Colecção 100% Marvel
Mark Waid (argumento)
Jorge Molina (desenho)
Karl Kesel e Scott
Hanna (arte-final)
Frank D’Armata (cor)
Panini Comics (Espanha, Maio de 2012)
170 x 260 mm, 120 p., cor, brochado com badanas
11,00 €
Resumo
Compilação dos 5 números da mini-série “Captain America: Man
Out of Time” narra a readaptação de Steve Rogers/Capitão América ao “novo
mundo” que descobre, depois o seu corpo, em animação suspensa há cerca de meio
século, ter sido recuperado pelos Vingadores.
Desenvolvimento
“El hombre fuera del tiempo” segue - em falta de termo
melhor – uma “receita” que tem originado – desculpem-me os fãs de super-heróis
puros e duros – algumas das melhores obras dentro do género: a humanização do
super-herói – no caso do Capitão América – para estabelecer uma maior
proximidade com o leitor, ao mesmo tempo que o isola de maxi-sagas
intermináveis e de crises infinitas (e muitas vezes incompreensíveis).
Porque, neste caso, Steve Rogers/Capitão América, herói da
II Guerra Mundial desaparecido em combate em 1945, já nessa época surge como
alguém com dúvidas quanto ao que realmente quer fazer da sua vida, após o fim
desse conflito, embora a sua prioridade seja sempre a vontade do exército (dos
EUA).
E, após o resgate pelos Vingadores, depois de passar cerca
de meio século em animação suspensa, é apenas um “homem fora do seu tempo”, um
desajustado da (nova) sociedade que encontra. Alguém proveniente dos anos 1940,
que fechou os olhos e, quando os abriu de novo, está em pleno século XXI, num
mundo que já possui multibanco, internet, televisão, delinquência juvenil,
miscelânea cultural e racial…
E é sentindo na pele este choque – porque de um verdadeiro choque
se trata – entre o que conhecia e a nova realidade, que o protagonista tem que
encontrar o seu caminho, com a agravante de que já ninguém (re)conhece o
super-herói que ele é (foi?), enquanto que o homem luta para se adaptar a uma
nova e estranha realidade - embora seja incompreensível que não tenha havido
uma “reciclagem” por parte dos Vingadores aquando do resgate – na qual já não
vive quase nenhum dos seus antigos amigos ou companheiros, num país muito
diferente também, que perdeu a guerra do Vietname, tem políticos corruptos,
desemprego, droga a rodos, falta de valores e ideais…
Uma realidade díspar daquela pela qual lutou, para a qual
não quis contribuir, que o deixa perplexo, frustrado e desiludido. Mas uma
realidade que continua a fazer sonhar muitos e na qual – inevitavelmente –
acabará por (re)encontrar o seu (novo) lugar.
É neste jogo de contrastes que a obra assenta, com Steve
Rogers/Capitão América a tentar – em vão – encontrar referências e conhecidos,
perante uma nova ordem – nacional, mundial – que o rejeita e o tenta afastar. O
que o leva para um caminho que poderia ser de não retorno – e aí este livro
seria bem mais do que apenas uma leitura interessante e bem estruturada –
quando tenta regressar ao momento do seu desaparecimento – e da morte do seu
parceiro Bucky – para mudar esse passado e (re)construir/(re)viver – com ele, a
sua namorada e outros mais – o sonho – o ideal – pelo qual deu tudo.
O argumento de Mark Waid, muito forte de início, mas
abrandando à medida que o relato de super-heróis se sobrepõe ao factor humano,
sem os excessos palavrosos que tantas vezes cortam o ritmo de leitura nos
comics, consegue transmitir bem a dualidade que Rogers vive e captar a atenção
do leitor.
Para isso conta com o contributo do traço realista,
agradável, bem trabalhado e colorido de Molina, Kesel e Hanna, pleno de
movimento, com grande diversidade de planos e a inclusão regular de imagens
fortes – muitas vezes de página completa ou quase – que, se por um lado quebram
o ritmo de leitura que Waid marcou, por isso mesmo obrigam a repensar as
sequências que finalizam e aumentam a adrenalina em jogo.
A reter
- Como os comics de super-heróis são tão bem mais legíveis e
estimulantes, quando deixam de lado as intermináveis sagas, e exploram o lado
humano dos seus super-heróis.
- Uma boa edição, cuidada e bem impressa, que inclui as
capas originais, e que está disponível em Espanha, mesmo aqui ao lado…
Menos conseguido
- ... e é nestas alturas que, olhando para a vitalidade e
diversidade do mercado espanhol, de tebeos (que é como quem diz BD), penso que
estaríamos bem melhor – no que a essa mesma BD diz respeito – se D. Afonso
Henriques, Nuno Álvares Pereira e/ou os revoltosos de 1 de Dezembro de 1640
tivessem estado quietinhos ou pertencessem a uma das muitas realidades paralelas
em que os comics de super-heróis são férteis…