legibilidade da sua planificação – algumas sequências, como as páginas iniciais, podiam funcionar até sem o texto (que não é redundante…).
Osvaldo Medina (desenho)
Ana Freitas (cores)
Kingpin Books (Portugal, Dezembro de 2008
212 x 297 mm, 48 p., brochado com badanas
O que é a felicidade? Como se alcança? Se Nuno Duarte não dá a estas duas questões as respostas que todos desejam conhecer, coloca uma terceira e curiosa pergunta: E se a felicidade estivesse dependente de uma fórmula matemática?
Para a suportar, assenta a sua história, forte e bem estruturada, nalguns – bem explorados – clichés: o génio(zinho) matemático, filho de uma prostituta e de pai incógnito, por isso marginalizado e humilhado por (quase) todos, que busca nos números o refúgio e o consolo que os humanos não lhe dão. Quando descobre a tal fórmula que, quando lida por ele, produz a felicidade instantânea, passa de desprezado a adulado, o que não significa que tudo mude pois N. Duarte corta o entusiasmo questionando, ao concluir este primeiro tomo, uma das verdadinhas politicamente correctas da nossa sociedade: tornar os outros felizes traz felicidade?
E se pelo que fica escrito, até agora esta parece ser uma obra de argumentista, tal é injusto para o excelente trabalho gráfico de Medina que a suporta, bem servido pelas cores suaves de Ana Freitas. Por um lado, pela extrema legibilidade da sua planificação – algumas sequências, como as páginas iniciais, podiam funcionar até sem o texto (que não é redundante…).
Por outro lado, as suas personagens com cabeças de animais, obviamente inspirados no (recomendável) “Blacksad”, de Guarnido e Canales, escolhidas de acordo com as características de cada um (animal e humano), ajudam a acentuar os pontos fortes da narrativa, enquanto permitem algum (ilusório) distanciamento ao leitor. Ilusório, porque, esta é, sem dúvida, uma fábula sobre os nossos tempos incertos, em que tantos falsos profetas facilmente encontram seguidores.
(Versão revista do texto publicado originalmente a 14 de Março de 2009, na secção de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
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Ana Freitas,
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Mundo dos Super-Heróis #13
Mundo dos Super-Heróis #13
Editora Europa (Brasil, Novembro de 2008)
210 x 280 mm, 84 p., cor, brochada
Após um interregno de alguns meses, mas mantendo a continuidade, está de regresso às bancas portuguesas a revista Mundo dos Super-Heróis que neste décimo terceiro número consagra o seu dossier principal ao Demolidor/Daredevil, considerando as principais fases do herói, galerias de vilões, aliados e namoradas ou as 10 histórias a não perder.
Para além disso, este numero da revista inclui também artigos sobre Neal Adams, Aquaman, Lex Luthor, uma entrevista com Joe Bennett e uma selecção dos 10 principais heróis de western.
Entretanto também já estão disponíveis alguns dos títulos Marvel, DC Comics e Mauricio de Sousa que mensalmente chegam aos quiosques portugueses. Eis a sua lista e respectiva data de distribuição:
09/11/2009 - Mónica nº 29, Cebolinha nº 29, Cascão nº 29, Homem-Aranha nº 88
10/11/2009 - Magali nº 29, Chico Bento nº 29, Colecção Histórica Turma Mónica nº 11, X-Men nº 88
11/11/2009 - Almanaque Mónica nº 15, Almanaque Cebolinha nº 15, Almanaque Cascão nº 15, Novos Vingadores nº 63
12/11/2009 - Ronaldinho Gaúcho nº 29, Turma da Mónica Parque nº 29, Saiba Mais Turma Mónica nº 21, Superman & Batman nº 45, Avante Vingadores nº 27
13/11/2009 – Turma Mónica Jovem nº 11, Batman nº 77, Superman nº 77, Wolverine nº 52
16/11/2009 – Almanaque Historinhas de 1 página Mónica nº 4, Universo Marvel nº 45, Contagem Regressiva nº 11, Liga da Justiça nº 76
Editora Europa (Brasil, Novembro de 2008)
210 x 280 mm, 84 p., cor, brochada
Após um interregno de alguns meses, mas mantendo a continuidade, está de regresso às bancas portuguesas a revista Mundo dos Super-Heróis que neste décimo terceiro número consagra o seu dossier principal ao Demolidor/Daredevil, considerando as principais fases do herói, galerias de vilões, aliados e namoradas ou as 10 histórias a não perder.
