19/05/2010

Piratas do Tietê – A saga completa – Todas as histórias em 3 volumes – Livros 1 e 2

Laerte (argumento e desenhos)
Devir Livraria (Brasil, Novembro de 2007)
210 × 280 mm, 112 p., cor+pb, cartonado
1985, um Brasil recém-saído da ditadura, descobria nas bancas a Chiclete com Banana, uma revista de BD “underground” a resvalar para o anarquismo.
Nela, Angeli, o seu criador, depois com Laerte, Glauco ou Luís Gê, traçava um retrato cínico e mordaz das misérias do país, visto através das suas franjas mais marginais. A publicação tornou-se um marco, vendeu três milhões de exemplares numa década, teve até uma versão para Portugal (onde agora há nas livrarias pacotes com a “Edição definitiva para coleccionadores”) e lá nasceram anti-heróis como Rê Bordosa, os Skrotinhos, Bob Cuspe ou os invulgares Piratas do Tietê.
As aventuras destes últimos, traçadas por Laerte com detalhe e pormenores deliciosos, num preto e branco contrastante muito bem trabalhado, e dotadas de uma planificação multifacetada que lhes transmite uma grande dinâmica e ritmo, desenvolvem-se ao longo do rio Tietê, que atravessa a cidade de São Paulo. Recheadas de acção e nonsense, partem dele para as mais diversas paródias ou para libelos anti-economistas, anti-ecologistas ou anti-outra-coisa-qualquer, com base na estranha combinação dos estereótipos das narrativas de corsários com uma crítica exacerbada da actualidade brasileira, utilizando com frequência citações da literatura (Pessoa é protagonista involuntário de uma BD no segundo tomo, onde também se encontram Batman, Fantasma ou a Virgem Maria), cinema, pintura ou mesmo banda desenhada.
Agora, estão compiladas numa bela edição de luxo em três volumes – o segundo foi recentemente distribuído entre nós -, que incluem notas biográficas e comentários do autor, que enquadram melhor e possibilitam um outro nível de leitura de cada narrativa.

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 20 de Outbro de 2008)

18/05/2010

Banda Desenhada comemora Centenário da República

Os presidentes da Câmara Municipal da Amadora, Joaquim Raposo, e da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, Artur Santos Silva, assinaram hoje, no Auditório dos Recreios da Amadora, um Protocolo de Colaboração com vista à realização da programação de Banda Desenhada no âmbito das Comemorações dos 100 anos da República, a desenvolver até Agosto de 2011.
Após a cerimónia protocolar foram divulgadas as iniciativas previstas neste âmbito, entre as quais se destaca a exposição “A primeira república na génese da BD e no olhar do século XXI”, que será inaugurada no Centro Nacional de BD e da Imagem da Amadora a 2 de Junho, e será composta por cinco núcleos: “A 1ª República e a Amadora” (organizado por João Castela Cravo), “A Caricatura Modernista e a 1ª República” (Osvaldo de Sousa), “O primeiro filme de animação português” (Paulo Cambraia), “A Génese da Moderna BD Portuguesa” e “A 1ª República na BD portuguesa contemporânea” (ambos concebidos por João Paulo de Paiva Boléo).
Este será também o mote do 21º Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora – Amadora BD ’11, entre 22 de Outubro e 7 de Novembro, que acolherá a mostra “É de Noite que Faço as Perguntas”, baseada no álbum homónimo escrito por David Soares e desenhado por Richard Câmara, André Coelho, Daniel Silvestre, João Maio Pinto e Jorge Coelho, a lançar durante o certame, onde também será apresentada uma reedição das “Aventuras de Quim e Manecas”, criados por Stuart Carvalhais, publicadas inicialmente entre 1915 e 1918, no Século Cómico, e que são, segundo Paiva Boléo, um “exemplo de pioneirismo e modernidade no panorama artístico da sua geração”, que retrataram “com arte, argúcia e uma alegria contagiante o contexto político e social e as personalidades da época que seduziram miúdos e graúdos”.
Quim e o Manecas, redesenhados por Richard Câmara, serão os anfitriões das comemorações nacionais do Centenário da República.

