12/07/2012

Franco Caprioli

No centenário do desenhador poeta












Colecção J.M. #4
Jorge Magalhães (texto)
C.M. Moura (Portugal, Junho de 2012)
208 x 290 mm, 56 p., cor, brochado


1.       Num país pouco dado à defesa do seu património (também aos quadradinhos), não é demais destacar e enaltecer o trabalho que, paulatinamente, a Câmara Municipal de Moura (através do labor de Carlos Rico) tem desenvolvido nesta área.
2.      Não só pelo Salão Internacional de Banda Desenhada, que atingirá a sua 18º edição em 2013…
3.      … mas principalmente pelos valiosos catálogos que vem editando, dedicados aos autores homenageados em cada salão…
4.      … ou na “Colecção J.M.” (Jorge Magalhães, entenda-se) onde, depois de “Banda Desenhada e Ficção Científica – As madrugadas do futuro”, “O ‘Western’ na BD Portuguesa” e “Vítor Péon e o ‘Western’ – De Denver Bill a “Tomahawk” Tom”…
5.      … surge agora “Franco Caprioli - No centenário do desenhador poeta”, edição integrada na comemoração do centenário de Franco Caprioli.
6.      Esta recuperação de algum do património nacional aos quadradinhos, tem tido como sustentáculo o saber e a erudição de um dos maiores conhecedores da BD nacional, Jorge Magalhães, responsável pela formação de muitos leitores de quadradinhos – nos quais me incluo - no tempo em que a existência de revistas periódicas o permitia…
7.      Agora, debruçou-se sobre a obra de Franco Caprioli, um mestre clássico e um virtuoso do desenho, cuja biografia traça de forma sóbria, sem ser exaustivo mas destacando os seus principais momentos, a sua técnica apurada e original (baseada num magnífico traço fino e no uso de pontilhado para definir sombras e volumes) asa suas preferências e motivações, as obras que criou e onde foram publicadas...
8.     Como complementos, são indicadas todas as publicações nacionais que reproduziram obras do mestre italiano, uma lista longa e que me surpreendeu pela quantidade de álbuns editados com a sua assinatura, e é reproduzida, a cores, um episódio da série "Olac, the gladiator", realizado para a "Tiger Annual", em 1962.
9.      A edição, em papel brilhante, de boa gramagem – que merecia uma capa mais consistente ou no mínimo lombada quadrada – é profusamente ilustrada, quase sempre a cores – uma agradável surpresa para quem, como eu, sempre tinha lido Caprioli a preto e branco - constituindo-se assim um importante elemento, não só de divulgação mas também de consulta.
10.  Fica o lamento – apenas – em relação à sua curta tiragem (500 exemplares) e fraca (inexistente?) distribuição, que não permite que chegue a todos os leitores que o texto de Jorge Magalhães e a obra de Caprioli mereciam.



11/07/2012

Tex Anual #13

O Longo Braço da Lei










António Segura (argumento)
José Ortiz (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Dezembro de 2011)
135 x 175 mm, pb, 306 p., brochado
R$ 18,90 / 9,00 €



Resumo
À cabeça de um grupo de rangers, Tex escolta cinco presos que estão a ser transferidos de Sierra Vista para Phoenix. No entanto, no caminho, são atacados e os presos libertados.
Único sobrevivente do grupo, Tex parte no encalço dos fugitivos, que entretanto se separaram, não só com o intuito de fazer justiça mas também de descobrir qual deles motivou o ataque.

Desenvolvimento
Os fãs que me desculpem, pois eu sei que o Tex de António Segura não é muito apreciado entre eles, mas acho que o argumentista espanhol, como nenhum outro, conseguiu retratá-lo exemplarmente na sua faceta de solitário, frio, duro e implacável – cínico até por vezes.
E é esse Tex impassível, de olhar gélido e dedo ligeiro no gatilho que surge em “O Longo braço da lei”, um Tex que semeia de cadáveres as bordas do seu caminho, que avança indiferente aos danos colaterais, como um autêntico mastim que só parará quando tiver dilacerado a sua presa.
Por isso, esta é uma narrativa dura e violenta – à medida da terra e do tempo em que Tex caminha - pejada de tiroteios, feridos e cadáveres. E que, apesar do seu tom e da sua grande extensão – mais de três centenas de pranchas – consegue ser também cativante e absorbente, pelo tom quase policial com que Segura a dotou, com Tex a perseguir, à vez, cada um dos cinco fugitivos, investigando os seus motivos, analisando as suas acções e ilibando-os (ou não…) do crime – o ataque à escolta – porque os persegue.
Esse Tex duro e violento – e o clima tenso e pesado da narrativa – são acentuados pelo soberbo traço de José Ortiz – cúmplice de longa data de Segura – agreste mas pormenorizado, com personagens esguias e atléticas, de rostos vincados e olhares penetrantes e um sublime trabalho de preto e branco, assente em contrastes e num exemplar jogo de luz e sombras que – lá volto eu ao mesmo… - merecia ser admirado numa edição de formato maior.

