23/03/2011

Mestre Gil e o Mistério do Sardoal

Ricardo Cabrita (argumento e desenho)
TAGUS e Câmara Municipal do Sardoal (Portugal, Março de 2011)
200x200 mm, 16 p., cor, brochado com badanas

Este é mais um exemplo de como as entidades públicas – quase sempre câmaras municipais – continuam a ser o principal empregador dos autores portugueses, no que à banda desenhada diz respeito, substituindo-se às editoras nacionais de BD (às editoras que em Portugal publicam BD talvez seja mais exacto…) quando deveriam ter um papel complementar.
Esclareça-se desde já que a culpa é das editoras em particular – e do contexto cultural e do mercado editorial português em geral - não das entidades, cujo papel neste particular deve ser louvado, pesem embora as limitações que normalmente têm este tipo de edições, nomeadamente a inexistente ou fraca divulgação e distribuição destas obras.
Mas adiante, chega de genera-lidades, voltemo-nos então para este “Mestre Gil e o Mistério do Sardoal“, editado com o propósito de “envolver os mais pequenos, chamando-lhes a atenção para os factos do passado que ainda hoje persistem” para lhes dar “instrumentos de análise para melhor compreender o presente e prepararem-se para o futuro”, lê-se na contracapa deste livrinho.
Esse será o seu maior defeito, o reduzido número de páginas, dando por isso a ideia que a Ricardo Cabrita faltou papel (que poderia ter sido retirado das quatro páginas finais destinadas a serem pintadas pelos pequenos leitores?) para explanar e desenvolver um pouco mais este passeio pelo passado e presente da religiosidade do Sardoal, traduzida principalmente pelo seu retábulo quinhentista e pelas expressões de arte popular que têm lugar cada ano, na Páscoa, nas igrejas e capelas locais.
Cabrita, já autor de uma interes-sante biografia de Fernando Lopes Graça para a Câmara Municipal de Tomar, opta aqui por um traço mais caricatural com personagens de narizes grandes, na tradição de muita da BD humorística franco-belga – tendo em conta o público-alvo do livro – para dar vida ao seu Mestre Gil, mas combinando-o de forma conseguida com um tratamento mais realista e rigoroso dos cenários, merecendo realce a forma como integra na narrativa, que percorre várias épocas, os azulejos que ilustram uma tragicomédia da autoria de Gil Vicente, eventualmente nascido no Sardoal.

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