14/05/2010

Mmmnnnrrrg comemora 10 anos no Porto

A editora independente de banda desenhada alternativa Mmmnnnrrrg, a comemorar 10 anos de existência, assinala a data com um programa diversificado que tem por centro o bar Maus Hábitos, no Porto, hoje e amanhã.
Como principal aspecto, fica o lançamento do livro “Pénis Assassino”, do portuense Janus, curiosamente também autor de “O Macaco TóZé”, o primeiro livro com que esta editora de nome impronunciável “começou a agredir o mercado emergente e optimista da BD portuguesa”, refere o seu responsável, Marcos Farrajota. Com tiragens “entre os 100 e os 1500 exemplares”, afirma que os seus livros estão “sempre disponíveis”, pois “eles não se vendem mas também não se queimam”, ao contrário dos de outras editoras…
Face “a um panorama desolador, de falta de respeito pelo livro e pela BD”, cuja “situação nos últimos anos piorou,” uma vez que “no seu âmago ela desistiu de existir e fora do seu meio é renegada porque deixou de haver espaço para tal fraca criatura, graças à aceleração da exploração capitalista no mercado do livro”, a Mmnnnrrrg aposta nos autores nacionais e no intercâmbio com editoras estrangeiras similares, tendo no seu catálogo obras como “Prison Stories”, do croata Igor Hofbauer (que estará presente com uma exposição no Festival de BD de Beja, de 29 de Maio a 13 de Junho), “Caminhando com Samuel”, do finlandês Tommi Musturi ou ”Já não há maçãs no paraíso”, de Max Tilmann, este ano distinguida com o Prémio Titan, atribuído pela ESAD
As comemorações incluem também um Mercado de Edição Independente (dia 15, à tarde), com a presença da própria e “de outros editores responsáveis e autónomos” como a Chili com Carne, Ruru Comix, Soopa, Marvellous Tone, Plana Press, Edições Mortas, Thisco, Opuntia Books, Braço de Ferro, Latrina do Chifrudo, Gajos da Mula, Reject’zine, Dama Aflita e Durty Kat, muita “música maldita” com os Kanukanakina, Claiana, dj Shree Svasthistana (dia 14) e Ghuna X, Rudolfo, Yoshi o puto dragão e undj Mmmnnnrrrg (dia 15) e a “exibição de filmes marados”.

13/05/2010

Animal’z

Enki Bilal (argumento e desenho)
ASA (Portugal, Novembro de 2009)
240 x 320, 104 p., cor, cartonado


Nesta obra, que marcou o seu regresso à banda desenhada no ano passado, Bilal retorna a alguns dos temas políticos que desenvolveu nos seus trabalhos mais recentes: os totalitarismos, (a falta de) futuro da humanidade ou a ecologia. Fá-lo, num registo mais neutro do que tem sido habitual, afastando-se um pouco do pessimismo de álbuns anteriores mas mesmo assim tendo como ponto de partida um planeta devastado por um fenómeno natural designado como “Golpe de Sangue”, que provocou brutais alterações climáticas e funcionais na Terra, reduzindo drasticamente as fontes de água potável e limitando a uns quantos (e ilusórios?) “eldorados” as zonas habitáveis do planeta. Devido a esse acontecimento, a par da redução da população mundial e do desmoronamento da economia mundial, o dia a dia tornou-se uma luta constante pela sobrevivência na qual todos os expedientes são válidos.
Mas Bilal opta por deixar estes contornos (estimulantes) apenas como pano de fundo e desencadeadores das acções da meia dúzia de protagonistas com que dotou este relato de antecipação científica num futuro não muito distante, marcado por progressos científicos que permitiram uma maior proximidade entre homem e animal, traduzida na possibilidade de fusão temporária entre ser humano e golfinho ou em mutações genéticas. A sua opção foi antes para um relato humano, aprofundando o lado psicológico, as motivações e a forma como cada um se relaciona com os restantes seres e se adequa (ou não) à nova situação e ao meio.
A opção por enquadramentos cinematográficos e vinhetas grandes – geralmente apenas duas ou três por prancha – destaca o magnífico traço a carvão sobre papel de tom cinza, que acentua o tom a um tempo sombrio e orgânico da narrativa, apenas tingido aqui e ali por raios de vermelho vivo, o que desvaloriza a sensação que a leitura deixa de que temos na nossa posse apenas um fragmento isolado de um todo maior e mais abrangente.