(Texto publicado originalmente no Tex Willer Blog)


10/07/2012

Au Royaume des Aveugles #1

Les Invisibles














Olivier Jouvray (argumento)
Frédérik Salsedo (desenho)
Greg Salsedo (cor)
Le Lombard (França, 25 de Maio de 2012)
237 x 310 mm, 56 p., cor, cartonado
14,45 €



Resumo
Londres 2060. Com algumas décadas de atraso, o “Big Brother” de George Orwell é uma inquietante realidade, com milhares de câmaras por todo o lado a espiar, controlar, devassar a vida de cada cidadão.
Um grupo de activistas, ao qual pertence Laurette, filha de um polícia reformado, prepara clandestinamente uma série de acções de protesto contra este estado de coisas, sem saberem que são manobrados por alguém que permanece na sombra.


Desenvolvimento
Enésima variação sobre a temática do Big Brother e do controle absoluto do estado sobre a vida – pública e privada dos cidadãos – este é um tríptico que, como mandam as regras, neste primeiro tomo pouco mais faz do que apresentar as personagens e explanar os meandros da acção, concluindo com muitas dúvidas e imensas pistas por desvendar.
Frédérik Salsedo, no desenho, parece ainda à procura da sua marca pessoal. Num estilo semi-caricatural – que não perdia se se aproximasse um pouco mais do realista, para melhor se adaptar ao tom do registo – revela alguma rigidez ao nível dos rostos e os cenários estão geralmente demasiado despojados e vazios, embora seja de assinalar um bom domínio da anatomia humana.
Quanto ao argumento de Jouvray, se não é especialmente original, tem o mérito de deixar muitas pistas por esclarecer. Desde logo quem orquestra na sombra, parecendo usar todos os intervenientes como marionetas de uma imensa farsa e qual o seu objectivo. Mas também, qual a origem da inimizade entre o inspector da polícia e o pai de Laurette; que ligação tem este com o misterioso mandante; como se irá desenvolver o (inevitável confronto) entre o pai e o irmão de Laurette; qual será o verdadeiro papel desta no futuro desenvolvimento da história; quem a capturou e porquê?
Motivos suficientes para despertar a curiosidade do leitor e deixá-lo desejoso de ler o próximo tomo, afinal o objectivo primeiro de qualquer obra em continuação.

A reter
- A forma como Jouvray deixa em aberto questões suficientes para levar o leitor a desejar ler o segundo tomo.
- O álbum foi pré-publicado de forma periódica, entre Dezembro de 2010 e Fevereiro de 2012, no site 8comix, onde ainda pode ser lido em versão integral.


09/07/2012

Valérian no cinema















Depois de muitos saltos espácio-temporais que os levaram ao passado e ao futuro, a realidades paralelas e a galáxias distantes, a próxima paragem de Valérian e Laureline deverá ser no grande ecrã, pela mão do produtor e realizador francês Luc Besson.
Aquela que é, possivelmente, a mais célebre série de banda desenhada franco-belga de ficção-científica, com mais de 2,5 milhões de álbuns vendidos, estreou-se em 1967, na revista “Pilote”. Foi criada por Pierre Christin e Jean-Claude Mézières que, ao longo de 40 anos e 21 álbuns (mais dois tomos enciclopédicos, fora de colecção) – a série foi fechada pelos autores em “O AbreTempo” (2010) – desenvolveram um universo fantástico, maravilhoso, consistente e profundamente original, longe dos estereótipos do género, no qual Laureline progressivamente veio a assumir um papel cada vez mais preponderante ao lado do protagonista original Valérian.
Esta é uma oportunidade para Besson e Mézières voltarem a trabalhar juntos, depois do desenhador ter participado na concepção gráfica do filme “O quinto elemento”, dirigido por Besson. A ligação deste último com a BD não é nova, pois já produziu e realizou adaptações de Michel Vaillant (em 2003) e de Adèle Blanc-Sec (2010).
Ainda não há data para a estreia desta película, até porque o realizador está a trabalhar em “Malavita”, tendo agendado, para o início de 2013, um thriller de acção com Angelina Jolie. Também ainda não foram indicados quaisquer nomes para o elenco, sabendo-se apenas que o filme será em inglês, live-action e produzido pela EuropaCorp, de Besson, que em 2007 colaborou com uma produtora japonesa em “Time Jam: Valérian & Laureline”, uma adaptação animada da mesma série, exibida na TV francesa.
Em Portugal, Valérian estreou-se em 1971, nas páginas da revista “Tintin”, onde foi presença regular, estando integralmente editado em álbum, pela Meribéruca/Líber e as Edições ASA.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 5 de Julho de 2012)


