Apesar
de pequeno, na prática à dimensão da população de um país sem
hábitos de leitura, o mercado nacional de banda desenhada
apresenta-se mais diversificado do que seria expectável. Ao leitor
interessado, basta pesquisar um pouco para ser surpreendido.
Não
do fundo do baú, mas algures do meio da pilha de livros sobre os
quais "quero escrever", eis que surge Luís Louro em dose
dupla, em edições nas antípodas uma da outra.
Durante
um determinado período, no seu início, em busca de afirmação e de
importância, a banda desenhada habituou-nos a invocar os feitos dos
reis, dos imperadores, dos ditadores, mas há todo um outro lado da
História por recontar, quase sempre com cidadãos anónimos, como
motores ou protagonistas de momentos que também marcaram a evolução
dos povos. Bobigny
1972,
obra premiada no Festival de Angoulême deste ano, que a ASA acabou
de disponibilizar
em português, evoca algo assim, um célebre processo que... poucos
leitores destas linhas possivelmente serão capazes de identificar e
contextualizar.
Não
costumo comprar BD pelo desenho - soa como um paradoxo, reconheço -
mas, embora empurrado também pelas críticas lidas, foi o lado
gráfico que me levou até este Sangoma
- Les damnés de Cape Town,
desenhado por Corentin Rouge.
Como
medir o sucesso de uma criação (no
caso presente)
em banda desenhada? Pelos
exemplares vendidos? Pela sua perenidade no tempo? Sim,
em ambos os casos, mas também pela forma como a obra é inserida e
utilizada (tantas vezes abusivamente) pela cultura popular. Peanuts
e Mafalda, apesar de tudo de forma diferenciada, são dois
exemplos concretos e incontornáveis,
agora de regresso às livrarias nacionais.