A reter
- O livro/objecto em si; as co-edições também têm vantagens…

(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente a 8 de Maio de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

12/05/2010

Zobo et les fleurs de la vie #1 – Sakura

Nie Jun (argumento e desenho)
paquet (Suíça, Janeiro de 2010)
240 x 322 mm, 48 p., cor, cartonado


Mais do que uma narrativa, este é um poema em banda desenhada, protagonizado por Zobo, uma marionete que ganha vida quando a jovem Ryoko lhe coloca no lugar do coração um ramo de flor de cerejeira, planta que no Japão está associada ao amor e ao carácter efémero das alegrias deste mundo. Com esse gesto, desperta a paixão de Zobo – de certa forma um Pinóquio à maneira oriental - que o leva a uma entrega total para a tentar concretizar. Só que, o coração nem sempre faz as escolhas mais óbvias, apesar de todos os sacrifícios que o amor se dispõe a fazer.
Com esta base, a que acrescenta ainda o enigmático Doku, Nie Jun, chinês e não japonês como se poderia pensar, num tom assumidamente romântico, com protagonistas (utópicos e) puros, desenvolve uma história terna e simples, recheada de simbolismos, uns mais evidentes do que outros, sobre amores juvenis, paixões não correspondidas, entrada na idade adulta, diferenças sociais e a necessidade de fazer sacrifícios para atingir a felicidade (ainda que de forma passageira).
E se o desenrolar deste conto – com muitos dos ingredientes dos de fadas que encantam os mais pequenos - é mais ou menos previsível, a verdade é que o seu lirismo, o tom agradável e melancólico, onde paira uma certa magia, o traço delicado e as belas cores a aguarelas, acabam por cativar e seduzir o leitor, por momentos afastado do mundo real, bem menos atractivo.

11/05/2010

Frank Frazetta (1928-2010)

Frank Frazetta, o homem que revolucionou a ilustração fantástica e de ficção-científica faleceu ontem, aos 82 anos, num hospital da Florida, na sequência de um derrame cerebral.
Norte-americano, nascido em Brooklyn, Nova Iorque, a 9 de Fevereiro de 1928, Frazetta começou a sua carreira aos 16 anos, como desenhador de quadradinhos, que o ocuparam nos anos 1940 e 1950, durante os quais ilustrou histórias de todos os géneros – terror, ficção-científica, western, super-heróis - mas entre as quais se destacam as colaborações nas tiras diárias de imprensa de L’il Abner e nas aventuras de Little Anne Fanny para a revista Playboy, bem como diversas bandas desenhadas de estilo humorístico, que levaram Walt Disney a convidá-lo para o seu estúdio, oferta que ele declinou.
O desenho do cartaz para o filme “What’s New Pussycat” (1965) levou-o a descobrir um novo (e mais rentável) mundo, passando a dedicar-se especialmente à ilustração de capas de livros e discos, posters, cartazes cinematográficos e quadros, nos quais revelou um grande sentido estético e de composição, um traço dinâmico e vigoroso, servidos por uma paleta de cores diversificadas, com os quais deu nova vida a personagens como Conan, Vampirella ou Tarzan. Os seus trabalhos, maioritariamente de temática fantástica, de terror ou de ficção-científica, distinguem-se pelos homens fortes e vigorosos e pelas belas e sensuais mulheres, na maior parte das vezes em cenas de combate, em ambientes hostis, perante monstros ameaçadores.
Informação mais detalhada disponível aqui.