Para além disso, este numero da revista inclui também artigos sobre Neal Adams, Aquaman, Lex Luthor, uma entrevista com Joe Bennett e uma selecção dos 10 principais heróis de western.
Entretanto também já estão disponíveis alguns dos títulos Marvel, DC Comics e Mauricio de Sousa que mensalmente chegam aos quiosques portugueses. Eis a sua lista e respectiva data de distribuição:
09/11/2009 - Mónica nº 29, Cebolinha nº 29, Cascão nº 29, Homem-Aranha nº 88
10/11/2009 - Magali nº 29, Chico Bento nº 29, Colecção Histórica Turma Mónica nº 11, X-Men nº 88
11/11/2009 - Almanaque Mónica nº 15, Almanaque Cebolinha nº 15, Almanaque Cascão nº 15, Novos Vingadores nº 63
12/11/2009 - Ronaldinho Gaúcho nº 29, Turma da Mónica Parque nº 29, Saiba Mais Turma Mónica nº 21, Superman & Batman nº 45, Avante Vingadores nº 27
13/11/2009 – Turma Mónica Jovem nº 11, Batman nº 77, Superman nº 77, Wolverine nº 52
16/11/2009 – Almanaque Historinhas de 1 página Mónica nº 4, Universo Marvel nº 45, Contagem Regressiva nº 11, Liga da Justiça nº 76
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11/11/2009
As Leituras dos Heróis – Tex
(segundo Gianfranco Manfredi*)
Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Tex?
Resposta – Não me parece que Tex seja um grande leitor. Nem de livros, nem de banda desenhada. Os homens de acção não se divertem a "olhar as imagens".
* Com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco
Leituras relacionadas
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Gianfranco Manfredi,
Tex
10/11/2009
La Genèse
Robert Crumb (adaptação e desenho)
Denoel Graphic (França, Outubro de 2009)
218 x 314 mm, 220 p., p&b, cartonado
Resumo
Um dos livros aos quadradinhos mais aguardados neste final de ano, esta é a adaptação feita para banda desenhada por Robert Crumb, o pai da BD underground norte-ameriana, do Génesis, o primeiro livro da Bíblia – porque, para quem o desconhece, a Bíblia é constituída por um conjunto de 66 livros, escritos por pessoas diferentes ao longo de cerca de 1400 anos e o termo Bíblia significa exactamente isso: “conjunto de livrinhos”.
Desenvolvimento
E o que apetece dizer é que a montanha pariu um rato. Pelo menos para aqueles que esperavam (ob)ter uma polémica considerável com a visão bíblica de Crumb. Para esses, é triste conforto a meia dúzia de vinhetas (bem pudicas por sinal) em que Crumb (mais sugere do que) mostra cenas de nudez ou actos sexuais. Que, claro está, poderão chocar os que (des)conhecem o texto original, considerando-as liberdades profanas e demoníacas de Crumb. Puro erro. E (santa!) ignorância.
Não que alguma vez ou em algum lugar ele tenha prometido/ameaçado fazer uma versão provocatória, mas a verdade é que alguns editores, mesmo com a obra já impressa – e lida, depreende-se… - não deixaram de o anunciar à imprensa, para promoverem o livro e incrementarem as vendas, intuindo (desejando?) ver fonte de polémica nesta ou naquela afirmação do autor. Que nunca a procurou com esta obra concreta e ao qual apenas se podem apontar umas (poucas) liberdades criativas - como a serpente com corpo humano – que se esbatem na sombra de visões tradicionais – como o retrato de Deus.
Excluída, portanto, a hipótese de criação de polémica, o que sobra na visão bíblica de Crumb? Por um lado a utilização do texto original integral, encontrado após estudo e comparação de diversas versões. Por isso, pesado, aqui e ali de difícil leitura ou (quase) até incompreensível, muitas vezes aborrecido, repetitivo. Excessivo para uma banda desenhada, excessivo em muitas das páginas desta banda desenhada. E, claro, disto se ressente a obra, que em algumas sequências, deixa o estatuto de BD – sequência gráfica narrativa – para ser apenas ilustração.
O que nos conduz ao último aspecto a considerar: o desenho. Que está ao nível do muito (de bom) que Crumb fez ao longo de 50 anos de quadradinhos: expressivo, detalhado, não especialmente dinâmico (a obra também não o pedia), de vinhetas cheias e pormenorizadas, num preto e branco cheio, valorizado pela utilização de tracejados e pontilhados para dotar as vinhetas de profundidade e as personagens de volume. Mais realista e clássico até do que o que conhecemos do autor.
