12/03/2011

Dennis the menace

Um traquinas sexagenário
Com 5 anos, louro, sardento e um sorriso cândido, Dennis, protagonista de uma BD estreada exactamente há 60 anos nos Estados Unidos, era o exemplo perfeito de um diab(inh)o em corpo de anjo, como aliás deixava antever o seu apelido: the Menace (a ameaça).
Na verdade, justiça lhe seja feita, as diabruras provocadas pelo miúdo, conhecido em Portugal como Denis o Pimentinha, por via das edições brasileiras distribuídas em tempos no nosso país, devem-se mais à sua vontade de ajudar os outros e à inocência própria da idade, do que propriamente a um desejo de fazer o mal ou prejudicar. Só que, infelizmente para ele, “de boas intenções está o Inferno cheio”, pelo que os fundilhos das suas calças frequentemente acabam por ser fraca protecção para as palmadas com que muitas vezes terminam as confusões que originou.
Porque, importa lembrar aos mais desatentos, nos anos 1950 o (enjoativo) “politicamente correcto” era (felizmente) desconhecido e um castigo corporal justo e com a justa medida era algo de natural. Até porque, o Dennis dessa época, por vezes era bem mais rude e mesmo violento, capaz de dar um nó (literalmente) no pescoço dum cisne, de rasteirar o pai ou de dizer à mãe para não ralhar com ele porque não era marido dela.
Depois, com o passar dos anos, amoleceu um tanto, e as suas partidas e travessuras tornaram-se mais leves e inocentes, sem que isso signifique que os cartoons e bandas desenhadas tenham perdido o humor e a capacidade de divertir. Claro que não será essa a opinião dos seus pais, o casal Mitchell, nem de Mr. Wilson, o vizinho do lado, os seus alvos de eleição.
Como imagem de marca Dennis veste umas jardineiras vermelhas, geralmente sujas de lama ou chocolate, tem quase sempre o cabelo revolto e anda na companhia do seu cão Ruff, companheiro de brincadeiras e (involuntárias) partidas. Da sua roda de amigos mais próximos, alternadamente cúmplices ou vítimas, fazem parte Joey, Margaret e Gina.
O seu criador foi Hank Ketcham (1920-2001), que fez a sua aprendizagem como ilustrador nos estúdios de animação de Walter Lantz e de Walt Disney, tendo neste último participado nas longas-metragens “Fantasia”, “Bambi” e “Pinóquio”. Durante a II Guerra Mundial, baseado na sua experiência na Marinha, estreou-se nos quadradinhos com o marinheiro Half Hitch, surgindo em 1951 a sua grande criação, o traquina Dennis the Menace, que, estreado em apenas 18 jornais, em poucos meses chegava já a mais de uma centena e, nos seus tempos áureos foi publicado em mais de um milhar de títulos, por todo o mundo.
Originalmente, Dennis protagonizava cartoons de imagem única, pontualmente divididos em duas vinhetas verticais. O seu sucesso imediato levaria o autor a desenvolver uma prancha dominical, logo no ano seguinte, e à criação de uma revista homónima, em 1953, que, anos mais tarde, ostentaria o selo da Marvel. Ketcham, com recurso a alguns assistentes, assumiu a sua criação até 1994, quando se reformou. A popularidade de Dennis faz com que continue em publicação nos nossos dias, agora assinado por Marcus Hamilton e Ron Ferdinand.

A Fantagraphics Books, a exemplo dos Peantus, tem em curso a reedição integral da obra de Ketcham, e no ano passado, os correios norte-americanos incluíram Dennis the menace (juntamente com Calvin, Garfield, Beetle Bailey e Archie) numa emissão filatélica intitulada Sunday Funnies Stamp.

Do papel, a ameaça saltou para o audiovisual em 1959, numa série televisiva protagonizada por Jay North que durou 4 anos. Regressaria no final da década de 80, em 78 episódios animados, antes de fazer a sua estreia cinematográfica em 1993, com Mason Gamble como protagonista e Walther Matthau como o infeliz Mr. Wilson.

Curiosamente, a 17 de Março de 1951, apenas 5 dias após a estreia do Pimentinha, estreava no reino Unido um outro Dennis the Menace, posteriormente baptizado de Dennis and Gnasher (o seu cão), para evitar confusões.
Publicado na revista infantil “The Beano”, é a banda desenhada mais antiga em publicação em Inglaterra, tendo como protagonista um miúdo considerado “o mais malcriado do mundo”. Criado por David Law, que o assinou até 1970, passaria depois pelas mãos de diversos autores, entre eles David Sutherland e David Parkins.
Este Dennis, que já teve duas adaptações animadas televisivas, é em tudo diferente do seu homónimo americano: mais velho, mais alto, tem cabelo escuro, usa camisola às riscas vermelhas e pretas e é também mais indisciplinado e malvado.

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 12 de Março de 2011)

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