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 11 de Maio de 2010)

A herança de Bois-Maury - Vassya

Yves H. (argumento) e Hermann (desenho)
Vitamina BD (Portugal, Outubro de 2009)
222 x 300, 48 p., cor, cartonado


O ano é 1604 e o contexto histórico a guerra pelo poder na Rússia entre o Czar Boris Godunov e Grigori Otrepiev, apoiado pelos cossacos polacos, um impostor que se faz passar por herdeiro e que ficou na História como o “falso Dimitri”. Mas a história – para lá da História – é um relato de desejo e vingança.
Vassya, um dos cossacos, dá título ao livro, mas na verdade – como sempre nesta série, aliás, em torno dos descendentes do cavaleiro Aymar de Bois-Maury, protagonista do ciclo inicial “As Torres de Bois- Maury”, parcialmente editado em Portugal - o protagonismo é vivido no feminino, através de Douniachka, uma mulher à frente do seu tempo, por ter (e exercer…) opinião(, desejos) e vontade própria. Porque se é ela o objecto de desejo – de Vassya, o marido demasiado ausente, de Aymar, o descendente do seu homónimo original, e de Kolya e os seus zaporogas – ela também sente e quer. Numa época em que à mulher cabia um papel de subserviência e de pouco mais do que objecto ao serviço dos homens.
E, também por isso, vai ser Douniachka quem está na origem dos desejos de vingança de Kolya e dos seus companheiros, quando Aymar os impede de consumarem a sua violação. Num relato em que as personagens se vão cruzando, aumentando as animosidades e a tensão.
Por isso, esta é, antes de mais, uma história humana, sim – aspecto reforçado até pelo papel (falsamente) secundário do avô de Douniachka – embora menos estimulante do que seria desejável, reconheço, porque algo previsível. E também crua – como têm ultimamente sido quase todos os relatos desenhados por um Hermann desencantado com os seus semelhantes – porque testemunho de onde o ser humano pode chegar quando os (piores) sentimentos se impõem à razão.
Fica, mais uma vez, como principal atractivo, o extraordinário trabalho gráfico de Hermann, com um traço realista assente em soberbas cores directas – a que a impressão não faz inteira justiça –, num notável jogo de luz e sombras, em especial nas cenas nocturnas ou ao entardecer, e numa planificação sóbria mas muito eficiente, de que é bom exemplo a cena muda inicial.

(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente a 1 de Maio de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

10/05/2010

Lulu Femme Nue – second livre

Étienne Davodeau (argumento e desenho)
Futuropolis (França, Abril de 2010)
216 x 293 mm, 80 p., cor, cartonado


Resumo

10 dias depois de sair de casa, Lulu, quarentona, mãe de 3 filhos, continua o seu percurso, longe dos seus, tentando descobrir-se e a um sentido para a (sua) vida.