Em resumo, se com Crumb a Bíblia, melhor dizendo, o Génesis, se pode tornar mais legível para alguns, desenganem-se os que vão procurar neste livro o espírito libertário, a liberdade de pensamento, a provocação, o tom anárquico, a crítica social e de costumes das grandes obras do autor, que fizeram dele o pai da BD underground norte-americana.
Porque esta é, reforço a ideia, não uma adaptação mas a ilustração, em forma de BD, do texto. Sem aproximações de fé ou distanciamento crítico de quem não a tem, sem interpretações, julgamentos ou vontade de aligeirar ou explicar. Sem o justificar, sem blasfemar dele. Para o bem e para o mal.
A reter
- O traço de um Crumb em plena forma.
Menos conseguido
- A forma abusiva como, apesar do tom inócuo da adaptação, alguns editores usaram o nome do autor para promoverem um produto que não corresponde à sua fama de provocador.
- Algumas reacções de contestação ao livro que mesmo assim surgiram, demonstrando desconhecimento desta BD de Crumb e/ou da própria Bíblia, por parte de alguns que a afirmam como seu livro sagrado.
Denoel Graphic (França, Outubro de 2009)
218 x 314 mm, 220 p., p&b, cartonado
Resumo
Um dos livros aos quadradinhos mais aguardados neste final de ano, esta é a adaptação feita para banda desenhada por Robert Crumb, o pai da BD underground norte-ameriana, do Génesis, o primeiro livro da Bíblia – porque, para quem o desconhece, a Bíblia é constituída por um conjunto de 66 livros, escritos por pessoas diferentes ao longo de cerca de 1400 anos e o termo Bíblia significa exactamente isso: “conjunto de livrinhos”.
Desenvolvimento
E o que apetece dizer é que a montanha pariu um rato. Pelo menos para aqueles que esperavam (ob)ter uma polémica considerável com a visão bíblica de Crumb. Para esses, é triste conforto a meia dúzia de vinhetas (bem pudicas por sinal) em que Crumb (mais sugere do que) mostra cenas de nudez ou actos sexuais. Que, claro está, poderão chocar os que (des)conhecem o texto original, considerando-as liberdades profanas e demoníacas de Crumb. Puro erro. E (santa!) ignorância.
Não que alguma vez ou em algum lugar ele tenha prometido/ameaçado fazer uma versão provocatória, mas a verdade é que alguns editores, mesmo com a obra já impressa – e lida, depreende-se… - não deixaram de o anunciar à imprensa, para promoverem o livro e incrementarem as vendas, intuindo (desejando?) ver fonte de polémica nesta ou naquela afirmação do autor. Que nunca a procurou com esta obra concreta e ao qual apenas se podem apontar umas (poucas) liberdades criativas - como a serpente com corpo humano – que se esbatem na sombra de visões tradicionais – como o retrato de Deus.
Excluída, portanto, a hipótese de criação de polémica, o que sobra na visão bíblica de Crumb? Por um lado a utilização do texto original integral, encontrado após estudo e comparação de diversas versões. Por isso, pesado, aqui e ali de difícil leitura ou (quase) até incompreensível, muitas vezes aborrecido, repetitivo. Excessivo para uma banda desenhada, excessivo em muitas das páginas desta banda desenhada. E, claro, disto se ressente a obra, que em algumas sequências, deixa o estatuto de BD – sequência gráfica narrativa – para ser apenas ilustração.
O que nos conduz ao último aspecto a considerar: o desenho. Que está ao nível do muito (de bom) que Crumb fez ao longo de 50 anos de quadradinhos: expressivo, detalhado, não especialmente dinâmico (a obra também não o pedia), de vinhetas cheias e pormenorizadas, num preto e branco cheio, valorizado pela utilização de tracejados e pontilhados para dotar as vinhetas de profundidade e as personagens de volume. Mais realista e clássico até do que o que conhecemos do autor.
Em resumo, se com Crumb a Bíblia, melhor dizendo, o Génesis, se pode tornar mais legível para alguns, desenganem-se os que vão procurar neste livro o espírito libertário, a liberdade de pensamento, a provocação, o tom anárquico, a crítica social e de costumes das grandes obras do autor, que fizeram dele o pai da BD underground norte-americana.