08/07/2012

Selos & Quadradinhos (80)

Stamps & Comics / Timbres & BD (80)


Tema/subject/sujet: Spiderman Through the Ages
País/country/pays: Madagascar
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1998

07/07/2012

Hexperimental na Mundo Fantasma

Data: 7 de Julho a 26 de Agosto de 2012
Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 509/510, Centro Comercial Brasília, Avenida da Boavista, 267, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingos e feriados, das 15h às 19h








A galeria portuense Mundo Fantasma, inaugura hoje, pelas 17 horas, uma nova exposição de originais, intitulada “Hexperimental”, que reúne ilustrações de Mariana Baldaia, Filipa Areias, Luís Taklim, Uriel Cordas, Bárbara Rocha e Sérgio Sequeira, continuando assim a apostar na promoção e divulgação dos artistas gráficos nacionais.
Os autores, que estarão presentes, têm em comum o Mestrado em Ilustração promovido pela Escola Superior Artística do Porto – pólo de Guimarães e propõem seis visões pessoais, diferentes e alternativas, num “remar obstinado contra o fluxo crescentemente homogéneo do universo da ilustração”, com as quais pretendem destacar “as suas seis vozes, com seis timbres diferentes, do murmúrio geral”.
A mostra, que pode ser visitada de segunda a sábado, das 10h às 20h, e aos domingos, das 15h às 19h, ficará patente até 26 de Agosto na galeria Mundo Fantasma, contígua à loja especializada em BD com o mesmo nome, situada no Centro Comercial Brasília.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 7 de Julho de 2012)

06/07/2012

Homem-Aranha #118








Mudança – partes 2, 3 e 4
Zeb Wells (argumento)
Chris Bachalo e Emma Rios (desenho)
Towsend, Mendonza, Olazaba, Irwin e Bachalo (arte-final)
Antonio Fabela (cor)
Panini Comics (Brasil, Outubro de 2011)
170 x 260 mm, 76 p., cor, comic-book mensal
R$ 6,50 / 2,80 €



1.       Confesso que achei uma aberração, quando a Marvel, num passe místico, decidiu acabar com o casamento de Peter Parker e Mary Jane, para aproximar o herói aracnídeo do seu público-alvo.
2.      Não só porque a situação em si é absurda e pouco consistente no universo em que se move a personagem, mas também porque, ao fazê-lo, apagou décadas de (boas) histórias e inviabilizou um potencial narrativo que não me parece de todo desprezável
3.      Mas, como a minha opinião não passa disso – mesmo quando partilhada por muitos mais – só me restavam duas opções: desistir das histórias do Aranha (um dos poucos super-heróis que realmente aprecio) ou continuar a lê-las.
4.      A opção que tomei foi esta última e, dando o braço a torcer, reconheço que a “nova fase” tem tido histórias bastante interessantes...
5.      (…mesmo quando a opção é recontar pela enésima vez confrontos - já “clássicos” - com vilões originais, algo em que a Marvel se especializou e faz recorrentemente).
6.      É o que acontece neste “Homem-Aranha” #118, actualmente distribuído nas bancas e quiosques portugueses, numa história introduzida no #117 e que agora se conclui
7.      (e que embora possa ser lida de forma autónoma, é parte de um arco bem mais longo, há vários meses a decorrer nesta revista).
8.     O vilão de serviço é o Lagarto/Curt Connors, numa história densa e movimentada, bem explanada e com tudo para prender mesmo leitores que geralmente não apreciam super-heróis, ao mesmo tempo que é também uma metáfora sobre as lutas interiores que quotidianamente temos de enfrentar para moldarmos a personalidade e seguir em frente.
9.      Mas, o que realmente faz a diferença em “Mudança”, e me fez ampliar este "fim-de-semana aracnídeo" aqui em As Leituras do Pedro, é a soberba arte de Chris Bachalo – um dos meus desenhadores de comics favoritos – que transformou o Lagarto – agora inteligente e mais manipulador do que violento - num ser imenso, algures entre a forma humanóide (de Connors) e a reptilínea do animal, tanto  mostrado integralmente (apesar de não conseguirmos definir exactamente a sua forma…) como em incomodativos close-ups de tal pormenor que quase sentimos a sua pele viscosa e o seu hálito agoniante.
10.  A par disso, Bachalo usa com mestria uma planificação original, diversificada e extremamente dinâmica, com recurso frequente a vinhetas verticais inseridas numa imagem maior, para realçar expressões, detalhar a acção ou acelerar ou abrandar o seu ritmo.
11.   A paleta de cores utilizada, maioritariamente composta por tons frios, contribui também para acentuar o ambiente opressivo e hostil que envolve toda a narrativa.
12.  O resultado, são pranchas magníficas que, o papel baço e mais absorvente da edição brasileira não permite desfrutar em todo o seu esplendor, daí também a opção por previews da edição original norte-americana para ilustrar este texto.