Desenvolvimento
Só que agora, ao contrário do que aconteceu no primeiro livro algo começa a mudar. O tom de algum optimismo e de esperança desvanece-se. Logo nas primeiras pranchas, Lulu fica sem dinheiro, dorme ao relento, assalta uma idosa para lhe roubar a carteira, é confundida com uma sem-abrigo e tomada por prostituta. Talvez porque, como diz Morganne, a sua filha, principal narradora deste segundo tomo, ela tenha sido finalmente “apanhada pela realidade”. Começando a compreender que a sua sede de liberdade, a sua aventura, o seu passeio, apenas podem ter um destino final: o regresso a casa.
Por isso, é uma Lulu dividida que Davodeau nos apresenta. Porque sente aquela inevitabilidade mas deseja prolongar ao máximo a “licença” que está a gozar.
Lulu que, neste segundo tomo, divide mais o protagonismo. Com a velha Marthe, surpreendente e generosa, com a inconsequente Virginie – ambas, como Lulu, mulheres simples e vulgares, pretextos para falar com delicadeza e sensibilidade de velhice e solidão… Mesmo Morganne e Tanguy, o seu marido, têm um outro protagonismo, já que uma parte da acção se passa agora na casa que ela deixou. A própria narração da sua escapada é mais vezes interrompida com as opiniões dos amigos, divididos entre a crítica e a comprensão. O que dá maior consistência ao relato e revela mais uma vez o enorme talento de Davodeau (também) para os diálogos e para a narração do quotidiano
Agora, vou abster-me de referir mais do enredo e o próprio final, porque expor como Lulu se relaciona com Marthe e Virginie, explicar a sua relação com elas, seria retirar aos leitores destas linhas grande parte do prazer da leitura deste (muito, muito aconselhável) díptico.
Que apesar do seu final aparentemente feliz – pelo menos até que a realidade apanhe novamente Lulu? – deixa no ar uma sombra pessimista, um gosto algo amargo, em especial devido à constatação de que a experiência de Lulu, positiva para ela – mas cuja profundidade das marcas que deixou só o tempo poderia revelar - foi apenas sua e não exportável, por exemplo, para Marthe ou Virginie, como Davodeau nos mostra. Isto, a par de questões, sempre incómodas, sobre os limites do ser humano, dentro ou fora do seu ambiente, e sobre as respostas que a sociedade (não) dá a questões prementes como a velhice ou a solidão, que o livro levanta.

A reter
- A volta dada à história sem lhe retirar interesse ou qualidade.
- A forma como é mantida em segredo, quase até final, a identidade de quem faleceu, com o levantar de sucessivas hipóteses não confirmadas.
- De novo, o excelente trabalho gráfico de Davodeau, melhor do que nunca neste aspecto, na planificação, na transmissão das noções de tempo e movimento, no belo colorido utilizado.

Menos conseguido
- A forma algo limitada como a personagem de Tanguy, o marido de Lulu, é desenvolvida no díptico.

Curiosidade
- Os progressos de Davodeau com a história de Lulu foram sendo narrados por ele no blog Lulu Femme Nue criado para o efeito.
- A primeira edição francófona do álbum - já esgotada! - teve uma tiragem de 30 mil exemplares. Notável para uma obra deste género.

07/05/2010

Anicomics Lisboa 2010

Tem início hoje, às 21h30, com a cerimónia de abertura (entrada por convite), prolongando-se até ao próximo domingo, o Anicomics Lisboa 2010, um evento organizado pela livraria (e editora) Kingpin Books, dedicado à banda desenhada, que terá lugar na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, em Telheiras, que estará aberta entre as 10h e as 23h (no sábado) e das 10h e às 19h (no domingo)
Como cabeças de cartaz, surgem três autores europeus que desenham para a Marvel: os italianos Giuseppe Camuncoli (que tem trabalhado nas revistas “Dark Wolverine” e “Hellblazer”) e Stefano Caselli (“Avengers: The Initiaive”, “Secret Warriors”), e o espanhol David Lafuente (“Ultimate Spider-Man”). Este último dirigirá um workshop sobre “O desenho e o processo criativo”.
Os autores portugueses têm também um lugar de destaque, estando anunciadas as presenças de Carlos Pedro (Super Pig), Cristina Dias, David Soares (Mucha), Fernando Dordio (C.A.O.S.), Filipe Andrade (BRK, X-23), Filipe Melo (Aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy), Filipe Teixeira (C.A.O.S.), GEvan.. (Super Pig), Jo Bonito (Super Pig Manga), Joana Lafuente (Transformers), João Lemos (Marvel Fairy Tales), Jorge Coelho (Forgetless), Mário Freitas (Super Pig, Mucha), Nuno Duarte (A Fórmula da Felicidade),
Nuno Plati (Marvel Fairy Tales, X-23), Osvaldo Medina (A Fórmula da Felicidade, Mucha) e Selma Pimentel.
Preferência actual dos mais jovens, o manga e o anime marcarão igualmente presença através de concursos de Cosplay, demonstrações de Hairstyling & Make-up e degustação de Sushi, constando ainda do programa debates e sessões de autógrafos com os autores, a projecção de filmes de animação e sessões de desenhos ao vivo.
O programa completo pode ser consultado aqui.