Porque esta é, reforço a ideia, não uma adaptação mas a ilustração, em forma de BD, do texto. Sem aproximações de fé ou distanciamento crítico de quem não a tem, sem interpretações, julgamentos ou vontade de aligeirar ou explicar. Sem o justificar, sem blasfemar dele. Para o bem e para o mal.
A reter
- O traço de um Crumb em plena forma.
Menos conseguido
- A forma abusiva como, apesar do tom inócuo da adaptação, alguns editores usaram o nome do autor para promoverem um produto que não corresponde à sua fama de provocador.
- Algumas reacções de contestação ao livro que mesmo assim surgiram, demonstrando desconhecimento desta BD de Crumb e/ou da própria Bíblia, por parte de alguns que a afirmam como seu livro sagrado.
09/11/2009
O Muro, antes e depois
Sienkiewicz, Schulteiss, Cabanes, Kerac, Tardi, Prado, Boucq, Drager, Zonic, Thomas, Parowski, Polch, Mezieres, Manara, Savitski, Floch, Torres, Gaiman, McKean, Pahek, Mora, Goetzinger, Gibbons, Moebius, Juillard, Bilal
Meribérica/Líber (Portugal, 1991)
220 x 292, 80 p., cor, brochado
A edição recente (em 1991) do álbum “O Muro, antes e depois", vem confirmar mais uma vez o proverbial atraso de que o nosso país sofre. Lançado a propósito da queda do muro de Berlim, por iniciativa de Pierre Christin (argumentista de Bilal e da série “Valérian”) e de Andreas Knigge (director literário das Edições Carlsen, na RFA), este álbum saiu simultaneamente em treze países europeus e nos EUA, há pouco mais de um ano. Ou seja, poucas semanas tinham decorrido sobre o derrube de um dos mais tristemente célebres “monumentos” criados pelo homem. A sua temática era, assim, actual, e a oportunidade do lançamento assinalável a vários níveis. Hoje, “tanto tempo” passado sobre a data, estou (e lamento-o) convicto de que, para muitos, o nome “Berlim” evoca apenas os saborosos pastéis de nata, que há na padaria da esquina…
Apesar de tudo, há que louvar a edição, mesmo apesar do sabor requentado (…) Compilando colaborações de cerca de três dezenas de autores (de um e outro lado do muro) o álbum ressente-se da heterogeneidade dos trabalhos, balançando o seu conteúdo entre o muito bom e o medíocre (para não ser mais severo…). A esta disparidade não será certamente estranho o traquejo as diversas e numerosas oportunidades de que sempre desfrutam os autores ocidentais (alguns dos quais de nomeada) em contraste com a limitações que eram (re)conhecidas aos seus companheiros de Leste, do outro lado do muro. Muro que foi construído para manter essas diferenças; muro que foi derrubado para, teoricamente, as abolir… Teoria que, hoje, quando a evolução das alterações sociais dos ex-países comunistas é conhecida, é questionada e em quase todos os casos, está longe de ser seguida na prática.
E esta +e uma das poucas vantagens que pode ter o atraso da edição lusa: comprovar até que ponto se tornaram realidade as visões pessimistas (ou devia escrever realistas?) de alguns dos artistas. Talvez que, de todos, o mais clarividente tenha sido o alemão Mathias Schulteiss, que nas cinco páginas que constituem a sua banda desenhada pôs na boca dos dois protagonistas muitas das dúvidas (e das críticas) que, a ocidente, se levantaram contra a abolição do muro que, enquanto de pé, apesar de reprovado, fazia já parte do comodismo quotidiano germânico (e não só). As questões que levanta o milionário da história são deveras reais e passaram de certeza pelas mentes de muitos, sendo a visão humanitária (e optimista, quase utópica) da sua companheira, hoje, uma triste e traída esperança.
Pelo mesmo diapasão alinham Mezieres e Manara (que traduz com rara beleza a destruição do sonho). Também com uma visão negativa da destruição do muro, mas esta causada pelo temor (bem oriental) da invasão imperialista ianque, são as BD de Torres e de Dave Gibbons.