05/07/2012

Heróis Marvel #1

Homem-Aranha – Integral Frank Miller


Bill Mantlo, Chris Claremont, Denny O’Neil e Frank Miller (argumento)
Frank Miller e Herb Trimpe (desenho)
Levoir+Público (Portugal, 5 de Julho de 2012)
170 x 260 mm, 192 p., cor, cartonado
4,90 € (preço promocional do primeiro volume)

04/07/2012

Ultimate Spider-Man #2






Notes from underground
Eugene Son (argumento)
Ramon Bachs (desenho)
Raul Fonts (arte-final)

“Look Ma, no webs!”
Jacob Semahn (argumento)
Nuno Plati (desenho e cor)
Marvel Comics (EUA, Julho 2012)
170x260 mm, 32 p., cor, comic-book mensal
$ 2,99



1.       Um dos aspectos que denota a existência de um verdadeiro mercado de BD – o que me interessa no presente caso – é a oferta de títulos para diferentes segmentos etários e/ou sócio-económicos.
2.      Sendo uma realidade visível – a diferentes níveis ou com diferentes manifestações – no Japão, no contexto francófono ou nos EUA, assume, obviamente, uma vertente marcadamente comercial – algo inevitável, embora por tantos não entendido, quando se aplica o conceito de “mercado”.
3.      (Independentemente da admissão/aceitação de um segmento vincadamente artístico.)
4.      É neste contexto – antes do mais – que deverá ser entendido (mais) este novo título da Marvel.
5.      Que, apesar de protagonizado pelo Homem-Aranha – um dos bastiões da Casa das Ideias - não inocentemente bebe a sua inspiração na série animada televisiva (que por sua vez se inspirou nas façanhas do herói no papel…).
6.      Procurando assim captar para os quadradinhos uma geração (pelo menos) que habitualmente manifesta pouca predisposição para a leitura, o que não deixa de ser uma estratégia (comercial) inteligente.
7.      [E se não considero de menor importância o que até aqui escrevi, confesso que a razão primeira deste texto foi a presença de Nuno Plati como um dos autores regulares de “Ultimate Spider-Man” - o que acontece pela primeira vez com um português na Marvel e não é nada de desprezar - …
8.     … tendo por isso sido entrevistado pelo Marvel Animation Age)]
9.      Terminado este parêntesis, retomando a ideia que ele interrompeu, não foi por acaso que Plati referiu como uma das razões para estar satisfeito com este trabalho, “o facto de poder mostrar à minha filha daqui a um anito ou dois (ela tem 2 anos), os comics que desenho”.
10.  Por isso, as histórias já mostradas nos dois números disponíveis, ancoradas na verão mais clássica do herói (ainda adolescente) com inimigos tradicionais e outros herdados da TV, são simples e lineares, praticamente despojadas da habitual componente psicológica do herói, condimentadas com muito humor, narradas em ritmo rápido e visualmente chamativas (o que inclui alguns pormenores de inspiração manga).
11.   O trabalho de Plati (que para além do desenho completo faz também a cor), está por isso muito próximo do visual animado do herói aracnídeo, com um traço elegante e expressivo, que denota grande legibilidade e dinamismo.
12.  E é especialmente vocacio-nado para os leitores mais jovens, ao contrário do demonstrado até agora pelos seus “colegas de título”, mais direccionados para os pré-adolescentes.
13.  Não sendo um título incontornável do Homem-Aranha (mais a mais nos EUA, onde a oferta é grande) é aquele que gostaria de poder ler em português - para ser lido pelos meus filhos de 6 e 10 anos e por um grande número de potenciais futuros leitores da Marvel.