(versão revista do texto publicado no JN de 7 de Maio)

06/05/2010

Lulu Femme Nue – premier livre

Étienne Davodeau (argumento e desenho)
Futuropolis (França, Novembro de 2008)
216 x 293 mm, 80 p., cor, cartonado

Resumo
Lulu tem 40 anos, não trabalha há 16, desde que nasceu o primeiro dos seus 3 filhos, e o seu marido é bruto e alcoólico. Não é bela nem especial. É apenas uma mulher comum, envelhecida, gasta pela vida, esgotada, submersa pelos afazeres do quotidiano.
Por isso, afirma na primeira pessoa, “a minha vida não me agrada. Não se passa nada nela”. E mais: “Não sei se ainda amo o meu marido, às vezes não o suporto (…) tenho a impressão de ser apenas uma extensão do fogão e do lava-louças…”
É, assim, uma mulher desiludida, que após mais uma recusa de emprego, decide tirar algum tempo, longe de tudo e de todos, para repensar a sua vida. Para se encontrar. Ou perder.

Desenvolvimento
Esta é a história de Lulu, que nos vai sendo narrada pelos seus amigos, em sua casa, conforme a foram sabendo e descobrindo através dos seus telefonemas, por outras pessoas ou observando-a directamente. Uma história de 20 dias, narrada no breve tempo de uma única noite, véspera de um funeral.
Uma história que começou há três semanas em relação ao tempo em que é narrada e que prossegue numa cidadezinha à beira-mar, bela e tranquila – como tranquila (e também bela, pelo menos por dentro) se vai revelando Lulu, uma nova Lulu, conforme se vai descobrindo e descobrindo rumos para uma vida diferente. Uma cidadezinha onde vai conhecer Charles, como ela um abandonado pela vida, com quem vive uma breve mas gratificante relação.
Pelo meio, vamos conhecendo Tanguy, o marido de Lulu, os amigos dela (não dele…), os seus filhos, em especial Morganne, 16 anos muito adultos, que vai ter que ocupar o lugar da mãe, os (muito loucos, mas extremamente ternos) irmãos de Charles.
Com eles, mantendo o leitor em constante suspense, com a mestria que lhe é habitual (aprecie-se a naturalidade com que nos é mostrada a (longa) noite de conversa, com a narração da “aventura” de Lulu a ser entremeada com apartes sobre o deitar dos miúdos, o frio da noite ou os pedidos de comida ou cerveja…), com muito pudor e ternura, Davodeau constrói um belíssimo relato. Um relato em que o optimismo e a esperança (expressos nos sorrisos de Lulu, nas areias douradas, no mar de um azul intenso…) predominam sobre os contornos negros e sombrios da base narrativa. Um relato sobre relações humanas, realização pessoal e a morte dos sonhos face à incontornável (será?) realidade, face à forma como a vida quotidiana persegue e envolve mesmo quem dela quer fugir. Ou não.
Porque esse suspense prolonga-se para o segundo e último tomo desta história profundamente humana e realista, que neste álbum se conclui, melhor, que é suspensa, 10 dias antes de ser narrada.

A reter
- A originalidade do relato.
- A forma como o autor marca os tempos, as pausas, o ritmo da leitura.
- A expressividade dos rostos, a naturalidade dos movimentos, a credibilidade da história, a humanidade das personagens, a força das emoções expressas.
- As belíssimas pranchas que Davodeau nos oferece, em especial graças aos tons suaves que utilizou para as colorir.
- Enfim, tudo.