Do Leste, onde a 9ª arte se encontra, a julgar pela amostra, bem abaixo do nível ocidental (leia-se francês e espanhol) e bem perto daquilo que (de pior) conhecemos em Portugal (a nível profissional9 o destaque vai para uma interessante obra do jugoslavo Bane Kerak que questiona qual será o futuro dos agora desempregados serviços secretos do Leste… Outra temática comum a mais do que um autor é a interrogação sobre os muros que ficam por derrubar, consumada que foi a queda material da construção de cimento e betão… Moebius, Mora e Goetzinger relembram ou sugerem as diversas barreiras (sociais, políticas, ideológicas) que se levantam a causar separações, quantas vezes mais difíceis de ultrapassar do que o muro que deu origem ao álbum.
Bem mais leves (e ingenuamente?) optimistas são os trabalhos de Sienkiewicz, do jugoslavo Zeljko Pahek e do colectivo leste-alemão Zonic, que anteviam um futuro esperançoso baseado no querer dos povos…
Tardi e Boucq, bem ao seu estilo, são cáusticos e directos.
Para o final, propositadamente, ficaram as três contribuições em que a poesia marca mais forte presença.
André Juillard, com um traço suave e claro, dá-nos a sua visão do novo mundo, se muros de pedra. Ficam os outros…
Prado, com uma breve narrativa ilustrada, plena de sentimentos e emoções, sentida e bem realista, lembra como era possível, cinco dias antes da queda, do lado de lá, perder esperanças e amores, o direito de viver em liberdade e a… vida.
Finalmente, tendo como pano de fundo uma colagem de Dave Mckean, surge-nos um poema do também britânico Neil Gaiman, onde ele conta:
“Quando era pequeno, tive um sonho…
No meu sonho havia uma nota, um tom, um acorde;
e quando surgia esse acorde, caíam todos os muros, em todo o lado. E as pessoas em todo o lado viam…
… O que as pessoas têm por hábito fazer atrás dos muros.
Ninguém mais tinha de se esconder em parte alguma.
Foi nessa altura que acordei. E por isso nunca soube se era bom ou mau não haver muros, algo onde nos possamos esconder e que sejamos livres de ir para todo o lado: sem hipocrisias, sem protecção, sem segredos”.
Há uns meses, um muro, “O” muro caiu. Para que possamos ver. Este álbum foi feito para que possamos relembrar.
Para que não sejamos operários na construção de novos muros.
(Versão revista do texto “O Muro, muito depois”, publicado no jornal O Primeiro de Janeiro, a 7 de Abril de 1991)
Meribérica/Líber (Portugal, 1991)
220 x 292, 80 p., cor, brochado
A edição recente (em 1991) do álbum “O Muro, antes e depois", vem confirmar mais uma vez o proverbial atraso de que o nosso país sofre. Lançado a propósito da queda do muro de Berlim, por iniciativa de Pierre Christin (argumentista de Bilal e da série “Valérian”) e de Andreas Knigge (director literário das Edições Carlsen, na RFA), este álbum saiu simultaneamente em treze países europeus e nos EUA, há pouco mais de um ano. Ou seja, poucas semanas tinham decorrido sobre o derrube de um dos mais tristemente célebres “monumentos” criados pelo homem. A sua temática era, assim, actual, e a oportunidade do lançamento assinalável a vários níveis. Hoje, “tanto tempo” passado sobre a data, estou (e lamento-o) convicto de que, para muitos, o nome “Berlim” evoca apenas os saborosos pastéis de nata, que há na padaria da esquina…
Apesar de tudo, há que louvar a edição, mesmo apesar do sabor requentado (…) Compilando colaborações de cerca de três dezenas de autores (de um e outro lado do muro) o álbum ressente-se da heterogeneidade dos trabalhos, balançando o seu conteúdo entre o muito bom e o medíocre (para não ser mais severo…). A esta disparidade não será certamente estranho o traquejo as diversas e numerosas oportunidades de que sempre desfrutam os autores ocidentais (alguns dos quais de nomeada) em contraste com a limitações que eram (re)conhecidas aos seus companheiros de Leste, do outro lado do muro. Muro que foi construído para manter essas diferenças; muro que foi derrubado para, teoricamente, as abolir… Teoria que, hoje, quando a evolução das alterações sociais dos ex-países comunistas é conhecida, é questionada e em quase todos os casos, está longe de ser seguida na prática.
E esta +e uma das poucas vantagens que pode ter o atraso da edição lusa: comprovar até que ponto se tornaram realidade as visões pessimistas (ou devia escrever realistas?) de alguns dos artistas. Talvez que, de todos, o mais clarividente tenha sido o alemão Mathias Schulteiss, que nas cinco páginas que constituem a sua banda desenhada pôs na boca dos dois protagonistas muitas das dúvidas (e das críticas) que, a ocidente, se levantaram contra a abolição do muro que, enquanto de pé, apesar de reprovado, fazia já parte do comodismo quotidiano germânico (e não só). As questões que levanta o milionário da história são deveras reais e passaram de certeza pelas mentes de muitos, sendo a visão humanitária (e optimista, quase utópica) da sua companheira, hoje, uma triste e traída esperança.