03/07/2012

Web Trip











De saída de Lyon, em busca de inspiração e de si próprio, Jules, na véspera de um périplo por diversas cidades europeias, conhece a bela Romane e decidem partir juntos.
Este é o ponto de partida de “Web Trip”, uma banda desenhada digital colaborativa, actualizada semanalmente com um novo episódio.

É um projecto do festival francês Lyon BD, que convidou uma dúzia de autores de nacionalidades diferentes para a desenvolverem, entre eles o português Ricardo Cabral, cujo episódio, o sétimo, já está online. Como única imposição surge a obrigação de cada criador localizar a acção do seu episódio na sua cidade natal e no seu ambiente próprio, surgindo por isso Lisboa como um dos locais visitados pelo casal, bem como Lyon (retratado por Jerome), Barcelona (Efa), Varsóvia (Krzysztof) ou Lausanne (Becquelin).

A par da deambulação pela Europa, encontros com antigos conhecimentos e a procura da arte que ambos apreciam e praticam, entre os dois vai-se desenvolvendo uma relação com avanços e recuos – bem à imagem dos tempos actuais – enquanto ambos procuram a sua verdadeira identidade.
O tratamento dado a cada episódio é diferente, de acordo com a sensibilidade, opções estéticos e estilos narrativos de cada um dos autores empenhados no projecto, o que o torna algo desequilibrado e revela algumas descontinuidades, quando lido de enfiada, mas não retira mérito a cada uma das abordagens consideradas de forma independente.
Os originais e os desenhos preparatórios de alguns dos episódios estiveram expostos em Lyon até 29 de Junho, mas o projecto não se esgota aqui, pois os autores – profissionais ou não – que o desejarem poderão propor novos episódios protagonizados por Jules e Romane ou por qualquer das personagens secundárias com quem se vão cruzando, desde que ambientados nas suas cidades natais.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 18 de Junho de 2012)


02/07/2012

Futebol aos quadradinhos

João Davus, de Vítor Péon
(imagem do blog Mania dos Quadradinhos)














Próximos na data de nascimento, futebol e banda desenhada têm vivido juntos muitas aventuras, dentro das 4 linhas do relvado e das vinhetas de papel. Agora que o Euro 2012 já terminou, fica uma evocação de alguns dos maiores futebolistas dos quadradinhos.

Um dos mais famosos – que o Jornal de Notícias, o Mundo de Aventuras e a Futura (em álbum) publicaram em português – é “Dick, o goleador”, uma tira diária de imprensa escrita por Alfredo Grassi para o desenho de José Luís Salinas (o criador de Cisco Kid , o cowboy romântico), que o Mundo de Aventuras também publicou entre nós. Protagonizada por três jovens sul-americanos – Dick, Poli e Jeff – combina as aventuras futebolísticas, no relvado, com outras de tom policial, fora delas.
Este tipo de equilíbrio, entre a faceta desportiva e a vida “quotidiana” é uma característica comum a outros futebolistas de papel, como Eric Castel, craque do Barcelona, e Vincent Larcher, do AC Milan, criados pelo belga Raymond Reding; este último passou pelas páginas do Tintin e dele a Bertrand editou “Futebol e minissaias”. Do mesmo autor é “O sensacional Walter Muller”, que o Mundo de Aventuras publicou nos anos 70, sobre um jogador dos distritais alemães destinado a vencer no Barcelona, com o mundial de 1974 como pano de fundo.
Capitão Tsubasa, uma criação de Yōichi Takahashi, que saltou do papel para a animação (baptizada Oliver e Benji na televisão nacional), acompanha um avançado e um guarda-redes desde as camadas jovens, passando por experiências no Brasil e na Europa, até se sagrarem campeões do mundo pela selecção principal japonesa.
Percurso inverso teve Foot 2 Rue (Clube de Rua), animação francófona protagonizada por um grupo de crianças de um orfanato que acaba por participar num campeonato mundial de futebol de rua, que Mardiolle e Cardona transpuseram para a BD, na Soleil, indo “bem além da simples adaptação - com as limitações inerentes a tal - da ideia-base da animação, criando uma verdadeira BD com ritmo e estrutura próprios, na qual vamos conhecendo os antecedentes dos 5 miúdos/"craques" - órfãos, abandonados ou simplesmente "esquecidos" num lar para desfavorecidos - que protagonizam a história, com a ternura e a irrequietude próprias da idade a surgirem a par com alguma dor e solidão, que apenas a paixão pelo futebol - vivido na rua, com muito fair-play (e raparigas!) - faz esquecer” (in Jornal de Notícias de 2 de Julho de 2006).
O Euro 2004 trouxe os heróis Disney a Portugal, em 2006 o espanhol Ibañez levou Mortadelo e Salamão ao Mundial e, agora, a propósito do Euro 2012, Patinhas, Donald e os restantes patos Disney tiveram que investigar "Il Mistero Eurocalcistico", na sequência de uma goleada sofrida por Itália frente a uma equipa amadora.
Continuando no campo – nem sempre relvado - do humor, o futebol tem sido inspiração recorrente para autores como o argentino Mordillo, o turco Gurcan Gürsel ou os portugueses José Bandeira ou Luís Afonso – embora estes abordem mais as questões colaterais…