05/05/2010

Peter O’Donnell (1920-2010)

Peter O’Donnell faleceu na noite do dia 3, poucos dias depois de ter completado 90 anos. Britânico, nascido a 11 de Abril de 1920, distinguiu-se como criador de Modesty Blaise, uma aventureira que protagonizou uma tira diária de imprensa que começou a ser publicada em Inglaterra, no The Evening Standard, há exactamente 47 anos, depois de ter sido recusada por outros jornais devido à audácia de algumas imagens.
Inspirada na literatura de espionagem, Modesty no início era uma jovem amnésica, fugitiva de um campo de refugiados grego após o final da II Guerra Mundial, e que vivia de expedientes pouco lícitos. Viria mesmo a dirigir uma organização criminal chamada Network, antes de se tornar uma das mais distintas agentes secretas ao serviço de Sua Majestade britânica. Bela, sensual e sedutora, apesar dessa nova faceta não ganhou muitos escrúpulos nem deixou de frequentar o submundo, tendo como único amigo William Garvin, um antigo mercenário.
O responsável pelo desenho era Jim Holdaway que após a sua morte, em 1970, seria substituído sucessivamente por Enrique Romero, John Burns, Patrick Wright e Neville Colvin. Até ao final da série, a 11 de Abril de 2001, foram publicadas 10183 tiras diárias, correspondentes a quase uma centena de aventuras, tendo algumas delas aparecido nas páginas do Diário Popular, em meados dos anos 1980, época em que a Gradiva editou um tomo único com três histórias, intitulado “Aventuras completas de Modesty Blaise”.
Peter O’Donnell escreveu também três dezenas de romances com as suas aventuras, bem como diversos romances históricos sob o pseudónimo de Madeleine Brent. Modesty Blaise protagonizou ainda dois filmes e um episódio piloto para televisão, que não teve sequência.

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 5 de Maio de 2010)

04/05/2010

Cadavre Exquis

Pénélope Bagieu (argumento e desenho)
Gallimard
França, Abril de 2010
175 x 245 mm, 128 p., cor, cartonado

Resumo 
Zoé leva uma vida vazia e sem objectivos, entre o seu trabalho como hospedeira de acolhimento em eventos e salões, de produtos tão diversos como queijos ou automóveis, e as noites passadas com o seu companheiro, mais interessado em comida na mesa e sexo do que em partilhar a vida. Thomas Rocher é um (ex-)escritor de sucesso, em falha de inspiração, que vive como um autêntico recluso no seu apartamento de onde nunca sai. O acaso vai fazer com que os dois se cruzem e com que as suas vidas se modifiquem totalmente.

03/05/2010

Quadrinhos em Quadrinhos

Se é verdade que prefiro – de longe – ler em papel (pelo cheiro, a textura, o peso…), isso não impede que pontualmente faço algumas leituras na internet. Embora geralmente isso aconteça face à inexistência de uma versão no suporte físico.
É o caso das bandas desenhadas publicadas no blog Quadrinhos em Quadrinhos, que têm a particularidade de serem recensão crítica de álbuns (editados no Brasil). E a curiosidade de cada uma ser escrita e desenhada no estilo da obra em análise, com as personagens originais como protagonistas.
Até agora foram contempladas “Copacabana”, de Sandro Lobo e Odyr Bernardi, “O Chinês Americano” (“American Born Chinese”), de Gene Luen Yang, “Aya de Yopougon 1”, de Marguerite Abouet e Clément Oubrerie, uma homenagem a Glauco (1957-2010), “Jimmy Corrigan - o menino mais esperto do mundo” (“Jimmy Corrigan - The Smartest Kid on Earth”) de Chris Ware, “Fracasso de Público: Heróis Mascarados e Amigos Encrencados” (“Box Office Poison”), de Alex Robinson, e “Gourmet”, de Masayuki Kusumi e Jiro Taniguchi.
O responsável pelo blog (e pelas bandas desenhadas, de periodicidade quinzenal) é Audaci Júnior, (também) autor de BD, crítico e cineasta, autor de uma curta-metragem em imagem real baseada na BD “O Gosto da Ferrugem, de José Carlos Fernandes, de quem tem na calha a crítica a “A Pior Banda do Mundo”… em BD!
Se é verdade que o modelo tem algumas limitações – até porque o espaço disponível não é (não pode ser) muito – a visita e a leitura (mesmo online!) justificam-se plenamente.
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