Pelo mesmo diapasão alinham Mezieres e Manara (que traduz com rara beleza a destruição do sonho). Também com uma visão negativa da destruição do muro, mas esta causada pelo temor (bem oriental) da invasão imperialista ianque, são as BD de Torres e de Dave Gibbons.
Do Leste, onde a 9ª arte se encontra, a julgar pela amostra, bem abaixo do nível ocidental (leia-se francês e espanhol) e bem perto daquilo que (de pior) conhecemos em Portugal (a nível profissional9 o destaque vai para uma interessante obra do jugoslavo Bane Kerak que questiona qual será o futuro dos agora desempregados serviços secretos do Leste… Outra temática comum a mais do que um autor é a interrogação sobre os muros que ficam por derrubar, consumada que foi a queda material da construção de cimento e betão… Moebius, Mora e Goetzinger relembram ou sugerem as diversas barreiras (sociais, políticas, ideológicas) que se levantam a causar separações, quantas vezes mais difíceis de ultrapassar do que o muro que deu origem ao álbum.
Bem mais leves (e ingenuamente?) optimistas são os trabalhos de Sienkiewicz, do jugoslavo Zeljko Pahek e do colectivo leste-alemão Zonic, que anteviam um futuro esperançoso baseado no querer dos povos…
Tardi e Boucq, bem ao seu estilo, são cáusticos e directos.
Para o final, propositadamente, ficaram as três contribuições em que a poesia marca mais forte presença.
André Juillard, com um traço suave e claro, dá-nos a sua visão do novo mundo, se muros de pedra. Ficam os outros…
Prado, com uma breve narrativa ilustrada, plena de sentimentos e emoções, sentida e bem realista, lembra como era possível, cinco dias antes da queda, do lado de lá, perder esperanças e amores, o direito de viver em liberdade e a… vida.
Finalmente, tendo como pano de fundo uma colagem de Dave Mckean, surge-nos um poema do também britânico Neil Gaiman, onde ele conta:
“Quando era pequeno, tive um sonho…
No meu sonho havia uma nota, um tom, um acorde;
e quando surgia esse acorde, caíam todos os muros, em todo o lado. E as pessoas em todo o lado viam…
… O que as pessoas têm por hábito fazer atrás dos muros.
Ninguém mais tinha de se esconder em parte alguma.
Foi nessa altura que acordei. E por isso nunca soube se era bom ou mau não haver muros, algo onde nos possamos esconder e que sejamos livres de ir para todo o lado: sem hipocrisias, sem protecção, sem segredos”.
Há uns meses, um muro, “O” muro caiu. Para que possamos ver. Este álbum foi feito para que possamos relembrar.
Para que não sejamos operários na construção de novos muros.
(Versão revista do texto “O Muro, muito depois”, publicado no jornal O Primeiro de Janeiro, a 7 de Abril de 1991)
As Leituras dos Heróis – Mágico Vento e Poe
(segundo Gianfranco Manfredi*)
Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Mágico Vento?
Pergunta – E Poe?
Resposta - Poe lê de tudo, a começar por Edgar Allan Poe, obviamente. Se pudesse ler uma BD contemporânea, acho que “Jonah Hex” lhe agradaria, mas seguramente não perderia por nada os contos de Poe adaptados em banda desenhada por Battaglia.
* Com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco
Leituras relacionadas
As Leituras dos Heróis,
Bonelli,
Gianfranco Manfredi,
Mágico Vento
06/11/2009
As Leituras dos Heróis – Zagor e Chico
(segundo a humilde opinião de Moreno Burattini *)
Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Zagor?
Resposta – Se Zagor lesse BD, obviamente leria “Tarzan” e “Fantasma”.
Pergunta – E Chico?
Resposta - Chico leria o “Pato Donald” e “Mortadelo e Filemão”.
Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Zagor?
Resposta – Se Zagor lesse BD, obviamente leria “Tarzan” e “Fantasma”.
Pergunta – E Chico?
Resposta - Chico leria o “Pato Donald” e “Mortadelo e Filemão”.
* Com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco
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