Uma outra abordagem divertida surgiu em “Futcube”, de Ricardo Agferr, curioso casamento entre paralelepípedos e fórmulas de química orgânica, publicado na colecção Quadradinho da ASIBDP.
Ainda em português, Eugénio Silva traçou aos quadradinhos a biografia de um dos maiores jogadores nacionais de sempre em ”Eusébio Pantera Negra”, e Vítor Péon narrou os feitos de João Davus, ficção sobre um futebolista português a actuar em Inglaterra, onde o seu criador então trabalhava. Em Inglaterra nasceu também “Billy, o Botas”, herói juvenil da autoria de Fred Baker e John Gillatt, cujo talento futebolístico advinha de umas velhas botas que tinham pertencido a um jogador famoso.
Num registo mais adulto, ficam duas referências para “Aqueles que te amam” , que se inicia com um golo voluntário na própria baliza numa final da Taça dos Campeões e explora a facilidade com que os fãs passam da paixão ao ódio e o lado mercantil dos atletas. Ulf K., num curto e terno registo autobiográfico evoca a sua infância em “O ano em que fomos campeões mundiais” (Polvo), curiosamente o mesmo título que foi dado à BD que narrou a conquista do título mundial pela Espanha em 2010.
Nesta linha narrativa, se hoje em dia é normal alguns clubes evocarem a sua história aos quadradinhos - no Brasil Ziraldo desenhou as do Corinthians, Fluminense, Palmeiras e Vasco da Gama, e em 2010 o centenário do Marítimo foi recordado em “Os Sonhos do Maravilhas” dos madeirenses Francisco Fernandes, Roberto Macedo Alves e Valter Sousa – no início da década de 90 quando Manuel Dias escreveu com humor, para o traço divertido de Artur Correia, a história dos três grandes do futebol português em “Era uma vez um leão”, “… um dragão e “… uma águia”, revelou algum pioneirismo.
E se até aqui a maior parte dos protagonistas citados nasceram no papel, o brasileiro Maurício de Sousa, criador da Mônica e do Cebolinha, lançou dois heróis com trajecto inverso.
É o caso de Pelé(zinho), lançado nos anos 90 e que em breve regressará aos relvados (de papel), e de Ronaldinho Gaúcho (já este século e cuja revista está disponível mensalmente nos quiosques portugueses), que Maurício recriou no seu traço característico em histórias em que humor, amizade e futebol andam de mãos dadas.
Pelo caminho ficaram projectos similares com Ronaldo (o fenómeno brasileiro) e Dieg(uinh)o Maradona, por questões relacionadas com direitos de imagem.
E em breve, possivelmente já em Agosto, a equipa de Maurício de Sousa vai receber um reforço de peso, Neymar(zinho), num registo juvenil, próximo da Turma da Mônica Jovem.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 2 de Julho de 2012)



01/07/2012

Selos & Quadradinhos (79)

Stamps & Comics / Timbres & BD (79)


Tema/subject/sujet: Naruto
País/country/pays: Japão/Japan
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2009
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